Stranger

By MaduKoby

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(+18) Gael é um alfa albino e autista, mas nada o impede de ser o cara mais inteligente que Alan já conheceu... More

AVISOS
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítul0 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49

Capítulo 44

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By MaduKoby


- Ei! Não vai me deixar sozinho de novo! – Alan gritou, se direcionando para as prateleiras de livros de filosofia.

- Perdoe-me, mas da última vez aquele bebê chorando me deu calafrios e eu tive que ir para fora.

- Fique dentro da biblioteca!

Gael assentiu, se direcionando para os livros sobre a nova língua que estava aprendendo, antes de seu telefone tocar.

Ele odiava atender, mas Alan amava ligações. Então ele estava superando esse obstáculo lentamente.

- Maninho?

A ligação ficou no silêncio, antes do alfa dizer:

- Desculpe, Alanis. Mas eu odiaria ser seu irmão.

- Gael! – A garota de cabelos rosa riu alto, fazendo o alfa afastar-se um pouco do telefone. – Ah, tenho certeza que minha falação te irritaria muitíssimo – Ele concordou. – Meu irmão está aí?

- Ele está procurando livros da Hannah Arenth. E eu sobre zulu – Comentou, antes de puxar um dos livros da estante e se empolgar com a visão. Alanis suspirou, sabendo o que teria logo a seguir – Sabia que...

A garota pigarreou, interrompendo.

- Diga para ele que a mamãe quer que todos nós estejamos no cemitério as sete. Sem atraso.

Gael paralisou. Ele odiava cemitérios. A única vez que tinha ido foi quando seus avós morreram. A primeira e a única, porque Gael nunca voltava para lugares que o faziam ter uma crise.

- Cemitério? – Perguntou com a voz gélida e Alanis concordou, um pouco surpresa por ele não saber.

- Hoje é aniversário da morte do nosso pai.

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- Oi, Gael. Só estou ligando para te dizer que eu vou passar na casa das minhas irmãs – Alan disse, seu tom tão cansado que Gael quase não o reconheceu. – Eu vou voltar amanhã e...

- Por que você está omitindo coisas de mim?

Alan ficou em silêncio, antes de grunhir.

- Eu não estou omitindo nada.

- Alanis disse que hoje é aniversário de morte do seu pai.

Alan franziu o cenho, achando estranho como Gael parecia irritado. E ele nunca ficava irritado.

- Você me disse que não deveríamos esconder nada um do outro. Você mesmo me fez prometer que quando eu sentisse amofinado sensorialmente ou emocionalmente eu deveria elucidar sobre meu inconveniente. Contudo, eu não sei se isso é mútuo porque vo...

- Acalme-se. Falar tanto e tão rápido não combina contigo – Ele riu, deixando Gael confuso. – Está tudo bem, alfa. Eu só não te contei isso antes porque não foi pauta da nossa conversa em nenhum momento.

- Eu quero ir com você.

Alan arregalou os olhos, se sentindo constrangido de repente.

- Oh, não. Você odeia cemitérios e...

- Eu quero ir com você – Repetiu, fazendo Alan bufar.

- Minha família fica manhosa e grudenta nesse dia, e você não gosta de abraços e contato.

- Eu gosto quando é você.

O ômega suspirou, quase frágil, se sentindo tentado a deixar.

- E-eu não gosto que... que você me veja tipo... tipo um idiota meloso e...

- Alba me disse uma vez que quando você está se relacionando com uma pessoa você vivencia momentos bons e ruins com ela – Interrompeu, com a voz suave que adquiria quando Alan ficava frágil. Era seu tolo instinto alfa. – E eu quero estar com você em todos eles. E principalmente quando você estiver vulnerável e fadigado.

Alan choramingou, apertando o telefone forte como apertaria a mão dele nesse instante.

- Pelo jeito eu vou te ver lá, então.

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- Olá, Gael – Alana cumprimentou, de um jeito menos rude que o habitual. – Está aqui por causa do meu irmão?

- S-sim... – Gaguejou, sentindo tanto frio que seus dentes rangiam.

Como ele odiava cemitérios.

