Capítulo 1 - Perfeitos Estranhos
Jimin movimentou-se pesadamente para dentro de uma sala iluminada
com lâmpadas fluorescentes do Colégio Cruz & Espada dez minutos depois
do que ele deveria. Um acompanhante com peito em formato de barril,
bochechas vermelhas e uma prancheta presa sobre bíceps de ferro já
estava dando ordens – o que significava que Jimin já estava atrasado.
– Então se lembrem: são remédios, camas e vermelhos
– O
acompanhante latiu para um grupo de três estudantes, todos de costas
para Jimin. – Se lembrem do básico e ninguém se machuca – .
Jimin escorregou rapidamente para trás do grupo. Ele ainda estava
tentando descobrir se ele tinha preenchido a gigante pilha de papel
corretamente, se esse guia de cabeça raspada parado na frente deles era
um homem ou uma mulher, se havia alguém para ajudá-lo com sua
enorme bolsa de tecido, se seus pais iriam se livrar de seu amado
Plymouth Fury no minuto que eles chegassem em casa, depois que o
deixaram ali. Eles vinham ameaçando vender o carro durante todo o
verão, e agora eles tinham uma razão que Jimin não poderia argumentar
contra: ninguém podia ter um carro na nova escola de Jimin. Sua nova
escola reformatória para ser preciso.
Ele ainda estava se acostumando com o termo.
– Você poderia, hum, você poderia repetir isso? – Ele perguntou para o
acompanhante. – O que era, remédios - ? –
– Bem, olhe o que a tempestade trouxe, – o acompanhante disse em voz
alta, então continuou, enunciando devagar. – Remédios. Se você é um dos
alunos medicados, é onde você deve ir para manter-se dopado, sã,
respirando, ou seja lá o que for. – Mulher, Jimin decidiu, estudando a
acompanhante. Nenhum homem poderia ser malicioso o suficiente para
dizer tudo isso nesse tom de voz sacarina.
– Saquei. – Jimin sentiu seu estômago agitar-se – Remédios – .
Ele tinha se desligado dos remédios por anos agora. Depois do acidente no
verão passado, Dr. Sanford, seu especialista em Hopkinton – e a razão de
seus pais o mandarem para internatos lá em New Hampshire – havia
considerado medicá-lo mais uma vez. Embora ele o tenha convencido de
sua quase-estabilidade, isso a fez ter um mês extra de análise da parte
dele, só para ficar longe daqueles terríveis antipsicóticos.
Este era o motivo pelo qual ele estava se registrando em seu último ano
no Colégio Sword & Cross um mês depois das aulas começarem. Ser aluno
novo já era ruim o suficiente, e Jimin estava nervoso o suficiente para
entrar em turmas onde todos já estavam fixados. Mas pelo que parecia
depois de sua excursão, ele não era o único novato chegando aquele dia.
Ele deu uma olhadinha furtiva para os outros três alunos em meio círculo
em volta dele. Em sua última escola, Dover Prep, na excursão pelo campus
foi onde ele achou seu melhor amigo, Charlie. Em um campus onde todos os
outros estudantes foram praticamente desmamados juntos, isso havia
sido o suficiente que Jimin e Charlie fossem as duas únicas crianças sem
legado. Mas não demorou muito para elrs perceberem que tinham a
mesma obsessão pelos mesmos filmes antigos – especialmente os
relacionados com Albert Finney3
. Após a descoberta delrs no primeiro ano
enquanto assistiam Two for the Road que elrs não podiam fazer um saco
de pipoca sem ativar o alarme de incêndio, Charlie e Jimin nunca mais se
separaram. Até... Até que eles tiveram que se separar.
Do lado de Jimin hoje havia dois caras e uma garota. A garota era bem fácil
de se enturmar, loira e com a beleza de comercial de Neutrogena4
, com
unhas manicuradas na cor rosa-pastel que combinava com sua pasta de
plástico.
– Eu sou Gabbe, – Ela falou lentamente, lançando a Jimin um grande
sorriso que desapareceu tão rápido quanto surgiu, depois que Jimin não
disse seu próprio nome. O desinteresse da menina lembrou-lhe mais uma
versão sulista das meninas da Dover do que alguém que ele esperava na
Sword & Cross. Luce não conseguia se decidir se isso era reconfortante ou
não, ainda mais imaginar o que uma menina como aquela fazia numa
escola reformatória.
3
Albert Finney era um ator britânico que foi indicado para Oscar 5 vezes.
4
Neutrogena, marca muito conhecida de produtos para a pele, que por regra as modelos dos anúncios
comerciais são sempre louras e de aspecto delicado.
Á direita de Jimin havia um garoto com cabelo castanho curto, olhos
castanhos e sardas em volta do nariz. Mas o jeito que ele não olhava nos
olhos dele, escolhendo cutucar a cutícula de seu polegar, deu a ele a
impressão de que ele provavelmente estava atordoado e com vergonha
de encontrar-se aqui.
O garoto à sua esquerda, por outro lado, preenchia a imagem de Jimin
deste lugar um pouco perto perfeitamente demais. Ele era alto e magro,
com uma bolsa de DJ a tiracolo, cabelo preto desgrenhado, e grandes e
profundos olhos verdes. Seus lábios eram carnudos e de um rosa natural
que muitas garotas matariam para ter. Na parte detrás de seu pescoço
uma tatuagem preta com formato de raios de sol parecia quase brilhar em
sua pele clara, levantando-se a partir da borda de sua camiseta preta.
Diferente dos outros dois, quando esse cara se virou para encontrar seu
olhar, ele o segurou e não deixou soltar. Sua boca foi definida em uma
linha reta, mas seus olhos eram quentes e vivos. Ele a contemplava, de pé
como uma escultura, que fez Jimin se sentir enraizado em seu lugar
também. Aqueles olhos eram intensos e sedutores, e bem, um pouco
desarmantes.
Com um pigarro alto na garganta, a acompanhante interrompeu o transe.
Jimin corou e fingiu estar muito ocupada coçando a cabeça.
