▪ Então Fica ▪

By KSueje

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O que você esperaria encontrar no infinito se algum dia o alcançasse? Bernardo acredita estar vivendo o pior... More

▪ Nota da Autora ▪
Impressões
Fase 1
Regras
🌻Black is power🌻
Ponto de partida
Garota das fases
Anjo sem asas
Concordância
Livro aberto
Porto Seguro
Quebra-cabeça
Super- heróis
Quatro letras
Poesia da vida
Céu e Inferno
Sem arrependimentos
Encaixe Perfeito
De braços abertos
Juntos
Infinito
A forma do amor
Sem rótulos
Reciprocidade
A escolha
O preço da felicidade
Confiança
Fase 3
Cor do amor
Mãos lavadas
Frequência constante
Saudades
Velhos tempos
Laços de amor
Tempo de escolha
A festa
Fôlego de vida
Irmãos
Combustão de horrores
Tudo de mim
Criando ruínas
Cinco sentidos
Desígnios de Deus
Tesouro perigoso
Uma só gota
Amores Passados
Desejo da morte
Nós
Inúmeros amores
Pensamentos confusos
Amor consolidado
Relação mútua
Abraço eterno
Último adeus
Depois do fim
Novos tempos
Verão
Música inspiração 🎶
▪ Capa ▪

Apenas pó

589 82 14
By KSueje

É foda.

Eu simplismente não queria ter que lembrar dela. Não queria ter que sentir saudades da sua risada ou do cheiro de sua pele; meu perfume favorito. Não queria pensar na sensação gostosa que era sussurar seu nome próximo a tua orelha todas as vezes que amanhecia a meu lado, e mesmo sonolenta ao dispertar  presenteava-me com um de seus mais belos sorrisos. Não queria lembrar do sabor do beijo. Do calor do corpo. Da verdade nos olhos ou do incêndio que provocava a conjuracão de nossa carne. Não queria. Mas ainda assim, mesmo os detalhes  mais simplórios de minha casa,  eram capazes de  levar-me diretamente a ela e causar uma dor insubistancial em meu peito.

Madu estava no vaso de flores sintéticas vermelhas sobre a geladeira, e nas prateleiras de madeira que instalara na parede dispondo meus antigos livros da faculdade em ordem alfabética. Ela estava na organizaçao de minhas roupas no armário e na cortina nova que combinava com a colcha de minha cama. Seu cheiro estava em todos meus lençois. Impregnado no ar, em minha pele. Se eu fechasse os olhos poderia ouvir a água do chuveiro escorrer de seu corpo para o chão enquanto tomava banho e cantarolava aquela música que pedia para que o sol a iluminasse e enriquecesse sua melanina. Então eu  ficava deitado na cama a ouvido e vendo uma fumaça branca sair pela porta  deixando a casa  tomada por   neblina como estivesse em chamas. Feito uma sauna. Quando saia de lá estava com o corpo ainda úmido e quase sempre nua. Ela costumava me olhar de forma sugestiva nesta hora, e ao mesmo tempo subia em minha cama com movimentos extremamente sexys engatinhando por ela até mim.  E ela beijava-me. De uma forma indecente e pecaminosa que deixava meu corpo  completamente refém do seu. E  assim eu a atirava de costas na cama ansioso para secar toda superficie de sua pele com a ponta de minha língua.

Suspirei. Pesadamente. Olhei em direção a porta do banheiro fechada. Olhei ao redor da casa silênciosa. Senti falta de tê-la a meu lado na cama. Senti falta  seu cheiro, do seu sorriso, do toque e de seu pé gelado enroscando-se com os meus sob os cobertores. Então soube que de fato enlouqueceria se não resolvesse aquela situação.

Permaneci deitado na cama mesmo depois de ouvir as batidas em minha porta. Enrolei por um tempo. Um bom tempo. E quando me julguei disposto a me levantar, caminhei até lá com passos arrastados e a abri.

_Eu trouxe um presentinho...

Olhei para apertando as palpebras completamente cético para minha visita. Enzo. Ele estava com um sorriso largo no rosto enquanto chavoalhava as chaves de meu carro em minha direção. Eu a reconheci pelo chaveiro  de metal em forma de trevo de quatro folhas que pendia  no aro entre as chave e o controle automatico.