- Gael! – Natã acenou, correndo até a entrada onde Gael tinha empacado. Agora que Natã e Alana estavam "enrolados" ele corria atrás dela em todos os lugares. Até em cemitérios. – Alan está com a mãe dele nos túmulos do final do jardim. Quer que eu te leve?

Gael assentiu, mudo. Quase não conseguindo se mexer.

- Quer segurar minha mão? – Natã perguntou, mas Alana rosnou.

- Gael tem pernas para entrar sozinho.

Natã revirou os olhos, antes de guia-lo.

- Ela é meio que nem seu ômega às vezes – Disse, vendo o alfa tremer ao seu lado. – Você tem mesmo certeza de que quer ir até lá?

- Como Alan está?

Natã sorriu bondoso, sabendo que grande parte do seu nervosismo era pelo ômega.

- Ele está com Alba. E Alba é como um cobertor quentinho.

- E-ele está chorando? – Estava sendo doloroso falar.

Natã deu de ombros.

- Alan é um ômega forte e durão. Ele pode suprir seus sentimentos quando quer.

Mas não era o que parecia quando o viu sendo acariciado pela mãe que sussurrava alguma coisa gentil, olhando bem para os olhos de Alan que franzia as sobrancelhas. Isso era sinal que ele estava em conflito.

- ALAN! – Gael gritou, assustando o ômega.

O alfa correu até ele, com os olhos completamente inseguros enquanto Alan piscava surpreso, se afastando da mãe rapidamente.

- Eu estou amedrontado com o cemitério e você está dominado pela melancolia. Se ficarmos juntos podemos consolar um ao outro – Disse desesperado, fazendo Alba sorrir.

- Tem razão, querido. Alan está querendo você faz um tempo – Deu um empurrão no ômega que mordeu os lábios, agora com uma expressão séria e adulta.

- Está tudo bem, alfa. Podemos dar uma volta por aqui e vai ver que não há nada a temer – Estendeu-lhe uma mão e Gael correu até ele. – Alina disse que autistas tem uma grande capacidade de superar seus próprios limites. Podemos enfrentar, como você disse, juntos.

Ele sorriu, mas Gael não gostou disso. Se sentiu infantil e pequeno. Não era ele que deveria estar inseguro. Alan que estava num dia ruim. Ele não deveria se obrigar a esmagar seus sentimentos para olhar só os de Gael.

- Não me trate como algo pueril, por favor – Suspirou, largando a mão de Alan. – Eu consigo sentir quando alguém está com pena de mim. E eu detesto que especialmente você tenha pena de mim.

- Você dá umas surtadas às vezes que eu não entendo – Massageou as têmporas.

Alan amava passar todo o tempo que pudesse com Gael.  Mas quando estava sobrecarregado ele odiava, porque odiava explicar os próprios sentimentos e sabia que Gael perguntaria sobre eles, e foi isso que ele fez:

- Precisamos conversar sobre tristeza. É perfeitamente natural que você esteja
irritadiço, porque sua rede de neurônios fica muito imperativa e...

- Por favor, fale normalmente! – Rosnou, fazendo Gael se silenciar.

E foi a partir daí que ele começou a ouvir aqueles zumbidos altos e ver as cores mais vibrantes do normal. Isso significava que ele estava à beira de uma crise do transtorno do espectro autista, mas ele ainda conseguia usar a fala, então respirou fundo e continuou:

- Precisamos conversar sobre isso.

- Uau, tirou essa frase onde?

- Os neurotípicos comumente dizem quando querem travar um diálogo ou monólogo sério.

- Fale de uma vez – Grunhiu, sentindo sua dor de cabeça aumentar.

- Por que você não me contou sobre seu pai?

- E isso tem importância para você?

- Sim.

Alan ergueu uma sobrancelha, se sentindo tentado a ser grosseiro. Porra, aquela merda de dor de cabeça não passava.

- Então começou a entender de sentimentos agora? – Bateu palmas, o que incomodou Gael profundamente. – Uau. Estou impressionado. Você quer que eu te parabenize?

- Eu não gosto do seu tom.