– Aqueles que entenderam o funcionamento são permitidas a sair depois
que deixarem aqui seus pertences de risco – A acompanhante apontou
para uma grande caixa de papelão sob uma placa que dizia em grandes
letras pretas MATERIAIS PROIBIDOS. – E quando eu digo livre, Todd – -
ela fechou a mão para baixo no ombro do garoto sardento, o que o fez
pular. – Eu quis dizer limites do ginásio para encontrar o estudante
predestinado para ser seu guia. Você – - ela apontou para Jimin – despeje
seus pertences e fique comigo –
Quatro dos estudantes se juntaram em volta da caixa e Jimin assistiu,
perplexa, como os outros alunos começavam a esvaziar seus bolsos. A
menina puxou um canivete suíço rosa de sete centímetros. O cara de
olhos verdes relutantemente sacou uma lata de spray de tinta e um
estilete. Até o infeliz Todd teve de deixar várias caixas de fósforos e um
pequeno recipiente de fluído de luz. Jimin se sentiu quase estúpido por ele
mesmo não estar escondendo nada perigoso – mas quando ele viu os
outros depositarem seus celulares dentro da caixa, ele engoliu em seco.
Inclinando-se para ler a placa de MATERIAIS PROIBIDOS mais de perto, ele
viu que celulares, pagers e todos os dispositivos de rádios bidirecionais
estavam estritamente proibidos. Já era ruim o suficiente que ela não
poderia ter o seu carro! Jimin fechou a mão suada em torno do celular em
seu bolso, sua única ligação com o mundo exterior. Quando a
acompanhante viu a expressão em seu rosto, Jimin recebeu pequenos
tapinhas na bochecha. – Não desmaie comigo, querido. Eles não me
pagam o suficiente para fazer ressucitação. Além disso, você tem direito a
uma ligação telefônica por semana no átrio principal. –
Uma ligação? Por semana? Mas –
Ele olhou para seu telefone mais uma vez e viu que havia recebido mais
duas mensagens de texto. Não parecia possível que essas seriam suas
duas últimas mensagens de texto. A primeira era de Charlie.
Me liga imediatamente! Estarei esperando ao lado do telefone a noite
toda, então, esteja pronto. E se lembre do mantra que eu te ensinei: Você
vai sobreviver! De qualquer forma, se isso importar, eu acho que todo
mundo esqueceu sobre...
Do jeito típico de Charlie, ele havia ido tão longe que o celular de Jimin
cortou quatro linhas da mensagem. De qualquer forma, Jimin estava
aliviado. Ele não queria ler sobre como todos em sua antiga escola haviam
finalmente esquecido o que havia acontecido com ele. O que a fez vir
parar nesse lugar.
Ele suspirou e abriu sua segunda mensagem. Era de sua mãe, que só havia
aprendido a enviar torpedos há algumas semanas e que certamente não
sabia sobre aquela coisa de uma-ligação-por-semana.
Querido, nós estaremos sempre pensando em você. Seja bom e tente comer
proteína o suficiente. Nos falamos quando pudermos. Amor, M&P ( MÃE E PAI)
Com um suspiro, Jimin percebeu que seus pais deveriam saber. O que mais
poderia explicar suas expressões elaboradas quando ele deu um
tchauzinho do portão da escola essa manhã, com sua bolsa de tecido em
mãos? No café da manhã, ele havia tentado fazer piada sobre finalmente
perder esse terrível sotaque de New England que ele havia adquirido na
Dover, mas os seus pais não esboçaram nenhum sorriso. Ele pensou que
eles continuavam chateados com ele. Eles nunca haviam feito
completamente aquela coisa de elevar a voz, então quando Jimin estragou
tudo, eles deram a ele o tratamento do silêncio. Agora ele entendia o
estranho comportamento dessa manhã: seus pais estavam de luto pela
perda de contato com seu único filho.
– Nós estamos esperando apenas uma pessoa, – A acompanhante disse.
– Eu me pergunto quem é. – A atenção de Jimin voltou para a caixa de
riscos, que agora estava transbordando de itens contrabandeados que ele
não conseguia reconhecer. Ele podia sentir o cara de cabelos negros com
seus olhos verdes fixos nele. Ele olhou em volta e viu que todo mundo
estava com os olhos fixos. Sua vez. Ele fechou seus olhos e lentamente
abriu sua mão, deixando seu celular escorregar e ganhar terreno no topo
da pilha. O som de ficar completamente sozinho.
Todd e a robótica Gabbe dirigiram-se para a porta sem nada além um
olhar na direção de Jimin, mas o terceiro cara se virou para o
acompanhante.
– Eu sou capaz de informá-lo, – disse ele, assentindo para Jimin.
– Não faz parte do nosso acordo, – A acompanhante replicou
automaticamente, como se estivesse esperando esse diálogo. – Você é
um novo estudante de novo – o que significa restrições de aluno novo. De
volta para o nível um. Se você não gosta disso, deveria ter pensado antes
de quebrar a sua condicional. –
O garoto permaneceu imóvel, inexpressivo, quando a acompanhante
rebocou Jimin – que endureceu com o – condicional – - até o fim de um
corredor amarelo.
– Mexa-se, – ela disse, como se nada tivesse acontecido. – Camas, – Ela
apontou para a janela oeste de um prédio de concreto cinza. Jimin podia
ver Gabbe e Todd misturarem-se devagar em direção deles, com o
terceiro garoto andando devagar, como se alcançá-los fosse a última coisa
em sua lista de coisas a fazer.
Os dormitórios eram formidáveis e quadrados, um sólido prédio cinza
cujas portas duplas não davam nada sobre a possibilidade de vida dentro
delas. Uma grande placa de pedra permanecia plantada no meio do
gramado morto, e Jimin se lembrou do website as palavras DORMITÓRIO
PAULINE esculpidas dentro dele. Parecia mais feio naquela manhã de sol
confusa do que na plana foto preto-e-branco.
Mesmo nessa distância, Jimin podia ver o bolor negro cobrindo a frente do
dormitório. Todas as janelas estavam obstruídas por uma carreira de
grossas barras de aço. Ele entortou os olhos. O que era aquele arame
farpado em torno do prédio?
A acompanhante olhou para a lista, folheando o arquivo de Jimin. –
Quarto sessenta e três. Deixe sua bolsa em meu escritório com o resto
deles por agora. Você pode desfazer essa tarde. –
Jimin arrastou sua mala vermelha rumo a outras três malas pretas sem
classificação. Então ele chegou a refletir sobre seu celular, onde ele
costumava colocar as coisas que precisava lembrar. Mas, enquanto sua
mão procurava em seu bolso vazio, ele suspirou e se comprometeu a
gravar o número do quarto na memória.
