[CONCLUÍDA] Overlord| Jikook

By SaikoMente

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[CONCLUÍDA] "Solidão e escuridão combinadas, podem fazer com que coisas aconteçam nas sombras." Jimin decide... More

Reinado: LIVRO FÍSICO
A Dança com o diabo ▶PLAYLIST⏩
01° Reinado: Iniciação
02° Reinado: Decisão
03° Reinado: Ligação
04° Reinado: Imersão
5º Reinado: Aproximação
6º Reinado: Construção
7° Reinado: Destruição
8° Reinado: Aniquilação
9° Reinado: Fragmentação
10° Reinado: Retaliação
12° Reinado: Conexão
13° Reinado: Aquisição
14° Reinado: Ambição
15° Reinado: Presunção
16° Reinado: Estagnação
17° Reinado: Persuasão
18° Reinado: Submissão
19° Reinado: Divisão
20° Reinado: Regressão
21° Reinado: Ascenção
22º Reinado: Anunciação
23º Reinado: Restituição
24° Reinado: Intervenção
25º Reinado: Transformação
26° Último Reinado: FINAL + EPÍLOGO
PROMOÇÃO BOOKFRIDAY SÓ HOJE!

11° Reinado: Inquisição

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By SaikoMente


olá :)

Dessa vez podem ler sem medo

Bom, pelo menos sem medo relacionado ao emocional de vocês

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inquisição

substantivo feminino

1. averiguação metódica e rigorosa; inquirição.

2. HISTÓRIA DA RELIGIÃO

tribunal eclesiástico instituído pela Igreja católica no começo do século XVIII com o fito de investigar e julgar sumariamente pretensos hereges e feiticeiros, acusados de crimes contra a fé católica; Santo Ofício [Os condenados eram enviados ao Estado, para serem sentenciados.]

👑

Era fim de tarde e não achava nada a respeito de Jung Hoseok ali. — Você precisa de descanso, nada mais. Está próximo do horário da chegada do Rei, é perigoso que fique aqui. — Chung-hee respondeu.

— É por isso que pedi sua ajuda. O impasse que meu pai diz ter com o Grande Domo me é duvidoso. Caso contrário, por que me faria jantar com uma nobre de lá, ou por que Hoseok teria vindo pacificamente? Ignorei aquela noite como se não tivesse existido, porque eu estava comprometido... com Jimin. Mas então gostaria de contatar o senhor Hoseok para falar a respeito disso.

—Jung Hoseok tem serviços a cumprir. Não deve retornar a Belo Monte tão cedo.

— Nem por um chamado meu? — O mordomo estava claramente hesitante — Chung-hee, entenda. Eu não durmo. Me forço a comer. E sempre olho pela janela, esperando que ele volte. — disse, se levantando e virando-se para o janelão de vidro amarelado, suspirando, de costas para o mordomo. — E ao mesmo tempo tenho medo que ele retorne. Porque se voltar... Significa que perdi novamente o controle da minha mente.

O mordomo ponderou. — O senhor Park fez uma morada duradoura em você. — observou. — E talvez isso não seja saudável para sua vida, se te afeta à esse ponto.

Jungkook ergueu a sobrancelha, olhando para o outro por cima do ombro. — Te asseguro que não me lembro de mais de três ou quatro momentos saudáveis em toda a minha vida. Se tive, foram com você e Seokjin. Mas por quanto tempo estive lutando com doenças mentais? Por quanto tempo estive sozinho e preso? — estreitou os olhos, se voltando novamente para a janela. — Tem um fantasma pairando sobre mim o tempo inteiro.

— Jungkook, sua mãe...

— Eu não estou falando sobre a minha mãe. — disse, quase entredentes. — Eu dizia bobagens. Não volte a tocar nesse assunto, não preciso falar disso num momento como agora. Aliás esqueça que falamos disso, preciso de atenção e foco para algo muito mais importante, que realmente existe — comentou, erguendo um documento, mas bufando em seguida — Não há nada consistente por aqui... — murmurou, sentando e esfregando as têmporas, de olhos fechados.