- O que há de errado com ele? Eu adoro ironia, mas você é sempre incapaz de percebê-la, como também é incapaz de perceber que eu não quero falar sobre isso. E eu também não queria que você viesse.

- Você estava fragilizado e...

- Não me trate como uma borboleta delicada! – Rosnou, antes de sentir mais uma pontada forte. Ele até abriu os lábios e ofegou, sabendo que quilo era estresse e raiva. – Isso é fodidamente patético.

- Eu não sei o que fazer – Gael suspirou, fechando os olhos para que evitasse pensar que estava num cemitério. – Você é tão imprevisível... Eu gostaria que você me orientasse. Você quer que eu te abrace ou...

- Dá para não agir como um robô de vez em quando? – Sua voz aumentou e Gael rosnou baixo, sentindo dor com o volume. Droga, ele iria ter uma crise. – Você sempre quer fazer aquilo que parece ser certo. Eu quero que você faça aquilo que você quer fazer!

- Eu já disse que não sei o que fazer! – Gritou, calando Alan. Ele estava com as pupilas dilatadas e sua respiração estava estranha. Sobretudo, seu corpo: ele começou a arranhar seus braços, começando a deixar Alan atento. – Eu não posso agir como meu instinto orienta, porque senão eu vou enlouquecer!

- Acalme-se. – O ômega pediu, tentando conter as mãos de Gael, mas ele se esquivou violentamente.

- Eu detesto cemitérios, porém eu decidi acompanha-lo porque eu pensava que seria... um... dois... três....

O alfa se agachou na grama, cobrindo a cabeça com as mãos enquanto começava a contar. Ele tinha sido ensinado sobre a técnica da contagem, mas ele mal ouvia a própria voz. Ele só ouvia zumbidos e cores vibrantes mesmo seus olhos estando fechados. Parecia uma luz forte e cegante, que o agonizava tanto que começou a se machucar e rosnar alto; puxando com força seus fios enquanto mordia seus lábios até amortecerem.

Era terrivelmente doloroso para Alan vê-lo desse jeito.

- GAEL! Olhe para mim! Olhe para mim! – Alan exclamou, não sabendo se deveria gritar ou sussurrar. E também não sabia se devia tocá-lo, porque Gael parecia com alguém perigoso nesse momento. E sabia que autistas podiam ser agressivos. – Eu estou tentando te ajudar. Se você der uma daquelas crises aqui eu vou ficar ainda mais sufocado. Você vai se debater e gritar e minha família está aqui e não quero que eles te vejam agindo como um animal engaiolado.

Gael virou o rosto, olhando com um olhar tão furioso que Alan gelou. Aquele era o olhar de um alfa violento e raivoso, e soube na hora que Gael já não estava mais guiado pela sua razão inabalável.

A primeira ação que teve foi se afastar, mas o alfa saltou para cima dele com tanta força que Alan caiu no chão. Gael tentou subir em cima dele, mas Alan gritou, fazendo o alfa gritar mais alto, tapando os ouvidos com força. Ele mesmo se perguntou de onde vinha aquele som. Parecia que vinha do canto, mas ele não tinha certeza. Ele não enxergava e ouvia nada além de uma luz que ardia seus olhos e daquele maldito zumbido.

O ômega, ao vê-lo gritando com os ouvidos cerrados, se aproveitou para se arrastar para longe, com o coração dando saltos tão fortes que sentia dor. Ler sobre crise era uma coisa, agora presenciá-la era hora. Alan só conseguia pensar em se afastar. Seu corpo pedia por isso. Mas seu coração não.

Gael gritava tanto que conseguiu ficar rouco em poucos segundos, e era tamanha sua dor que ele começou a rosnar baixinho, ofegando em uma profunda tormenta.

Alan o agarrou forte, prendendo seus braços. Gael, pelo contato, começou a espernear e se debater, dando solavancos tão brutos que bateu com força sua cabeça no maxilar de Alan que gemeu. Porra, assim era difícil, mas conseguiu erguer Gael que rosnava agressivo para fora do cemitério. Ele sabia que era o ambiente e sua total falta de empatia por dizer palavras tão rudes para seu alfa.