Ele ainda não entendia a razão pela qual não podia ficar com seus pais;
sua casa em Thunderbolt ficava a menos de uma hora da Sword & Cross.
Ele havia se sentido tão bem em sua casa em Savannah, onde, como sua
mãe sempre dizia, até o vento soprava preguiçosamente. O lugar mais
suave da Georgia, tinha o ritmo adequado ao jeito de Jimin mais do que
New England nunca teve.
Mas a Sword & Cross não era como Savannah. Era quase como um lugar
qualquer, exceto pelo fato de ser um lugar sem vida e sem cor, onde o
tribunal a havia colocado hospedada. Ele havia escutado seu pai no
telefone com o diretor outro dia, concordando em seu jeito confuso e fala
de professor de Biologia, – Sim, sim, talvez seja melhor para ele ser
supervisionada todo tempo. Não, não, nós não queremos interferir no seu
sistema. –
Claramente, seu pai não havia visto as condições de supervisão de sua
filho único. Esse lugar parecia uma prisão de segurança máxima.
– E sobre, como você disse – os vermelhos? – Jimin perguntou para a
acompanhante, pronto para ser liberado da excursão.
– Vermelhos, – a acompanhante disse, apontando para um pequeno fio
do teto: lentes com uma luz piscante vermelha. Jimin não havia visto isso
antes, mas assim que a acompanhante apontou a primeira, ele pode notar
que estavam em todo lugar.
– Cameras? –
– Muito bem, – a acompanhante disse, a voz gotejando
condescendência. – Nós a deixamos evidente a fim de lembrá-los. Todo
tempo, a todo momento, nós a observamos. Então, não estrague – quer
dizer, se você puder evitar. –
Todo o tempo, todos falavam com Jimin como se ele fosse uma completo
psicopata, e ele estava bem perto de acreditar que isso era uma verdade.
Por todo o verão, as memórias a vinham assustando, em seus sonhos e
nos raros momentos em que seus pais a deixavam sozinho. Alguma coisa
havia acontecido no chalé, e todo mundo (incluindo Jimin) estava
morrendo para saber exatamente o quê. A polícia, o juiz, o assistente
social, haviam todos tentado forçar a verdade dele, mas ele não sabia
nada tanto quanto eles. Ele e Trevor haviam brincado a tarde inteira,
perseguindo um ao outro pela fileira de chalés em volta do lago, longe do
resto da feMiss Ele tentou explicar que essa havia sido a melhor noite de
sua vida, até se tornar a pior.
Ele gastou muito tempo repassando aquela noite em sua mente, ouvindo
a risada de Trevor, sentindo suas mãos em volta de sua cintura, e tentar
conciliar seus instintos de que ele era realmente inocente.
Mas agora, cada regra e regulamento da Sword & Cross parecia trabalhar
contra esse pensamento, parecia sugerir que ele era, de fato, perigoso e
precisava ser controlado.
Jimin sentiu uma mão firme em seu ombro.
– Olha, – a acompanhante disse – se isso a faz se sentir melhor, você
está longe de ser o pior caso aqui. –
Foi o primeiro gesto humano que ela demonstrou à Jimin, o que o fez
acreditar que ele queria fazê-lo se sentir melhor. Mas... Ele havia sido
mandado para cá por causa da suspeita morte do cara por quem ele era
louco, e ele estava – longe de ser o pior caso – ? Jimin se perguntou com o
que exatamente eles lidavam na Sword & Cross.
– O.k. A orientação terminou. – A acompanhante disse. – Você está por
sua conta agora. Aqui está um mapa se você precisar encontrar algo a
mais. – Ela deu a Jimin uma cópia de um bruto mapa desenhado à mão,
então olhou para seu relógio. – Você tem uma hora até sua primeira aula,
mas as minhas novelas começam as cinco, então, – - Ela balançou sua
mão para Jimin - – Mantenha-se escasso. E não se esqueça, – ela disse,
apontando para as câmeras mais uma vez – Os vermelhos estão de olho
em você – .
Antes que Jimin pudesse replicar, um garoto magro, de cabelos castanhos
apareceu à sua frente, abanando seus dedos longos na face de Jimin.
– Ooooh, – o garoto zombou com uma voz fantasmagórica, dançando em
volta de Jimin em círculos. – Os vermelhos estão de olho em vocêêêê. –
– Sai daqui, Taehyung , antes que eu tenha que lobotomizá-lo, – a
acompanhante disse, embora fosse claro por seu breve, mas genuíno,
sorriso que ela possuía alguma bruta afeição pelo garoto louco.
E estava claro que Taehyung não era recíproca ao amor. Ele fez um gesto
obsceno para a acompanhante, então parou na frente de Jimin, a
enfrentando para que ficasse ofendido.
– E só por isso, – a acompanhante disse, anotando furiosamente em seu
caderninho – você ganhou a tarefa de mostrar tudo em volta para o
pequeno Miss Sunshine hoje. –
Ela apontou para Jimin, que parecia qualquer coisa, menos ensolarado,
com suas jeans pretas, botas pretas e blusa preto. Na seção do – código de
vestimenta – , o website da Sword & Cross falava alegremente que
enquanto os alunos tivessem bom comportamento, eles estavam livres
para vestir o que quisessem, porém, com duas condições: o estilo deve ser
modesto e as roupas deviam ser pretas. Muita liberdade.
A blusa de gola tartaruga que sua mãe a havia forçado a usar não fazia
nada pelas suas curvas, e até sua melhor forma havia sumido: seu
cabelo preto, que costumava cair sobre seus ombros, havia sido
completamente tosqueado. O fogo do chalé havia queimado seu couro
cabeludo e deixado seu cabelo desigual, então depois da longa, silenciosa
viagem de Dover para casa, sua mãe o colocara na banheira, trouxe o
barbeador elétrico do pai e sem nenhuma palavra raspou sua cabeça.
Durante o verão, seu cabelo havia crescido um pouco, apenas o suficiente
para que suas ondas, outrora invejáveis, agora pairassem logo abaixo de
suas orelhas.