— Talvez porque não tenha nada a ser encontrado, Jungkook. — o outro se aproximou, cuidadoso. — Sei que não gosta de falar sobre isso. Mas já é quase setembro novamente. Em pouco tempo se dará sua coroação.

— Chung-hee.

— A coroa deve ser o mais importante. Sua nova vida. Precisa estar focado nisso para conseguir reinar com destreza. Se não concorda com seu pai, subir ao trono é justamente sua chance de mudar sua realidade.

— Não pedi nada disso.

— As pessoas não pedem por seus destinos. E por isso se trata de destino. Não há nada que se possa fazer para mudar.

— Pensei que meu destino fosse passar o resto de minha vida com o senhor Park, e veja onde estamos? — abriu os braços. — procurando o culpado de sua morte.

— Então esse talvez não fosse o seu destino. — Chung-hee disse, mas Jungkook já não ouvia mais, atento ao que ele mesmo havia dito.

— Morte... — murmurou, se lembrando de algo. Os olhos esbugalhados do ator, a mulher citando os versos com ele. E o verso dito precisamente à ele. — Chung-hee, existe algum mercado perto de uma igreja, nos arredores do palácio? Das usadas nas celebrações de nascimentos?

O mordomo lhe olhou confuso. — Há um bom tempo não visito a cidade, mas...

— Não. Não na cidade, aqui. — se levantou, indo para o outro lado da mesa. — No meio da floresta, em algum lugar.

Chung-hee franziu o cenho. — Seria difícil algo assim. Mas a floresta que cerca o palácio é densa e mapeada.

— Então isso quer dizer que podemos...

— Jeon Jungkook, o que pensa que está fazendo? — ambos olharam para a porta, vendo o Rei entrar por ela. A expressão do mordomo vacilou, mas não a de Jungkook.

— Pensei que o senhor chegaria mais tarde — disse pacientemente, após um momento, recuperando totalmente sua expressão nula.

— Te fiz uma pergunta. O que todos os documentos espalhados significam? O que está fazendo aqui?

O outro ergueu o queixo antes de responder — Estou aqui porque me tornarei Rei em menos de um ano, e há meses não me inteiro sobre nada do meu próprio reino. Pensei em estudar os documentos na sua ausência, já que não quer me ver. Receio que falhei ao calcular meu tempo.

O mais velho lhe encarou, de olhos estreitos, antes de olhar para o mordomo, que já havia assumido sua posição de tranquilidade novamente. — Isso tem alguma verdade, senhor Chung-hee? — o Rei questionou, depois de um longo silêncio.

— A palavra do Príncipe deveria valer mais que a minha. Ele é o seu filho — foi o que respondeu. O Jeon mais velho ponderou por um longo momento, antes de balançar a cabeça, suspirando.

— Não é hora para se estressar mais com tudo isso. Vá para o seu quarto e descanse, e depois desça para comer — disse, numa entoação suave. Jungkook lhe encarou, antes de se mover do lugar. Se aproximou do rei, inclinando minimamente a cabeça antes de sair do cômodo. O Jeon mais velho olhou para o mordomo.

— Chung-hee. Jungkook está dizendo a verdade?

— Ele quis ver os documentos, e estudou pela tarde inteira cada um dos que encontrou. — foi o que respondeu, calmamente.

O outro assentiu. — A saúde mental recuperada do meu filho é o que ele precisa. Vejo mudanças em sua aparência, mas é a primeira vez que algo em seu comportamento muda. — suspirou. — Só precisa de paz. — Chung-hee se conteve em apenas balançar a cabeça. — Por favor, suba em sequência e o ajude para se arrumar e descer. Estou cansado, mas acredito que posso comer com o meu filho. — murmurou, indo em direção à porta.

— Como desejar, vossa Majestade. — Chung-hee respondeu.

