Como não se apaixonar

By Kamisbsantos

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"Se persistirem os sintomas o livro deverá ser consultado." Luisa Lemez se apaixonou perdidamente aos quinze... More

Epígrafe
1° capítulo
2° capítulo
3° capítulo
4° capítulo
5° capítulo
6° capítulo
7° capítulo
8° Capítulo
9° capítulo
10° capítulo
11° Capítulo
12° Capítulo
13° Capítulo
14° Capítulo
15° Capítulo
16° Capítulo
17° Capítulo
18° Capítulo
19° Capítulo
20° capítulo
21° Capítulo
22° Capítulo
23° Capítulo
24° capítulo
25° capítulo
26° capítulo
27° capítulo
28° capítulo
29° capítulo
31° capítulo
32° capítulo
33° capítulo
Bônus 25k
KAMIS: A FLOPADA

30° capítulo

159 16 77
By Kamisbsantos


"Me ajude
É como se as paredes estivessem desmoronando
Às vezes, sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
Não está no meu sangue"
In My Blood - Shawn Mendes


O caminho até em casa é demorado e tenso. As lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto em grande quantidade, acompanhadas pelos soluços.

Enquanto minha mãe reclama a cada segundo, dizendo como ela mesma gostaria de devolver o tapa que levei, meu pai não diz nada desde que entrou no carro, mas sei que é porque Marcos está conosco, pois seu rosto está vermelho e as veias saltadas no pescoço e isso só acontece quando ele está bravo. O que é uma raridade.

Tenho medo de como ele reagirá quando chegarmos em casa. Ele nunca me bateu, mas também nunca gritou comigo e me pegou pelo braço como fez hoje. Sei que o que fiz foi errado. Não deveria ter empurrado aquela mulher, mas também não tinha como eu agir com consciência depois de tudo que tive que ouvir da boca dela. Tenho certeza que se ele soubesse o que houve, ficaria do meu lado, mas não quero usar isso ao meu favor. Não quero nem que ele saiba. Não quero que ele tenha uma pulga atrás da orelha como tenho agora. Ele ficaria arrasado. 

Percebo Marcos me olhando pelo retrovisor com o semblante preocupado. Uma mão no volante e a outra na boca enquanto rói as unhas.

Seu carro entra em minha rua e ele mal para em frente nossa casa e meu pai já está saltando, abrindo a porta de trás e tirando a Jasmim adormecida do colo de minha mãe. Não sei como ela conseguiu dormir depois do que presenciou. 

Minha mãe é a próxima a deixar o carro.

Eu não me movo, me recusando a descer.

Passo a mão pelo rosto enxugando as lágrimas e encaro atônita pela janela do carro a casa.

— Ei, vem. — Marcos segura a porta aberta e com a outra me puxa para fora.

Me lanço em seus braços, afundando o rosto em seu peito.

— Eu não quero entrar, Marcos — choramingo.

Seus dedos afagam meu cabelo num gesto carinhoso.

— Por que sua avó fez aquilo com você, Luisa? —  sussurra. — Eu não entendi nada.

Me afasto.

— Depois eu te conto, tá? 

Ele concorda, afastando os cabelos grudados em minhas bochechas.

Minha pele formiga. Tenho a sensação de ainda sentir os dedos dela.

— Luisa — Meu pai aparece na porta — pra dentro. Agora. — e entra novamente.

Engulo em seco.

Ele não está bravo. Está furioso.

— Você quer que eu fique? — Marcos sugere, segurando minha mão. — Posso estacionar na outra rua e entrar pela sua janela.

Fico tentada com sua proposta, mas não sei se o que vai acontecer quando eu entrar.

— É melhor não, Marcos.

Ele morde o lábio e assente, enfiando as mãos nos bolsos.

— Me liga assim que der então ou sei lá... quando quiser. — Dá um beijo em minha testa e me despeço, obrigando meus pés a andar até em casa.

Paro assim que chego na porta e respiro fundo antes de empurrá-la com as mãos trêmulas e fechá-la atrás de mim.

Assim que entro na sala, recebo o olhar de decepção de meu pai.

Ele está parado no meio do cômodo, com as mãos no quadril e minha mãe surge do corredor dos quartos logo em seguida parando ao seu lado.

— Senta — ele manda, apontando para o sofá.