Taehyung o avaliou, dando um tapa com um dedo contra seus finos lábios
pálidos. – Perfeito, – ele disse, dando um passo a frente para colocar seus
braços em volta de Jimin. – Eu estava realmente pensando que eu poderia
usar um novo escravo. –
A porta do salão abriu e entrou o menino de olhos verdes. Ele balançou a
cabeça e disse para Jimin, – Esse lugar não liga de te despir para fazer
alguma busca. Então, se você está guardando qualquer outro risco – ele
ergueu uma sobrancelha e um punhado de objetos desconhecidos da
caixa - – salve-se dos perigos. –
Atrás de Jimin, Taehyung prendia o riso. O cara virou a cabeça e quando seus
olhos registraram Taehyung, ele abriu sua boca e a fechou novamente, como
se não tivesse certeza do que fazer.
– Taehyung, – ele disse uniformemente.
– Cam, – ele replicou.
– Você o conhece? – Jimin sussurrou, se perguntando se havia o mesmo
tipo de facções em escolas reformatórias como haviam na Dover.
– Não me lembre, – Taehyung disse, arrastando Jimin para fora da porta,
dentro da cinza e alagada manhã.
As costas do prédio principal dava em uma calçada lascada, em volta de
um campo bagunçado. A grama estava tão grande que parecia mais um
terreno baldio que uma área pública de uma escola, mas um desbotado
placar e arquibancadas de madeira provavam o contrário.
Por trás do contorno do lugar quatro prédios de aparência severa: o
dormitório longe à direita; uma gigante, feia e velha igreja à extrema-
esquerda e outras duas grandes estruturas no meio deles, que Jimin
imaginou serem as salas de aula.
Era isso. Seu mundo inteiro estava reduzido àquela triste visão de seus
olhos.
Taehyung imediatamente desviou do caminho direito e levou jimin ao
campo, sentando no alto de uma das arquibancadas de madeira
molhadas.
A estrutura correspondente em Dover gritava atleta da Ivy League em
formação, então jimin sempre havia evitado ficar lá. Mas esse campo
vazio, com esses enferrujados, deformados gols, contava uma história
completamente diferente. Uma que não foi fácil para jimin descobrir. Três
urubus turcos passaram acima de sua cabeça, e um vento triste chicoteou
sobre os galhos nus dos carvalhos. jimin estremeceu e abaixou seu queixo
para dentro da gola de tartaruga.
– Então, – taehyung disse – Agora você conheceu Randy. –
– Eu pensei que fosse Cam. –
– Eu não estou falando dele, – taehyung disse rapidamente – A mulher-
macho daqui. – taehyung virou a cabeça para o escritório onde eles haviam
deixado a acompanhante vendo TV. – Quê que 'cê acha? Homem ou
mulher? –
– Hm... Mulher? – jimin tentou. – Isso é um teste? –
taehyung esboçou um sorriso. – O primeiro de muitos. E você passou. Pelo
menos, eu acho que você passou. O gênero da maioria do corpo docente
daqui é um debate escolar em curso. Não se preocupe, você vai entrar
nele. –
jimin achou que taehyung estava fazendo uma piada – nesse caso, legal. Mas
isso tudo era como uma enorme mudança da Dover. Em sua antiga escola,
as gravatas-verdes-esgotantes, os engomados futuros senadores
praticamente escorriam pelos corredores, no requintado silêncio que o
dinheiro parecia passar acima de tudo.
Mais do que nunca, o pessoal da Dover lançavam a jimin olhares tortos de
não-suje-as-paredes-brancas-com-suas-impressões. Ele tentou imaginar
taehyung lá: se espreguiçando nas arquibancadas, fazendo uma alta, bruta
piada com sua voz mordaz. jimin tentou imaginar o que Charlie pensaria de
taehyung. Nunca havia ninguém como ele na Dover.
– Okay, desembucha, – taehyung ordenou. Pulando da arquibancada mais
alta e apontando para que jimin se juntasse, ele disse – O que cê fez para
entrar aqui? –
O seu tom de voz era brincalhão, mas de repente jimin teve que se sentar.
Era ridículo, mas ele meio que esperava passar por seu primeiro dia de
aula sem seu passado vindo a mente, roubando sua fina fachada de calma.
É claro que as pessoas aqui vão querer saber.
Ele pode sentir o sangue arranhar suas têmporas. Acontecia sempre que
ele tentava pensar voltar – realmente voltar – àquela noite. Ele nunca
parou de se sentir culpado com o que havia acontecido a Trevor, mas ele
também tentava duramente não ficar atolado nas sombras que, por agora,
eram a única coisa que ele se lembrava do acidente. Aquela escuridão, as
coisas indefinidas que ele nunca poderia contar para ninguém.
Risca isso – ele começou a contar a Trevor a presença peculiar que sentiu
naquela noite, sobre as curvas retorcidas sobre suas cabeças, tentando
assombrar sua noite perfeita. É claro, então já era tarde demais. Trevor se
foi, seu corpo queimado e irreconhecível, e jimin era... Ele era... Culpado?
Ninguém sabia sobre as tenebrosas formas que ele havia visto no escuro.
Elas sempre vinham para ele. Elas iam e vinham há tanto tempo que jimin
não conseguia se lembrar a primeira vez que as vira. Mas ele se lembrava
da primeira vez que ele percebeu que as sombras não vinham para todos
– ou na verdade, para ninguém além dela. Quando ele tinha sete anos, sua
família estava de férias em Hilton Head e seus pais o levaram em uma
passeio de barco. Estava perto do pôr-do-sol quando as sombras
começaram a ondular sobre a água, e ele se virou para seu pai e disse – O
que você faz quando eles aparece, pai? Porque você não se assusta com
os monstros? –
Não haviam monstros, seus pais a asseguraram, mas jimin repetia
insistentemente a presença de alguma coisa oscilante e negra que o levou
a várias consultas com o oftalmologista da família, e depois óculos, e
depois consultas com o médico de ouvido depois dele fazer uma errônea
descrição do som rouco de vento soprando forte que as sombras faziam
algumas vezes – e depois, terapia, e depois, mais terapia, e finalmente a
prescrição de remédios antipsicóticos.
Mas nada os fazia ir embora.
Quando ele fez catorze, jimin se recusou a tomar seus remédios. Foi
quando eles encontraram o Dr. Sanford e a Dover School perto. Eles
voaram para New Hampshire, e seu pai dirigiu seu carro alugado por uma
rodovia longa e sinuosa para a mansão no topo da colina chamada Shady
Hollows. Eles colocaram jimin de frente para um homem de jaleco e o
perguntaram se ele continuava tendo suas – visões – . A palma das mãos
de seus pais estavam suando, enquanto eles agarravam as mãos,
sobrancelhas franzidas com o medo de que houvesse algo terrivelmente
errado com seu filho.