👑

O mais novo se ajeitava na cama, sozinho no quarto. Sentou, escorando as costas na cabeceira, suspirando e encarando o vazio, passando os dedos pelo totem azul. Há dias o Rei tinha voltado a tratá-lo normalmente aos poucos, e vez ou outra contava sobre seus afazeres, como fazia meses atrás. Porém algo faltava, e era um sentimento subjetivo que havia desaparecido.

No escuro, no meio da noite, era difícil dormir, pensando em tantas coisas. Por isso se levantou, pensando o que deveria fazer para aliviar seu nervosismo.

Haviam dois caminhos. A banheira ou o telefone. Optou pelo mais próximo, se despindo e ligando a torneira quente, sentando na beirada.

Nunca mais havia se banhado utilizando aquela banheira, e nem naquele momento era sua intenção. Só queria sentir clareza mental, a respeito de qualquer coisa que lhe trouxesse respostas. Porque precisava de respostas. Quando estava cheia, entrou, imergindo.

Sua mente estava cheia, e os pensamentos eram como gritos insistentes difíceis de calar. Então se lembrou da outra vez em que fez isso, deixando os pensamentos irem sem relutância, e tentando não produzir mais nenhum, relaxando aos poucos. Mas ainda sentia que não tinha surtido efeito algum. E outras memórias chegavam para si.

As mãos de Jimin deslizavam por suas coxas, indo e voltando numa espécie de massagem, enquanto tinha as costas apoiadas em seu peito, de olhos fechados recebendo a carícia, sentindo a água quente tocando sua pele. — E o que aconteceu depois? — perguntou. Jungkook contava um pouco sobre sua infância, as partes que conseguia se lembrar com clareza.

— Eu não tinha uma mãe, foi estranho descobrir que a mãe dos outros não eram um retrato, como a minha. — continuou, sussurrando. Ele levou uma de suas mãos até os cabelos do mais novo, os puxando para trás, organizando os fios. — Meu pai detestou me ouvir chamar uma empregada de mãe, copiando Seokjin. E contratou o senhor Chung-hee.

Park suspirou. — Odeio saber que sua vida foi assim.

Jungkook se virou minimamente para ele, sorrindo suavemente selando seus lábios, apoiando a cabeça em seu ombro, sentindo o frescor de eucaliptos vindo de sua pele. — Está tudo... Tudo bem. Passou.

— Não. Se passou, aconteceu, e acontecimentos marcam nossos corpos e mentes. Sei que sofreu com isso. As manobras de seu pai para mantê-lo em segurança são... — balançou a cabeça.

Jungkook o encarou, sorrindo um pouco novamente. — Não precisa se entristecer ou se preocupar comigo. Eu estou bem. — afirmou, no entanto sua expressão tremeu minimamente. Qualquer um que não o conhecesse não conseguiria observar esse detalhe, mas Park o conhecia.

E notando, apenas apertou o Príncipe num abraço, fechando os olhos. — Você tem a mim, Alteza. Não está mais sozinho, agora você tem a mim. — murmurou, acariciando os cabelos lisos e pegando sua mão, para beijar o dorso como sempre fazia. — Para sempre.

Jungkook abriu os olhos, encontrando o completo escuro. Se ergueu da banheira, piscando, antes de escorar a cabeça na parte posterior, imitando a mesma posição daquele dia, mas sentindo apenas o frio da porcelana tocando suas costas, ao invés do calor de Jimin.

Apertou a visão, engolindo com pesar. — Você mentiu, finalmente, hm? — sussurrou para o vazio.

Olhou para o lado, sentindo lágrimas quentes escorrendo junto da água fria. Desistiu antes mesmo de tentar telefonar para Hoseok.

👑

— Jungkook? — Abriu os olhos, ouvindo a voz de Seokjin, ao passo que este deu dois toques na porta. Piscou algumas vezes, sentando-se na cama, e pigarreando, coçando os olhos para despertar. O amigo ocupou lugar na cama ao seu lado, e sorriu suavemente, encarando o mais novo — Como está se sentindo?

— Bem. — a resposta foi imediata. O outro notou, mas não disse nada sobre isso, se ajeitando melhor no lugar.

— E o que pretende fazer hoje?