_ Como isso chegou até você? _ O questionei puxando o chaveiro de entre seus dedos antes de me voltar caminhando para a cama.

_ Bom, certamente ela não veio voando até mim certo? -deu uma pausa_ sua ex- namoradinha pediu que eu a  buscasse ontem a tarde. Na verdade foi a mãe dela quem me ligou. Como sabia que você não iria precisar da Luiza mediante todas essas coisas que aconteceram deixei que ela ficasse um tempo comigo. Descansando.

O encarei com  o mesmo ceticismo. Pulei para  o colchão.

_ Não seja cínico. Estava colocando putas em meu carro que eu sei. Até parece que não te conheço.

Ela dera de ombros.

_ Não eram putas. -Se defendeu passando pela porta e a fechando atras de si_ Eram boas moças. E além do mais foi para reviver os velhos tempos com meu melhor amigo, sem meu melhor amigo. -deu uma pausa_ Madu disse que terminaram... Ótimo! O que você acha de darmos um rolê agora ? Para comemorar?  Tô de folga hoje. Precisamos aproveitar seu novo status não acha?

Fiquei em silêncio por um momento. O olhei.

_ Você fala como se não soubesse que gosto dela. Que gosto  mesmo.

Ele abriu um sorriso levando a mão ao queixo expressando uma feição desdenhosa.

_Sei? _  Fingira  dúvida.

Meus dentes se cerraram. O atirei o travesseiro mais próximo a meu lado. Ele riu com meu ataque  e o segurou bem proximo de  ser atingido no rosto.

_ Você faz isso só pra me provocar não é?  Ou realmente acha que estou feliz por isso?!

Ele suspirou atirando o travesseiro para mim novamente antes de  cruzar os braços sobre o peito. Me desviei  do contra-ataque.

_ Não, mas deveria. Estar solteiro é a melhor condição a que homens como nós podem estar. Convenhamos... Botamos o terror nas noitadas.

Suspirei. Profundamente.

_ Enzo, eu estou sofrendo. Será que não vê?  A Maria me completa de uma  maneira  foda.  Com ela é diferente, eu sou apaixonado por minha namorada. E ela sabe disso...  Mas mesmo assim terminou comigo. E porque?  Porque a algum tempo atrás meu pai teve a  infeliz idéia  de forçar   uma mulher a fazer sexo com ele. Cara minha vida virou um inferno este final de semana. Estou derrotado.  Minha cabeça está a mil. Estou odiando ao  mundo, a meus  pais, me odiando... Se quer estou tendo vontade de sair da cama, acha mesmo que vou curtir a noite com você?  Eu não tô afim de nada! Só de continuar aqui curtindo minha dor. Na minha casa, e na minha cama.

Nos entreolhamos. Ele arqueou a sobrancelha.

_ Não  acha que está exagerando? Quero dizer, não entendo o porquê de tanto drama. As  relações  terminam e você supera. Foi assim  com a Letícia não foi?

O encarei.

_ É diferente. Você sabe.

Ele ficou me olhando por um tempo sem dizer nada.

_Ok Bernardo, já entendi. _Disse voltando-se para minha cama-  Você  quer conversar. Ótimo.  Vamos conversar._ Afirmara sentando-se_ A quanto tempo mesmo nos conhecemos?

Balancei negativamente a cabeça. Dei um meio sorriso totalmente incrédulo sobre a posição de meu amigo em bancar  o conselheiro amoroso.

_ A  bem mais  tempo que eu julgaria ser saudável. _ Admiti.

Havia arregalado os olhos  completamente espantado.

_  Porque está me dizendo isso?! _ semitonou_  Existe algo que queira me dizer? Algo que eu não saiba e eu não compreendo o porque?

Dei de ombros.

_Não se preocupe, não  é nada particular. Eu te amo, você continua sendo meu melhor amigo  mas... As vezes  eu preciso  me esforçar muito para continuar gostando de você. Quero dizer, você  tem a capacidade de se tornar tão  desprezível  quanto minha mãe quando tem vontade disso. E essa é uma das razões  para a  a Madu não gosta de você. E eu não a julgo por isso.

_ Está tentando justificar a antipatia de se sua ex-namorada  alimenta por mim me culpando?

