Tinha batido com a cabeça e precisava ficar em observação. Levei pontos na testa, no supercílio e na coxa esquerda. Sofri queimaduras nas mãos e braços e fissurei duas costelas. Mas as consequências mais graves vieram quando soube da confirmação da morte de minha melhor amiga.
Depois que Alice se foi para sempre a família dela brigou com a minha. Eles não se cansavam de dizer que eu era culpada. E eu não tinha dúvidas de que estavam certos. Meus pesadelos eram terríveis. A cada noite aquela tragédia se fixava mais na minha mente.
Eu e Alice nunca havíamos nos separado antes. Íamos juntas para a escola, para as festas, e até para as viagens de férias. Desde crianças éramos melhores amigas, BFF's, quase irmãs. Éramos inseparáveis.
Cada canto da cidade me trazia as melhores e piores memórias. Era sufocador viver sem minha irmã por perto. Não podia contar como foi meu dia, nem ligar para ela ou abrir o face time para conversarmos, como sempre fazíamos. Sem Alice por perto, perdi um pouco da vontade de viver.
Após uma malsucedida tentativa de suicídio, encarei oito meses de acompanhamento médico em meio a remédios, muita pressão, uma culpa imensurável e lembranças por toda parte. Quando tive alta, minha família resolveu se mudar de Brasília.
Decidiram ir para longe de onde cresci e tentar refazer a vida em outro lugar. De início não recebi muito bem a ideia. Ir para longe de tudo me parecia sinônimo de deixar Alice para trás, mais uma vez...
Mas encontrei um jeito de levá-la comigo. Vamos juntas, como sempre estivemos. Enviarei vídeos, em forma de um diário, e ela vai saber tudo o que acontecer na minha nova vida.
Manteremos, assim, nosso pacto de amizade eterna. É o mínimo que posso fazer por minha amiga, depois de todo o mal que lhe causei.