- Eu sinto muito... Eu sinto muito... – Sussurrou, esfregando carinhosamente a bochecha na têmpora de Gael que rosnava.

- LARGA! LARGA!

- Está tudo bem agora, estamos longe dos túmulos.

Assim que colocou o alfa sentado num dos bancos perto da capela, ele começou a relaxar. Demorou, mas ele conseguiu: aos poucos Gael foi respirando fundo e parando de tremer. Enquanto isso, Alan cantarolava baixinho, acariciando seu rosto com tanta delicadeza que o alfa quase não sentia.

- Shhhh, doce alfa. Está tudo bem. Tudo bem – Sua voz vacilou, antes de engolir em seco e deitar seu rosto nas coxas dele, ronronando baixinho. – Eu não queria di...

Gael grunhiu, balançando suas pernas até que Alan tirasse seu rosto delas.

- Não me... me toque – Quando ele estava numa crise, cada palavra doía para ser pronunciada. Mas tinha conseguido produzir uma voz gélida e dura, como ele pretendia.

- desculpe...

Alan coçou a bochecha, envergonhado. E extremamente arrependido.

- Veja bem, eu não queria dizer aquilo.

- Não ajo como um animal engaiolado... – Rosnou baixinho, se encolhendo. Alan olhou para aquilo e cerrou logo os olhos, se esforçando para não choramingar. – E-eu só fico sobrecarregado sensorialmente e eu perco o controle. Talvez eu corresponda como alguém ausente do lado racional, mas não quero que você fale isso. Você é um neurotípico, não compreende nem se tentasse como eu me sinto em lugares que se conectem a ideias ruins, ou lugares com barulhos estridentes e com muitas cores, ou com muitos olhares, ou...

- Eu sei... Eu sei... Eu não queria te magoar – Sua voz rachou, antes de começar embargar. – Eu sou tão... tão babaca... Me perdoa. Às vezes eu não sei como agir com você e eu digo coisas que não são verdades.

Gael se levantou, se sentindo ainda acelerado, mas olhou bem para os olhos de Alan, e o ômega pode enxergar perfeitamente a mágoa.

- A verdade é que você tem vergonha de mim. Vergonha do que as pessoas vão pensar quando virem o quão perturbado o seu alfa pode ficar.

- Não! – Também se levantou, tão rápido que quase tombou. – Eu já disse para todo mundo que você é autista e que você é meu alfa e...

- E para terem cuidado com o que disser para mim. Você está me tratando como um incapacitado. E eu pensava que você estava começado a me ver com outros olhos ao observar que eu sou como você e todos os outros – Gael suspirou, antes de esconder o rosto nas mãos – Por que você tem que me tratar como um idiota?

Alan começou a chorar, tentando tocá-lo, mas Gael não permitia.

- Você não é idiota! Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço! E-eu disse para meus parentes para eles não falarem alto com você e para não te tocarem! Foi só isso! Eu não disse para o tratarem como alguém diferente de nós – Soluçou, sua voz quebrando em cada palavra. – Por favor... Eu usei palavras erradas. Eu jamais queria compará-lo a ideia do selvagem. Você e nenhum autista no mundo. Me perdoa... Me perdoa... Eu o amo tanto que eu sinto meu coração partir ao saber que eu parti o seu...

Gael o olhou chocado, ouvindo o terrível barulho de ganidos. Era tão doloroso que Gael teve que ranger seus dentes. Ouvir seu próprio ômega chorando e choramingando como um filhote machucado era quase como uma dor física.

- Tudo bem, ômega – Suspirou, abraçando Alan que se encolheu contra Gael que liberava feromônios o suficiente para fazer Alan se acalmar. - eu não queria... Desculpe. Eu entendo você odiar minhas crises porque elas podem ser violentas e...

- Oh, porra... O que nós estamos fazendo? Nós temos que parar de brigar!

- Eu estava achando suspeito esse último mês sem intrigas – Alan tentou rir, antes de alcançar os olhos de Gael e estreitar os lábios, seus olhos começando a marejar. – Oh, não... Não chore.