_ Exatamente isso. Quando  você a conheceu não foi muito simpático. Principalmente na parte em que mencionou Letícia comparando-a a Madu de forma pouco inocente e extremamente preconceituosa.

_ Eu não fiz isso! _ negara-se protamente.

_ Sim você fez. E tive vontade de quebrar seus dentes  por isso.  Madu e eu quase brigamos aquele dia, por sua causa. Eu e ela nunca haviamos nos desentendido antes, e você foi o grande  iniciador disso  por menosprezar minha namorada pelo fato de ser negra. Como se isso devesse te importar em algum aspecto, ou mesmo  importar para minha mãe   ou pra qualquer outra pessoa  intolerante... Se é que eu posso considerar alguém  com essa mentalidade tão retrógrada  como um ser pensante já que  essa idéia de superioridade é ridícula  e  quem namora com ela sou eu.

Silêncio.  Seus olhos perderam-se  dos meus por um momento.

_  É... Bom.... Bernardo... Você.... Você disse a palavra... Disse errada... A palavra...  Namorada. E.... Bom,  ela terminou com você.

Suspirei profundamente identificando  o cinismo com que ele se atrevera  a se esquivar do assunto.

_ Não precisa ficar me lembrando. _ Lhe respondi secamente_ Eu sei.  E se  pudesse a arrastaria  até aqui e a obrigaria  ficar comigo e não desistir da gente.

Ele havia ficado pensativo por um instante.

_ Bom,  talvez eu tenha sido interpretado mal aquele dia ... Juro que nao tive a intenção  de magoar sua ex-namorada mas... Foi engraçado...  E você sabe que eu não sou racista, temos vários amigos morenos e... De qualquer forma aquele foi um comentário engraçado...

Apertei meus olhos nos seus em descrença com suas palavras.

_ Enzo... Sério, cala a boca. Antes que eu a cale por você.  Está  dizendo merda atrás de merda, e é claro que aquilo não foi nada engraçado.  Ela se sentiu ofendida.  E eu deveria ter a defendido. Deveria mesmo ter dado um socão em você.  Talvez tenha sido divertido  pra você é branco mais ficou estampado na cara da Madu que ela queria matar você.  O que  dá razões  para ela te achar um antipático, acéfalo,  demente em potencial  e racista. As vezes deveria guardar seus pensamentos para você Enzo. Só para você.  E depois atear fogo neles.  Antes que alguem descubra sua existencia. Alguém feito a Madu.

Ele ficou me encarando por um tempo.

_Ok, não precisa repetir isso! Ela ja me disse inumeras  na noite do casamento quando fomos para a festa juntos. Ela disse insistentemente milhares de vezes. Eu já sei! Agora... Bem... Eu já te entendi. Você...  você realmente está muito mal com isso.

Fiz um sinal positivo com a cabeça.

_Eu gostava da Letícia na época que estavamos juntos. Mesmo pprque nossa relação durou muito  tempo... Você sabe... Mas meu término com ela e com a Madu aconteceram por ocasiões diferentes. Letícia  terminou comigo  porque quis, ela tinha outras opções. Madu não. O peso das circunstâncias  está a levando a isso.  Você deveria ter a obrigação de compreender  os fatos. Deveria me entender melhor.  Nada me doí tanto que a sensação  de poder estar perdendo a mulher que amo.   E  por mais que me envolva com mil outras  mulheres nenhuma delas supriria a falta  que Maria Eduarda me faz. Com ela é diferente. Meu coração  já  havia a escolhido como sua  dona desde o primeiro momento. Desde que  meus olhos se encontraram com os seus e seu sorriso me trasmitiu uma paz que se quer consigo decifrar em palavras.

Ele ficou  me olhando  por um tempo.

_  Você sempre fala que com ela é diferente... O que isso significa para você?