Faço sem pestanejar. Fixo meus olhos nos nós dos dedos que já estão até pálidos de tanto serem apertados.

— O que aconteceu, filha? —  Minha mãe pergunta, calma demais.  

— O que aconteceu? —  Meu pai se exalta, indignado. — O que aconteceu é que sua filha perdeu todo o respeito! Como você pode falar assim com sua avó?

— A sua mãe não é nenhuma santa e você sabe disso Miguel, alguma coisa ela fez ou falou para a Luisa reagir assim — defende minha mãe.

— Isso justifica o jeito que ela tratou a minha mãe? — rebate. — Isso não tem cabimento, Maria!

— Ela deu um tapa na cara da minha filha, isso que não tem cabimento! — Esbraveja. — Eu juro que se ela encostar um dedo em minhas filhas de novo quem vai levar na cara é ela!

Eles gritam um com o outro, parecendo esquecer por um momento que estou aqui. Em dezoito anos nunca os vi discutirem, nem ao menos levantar a voz um para o outro. O que mais me enfurece é perceber que mesmo sem saberem o que houve, a vó conseguiu o que queria: causar uma discórdia na família.

— É por isso que ela não respeita minha mãe, você age assim na frente dela e ela pensa que pode fazer o mesmo!

— Chega! — grito, exausta. Me colocando entre eles. As lágrimas continuam a escorrer, quentes e grossas. Juntamente com o catarro. Limpo-as de qualquer maneira. — Para por favor, é isso que ela quer — imploro. — Por favor, mãe.

Ela me encara com as sobrancelhas franzidas, tentando buscar respostas em meu rosto. Ela segura minhas duas mãos.

— O que ela falou pra você, Luisa? — pergunta, com cuidado.

Meu pai solta uma risada anasalada atrás de mim.

— Para de passar a mão na cabeça dela. O que ela fez foi inadmissível, ponto!

Minha mãe o olha por cima da minha cabeça, o repreendendo.

— O que foi? Conta pra mim, meu amor. — Passa a mão pelo meu rosto o secando enquanto a única coisa que sei fazer é negar com a cabeça. 

Parece que de repente minha vida virou um pesadelo. Estou em pânico e por mais que meu cérebro tente negar, estou apavorada com o que aquela mulher disse seja verdade.

Não é possível que seja. 

Um turbilhão de questionamentos rondam minha cabeça me deixando e um nó se forma em meu estômago com as possibilidades.

"Será que meu pai já pensou na possibilidade de eu não ser sua filha?"

"Será que ele sabe que não sou sua filha, mas por amar demais minha mãe aceitou me criar?"

"Por quê minha avó inventaria essa história do nada?"

Minha cabeça parece que vai explodir. 

— Eu não consigo —  nego, entre soluços. — Não dá. 

Minha mãe suspira derrotada e se senta no sofá, cobrindo o rosto com as mãos. Meu pai também se afasta e se escora na parede, passando a mão pelos fios de cabelos, impaciente.

— Posso ir pro meu quarto? — peço, baixo. —  Não estou me sentindo muito bem.

— Não, você vai ficar aqui até esclarecer essa história!

— Deixe ela ir — intervém minha mãe. Ela se levanta e vem até mim, dando um beijo em minha testa. —  Vai. 

Caminho depressa até o quarto, sem olhar para trás.

— Você está de castigo, ouviu mocinha? —  O ouço dizer quando bato a porta atrás de mim.

Levo a mão ao coração quando vejo a silhueta de alguém sentado na cama em meio ao breu do quarto. Rapidamente tateio a parede em busca do interruptor acendendo a luz. 

Suspiro aliviada quando percebo que é Marcos. 

 — Desculpa, não queria te assustar — sussurra. — Ele se levanta e vem até mim, segurando minha mão, com a outra vira a chave contra a fechadura e depois puxa até a cama. — Não sabia o que estava acontecendo, mas achei que você fosse precisar que eu ficasse.

Me jogo no colchão cobrindo o rosto com as mãos, tentando controlar as lágrimas e os soluços que não param. Só queria dormir e acordar e perceber que isso não passou de um sonho. 

Sinto Marcos puxar as sandálias dos meus pés, a luz se apagar e logo em seguida o colchão afundar ao meu lado quando ele se deita.

— Quer conversar? —  questiona acariciando meus cabelos. 

Nego num aceno. É o que menos quero no momento.