- Hoje está sendo um dia escroto pra caralho – Tentou secar suas lágrimas, mas Gael mesmo fez isso, empurrando-o um pouco para trás.

Alan piscou surpreso, antes de perceber que Gael tinha-o deitado em seus braços, de forma que sua cabeça ficasse muito próxima do seu peito. Ele se sentiu como uma criança. Frágil como uma, e foi por isso que começou a choramingar.

- Você quer falar sobre isso agora? Eu não irei força-lo – Sussurrou doce, seu rosto tão próximo que seus narizes se tocavam. E isso era o suficiente para fazer Alan se entregar de todas as formas possíveis.

- Eu quero. Mas eu também não quero...

- Como é possível querer coisas tão ambíguas ao mesmo tempo? – Se afastou um pouco, confuso, e Alan riu baixinho.

- Você não vai dizer nada?

- Ao menos que eu queira fazer uma enfatização sobre alguma teoria cientifica, cuja explicação elucide sobre o tema em pauta – O ômega revirou os olhos, antes do alfa rir, pressionando com carinho sua bochecha. – Eu adoro começar com "Você sabia..."

- É, eu sabia – Bufou fungando, antes de seus olhos voltarem a ficar sérios. – Tipo... Desculpa se eu voltar a ficar emotivo. Isso sempre acontece comigo.

Gael sorriu, dando um beijo suave nos lábios de Alan que piscou seus olhos cinzentos, como uma garotinha apaixonada faria.

- Você sabe que eu aprecio cada parte sua. Inclusive seus momentos emocionais, porque são neles que você se mostra mais sincero.

Alan ficou quieto, refletindo um pouco antes de começar.

- Ele... bem, tipo ele se enforcou quando eu tinha oito anos – Gael arregalou os olhos. Não era bem o início que ele esperava. – Eu não estava bem, fazia tempo. Minha mãe tentava ajuda-lo com remédios e terapias. Porra, eu lembro de muitos remédios. Teve uma vez que Alanis colocou-os na boca pensando que eram balas. Só depois descobrimos que ele estava se preparando para uma overdose. Depois disso minha mãe ficou insana tentando um jeito de salvá-lo... Mas não tinha como, sabe? Ele começou a nos repudiar depois de um tempo. Meu pai era amável, depois ele ficou amargo.

Ele suspirou forte, sentindo ferroada das lágrimas nos contos dos seus olhos. E Gael sabia que Alan estava prestes a chorar: não disse nada, apenas esfregou carinhosamente seu rosto, o olhando gentil.

- Aline e minha mãe tinham medo de deixa-lo sozinho em casa, mas acho que ele estava tão desesperado que ele nem se importou comigo que estava em casa naquele dia. Tipo, eu fui ao quarto dele e eu vi, sabe? Eu o vi saltando da cadeira e se debatendo e... e... – Sua voz rachou e ele soluçou, arregalando bem os olhos. Alan não estava mais olhando para Gael, mas ele sabia o que ele estava enxergando. E nem conseguia imaginar o quanto aquilo deveria ser doloroso. – Ele não conseguia gritar porque o pescoço quebrou e... porra, ele morreu com os lábios abertos em busca de ar. Ele morreu bem em frente aos meus olhos e eu não fiz nada!

- Doce ômega... – Gael segurou seu maxilar, beijando as lágrimas que caiam dos olhos de Alan que se debateu, mas ele não o soltou.

- Não me chame assim, porra! – Rosnou, sua voz mais triste do que agressiva. – Eu cometi um erro terrível. Eu deveria ter gritado antes e Aline conseguiria erguê-lo e cortar a corda, mas eu fiquei paralisado. Eu estava tão assustado que eu não conseguia fazer nada além de olhar ele se indo aos poucos.

- Você era uma criança...

Alan negou, começando a soluçar de um jeito sufocado. Gael o apertou forte contra o peito, ronronando baixinho.