_ Que é de verdade. Que não existe distância  que ela possa me impor que vai me fazer esquecer  da pessoa maravilhosa que  é ou... Da relação  que criamos juntos... Isso só me faz sentir ainda mais falta dela. -Dei uma pausa_  Nem se eu quisesse conseguiria esquece-la ou... Como você me indica, aceitaria  colocar alguém para  ocupar um lugar que só a pertence.  É diferente porque... Ela se importa comigo. Em aspectos simples. É diferente porque todas as noites   ela me liga.  Na maioria das vezes  nem fala muito porque está exausta de  mais um dia  de trabalho e pede  para eu ficar dizendo qualquer besteira no telefone  porque  só quer ficar ouvindo minha voz  até dormir. E realmente faz isso. Ela me conhece muito mais que eu mesmo julgo me conhecer.  Sempre escuta  meus problemas sem fingir que esta interessada em entender  os  dilemas da minha vida  e me ajudar a soluciona_los de  alguma forma.  Toda vez que me estristeço por algo  a Madu consegue  me fazer sorrir com facilidade que me intriga,  além de ter o dom de me amar  exatamente como sou. Cheio de imperfeições. Tendo como  um amigo idiota potencial e  pais  altamente destrutivos... Na verdade acho que nem sei bem mais sobre os sentimentos delas em relação a mim mas... Eu sei dos meus. E sei que  é diferente porque ela me faz falta.  Porque  a distância me doí.  E se não fosse exatamente assim, não seria diferente.

Ele  suspirou. Ergueu as mãos ao alto em rendição.

_ Ok.  Admito que foi uma ideia ruim te convidar para azarar  um pouco. Principalmente conhecendo todas as razões  que os levaram a isso.

_ Uma péssima idéia. _Assinalei. Dei uma pausa em seguida_ Aliás como soube que eu estaria aqui?

Ele suspirou.

_ Madu me disse que a mãe dela liberaria você. E tambem disse pra eu me certificar que  o ex- namoradinho dela estava bem. Acha que eu ligo para ela dizendo que ainda não se pendurou pela janela com um lençol no pescoço?

Fiquei o olhando. Ele gargalhou alto enquanto meus olhos reviravam-se naturalmente.

_ Ela causou tudo isso. Talvez  neste momento nem se importe sobre como me sinto. Ou não teria chutado minha bunda.

_ Acho que você está enganado quanto a isso.  Ela se importa com você. Muito. Ela te ama de verdade. _disse-me  com uma certeza que havia me impressionado_ Ela me pareceu bem triste. Até pensei em abraça-la mas lembrei que somos inimigos circunstânciais ... Depois abraçei assim mesmo. Mas por você. Ela te adora. Deveriam se acertar  então não acha? Você fica um porre pra baixo por conta de mulher.

Meu cenho se franziu.

_ Você? Dizendo que devo ir atrás  de  uma garota? Você está bem?

Deu de ombros.

_ Cara, é sério. Prefiro você nas noites comigo mas se ir dormir de conchinha te faz mais feliz não posso fazer outra coisa se não te apoiar. E além do mais, Madu é uma boa pessoa. Chata,  mas boa pessoa. Talvez se não fossemos inimigos circunstânciais  até ousaria pensar que poderiamos ser amigos...

Ri.

_ Não. Mesmo assim. Ela não gosta de você Enzo. Vai continuar não gostando.  Você fala demais. Fala demais sem necessidade  e  acaba ferindo as pessoas sem que perceba.

_ Eu sei.  Talvez eu deva um pedido de desculpas a sua ex-namorada pouco  tolerante. Talvez... Mas quer saber? Também não gosto dela. E outra, bora levantar essa bunda da cama e ir dar um rolê. Agora fiquei irritado. Faço questão de arrumar muitas garotas para você hoje.

Balancei negativamente a cabeça.

_ Você parece doente. Eu não quero muitas garotas. Quero a minha. Você sabe  o trabalhão que me dá  ficar com ela. Mas eu gosto.  Só a Madu já me bastaria. Como tem me bastado desde que nos conhecemos. Você não entende. Mas não tenho menor saco para outras...

Ele suspirou. Seus olhos se reviraram.

_ Bom, então vai atrás dela.

Ri.

_ Eu não vou fazer isso. Deixei claro isso pra ela.

_ E daí? Tenho certeza que já implorou para ela não terminar com você então...  Qual o problema em se humilhar um pouco? Você quem quis isso para você. Sabe melhor que eu que no jogo do amor orgulho é totalmente inútil.

Franzi o cenho.

_E porque sabe disso?