— Você pode dormir aqui?

—   É claro que sim, Luisa. 

Me ajeito na cama ficando de lado e Marcos faz o mesmo, passando seu braço pela minha cintura e me puxando para mais perto do seu corpo. 

— Que porra é essa? 

Dou um pulo da cama, encarando a porta, esperando encontrar meu pai, mas não tem ninguém ali. Quando me viro para o outro lado, Rafael está parado na janela, com uma perna para dentro e uma pra fora. 

Ótimo, como se tudo que tivesse acontecido não fosse o suficiente.

— Que merda você está fazendo aqui? —Ele questiona a Marcos, terminando de entrar em meu quarto.

— Que merda você está fazendo aqui? — Marcos devolve se levantando.

Faço o mesmo.

—  Eu soube o que aconteceu, fiquei preocupado. — Ele limpa a garganta, se voltando para mim. — Você está bem? 

Balanço a cabeça, cruzando os braços. A presença dele me causa sensações que não preciso ter neste momento. 

Ele dá um passo para se aproximar de mim. Dou um para trás. Marcos se coloca entre nós.

Os dois se encaram em meio a escuridão.

— Pode ir, posso ficar com ela. 

Marcos ri com escárnio.

— Você está muito louco se acha que vou acatar alguma ordem sua. Por que não vai atrás da sua namorada? Aliás, ela sabe que você está aqui? Sabe que você fica pulando a janela dos outros de madrugada? 

— Dá pra falar baixo? — intervenho. — Por favor, eu já tenho problema demais Rafael,. Por que você veio?

Rafael suspira, enfiando as mãos no bolso. 

— Porque eu me preocupo contigo, Luisa — responde, devagar. 

Posso ver a sinceridade em seus olhos atrás da luz do luar que entra pela janela. Meu coração se aperta, me fazendo sentir ainda mais vontade de chorar. Agradeço por Marcos estar aqui, porque senão eu cederia e o deixaria ficar, mas logo me lembro também do quarto passo da lista.

— Obrigada por sua preocupação. — Me recomponho. — Mas por favor, vá embora. 

Ele concorda com a cabeça, se virando para ir.

— Se precisar de alguma coisa me ligue.

Espero até não o ver mais pela janela e volto para a cama. Me enfio debaixo das cobertas e Marcos continua de pé com as mãos na cintura, encarando o nada.

— Você ainda tem o número dele?

— Agora não, Marcos, eu preciso dormir. 

Ajeito o travesseiro e o aperto. Expiro o cheiro do perfume que Rafael deixou no ar e fecho os olhos.




Acordo quando sinto Marcos se remexer ao meu lado na cama. A cortina ficou aberta ontem, por isso preciso cobrir meus olhos para não ficar cega com tanta claridade.

— Desculpa, não queria te acordar — diz se sentando, enquanto pega sua camisa do chão. Não faço ideia de quando ele a tirou durante a noite. — Acho que seus pais já acordaram porque ouvi barulhos, então é melhor eu ir para não arranjar mais problemas.

 Concordo num aceno, meio sonolenta, tento abrir os olhos, mas meu cílios estão grudados por conta do rímel. Descolo-os e me arrasto pelo colchão, escorando as costas na cabeceira. Marcos se senta na ponta da cama para calçar o tênis e aproveito para procurar meu celular e checar a hora. É menos de oito horas, mas já sinto cheiro de comida.

— Obrigada por ficar aqui comigo — o agradeço quando ele se levanta.

— Sempre, Luisa. — Ele caminha até o outro lado da cama e me dá um curto abraço, depositando um beijo no topo de minha cabeça. — Se precisar de alguma coisa me manda mensagem, tá?

Concordo e me levanto, o acompanhando até a janela.

— Não deixe que ninguém te veja — digo, quando ele pula para o outro lado. Ele sorri para mim e se despede.

Puxo as cortinas e me jogo novamente no colchão. As memórias da madruga voltam para minha cabeça. Decido que passarei o dia todo na cama, se me permitirem.

Consigo dormir por mais bastante tempo, até que batidas incessantes me fazem despertar. 

— Levanta para tomar café, temos muito o que fazer hoje. — A voz de minha mãe soa do outro lado da porta.

Não sei se meus pais continuaram discutindo quando vim para o quarto, mas não ouvi barulho nenhum. Tenho medo que isso cause uma rachadura no casamento deles. Eles sempre foram exemplo do tipo de relacionamento que quero ter futuramente. 