Jungkook estreitou os olhos, encarando a parede do outro lado do quarto. — Treinar um pouco, talvez.

— Ler, pescar, estudar, nada disso? — Seokjin perguntou. — Talvez fazer uma pintura. Suas pinturas são sempre muito bonitas.

O outro negou, puxando mais as mangas que cobriam seus braços. — Não tenho inspiração para elas, no momento.

Aquele momento já durava quase um ano — Será seu aniversário logo. No ano passado te dei aquele avião, tem algo que eu possa fazer por você nesse ano?

O outro suspirou. — Cancelar essa data? — sugeriu.

Seokjin negou. — Impossível para mim. Acho que para todos, já que é simplesmente o dia em que você nasceu. Só irá mudar quando se tornar Rei — O Príncipe não respondeu — Posso te comprar tintas novas. — tentou mais uma vez, tentando alcançar o braço do mais novo, que se afastou antes que o fizesse, como se fosse um reflexo natural.

Jungkook negou, acariciando o totem pendurado em seu pescoço. — Posso te contar um segredo? — questionou, num sussurro, após um silêncio estendido entre eles. Seokjin lhe encarou, assentindo. — Sabe o que vi, naquela noite? Além de flechas voando? — questionou, num sussurro.

— Flechas? — Seokjin questionou, ainda sem entender a que ele se referia. O mais novo lhe encarou, só então hesitando ao mudar de ideia.

— Ontem nos meus treinamentos. As flechas estavam defeituosas.

O outro franziu o cenho, sem compreender. — Certo...

Jungkook suspirou. — Se quiser podemos treinar mais tarde. Agora preciso ler alguns documentos com o meu pai.

Seokjin confirmou devagar, se levantando. — Quer que eu chame Chung-hee para te ajudar?

— Não. O farei sozinho — Murmurou.

Mais tarde, desceu pronto, e se encontrou com o pai.

— A primeira coisa que faço, é verificar os documentos que precisam ser enviados com agilidade. Leio todos, assinando os que acho conveniente, selando com o anel. — O Rei explicava. Há alguns minutos estava ali com Jungkook, falando sobre algumas tarefas administrativas como Rei, e o outro prestava atenção, ouvindo atento o que ele explicava. Continuou falando, até um trovão cortar o céu, assustando o Príncipe. O Jeon mais velho balançou a cabeça, quando ele se ajeitou no lugar. — Sempre que chove me lembro dos velhos tempos. — o monarca murmurou.

Jungkook assentiu. — Me pergunto de quem herdei esse medo, o senhor nunca teve. — comentou, finalmente depois de se manter em silêncio.

O outro sorriu novamente, assentindo, pensando, hesitante antes de decidir finalmente falar o que tinha em mente. — Sua mãe detestava os dias de tempestade. Ela ficava assustada toda vez. — contou. Eram raros os momentos em que contava qualquer coisa sobre ela, nos últimos anos.

Jungkook assentiu, remexendo os papéis. — Por que não gosta que pendurem o retrato? — questionou depois de um longo momento de silêncio, enquanto a chuva caía torrencial do lado de fora. Tinha aos poucos perdido a energia para brigar e lutar contra, já que na maioria das vezes nas discussões com o pai apenas acabava se sentindo pior e descartável.

O Rei demorou a dizer qualquer coisa, e Jungkook pensou que recebia advertências por perguntar algo assim. Mas ele finalmente respondeu. — Porque me dói vê-la, sem que seja real.

O Príncipe encarou seu perfil, franzindo o cenho, unindo as sobrancelhas em sua expressão mais séria, a que usava mais frequentemente nos últimos tempos. — Então sabe como me sinto. — murmurou, mas não obteve resposta.

👑

Hoseok não atendia seus telefonemas.

Jeon tentava afirmar para si mesmo que estava estável, e que assim ficaria. Na verdade era a realidade. Treinando diariamente estava mais forte fisicamente, realizando atividades diferentes das que executava meses atrás parecia mais saudável, e até imponente, independente.