_ Eu assisti Hitch. _deu uma pausa_ E tem mais, no filme ele disse que manter um relacionamento é uma hora se ver flutuando e na outra e está na chuva vendo sua vida se desmoronar. Eu sou seu melhor amigo Bernardo. Sei que está caminhando para chuva. Sei que está prestes a assistir o decaimento total de sua vida. E eu não posso permitir isso. Então levanta sua bunda daí e vai arrumar um jeito de se entender com a insuportável da sua ex-futura- atual  namorada. Ou... vai dar um rolê épico comigo.

Bufei. Ele sorriu maliciosamente para mim.

□ □ □

O sol estava quente quando estacionei em frente ao hospital. E pelo tempo que me mantive parado lá, me questionei porque mesmo estava dando ouvidos a Enzo. Porque mesmo havia me arrastado até ali sendo que tudo que conseguiria provocar era mais uma série de discussões com Madu que me deixaria ainda mais estressado e pra baixo do que de fato estava. Alem do mais eu sabia que aquele não era o melhor lugar pra fazermos isso. E mesmo sabendo disso eu fui. Eu escutei Enzo. Não porque meu amigo costumava me dar bons conselhos, mas porque eu precisava ficar perto dela. Nem que fosse brigando.

Fiquei olhando para fachada do hospital de de fato ter coragem para ir até lá. E confesso que pensei em desisti algumas vezes enquanto mantinha as mãos apoiadas no volante e o coração pulsando forte no peito. Mesmo depois que tirei o cinto e caminhei até lá pensei inúmeras vezes no que estava prestes a fazer antes de atravessar o hall principal para recepção. Quando alcancei o balcão olhei para as recepcionistas com um sorriso amarelo no rosto na tentativa de diminuir a minha cara de pau. Ela sorriu de volta pra mim de gorma gentil. Até certo ponto. Quero dizer, não foi exatamente uma tarefa facil tentar convence-la a pegar o telefone e fazer uma ligação para o andar de cima em busca de saber da disponibilidade da Madu para vir falar comigo. Não mesmo. E quando o fez, sua de péssima boa vontade ficou estampada no seu rosto e no tom de sua voz.

_ Eu não sei._ disse no telefone enquanto me encarava _ é um cara. E ele disse que não vai sair daqui até a doutora descer então... Encontre ela logo ele está ne irritando...

Ela continuou me encarando feio mesmo quando desligou o aparelho e o colocou no gancho.

_É só aguardar. _ Disse com notável secura cuspindo as palavras.

A agradeci afastando_me do balcão para próximo a porta. Fiquei observando o entra e sai de pessoas enquanto me mantive ansioso para que ela estivesse ali. A minha frente. Comecei fazer uma confusão de palavras em minha mente. Uma confusão de frases que eu usaria para falar tudo que queria. E talvez fosse demais para o tempo que teria. Mas eu previsava dizer. Precisava que soubesse o quanto a amava e o quanto a queria outra vez em minha vida. E que fosse para de fato ficar.

Meu olhos se paralizaram na direção do elevador quando ele apitou parando na recepcão. Fiquei o encarando com esperança em busca dela. Em busca de vê-la. Mas ao contrario disso não a vi. Meus olhos não se conectaram aos dela. Aos invés disso vi Leonor ao fundo do elevador enquanto algumas pessoas saiam dele para a recepcão. Nos segundos que ele estivera parado ali , ela me vira de volta. Seus olhos se fixaram nks meus. Então a porta do elevador se fechou, e ele continuou descendo para o térreo.

Aquilo não era uma coisa boa. Em aspecto algum. E eu sabia bem disso.

Permaneci imóvel por um momento. Foi o suficiente para sentir o sangue ebulir por minhas veias e me subir até a cabeça. Mordisquei os lábios incrédulo esboçando um sorriso causado por meus nervos e me direcionei a porta com passos largos saindo por ela. Entrei em meu carro nitidamente alterado e bati a porta a meu lado sem se quer pensar em passar o cinto de segurança por mim. Suspirei esperando o momento emque seu carro saisse da garagem. Ela acelerou após avançar a porta de saída. Acelerei atrás dela.