Contrariada, jogo as cobertas para o lado, abro a cortina, vou até o guarda-roupas separando uma roupa para vestir e corro para o banheiro com medo de encontrar alguém. Encaro o desastre que está meu rosto através do espelho. Rímel escorrido por todos os cantos, blush manchado e batom borrado. Um caos. 

Ligo o chuveiro e deixo a água cair  em meu corpo e fico debaixo dela o máximo que posso. Quando termino, seco o cabelo na toalha e visto minha roupa. Assim que saio do banheiro, vou até à cozinha, onde está minha mãe. O relógio de parede marcam meio-dia e doze e fico indecisa se tomo café ou se já me preparo para o almoço.

O cheiro da comida está maravilhoso e faz meu estômago roncar alto. Tem um peru assado no forno, panelas grandes em cima do fogão e observo que ela prepara alguma coisa na bancada da pia.

— Seu amigo não quis ficar para o café? — Ela me olha por cima do ombro, quando arrasto a cadeira para me sentar, parando meus movimentos por um segundo. — Vi ele saindo agachado aqui pela janela. 

— Não aconteceu nada, ele só estava preocupado comigo — justifico, mesmo sabendo que não é preciso, enquanto sirvo uma xícara de café. — O pai viu?

—  Não.

Ela termina o que estava fazendo e descubro que é uma torta de bombons, quando ela se vira para colocar no freezer.

— Saiu cedo com a Jasmim e ainda não voltou.

Seu tom de voz deixa transparecer o desagrado com a situação.

— Mãe, me desculpa por causar tudo isso.

— Não foi você quem causou isso Luisa, foi aquela... — Ela segura sua língua quando percebe o que está prestes a dizer. — Senhora. — Puxa uma cadeira e se senta em minha frente. Encho a boca com um pedaço de bolo de laranja. — E eu preciso saber o que ela te fez para estar preparada pra quando ela chegar aqui. Aproveita que estamos sozinhas e desembucha.

Me engasgo.

— O quê? — Forço tudo goela a baixo com um gole de café. — Ela vai ter coragem de vir aqui? Posso ficar no quarto quando ela chegar?

— Me diz o que ela falou — insiste, se curvando em cima da mesa.

Largo o garfo no prato e me jogo contra as costas da cadeira.

Ela não vai desistir.

—  Mãe, podemos esquecer isso?

Assim que termino de dizer, escuto a porta da frente se abrir. É o suficiente para que meu coração acelere e me cause dor de barriga.

Minha mãe se ajeita na cadeira e Jasmim é a primeira a entrar em nosso campo de visão quando vem correndo direto pro colo da nossa mãe.

— Mamãe, a gente foi no parquinho — conta, toda empolgada. — Depois o papai comprou picolé, voltamos pro porquinho e eu caí do balanço, olha meu machucado.

Ela aponta para o arranhão minúsculo no joelho.

— Meu Deus, meu amor, precisamos fazer um curativo nisso! Mas eu acho que se a mamãe der um beijo vai sarar, vamos fazer o teste?

Com uma risada sapeca, Jasmim balança a cabeça em concordância, tentando afastar sua franja dos olhos.

Meu pai raspa a garganta e nos viramos, encontrando ele, meus avós e Igor na divisão entre a sala e a cozinha.

Igor me dá um sorriso pesaroso, sem mostrar os dentes.

Depois de toda confusão, nem tive tempo para o procurar ou para pensar em nosso beijo, que foi incrível por sinal.

Indico com a cabeça para ele a porta dos fundos que dá para o quintal e me levanto devagar, como se isso não fosse chamar a atenção.

— cumprimente seus avós — manda meu pai, quando estou prestes a chegar na porta. 

Suspiro fundo e volto, indo até o vô e o abraçando, ignorando totalmente a mulher ao seu lado. Saio correndo para o quintal, carregando Igor comigo.

Quando estou ao ar livre, finalmente consigo respirar. Sei que nada de bom sairá desse almoço.

Sento no banquinho de balanço e Igor ocupa o espaço ao meu lado. 

— Como você está? Te mandei algumas mensagens ontem, mas não respondeu, fiquei preocupado. — Ele puxa minha mão para o seu colo, fazendo movimentos em círculos com o polegar. 