Mas em seus momentos de insônia, no escuro vazio e silencioso, era fácil ceder aos seus pensamentos, mesmo aos mais frágeis.

Se levantou, mais uma vez, no meio da noite, indo para o banheiro e parando diante do espelho. Mesmo que tudo favorecesse, não via nada estranho. Seu rosto não se distorcia, nem seu reflexo o encarava de volta com ódio. E analisando as próprias feições, desceu o olhar para o colar azul.

Levou ao nariz, fechando os olhos e se lembrando do cheiro de eucaliptos que tanto lhe agradava, mas que agora lhe trazia arrepios, e o gosto amargo da saudade. Era sua segunda conexão mas forte com seu professor.

— Professor? — chamou, num sussurro com o telefone no ouvido.

Sorriu apenas por ouvir a respiração do mais velho, do outro lado da linha. — Boa noite, Alteza.

Jungkook sorriu, apoiando a ponta dos dedos na mesa em que o aparelho ficava apoiado, comprimindo os lábios em seguida. — Acordei você?

— Acha que eu dormiria, ciente que disse que iria me ligar? — questionou, e o nobre sorriu novamente.

— Não tenho certeza. O senhor é tão autossuficiente. — brincou, sem conseguir tirar o sorriso dos lábios desde que desceu para fazer a ligação. Olhou para os lados, se certificando de que estava sozinho. — Queria que estivesse aqui. Minha cama fica fria sem sua presença. — confessou e ouviu um suspiro suave em resposta.

— Eu deveria raptar você, Alteza. E te trazer para perto de mim.

Jungkook riu baixo novamente. — Mora muito longe? — questionou.

— Sim. Mas já te disse. Meus pensamentos estão sempre com você.

— Me sinto profundamente lisonjeado mas seus pensamentos não podem me aquecer à noite. — comentou.

— Mas os seus podem. — o professor disse, num tom de voz que fez a pele do outro arrepiar, assim como o couro cabeludo. Entreabriu os lábios, umedecendo-os, compreendendo o que o outro havia insinuado.

— Ah... — foi tudo que conseguiu dizer a princípio. — Estava falando de calor... Estamos na temporada de frio...

Ouviu o riso soprado e baixo do outro lado. — Sua doçura me faz querer pegar meu cavalo agora mesmo para ir até você, Alteza.

Jungkook negou com a cabeça, mesmo que o outro não pudesse ver, tentando disfarçar o próprio sorriso. — Então venha.

— Alteza... Não preza pela segurança do seu amado? Não viu a hora?

O outro deu de ombros. — Você me provoca e depois é o primeiro a recuar.

— Lembrarei de suas palavras na nossa próxima aula. Te convido a trocar olhares discretos comigo durante toda ela, sorrisos, e que no final deixe que pegue sua mão, por baixo da mesa.

Jungkook tapou a boca, rindo e negando novamente, sentindo o rosto aquecer por tão pouco. — Poderá pegar por cima da mesa, uma vez que estaremos a sós.

— Agradeço sua gentileza.

Riu novamente e suspirou depois, franzindo o cenho. — Por favor, venha rápido depois de amanhã. E fique comigo até o dia seguinte.

— Fico feliz em notar que nossas necessidades são as mesmas. — Park comentou, e depois fez uma pausa. — por favor suba, e me imagine ao seu lado, para dormir. Ficarei acordado por aqui, até sentir que adormeceu.

O Príncipe riu, com certo desdém. — Eu posso fingir que dormi, e suas sensações falharão.

— E então depois de amanhã saberei num instante que mentiu, apenas olhando para você. — Jungkook sorriu, fechando os olhos ouvindo a voz do professor. — Me preocupo com você e com sua saúde... Poderia se cuidar bem um pouco mais? Por favor durma quando subir, assim nos veremos mais rápido, não acha?

O mais novo olhou para o relógio gigante na parede. — Já passou de meia noite. Te vejo amanhã. Durma também.

— Certo. Boa noite, Alteza.