Recordo-me perfeitamente do dia em que Madu dissera-me sobre encontrar com Leonor no hospital e terem se enfrentado. Recordo-me da fúria que tomara conta de mim naquele momento e de minha namorada pedir que eu não fizesse isso se tornar mais razões para conflitos. Recordo_me de ainda assim digirir apressado com a raiva cegando meus olhos até a casa de meus pais e ocasionar uma série de discussões que tiraram de minha garganta tudo que estava intalado, e posteriormente me feito chorar de alivio. Mas não me lembrava de questiona-la. Não me lembrava de procurar saber o que estivera procurando por lá. E ter esta dúvida agora, me fazia sentir calafrios.

Conhecia Leonor o suficiente para saber que poderia ser capaz de qualquer algo para autobeneficio. Minha mãe nunca tivera capacidade de ver limites nas coisas. De mensurar até onde poderia ir ou ter ciência que suas atitudes poderiam não só atingir a si mas as outras pessoas. Ao menos eu prefiria crer que as vezes ela não tinha noção do quanto feria ao próximo com tudo que vivia dizendo ou fazendo... Do que pensar que este ferir de fato ocorria por puro sadismo de sua parte. E eu temia por isso. Temia por sua aversão a Madu leva-la a tentar prejudicar de alguma maneira a mulher que eu amava. Temia que esse ferir tomasse proporçoes que fossem além do verbal e a atingisse em cheio as bases fortes que a mantingam de pé. A ferisse emocionalmente, fisicamente ou até mesmo atingisse seu trabalho no hospital que praticamente era sua segunda casa... E se de uma coisa eu tinha certeza, e que odiaria Leonor para sempre se ousasse feri-la assim.

Apertei mais o volante entre meus dedos. Senti meus dentes rangerem. Através do para brisa vi quando os olhos de minha mãe voltaram-se para mim pelo retrovisor segundos antes de nossos carros se parearem lado a lado. Ela me olhou com desdem por momento. Em meus olhos. Vi o vazio nos olhos dela. O nada. E então ela olhou para frente e disparou pela avenida deixando-me alguns metros atrás.

Afundei meu pé no acelerador. Sem pensar. Sem medir consequências disso. E apenas fui.

Leonor continuou sob uma velocidade frenética pela avenida cortanto carro a carro a sua frente enquanto seu automóvel derrapava sob a superficie do asfalto rangendo os pneus e deixando sua marca para trás. Ela fez uma curva acentuada para direita deixando um cheiro de borracha derretida se impregnar no ar. Continuei acelerando até que a alcancançasse novamente e estivesse a alguns metros atrás de sua traseira.
Me aproximei mais dela estando perto de encostar meu para choques na lataria anterior de seu carro, e a a driblei para esquerda colocando-me a sua frente. Freei bruscamente quando tomei certa distância dela, fazendo com que os pneus de minha caminhonete gritassem no asfasto e soltasse uma fumaça branca no ar. Ela rodopiou pela rua e parou em trasversal na avenida bloqueando sua passagem. Saí do carro batendo a porta.

Leonor freiou parando o alguns centimetros de mim. Houve uma parada forcada no trânsito. Houveram incessantes buzinas.

_ O que você pensa que está fazendo?! -Questionei_a nitidamente alterado. Ela tirou o cinto e saiu para fora do carro.

_O que você pensa que está fazendo. O que deu na sua cabeça para ficar me perseguindo como se eu fosse uma fugitiva?

_ E não é? Se não fosse não estaria agindo como tal! O que estava fazendo naquele hospital? O que estava tentanto fazer contra minha namorada?

Seus olhos se reviraram.

_Oras faça-me o favor! Até parece que passo 24 horas do meu dia pensando em como prejudicar aquela negrinha. Tenho coisas mais importantes a fazer querido não duvide. E além do mais o destino e seu pai tratou de cuidar destas questãoes para mim. Quem diria que as traições de Ricardo me seriam tão úteis a essa altura da vida.

Ela abriu um sorriso largo de contentamento. Em seguida respirou profundamente como se derrepente lhe faltasse ar. Então voltou a me olhar.

_ Agora tire esta velharia da minha frente que quero passar. Tenho coisas a fazer.

_Você não vai sair daqui até que me diga o que estava fazendo naquele hospital.

_Bom, o que quer que eu lhe diga?

_ Qualquer coisa que não envolva a Maria Eduarda.

Ela deu de ombros

_Então... Quer mesmo que eu diga ? Quero dizer, a verdade.