Ninguém veio e disse que se ele dissesse para o Dr. Sanford o que eles
queriam que ele dissesse, ela provavelmente estaria vendo muito mais da
Shady Hollows. Quando ele mentia e agia normalmente, ele estava
permitido a frequentar a Dover e só tinha que visitá-lo uma vez ao mês.
jimin tinha sido permitido de parar de tomar as horríveis pílulas assim que
ele começou a fingir que não via mais as sombras. Mas ele continuava sem
ter controlo sobre elas quando apareciam. Tudo o que ele sabia era que o
catálogo mental dos lugares que eles apareceram para ele no passado –
florestas densas, águas turvas – se tornaram os lugares que ele evitava a
todo custo. Tudo o que ele sabia era que quando as sombras vinham, elas
estavam acompanhadas de um frio calafrio sobre sua pele, um repugnante
sentimento diferente de qualquer outra coisa.
jimin sentou de pernas abertas em uma das arquibancadas e segurou suas
têmporas entre seus polegares e dedos médios. Se ele queria fazer aquilo
completamente hoje, ele tinha que colocar seu passado em recesso na sua
mente. Ele não conseguia sondar sua memória daquela noite por ele
mesmo, então não havia nenhum jeito dele arejar todos os detalhes
horríveis para algum esquisito, maníaco estranho.
Em vez de responder, ele observou taehyung, que estava deitado de costas
para as arquibancadas, um par de enormes óculos escuros esportivos
cobrindo o melhor da sua face. Era difícil afirmar, mas ele estava olhando
para jimin, também, porque, depois de um segundo, ele se levantou das
arquibancadas e sorriu.
– Corte meu cabelo como o seu. – Ele disse.
– O quê? – jimin engasgou. – Seu cabelo é lindo. –
Era verdade: taehyung tinha um longo, cabelo, que jimin tinha
perdido desesperadamente. Seus cabelos castanhos soltos brilhavam na luz do
sol, ganhando um tom avermelhado. jimin enfiou seu cabelo atrás das
orelhas, mesmo que ele ainda não fosse longo o bastante para fazer
qualquer coisa exceto bater de volta na frente deles.
– Linda porcaria – taehyung disse – O seu é sexy, moderno. E eu quero ele.
–
– Oh, um, okay, – jimin disse. Seria isso um elogio? Elr não sabia se
deveria estar lisonjeado ou enervado com o jeito que taehyung assumiu que
poderia ter o que desejasse, até quando isso pertencia a outra pessoa. –
Onde nós vamos conseguir - –
– Tcharã, – tsehyung abriu sua bolsa e tirou de lá o canivete suíço rosa que
Gabbe havia deixado na caixa de perigos. – Que foi? – ele disse, vendo a
reação de jimin. – Eu sempre mantenho meu dedo pegajoso no dia que os
novos estudantes tem que se livrar dessas coisas. A ideia sozinha me veio
em meus dias de cão no entretenimento da Sword & Cross... Hm...
Acampamento de verão. –
– Você passa o verão inteiro... Aqui? – jimin estremeceu.
– Ha! Falando como um verdadeiro novato! Você provavelmente está
esperando umas férias de primavera. – Elo atirou para jimin o canivete
suíço. – Nós não vamos deixar esse inferno. Nunca. Agora corte. –
– E as câmeras? – jimin perguntou, olhando em volta, com o canivete em
mãos. Haveria câmeras em algum lugar aqui.
taehyung sacudiu a cabeça. – Me recuso a me associar com maricas. Você
pode lidar com isso ou não? –
jimin assentiu.
– E não me diga que você nunca cortou um cabelo antes. – taehyung
agarrou o canivete suíço por trás de jimin, puxou a ferramenta de tesoura
e entregou-o de volta. – Nenhuma outra palavra até você me dizer o quão
fantástica fiquei.
– No – salão – da banheira de seus pais, a mãe de jimin havia puxado os
restos de seu longo cabelo em um bagunçado rabo-de-cavalo, antes de
jogar tudo aquilo fora. jimin estava certo de que havia um método mais
estratégico de cortar cabelos, mas como alguém que evitara cortes de
cabelo durante toda a vida, a técnica do rabo-de-cavalo era a única que
conhecia. Ele recolheu o cabelo de taehyung em suas mãos, pegou o elástico
que estava em volta de seu pulso, segurou a pequena tesoura firmemente
e começou a cortar.
O rabo-de-cavalo caiu nos pés dele e taehyung sobressaltou-se e apanhou
subitamente. Ele o pegou e segurou na direção do sol. O coração de jimin
se comprimiu com a visão. Ele estava agonizando pelo seu próprio cabelo
perdido, e todas as outras perdas que isso simbolizava. Mas taehyung só
deixou um delicado sorriso espalhar pelos seus lábios. Ele correu os dedos
pelo rabo-de-cavalo, e depois o jogou dentro da bolsa.
– Maravilhoso, – ele disse. – Continue. –
– taehyung – jimin sussurrou, antes que pudesse parar a si mesma. – Seu
pescoço. Está todo –
– Cheio de cicatrizes? – taehyung disse. – Você pode dizer isso. –
A pele do pescoço de taehyung, desde a parte de trás de sua orelha direita
até seu colar de ossos estava com reentrâncias, marmorizadas e
brilhantes. A mente de jimin foi até Trevor – para aquelas horríveis
imagens. Até seus próprios pais não a olharam depois que o viram. Ele
estava tendo um mal momento olhando para taehyung agora.
taehyung agarrou a mão de jimin e pressionou contra sua pele. Era quente e
frio, ao mesmo tempo. Era liso e áspero.
– Eu não tenho medo disso, – taehyung disse. – Você tem? –
– Não. – jimin disse, enquanto ela desejava que taehyung tirasse sua mão,
então jimin poderia tirar a dele também. Seu estômago se contorceu
quando ele se questionou se a pele de Trevor seria assim.
– Você tem medo do que realmente é, jimin? –
– Não, – jimin disse outra vez, rapidamente. Deveria ser óbvio que ele
estava mentindo. Ele fechou os olhos. Tudo que ele desejava da Sword &
Cross5
era um novo começo, um lugar onde as pessoas não olhariam para
ele como taehyung estava olhando agora. No portão da escola essa manhã,
quando seu pai sussurrou o lema da família em seu ouvido - – Prices
nunca quebram – - parecia possível, mas agora jimin sentia-se decaído e
expoMiss Ele tirou sua mão. – Então, como isso aconteceu? – ele
perguntou, olhando para baixo.