O mínimo contato com ele já faz meu corpo relaxar. 

— Me desculpa, eu mal tive tempo de pegar no celular hoje.

 — Tudo bem, eu entendo. Que caos, não é? 

Balanço a cabeça, tentando esboçar um sorriso, mas meu ouvido está atento a qualquer barulho na cozinha. Conhecendo bem a avó que tenho, ela não aceitou vir neste almoço a toa, alguma coisa ela tem em mente e, conhecendo também minha mãe, sei que ela vai tentar descobrir a qualquer custo. Prevejo que esta tarde seja a continuação do caos da madrugada.

— Luisa? — Igor toca meu ombro, chamando minha atenção. — Ouviu o que disse?

— Desculpa, não prestei atenção.

— Perguntei se você quer fazer algo hoje à noite, sei lá, pra espairecer a cabeça.

A ideia é ótima. Esquecer desse assunto um pouco é tudo que preciso, por isso concordo imediatamente.

— Sim, vamos. 

Jasmim sai correndo pela porta e se debruça em meu colo.

— A mamãe tá chamando para almoçar — avisa, puxando minha mão que Igor segurava. 

Ela puxa até que eu me levante e me empurra pelas costas em direção a cozinha.

Igor vem atrás

Sentamos ao redor da mesa e nos servimos. O único barulho que ouvimos é do tilintar dos talheres, ninguém tem coragem de falar nada.

Estamos eu, minha mãe, meu pai e Jasmim de um lado da mesa e Igor e meus avós do outro.

Minha mãe passa a faca sobre o prato para partir a carne de uma forma agressiva, enquanto encara minha avó que não parece se intimidar.

 O vô Antônio pigarreia, percebendo a disputa das duas e quebra o silêncio:

— A comida está maravilhosa, Maria — elogia — obrigada por nos convidar.

— É muita gentileza sua, seu Antônio, mas acredite, nem todos dessa mesa era pra estar aqui — alfineta, com os olhos ainda em minha avó.

A mesma solta os talheres de forma brusca em seu prato e sinto medo do que ela possa dizer.

— Maria, por favor — pede meu pai num sussurro, segurando seu braço.

Minha vó suspira fundo do outro lado da mesa e desvia seu olhar para mim.

Eu me encolho na cadeira.

— Luisa — começa, meio hesitante —, me desculpa pelo tapa que te dei. Eu amo você, minha menina, eu só perdi a razão.

Surpresa, paro de mastigar a comida em minha boca.

Não esperava um pedido de desculpas da parte dela.

— É o mínimo, né? — É minha mãe quem fala, tomando um gole de suco. — Depois do que a senhora fez. É o mínimo pedir desculpas para ela.

A vó lambe os lábios e aperta os dedos. Pelo seu olhar, sei que sua língua está coçando para jogar tudo no ventilador.

— Mãe, por favor. — É a minha vez de implorar seu silêncio.

— Se você educasse melhor sua filha, talvez nada disso tivesse acontecido!

E o jogo se vira novamente para mim.

— É o quê? — Minha mãe bate com as mãos na mesa, se curvando sobre ela. — Você vem até minha casa, com certeza falou alguma coisa para minha filha para ela ter reagido daquele jeito, porque eu sei bem como a senhora é venenosa, agride a minha filha e ainda me acusa de não educar ela? Quem a senhora pensa que é? O que falou pra minha filha?

— Maria! — repreende meu pai novamente.

— Quer mesmo saber o que contei pra sua filha sobre você, Maria? — desafia.

— Vó, por favor, não — imploro, segurando o choro.

— O que ela falou, Luisa? — Minha mãe grita, batendo na mesa, assustando Jasmim que começa a chorar.

Aperto os olhos, enquanto nego com a cabeça.

— Fala! — Ela pressiona.

— Mãe, por favor...

— Fala agora!

— Ela disse que meu pai talvez não seja meu pai de verdade — explodo em lágrimas.

Meu avô esfrega a testa, negando com a cabeça.

— O quê? — Ela cai sobre seu assento, atônita, assim como todos os outros presentes. — Eu não acredito... Como... Como você pôde?

— Hãm? O papai não é nosso pai? — questiona Jasmim, confusa.

— Não é nada disso, amor. — Me viro na cadeira, ficando de frente para ela. Enxugo as lágrimas dos seus olhinhos. Igor, pode levar a Jasmim para assistir tv?  