_Não estaria aqui se não quisesse.

Ela deu de ombros ajeitando a parte da frente dos cabelos com os dedos e me encarou.

_Eu estou morrendo Bernardo. _Suas palavras foram duras e frias ao mesmo tempo- Eu tenho câncer. Então pode ficar feliz. Mais breve que possa imaginar não estarei aqui para arruinar sua vida. Não é assim que costuma dizer?

A encarei. Senti como se um punhal tivesse atravessado meu peito. Senti o sangue escorrer por minha pele.

_ Você está mentindo. _ Disse num mixer de irritação e incerteza_ porque está mentido?

_ E por que acha isso? _ Devolvera_me outra pergunta. Sua expressão era calma. O olhar sereno.

_ Eu não sei... Não sei...

_ É. Você não sabe. Como o depravado de seu pai não sabe. Como a sonsa da Helena também não sabe. E porque? Estavam tão imersos a suas próprias individualidades que se quer notaram o que acontecia ao redor de vocês. Ricardo... Ocupado demais tomando conta de suas amantes. Helena? Estava completamente afagogada a sua felicidade com os preparativos daquele casamento enquanto você sempre se preocupou mais em fugir de casa e posteriormente me afrontar com aquela negrinha. Eu não disse porque não quis. Porque não tive vontade. E porque teria um infinito prazer em vê-los em desespero quando o irremediável de fato ocorresse. E por isso estive fazendo questão de tê-lo em casa. Vivia dizendo que minha morte traria paz a sua vida então... Queria muito te dá o gosto de me ver definhando. Aos poucos. Dia pós dia. Até que não restasse absolutamente nada. Apenas pó. Como você desejou que fosse. Como sempre desejou. Seria meu presente para você.

_ Está mentindo! _gritei_ Porque está dizendo isso? Porque... Está fazendo isso comigo? Com Helena... Porque você é desse jeito? O que tem de errado contigo?

_Eu não sei Bernardo. E sou assim. E se quiser pode perguntar a sua namoradinha. Ou seria melhor dizer... Irmã? - Ela rira- Ah céus isso é tão cômico! Me surpreende que aquela mulherzinha não tenha mesmo corrido para lhe contar. E é uma pena. Sempre achei que fossem tão cúmplices... Talvez a relação de vocês não foi tão verdadeira como achou que fosse. Que lástima! Mas fazer o que? Não podem se relacionar mais não é mesmo? É pecado.

_ Não coloque a Madu no meio disso! Você está louca Leonor! Você precisa de um tratamento você.... perdeu totalmente a noção do que diz.

_ Eu não estou louca. Estou morrendo. É diferente. Adoraria fazer dramalhões e chantagens com isso mas... Você me conhece, posso ser tudo menos dramática. Nunca me vitimizo com nada. E quando sou cruel. Faço questão que saibam que minhas crueldades são de fato minhas e totalmente sem motivos concretos. _Deu uma pausa_ Eu não me importo sobre como se sente em relaçao a isso Bernardo. Como nunca me importei com nada. Eu não ligo por estar doente. Não ligo por saber do meu fim. Eu não estou nem aí para o que pensam disso. E antes que começe a ousar sentir pena de mim, lembre-se de quem foi a responsável por fazer de sua vida um inferno.

Ela olhou em meus olhos antes de levar ao rosto um óculos escuro e encaixa_lo no osso do nariz, voltando-se para seu carro e adentrando-o batendo a porta com força. Leonor manobrou o automóvel com notável ignorância e usou o passeio para se esquivar de minha caminhote pelo seu caminho e alcançar o outro lado da rua acelerando novamente por ela.

Enquanto a via seguir em alta velocidade permaneci estático. Em transe. Completamente perplexo. Como alguém podia ser tão fria e indiferente em dado momento de tamanha fragilidade? Eu não soube o que pensar. Não soube como agir. Ou se deveria fazer isso. Ao invés de ter forças para fazer qualquer coisa eu fiquei ali. Parado. Sem saber pra onde ir e com uma série de frases confusas fazendo um tsunami em minha cabeça.

Ela me disse que iria morrer. Que morreria. E a única coisa que conseguia sentir com isso era uma imensa dor no peito que se alastrava por cada articulação de meu corpo.

***

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