– Se lembra que eu não pressionei você sobre o que você fez para estar
aqui? – tsehyung perguntou, erguendo suas sobrancelhas.
jimin assentiu.
taehyung gesticulou para as tesouras. – Arrume a parte de trás, ok? Talvez
isso me faça parecer realmente bonito. Talvez me faça parecer com você.
Mesmo com o mesmo corte, taehyung permaneceria como uma versão
subnutrida de jimin. Enquanto jimin estava ocupado com seu primeiro
corte de cabelo, taehyung estava dentro das complexidades da vida na
Sword & Cross.
– Esse bloco de celas ali é Augustine. É lá onde nós temos nossos tão
falados eventos sociais nas noites de quarta-feira. E todas as nossas aulas,
– ele disse, apontando para a construção com cor de dente amarelado,
dois prédios à direita do dormitório. Parecia que havia sido desenhado
pelo mesmo sádico que desenhara o Pauline. Era tristemente quadrado,
tristemente parecido com uma fortaleza, cercado pelo mesmo arame
farpado e janelas com grades. Uma névoa cinza fazia as paredes
parecerem camufladas por musgos, tornando impossível de ver se alguém
estava lá.
– Aviso claro, – taehyung continuou – Você vai odiar as aulas aqui. Você
não é humana se não odiar. –
– Por quê? O que há de tão ruim com elas? – jimin perguntou. Talvez
taehyung apenas não gostasse de escola no geral. Com seu esmalte preto,
e a bolsa preta que parecia grande o suficiente para
caber apenas o novo canivete suíço dele, ele não parecia exatamente um
estudioso.
– As aulas que temos aqui são perversas – disse taehyung – Pior, elas
estripam fora a nossa alma. De oito garotos neste lugar, eu digo que
devemos ter apenas tês almas restando. – Ele deu uma olhada. – Não dito
de qualquer forma...
– As aulas aqui são sem alma – , disse taehyung – Pior ainda, eles tiram
você da sua alma – Das oitenta crianças neste lugar, eu diria que nós só
temos cerca de três almas restantes – . Ele olhou para cima – Não dito, de
qualquer maneira ... –
Isso não parecia proMissor, mas jimin ficou pendurado numa outra parte
da resposta de taehyung – Espere, há apenas oitenta crianças na escola
inteira? – No verão antes de ir para Dover, jimin se debruçara sobre o
manual de estudantes na perspectiva da espessura, para memorizar todas
as estatísticas – Mas tudo o que tinha aprendido até agora sobre a Sword
& Cruz a surpreendeu, fazê-lo perceber que ele estava vindo para a escola
reforma completamente despreparado –
taehyung assentiu com a cabeça, fazendo jimin acidentalmente tesourar fora
um pedaço de cabelo que ela queria deixar – Oops – Esperando que
taehyung não tenha notado. Ou talvez ele só ache que ele estava irritada –
– Oito classes, dez garotos, um estoiro – Você conhece toda a sujeira
muito rapidamente, –
taehyung disse – E vice-versa –
– Eu acho que sim – , concordou jimin, mordendo o lábio – taehyung estava
brincando, mas jimin perguntou se ele estaria sentada aqui com aquele
sorriso frio em seu olhos castanhos pastel se soubesse a natureza exata do
passado de jimin – Quanto mais tempo jimin poderia manter seu passado
em segredo, melhor seria para ele –
– E você vai querer orientar-se claro nos casos difíceis –
– Casos difíceis? –
– As crianças com os dispositivos, pulseira de rastreamento – , disse
taehyung – Cerca de um terço do corpo estudantil. –
– E eles são os únicos que – .
– Você não quer se meter com. Confie em mim – .
– Bem, o que eles fazem? – jimin perguntou: –
Tanto quanto jimin queria manter sua própria história em segredo, ele não
gostou da maneira de taehyung a tratá-lo como uma espécie de ingénuo –
Tudo o que esses garotos tinham feito não poderia ser muito pior, do que
o que todos disseram que ela tinha feito – Ou poderia? Afinal, ele sabia
quase nada sobre essas pessoas e esse lugar. A possibilidade de despertou
um medo cinza frio na boca do estômago –
– Oh, você sabe – , taehyung demorou – Ajudar em actos terroristas – até
picar até seus pais e os assar no espeto – .Ele virou-se para encarar jimin
–
– Cale-se – , disse jimin –
– Estou falando sério – Aqueles psicopatas estão sob restrições muito
mais rigorosas do que o resto dos desaparafusados aqui – Chamamos-
lhes os algemados. –
jimin riu do tom dramático de taehyung –
– Seu corte de cabelo está feito – , disse ele, passando as mãos pelos
cabelos de taehyung para dar um pouco de volume – Na verdade, parecia
realmente cool –
– Doce – , taehyung disse: – Ele virou o rosto para jimin – Quando ele
passou os dedos pelo cabelo dele, as mangas do suéter preto cairam em
seus braços e jimin teve um vislumbre de uma pulseira preta, com linhas
pontilhadas de pregos de prata, e, no pulso, outra banda que parecia mais
... mecânica – taehyung o pegou olhando e ergueu as sobrancelhas
diabolicamente –
– Eu disse, ya – , disse ele – Total malditos psicopatas. – Ele sorriu –
Venha, eu lhe darei o resto do tour. –
jimin não tinha muita escolha – Ele dispersou abaixo nas arquibancadas
após taehyung, esquivando-se quando um dos abutres peru desceu
perigosamente baixo – taehyung, que não pareceu perceber, apontou para
uma igreja envolvida em líquen6
na extremidade direita da área publica –
– Aqui você vai ver o ginásio de ponta, – ele disse, assumindo um tom
nasalado de guia turístico. – Sim, sim, para os olhos inexperientes parece
uma igreja. Costumava ser. Nós temos um tipo de arquitetura de segunda
mão na Sword & Cross. Alguns anos atrás, algum maluco por exercícios
físicos apareceu falando besteira sobre como supermedicar os
adolescentes arruina a sociedade. Ele doou uma tonelada de dinheiro de
merda então eles transformaram a igreja num ginásio. Agora os poderosos
podem pensar que a gente desconta nossas "frustrações" de um jeito
mais "produtivo". –
jimin gemeu. Ele sempre detestou educação física.