— Boa noite. — Jungkook murmurou num sussurro como se revivesse a memória, retirando o colar e abrindo os olhos de vez. Se virou de lado na cama, buscando em seu íntimo a sensação de ter os braços de Jimin ao seu redor.

Sem o colar, fragilizado pela insônia, não era difícil conseguir sentir. Mas também era fácil que sofresse perturbações. — Príncipe Jeon? — olhou para o lado, vendo Chung-hee na porta.

Tudo parecia estar aceso, exceto por seu próprio quarto. — Chung-hee?

— Venha. Está na hora, vão finalmente celebrar. — chamou mais uma vez, antes de sair de seu campo de visão. O Príncipe franziu o cenho, se levantando devagar, fechando o roupão de seda que acabou vestindo, depois de tanto tempo sem conseguir nem mesmo tocar no tecido ou qualquer um semelhante. Abriu a porta lentamente, vendo o mordomo o esperando no topo da escada, e aguardou apenas o suficiente para que o Príncipe se aproximasse, começando a descer. — Para onde estamos indo? Já é meu aniversário? — questionou.

O outro não lhe respondeu, mas sorriu.

Jungkook entreabriu os lábios, porque há mais de dez anos não o via sorrindo. E há anos atrás quando via, o sorriso sempre chegava aos seus olhos, fazendo com que rugas aparecessem. Mas dessa vez, continuaram bem abertos. E continuou descendo.

O Príncipe sentiu a cabeça imediatamente martelar, o rosto aquecer e a visão escurecer um pouco. Engolindo com dificuldade continuou descendo as escadarias que pareciam exageradamente longas, até o pátio para onde davam. Havia música.

Ouvia passos, pulos gritos e risadas como se houvesse uma festa, mas o salão estava completamente vazio.

Sentiu a coluna gelar, engolindo e olhando ao redor, buscando qualquer coisa que indicasse de onde vinha todo aquele barulho. Parecia vir dali mesmo. Do vazio. — Chung-hee... Eu não gosto disso... — murmurou. — Eu quero subir... — pediu.

Mas estava sozinho ali. Sozinho, no meio da festa que acontecia em seus ouvidos, em seu tato. Não via absolutamente nada.

Respirou depressa, pensando em subir, e se virando para tal. Mas ouviu passos destacados como saltos, do outro lado do pátio. Se virando, viu Jimin entrar pela porta.

Seus olhos se abriram mais assim como sua boca, enquanto todo seu ser estava fixado naquela visão. Ele usava seu típico terno, caminhando com seu jeito elegante. Não usava óculos, e também olhava diretamente para Jungkook, que estremecia. Estremecia, porque na última vez, o que viu o atormentou por meses, e foi motivo de noites quase infinitas pela insônia.

Mas daquela vez... Suas sobrancelhas se uniram em tristeza, enquanto os olhos lacrimejavam. — Jimin... — sussurrou, e o outro parecia abrir caminho, vindo em sua direção. Seu queixo tremia, e piscou para se livrar do borrão das lágrimas, respirando com dificuldade, até começar a caminhar também. E caminhou, até ser abraçado, e sentir o calor, o perfume, o carinho, a segurança.

A energia que vinha dele era como um alimento essencial, que reanimava sua própria alma. Apertou os olhos, temendo que caso abrisse, daria de cara com algo terrível, ou que o corpo do outro se desmancharia como um pó imaginário em suas mãos. — Jungkook? — ouviu a voz macia o chamando, e sentiu o riso contido do professor reverberar em seu corpo. Sentiu as mãos do mais velho tentando afastá-lo para ver seu rosto, mas não afrouxou o abraço para permitir.

E seu choro já saía, com chiados. — Meu amor? Por que está assim? O que houve? — ouviu o professor questionar, enquanto acariciava seus cabelos cumpridos até os ombros, ondulados. Ele agora estremecia com o carinho.

— Não desapareça. — pediu, num sussurro que ninguém mais poderia ouvir, a não ser Park. Ouviu o riso novamente, e dessa vez Park conseguiu fazer com que se afastasse.