- As minhas irmãs disseram isso, mas minha mãe ficou com raiva, entende? Ela me culpou durante meses. E-ela teve a mesma reação de alguém com depressão pós-parto teria. Ela me desprezava e não conseguia olhar para mim. Eu tentava abraça-la e... e tentava fazer as coisas voltarem a ser como antes, mas Alba não conseguia me suportar por perto. Foi péssimo... E-eu nem consigo dizer o que eu sentir por saber que ela tinha raiva de mim.

Alan pressionou a palma de sua mão forte contra os lábios, tentando conter os choramingos. Sabia que Gael se afligia com eles. Mas ele se sentia tão... tão vulnerável que ser controlado já não era uma opção.

- Você se culpou não só por si mesmo, mas por Alba.

- Não julgue ela... – Disse, tentando melhor sua voz ao ver que Gael tinha um olhar estranho. – Minha mãe só estava deprimida. Ela teve uma reação que qualquer um poderia ter, porque o próprio filho dela foi incapaz de ajudar e... eu apenas deixei-o morrer.

Gael paralisou durante um tempo, sem saber o que dizer pela primeira vez. Entendia que nada do que falasse ajudaria Alan, então só segurou suas mãos forte, beijando-as suavemente.

- Pobre ômega... Você deve ter tido dias terríveis...

Alan colocou suas mãos nos bolsos, fazendo uma expressão fria para Gael.

- Não tente me consolar.

- Não quero apenas consolá-lo. Eu queria fazer você compreender que isso não é culpa sua, mas eu já premedito que suas irmãs devem ter falado isso para você – Alan emburrou, não deixando Gael amaciá-lo como antes. Ele sempre tinha essa reação depois de chorar, pois se sentia sentimental e fraco demais. – Essa culpa... Acho que você deveria modulá-lo como eu venho fazendo com meu TOC com o auxílio de Alina. Gradativamente você supera esses sentimentos de obsessão e culpa. E é claro, eu posso te ajudar se isso for conveniente, porque você entende que o que eu menos quero é vê-lo chorando e se culpando... É tão doloroso... Eu penso que isso seja empatia e que...

- Alfa, faz sexo comigo... – Alan ronronou, esfregando seu nariz contra o pescoço de Gael que travou.

- Agora?

Alan riu da cara de susto de Gael, fazendo biquinho.

- Não aqui. Mas, por favor, pensa bem nisso, tá? Eu quero que você me marque em breve.

- Você quer? – Gael arregalou os olhos, cada vez mais aturdido.

Ah, porra. Se entregue de novo, imbecil. Emotivo idiota. Só o toque de Gael já o fazia se sentir como se estivesse pisando em nuvens. Era pior que droga. Era uma maldição. Os ciúmes frenéticos e o medo surreal de perde-lo para suas próprias atitudes mesquinhas.

Estar destinado a amar tanto alguém era como uma maldição para Alan. Ele olhava para Gael e sentia vontade de chorar. Chorar por pensar que ele já havia o magoado tantas vezes e ele ainda estava ali, sendo amoroso e fingindo que seus erros não eram tão graves.

Ele só pedia que Gael o olhasse da mesma forma para sempre.

- Sim, eu quero ser seu – Subiu no colo do alfa que o olhou confuso, mas extremamente focado. Alan tinha uma magia estranha que o fazia ceder ao pior de seus instintos. – Quero estar ao seu lado todos os dias e quero que a gente seja que nem meus pais foram um dia, ou como Aline e Judith são. Quero que sejamos parceiros de verdade, quero ser seu único e prometo que você será o único em minha vida também.

Gael fechou os olhos, deitando a cabeça no ombro e Alan que sorriu, esfregando a bochecha na sua têmpora. Ele parecia meio desesperado.

- Mas como você vai suportar minhas crises e minha falta de conhecimentos sobre códigos sociais e minha necessidade arrebatadora de afeto e depois minha total indiferença?

- Eu amo você, e quando você ama uma pessoa você esquece de todos esses pequenos detalhes.

Gael piscou, olhando assustado para Alan que sorriu docemente.

- Então você quer? Você deseja mesmo isso?

- Você quer também?

Gael não respondeu apenas agarrou seu maxilar e selou seus lábios, mostrando qual era sua reposta.

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