– Garoto do meu coração, – taehyung se condoeu – Treinador Diante é di-
a-bó-li-co. –
Enquanto jimin se movimentou para acompanhar, ele reparou no resto do
recinto. O complexo da Dover havia sido bem cuidado, tudo manicurado e
pontilhado em espaços uniformes, árvores cuidadosamente podadas.
Sword & Cross parecia que havia tudo caído subitamente e abandonado
no meio de um pântano. Salgueiros cujos galhos apontavam para baixo
balançavam para o chão, kudzus7
cresciam pelo muro em lençóis, e todo o
6:Thallophytic - qualquer de numerosas plantas intricadas, constituídas por uma alga ou fungo.
7:Planta, daquelas que geralmente crescem em volta de lugares abandonados.
terceiro piso escutava o barulho do respingo.
E não era apenas a maneira que o local parecia. Cada respiração úmida de
jimin permanecia presa em seus pulmões. Apenas respirar na Sword &
Cross fazia ele se sentir como se estivesse atolando em areia movediça.
– Aparentemente os arquitetos entraram num impasse enorme sobre
como melhorar o estilo dos prédios da antiga academia militar. O
resultado é que nós acabamos em um lugar metade penitenciária, metade
zona de tortura medieval. E sem jardineiro, – taehyung disse, tirando um
pouco de limo de suas botas de combate. – Tosco. Oh, e aqui está o
cemitério. –
jimin seguiu taehyung apontando o dedo para a parte mais longe do lado
esquerdo do terreno, após o dormitório. Um manto ainda mais espesso de
névoa pairava sobre a porção de terra sem muros. Era delimitado dos três
lados por uma densa floresta de carvalhos. Ele não podia ver dentro do
cemitério, que parecia quase afundar-se debaixo da superfície, mas ele
podia sentir o cheiro da podridão e ouvir o coro de cigarras zumbindo nas
árvores. Por um segundo, ele pensou que ouviu o silvo das sombras – mas
ele piscou e eles se foram.
– Isso é um cemitério? –
– Ahã. Isso costumava ser uma academia militar, muito tempo atrás nos
dias da Guerra Civil. Então era aqui que eles jogavam todos os seus
mortos. É arrepiante como todos caem fora. E meu sinhô, – taehyung disse,
acumulando um falso sotaque suliMiss – Isso fede até os céus! – Então,
ela piscou para jimin. – Nós ficamos lá para caramba. –
jimin olhou para taehyung para ver se ela estava brincando. taehyung só deu
de ombros.
– Okay, foi só uma vez. E foi só depois de um grande pharmapalooza8
. –
Ora, essa era uma palavra que jimin reconhecia.
– Arrá – taehyung riu. – Eu acabei de ver uma luz acender aí em cima.
Então, alguém está em casa. Bem, jimin, minha querida, você
provavelmente foi a festas de internatos, mas você nunca viu como as
crianças de reformatórios colocam tudo abaixo. –
– Qual é a diferença? – jimin perguntou, tentando esconder o fato que
8:Gíria: mistura de medicamentos com efeito psicotrópico.
ele nunca foi a nenhuma grande festa na Dover.
– Você vai ver. – taehyung parou e se virou para jimin. – Você vem essa
noite e fica lá, okay? – Ele surpreendeu jimin pegando sua mão. –
Promete? –
– Mas eu pensei que você disse que eu devia manter distância dos casos
perigosos, – jimin brincou.
– Regra número dois – Não me escute! – taehyung gargalhou, balançando a
cabeça. – Eu sou certificavelmente insano! –
Ele deu uma corridinha e jimin foi atrás dele.
– Espere, qual é a regra número um? –
– Acompanha! –
***
Quando eles viraram a esquina das salas de aula de paredes de bloco de
cimento, taehyung deu uma parada. – Pareça legal, – ele disse.
– Legal, – jimin repetiu.
Todos os outros estudantes pareciam estar agrupados em volta das
árvores estranguladas pelo kudzu do lado de fora do Augustine. Nenhum
deles parecia exatamente feliz por estar do lado de fora, mas ninguém
parecia exatamente pronto a entrar, também.
Nunca houve muito código de vestimenta na Dover, então jimin não
estava acostumada com a uniformidade do corpo estudantil. Então,
novamente, apesar de todos ali usarem os mesmos jeans pretos, blusas de
gola alta pretas, e suéteres pretos amarrados sobre seus ombros ou em
volta da cintura, continuava havendo diferenças substanciais no jeito que
eles o usavam.
Um grupo de garotas tatuadas paradas em um círculo cruzado usavam
pulseiras até seus cotovelos. As bandanas pretas no cabelo delas lembrou
a jimin um filme que ele viu uma vez sobre gangues femininas de
motocliclistas. Ele alugou porque pensou: O que pode haver de mais legal
que uma gangue de motoqueiros só de mulheres? Agora os olhos de jimin
trancaram-se em uma das garotas no gramado. O estrabismo lateral da
garota de olhos-de-gato delineados de preto fez jimin rapidamente mudar
a direção de seu olhar.
Um cara e uma garota que estavam de mãos dadas tinham lantejoulas
costuradas em formato de ossos cruzados nas costas de seus suéteres
pretos. A cada poucos segundos, um dos dois puxava o outro pra um beijo
nas têmporas, no lóbulo da orelha, nos olhos. Quando eles envolveram
seus braços em volta um do outro, jimin pode ver que ambos usavam
pulseiras de rastreamento que estavam piscando. Eles pareciam um pouco
rudes, mas estava óbvio o quanto eles estavam apaixonados. Toda vez que
ele via as argolas de suas línguas piscando, jimin sentia um aperto solitário
beliscando seu peito.
Atrás dos namorados, um grupo de garotos loiros estavam pressionados
contra a parede. Cada um deles usava seu suéter, apesar do calor. E todos
eles tinham camisas oxford brancas por baixo, o colarinho engomado para
cima. As barras remendadas de suas calças pretas batiam na beira de seus
sapatos polidos, que calçavam perfeitamente. De todos os estudantes no
perímetro, esses garotos pareciam para jimin os mais próximos do estilo
da Dover. Mas um olhar mais aproximado rapidamente os diferenciava
dos garotos que ele costumava conhecer. Os caras como Trevor.