Ele concorda rapidamente com a cabeça, se levantando e dando a volta na mesa.

— Eu não quero — choraminga.

— Vai, por favor. — Tiro ela de sua cadeirinha e a coloco no chão. Igor segura sua mão. — Aumenta a tv, por favor.

Mamãe espera até que Jasmim e Igor desapareçam de nossas vistas. A tv é ligada quase no volume máximo e é a melhor forma de minha irmã não participar de toda a baixaria que está prestes a acontecer. 

— Como você ousa? — vocifera. 

Seu rosto está vermelho, suas veias saltadas e suas mãos trêmulas de raiva.

— Ah faça me o favor, nem você deve ter certeza, se deitava com um e com outro e como meu filho sempre foi um boi sonso, aceitou o que você disse sem pestanejar!

— Nadja, agora chega — intervém meu avô, mesmo sabendo que não é páreo para as duas.

— Miguel? — Minha mãe empurra o braço dele para que o mesmo reaja.

Seu peito sobe e desce, mas ele nem pisca enquanto encara o prato à sua frente. Sua mão aperta o garfo com tanta força, que temo que ele exploda como fez comigo de madrugada.

— Ele também tem as dúvidas dele, pode não ter dito, mas tem — continua ela, com suas acusações. —  Desde quando você veio com a notícia, disse pra ele fazer o DNA assim que a Luisa nascesse, mas você cegou o meu filho de um jeito que fez com que ele assumisse responsabilidades que talvez nem fosse dele!

Assim como minha mãe, balanço a cabeça em negação, com lágrimas escorrendo sobre minha pele. 

Quero que meu pai fale algo, que ele negue, que diz que tudo isso é uma loucura, que a vó só está dizendo isso apenas por não gostar da minha mãe, que ele tem certeza de que sou sua filha. 

— Pai, fala que isso é mentira — o suplico, desesperada. 

Ele não move um músculo.

Por que ele não está negando?

— Miguel? — É a vez de minha mãe gritar. Ela sacode seu braço. — Fala alguma coisa!

Ele finalmente parece sair do transe. Ele engole em seco, apertando sua mandíbula e olha por um segundo para minha mãe. Seus olhos estão vermelhos e marejados.

— Luisa, pode dar uma licença pra gente? — pede em voz baixa

— O quê? Não! Eu faço parte desse assunto também.

— Por que você foi ressuscitar essa história, mulher? — O vô Antônio questiona em repreensão.

— Porque ela tem o direito de saber a verdade, Antônio!

—  Eu não acredito que você tentou colocar minha filha contra mim, dessa vez a senhora passou dos limites.  — A voz de minha mãe soa fraca. Ela parece exausta.

A situação também não parece agradar minha avó, mas ela não está com cara de arrependimento. Ela está conseguindo o que queria e isso acaba comigo. Era essa conversa que eu estava tentando evitar.

— Talvez devêssemos fazer um exame de DNA para acabar logo com isso. — Meu pai rompe seu silêncio, nos pegando de surpresa. 

Então ele não tem certeza de que sou sua filha.

É como se suas palavras tivessem o poder de me dar um soco no estômago.

Isso só pode ser um pesadelo.

— Como?

—  É isso, simples! — Minha avó abre um sorriso vitorioso. 

Sinto uma raiva crescer dentro de mim. Quero voar em cima dela e arrastá-la para fora desta casa. Ainda não consigo acreditar que ela esteja fazendo isso conosco, mas não é atoa que seu nome é parecido com o de uma cobra. Ela só estava esperando o momento certo para dar o bote.

A cadeira range e cai quando minha mãe a empurra para trás se levantando. Ela passa a mão fortemente pelo rosto.

—  Eu não acredito nisso, Miguel. — Anda de um lado para o outro. — Não, é possível! — Dela eu até esperava isso porque ela nunca gostou de mim, mas você? — Ela soa decepcionada.

— Maria, eu não estou duvidando de sua palavra, eu só...

— Ah, não está duvidando, está fazendo o quê então? — Ri com escárnio. 

— Parabéns vó, era o que a senhora queria, não era? — Limpo as lágrimas que embaçam minhas vistas. — Destruir minha família?