Apenas estando em grupo, esses garotos radiavam um tipo especial de
tenacidade. Estava bem ali no olhar de seus olhos. Era difícil de explicar,
mas isso de repente surpreendeu jimin, que assim como ele, todos nessa
escola tinham um passado. Todos aqui provavelmente possuiam segredos
que não queriam compartilhar. Mas ele não sabia se essa descoberta a
fazia se sentir mais ou menos isolado.
taehyung percebeu os olhos de taehyung rondando os outros alunos.
– Nós todos fazemos o que podemos para sobreviver durante o dia, – ele
disse, encolhendo. – Mas no caso de você não ter observado os abutres
aproveitadores, esse lugar cheira muito bem a morte. – Ele tomou um
lugar em um banco debaixo de um salgueiro e afagou o lugar perto dele
para jimin.
jimin afastou um amontoado de folhas molhadas em decomposição, mas
logo antes de sentar, ela notou outra violação do código de vestimenta.
Uma violação muito atraente.
Ele vestia uma brilhante echarpe vermelha em volta do seu pescoço.
Estava longe de estar frio lá fora, mas ele tinha uma jaqueta de couro
preta de motociclista em cima de seu suéter preto, também. Talvez fosse
porque ele era o único ponto de cor no perímetro, mas ele era tudo que
jimin podia olhar. Na verdade, tudo parecia pálido em comparação a isso.
Por um longo momento, jimin se esqueceu de quem era.
Ele notou seu cabelo loiro profundo apropriado. Suas
maçãs do rosto salientes, os óculos escuros que cobriam seus olhos, a
forma suave de seus lábios. Em todos os filmes que tinha visto, em
todos os livros que ele havia lido, o interesse amoroso era
enlouquecedoramente bonito – exceto por aquela única pequena falha. O
dente lascado, o charmoso topete, a bela marca em sua bochecha
esquerda. Ele sabia por que – se o herói fosse imaculado demais, havia o
risco dele ser inacessível. Mas acessível ou não, jimin sempre teve um
fraco pelos sublimemente bonitos. Como esse cara.
Ele inclinou-se contra o prédio com suas mãos cruzadas suavemente sobre
seu peito. E por um milésimo de segundo, jimin viu uma rápida imagem
dele jogado nos braços dele. Ele sacudiu a cabeça, mas a visão permanecia
tão clara que ela quase decolou em direção a ele.
Não. Isso era louco. Certo? Mesmo numa escola cheia de malucos, jimin
estava certa de que aquele instinto era insano. Ele nem ao menos
conhecia ele.
Ele estava falando com um aluno de dreads e sorriso cheio de dentes. Os
dois estavam rindo forte e genuinamente – de um jeito que fez jimin se
sentir estranhamente enciumada. Ele estava tentando lembrar qual foi a
última vez que ela riu, realmente, daquele jeito.
– Esse é Min Yoongi , – taehyung disse, se inclinando e lendo sua mente.
– Eu posso dizer que ele chamou a atenção de alguma pessoa. –
– Eufemismo, – jimin concordou, envergonhada quando ele percebeu
como ele devia ter parecido para taehyung.
– É bem, se você gosta desse tipo de coisa. –
– O que tem para não gostar? – jimin disse, sem conseguir fazer as
palavras pararem de sair.
– O amigo dele lá é Roland, – taehyung disse, apontando na direção do
garoto negro. – Ele é legal. O tipo de cara que pode colocar sua mão nas
coisas, 'cê sabe? –
Não realmente, jimin pensou, mordendo seu lábio. – Que tipo de coisas? –
taehyung encolheu, usando seu canivete suíço roubado para cortar uma
vertente desgastada de seu jeans preto. – Apenas coisas. Tipo de coisas
que você-pede-e-recebe. –
– E Yoongi? – jimin perguntou. – Qual é a história dele? –
– Oh, ela não desiste. – taehyung riu, depois limpou a garganta. – Ninguém
sabe de verdade, – ele disse. – Ele guarda bem firme sua misteriosa
personalidade masculina. Pode ser simplesmente o típico babaca de
reformatório. –
– Eu não sou estranho a babacas, – jimin disse, embora assim que as
palavras saíram, ele desejou poder pegá-las de volta. Depois do que
aconteceu com Trevor – o que quer que tenha acontecido – ele era a
última pessoa que deveria julgar pelas aparências. Mas, mais do que isso,
nas raras vezes que ele fazia uma pequena referência àquela noite, o
dossel preto das sombras se deslocava e voltava para ele, como se ele
estivesse de volta ao lago.
Ele olhou de volta para Yoongi. Ele tirou seus óculos e os deslizou para
dentro de sua jaqueta, então, virou-se e olhou para ele.
Seu olhar apanhou o dela, e jimin viu enquanto seus olhos alargaram-se e
rapidamente se estreitaram em um olhar surpreso. Quando o olhar de
Yoongi capturou o dele, sua respiração ficou presa em sua garganta. Ele o
reconhecia de algum lugar.
Mas ele iria se lembrar de conhecer alguém como ele. Ele iria se lembrar
de se sentir tão absolutamente assombrada quanto se sentia agora.
Ele percebeu que eles ainda estavam com os olhos presos quando ele
relampejou um sorriso para ele. Um jato de calor foi atirado nele e ele
teve que agarrar-se ao banco para se apoiar. Ele sentiu os lábios dele
derreteram-se num sorriso de volta para ele, mas então ele levantou sua
mão no ar.
E mostrou-lhe o dedo do meio.
jimin arfou e deixou seu olhar cair.
– O quê? – taehyung perguntou, alheia ao que havia acontecido. –
Esquece, – ele disse. – Nós não temos tempo. Eu sinto o sinal. –
O sinal tocou na dica, e todo o corpo estudantil começou o lento arrastar
de pés para dentro do prédio. taehyung estava segurando na mão de jimin e
declamando orientações sobre onde se encontrar com ele depois e
quando. Mas jimin continuava cambaleando por aquele perfeito estranho
ter-lhe mostrado o dedo do meio. Seu delírio momentâneo sobre Yoongi
sumiu. Qual era o problema daquele cara?
Logo antes de ele entrar em sua primeira aula, ele ousou olhar para trás.
Seu rosto estava vazio, mas não havia dúvida - ele estava observando ele ir
embora.