— Não é nada com você, meu amor — nega, tentando segurar minha mão por cima da mesa. —Eu te amo, mas precisamos saber a verdade e se ela tem tanta certeza assim, por que se opor a fazer o exame?

— Dá pra senhora calar a boca? — Se exalta minha mãe. — Você quer saber a verdade? A verdade é que a senhora é uma cobra que queria que seu filho e eu vivêssemos debaixo das suas asas para acatar suas ordens e é por isso que viemos morar bem longe de você! Você é uma mulher amarga e adoece todos que estão a sua volta, eu sinceramente não entendo como o Antônio conseguiu viver todos esses anos com você.

— Maria! — Meu pai se levanta para tentar acalmá-la. Faço o mesmo.

— Não me toca, Miguel! — Ela o afasta. — Por favor, saia dessa casa e leva sua mãe junto.

—  Mãe, não. 

Neste momento, Jasmim entra correndo na cozinha com Igor atrás dela.

— Desculpa, tentei segura-la, mas... — Igor se justifica.

— O papai vai embora? — Ela abraça as pernas dele.

—  Não, meu bem. — Ele se agacha para pega-la no colo. — Sua mãe só está um pouco...

— Vai! — O corta, bruscamente.

Eu me desespero.

— Não faz isso, mãe. A senhora não vê que é isso que ela quer? 

— Pois pode ficar feliz dona Nadja, a senhora conseguiu.  

Ela toma Jasmim do colo de nosso pai e passa o braço pelo meu ombro me puxando para mais perto.

— Saia imediatamente desta casa, Miguel — intima. 

O imploro com os olhos para que ele não vá. Que ele diga algo para a fazer mudar de ideia, que fique do lado dela, mas ele apenas vira as costas e vai embora.



Oi pessoal, olha quem está aqui de novo!

Primeiramente, gostaria de perdão pelo meu sumiço a todos os leitores que acompanhava CNA, a todos que gostavam da minha escrita e dos meus livros. Fiquei por muito tempo sem conseguir escrever – por isso também peço que relevem caso tenha algum erro. Passei o capítulo por algumas revisões, mas como passei muito tempo sem escrever, sinto sempre que estou cometendo erros grotescos. –, virei adulta e minha vida se tornou um caos, o que acabou respingando no que eu mais gostava de fazer: escrever.

Não quero escrever um textão aqui relatando tudo que aconteceu, só quero mesmo pedir desculpa por tanto tempo sem nem aparecer para dar uma satisfação a vocês.

Sei que perdi muitos leitores e que talvez esse capítulo nem seja lido por ninguém e sinceramente eu entendo. Sei como é chato ser leitor e simplesmente o autor sumir e nunca mais atualizar a história, mas se eu puder pedir algo, peço a compreensão de vocês.

Tentei voltar várias vezes a escrever durante esse tempo afastada, mas algo sempre acabava me bloqueando e a história não fluía na minha cabeça como antes, sentia que tinha perdido a conexão, o jeito, tinha medo e comparava com o sucesso dos capítulos anteriores, me perguntava se esse estava no mesmo nível que os outros, me comparava com outros escritores, daí surgiu o perfeccionista, o bloqueio e o plano de roteiro que eu tinha feito anteriormente. Estava muito apegada a quantidade de capítulos. Sentia que eu já tinha escrito muito, mas ainda tinha tanta coisa para contar. Comecei a consertar os capítulos, a fazer linha temporal, diminuí a quantidade deles, comecei a reescrever a história do zero e tudo isso causou uma loucura na minha cabeça.

Ficou decidido então, que o melhor que eu poderia fazer era prosseguir de onde parei, contar toda a história que tenho para contar, sem me prender tanto a quantidade de capítulos e só no final disso tudo, pegar o livro novamente e podá-lo se necessário.

Então quero que saibam que eu voltei! Hoje trabalho num emprego mais flexível onde posso até tirar um tempo para escrever, estou morando sozinha onde consigo ter paz para organizar os meus pensamentos e com isso voltar finalmente a fazer o que amo.

Vocês não imaginam a saudade que eu estava disso aqui!

Já quero agradecer imensamente a quem ler este capítulo, quero pedir pra que votem, comentem muuuuuuito para me dar ânimo e me sigam lá no instagram pra gente poder conversar mais. Podem me chamar, fazer perguntas, conversar que eu adoro!

Nos vemos em menos tempo do que vocês imaginam!

Até lá. ❤️

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