— Não vou desaparecer, o que está falando de repente? — Jungkook negou, ainda chorando, de cabeça baixa e olhos fechados. Se não visse estaria protegido. — Alteza, olhe para mim. — ouviu o pedido, mas continuou negando.

Mas então sentiu a mão do outro em seu queixo, o erguendo. Estava quente.

Abriu os olhos devagar, encontrando seu rosto, como deveria estar, salpicado pelas luzes amarelas do pátio. Como deveria ser. — Não importa o que sonhou. Foi apenas um pesadelo. Estou aqui. — disse, levando a mão do Príncipe até os lábios, selando, e a colocando sobre o próprio peito.

— Jimin... — chamou, voltando a abraçá-lo, tendo as costas acariciadas. Balançou a cabeça, fechando os olhos e o apertando mais. — Eu estou... Exausto. Eu estou tão, mas tão cansado...

O outro afagava seus cabelos e sua cintura. — Não tem dormido bem? Não foi assim que combinamos, Alteza. Se não se cuidar, demoraremos muito mais, até que possamos nos ver.

Jungkook fungou. — Eu estou exausto de viver. Isso não é vida. Todos os dias parecem os mesmos, todos os dias são iguais, sempre as mesmas coisas, os mesmos pensamentos, eu preciso descansar.

Park suspirou, voltando a se afastar, acariciando o rosto de Jungkook, e secando suas lágrimas. — Não seja assim... É seu aniversário, esqueceu? Fique feliz, comigo.

— ...Meu aniversário?

— É claro. Já passa da meia noite. Hoje é um grande dia. — respondeu, caminhando com ele, e segurando sua cintura fina, o virando para o salão de fato cheio. Ele conhecia aquelas pessoas. As roupas brancas amareladas, de bordas cinzentas.

Quase sorriu imediatamente, sentindo algo de bom, e então viu a mão do professor estendida em sua direção. — Uma dança? — o mais velho pediu.

Jungkook fez o que pensou que sequer seria capaz novamente. Sorriu, abertamente.

Assim que seguraram as mãos começaram a dançar, como da outra vez. Olhando ao redor via outros dançando também, alguns sorrindo vendo o Príncipe e Jimin. Tudo parecia mágico.

Não quis fechar os olhos, mas os manteve relaxados, enquanto tinha a cintura e uma das mãos sendo seguradas pelo professor, e apoiava a mão livre em seu ombro, se mantendo extremamente perto dele, com o rosto ou a testa colada contra a do mais velho, evitando que perdesse um segundo sequer daquele momento. E estremeceu de novo, quando foi lentamente beijado. O que é a morte? Ele realmente nunca iria voltar, como diziam? Não...

Seu peito explodia, aquecido, acelerado, sentindo os lábios quentes do Park, que em seguida o girou, fazendo com que dançassem agarrados, com os braços do professor ao seu redor, balançando de um lado para o outro, sentindo o nariz pequeno tocando sua pele. E perdeu a conta, contando os segundos que aquilo durava.

As pessoas se afastaram depois da música, para dar passagem a grandes bonecos de papel eram trazidos como estandartes dançantes, à medida que a música se adequava à eles. Eram bonecos como os de ventriloquia, e podiam ser vistos de qualquer ponto do salão.

Olhou para o professor que sorriu de volta, o abraçando de lado novamente. Fechou os olhos sentindo o abraço, e tendo testa e bochecha beijadas, antes dos lábios.

Era um teatro mudo, onde tudo era feito sem que nada fosse dito. E havia um grande Rei no meio de outros bonecos. Música, alegria.

Mas então um estandarte cortado em formato de chamas. E um em forma de um pergaminho. Mais dança. Até que o Rei fosse o foco novamente, e fosse acertado. Diversas vezes.

Jungkook observou aquilo, se sentindo estranho. Estranho, porque já não sentia os braços de Jimin ao seu redor. Estranho porque o boneco se aproximava, e de perto parecia ainda maior, se amassando ao ser golpeado. E começou a jorrar sangue dele.

Sangue este que se aproximava dos pés do Príncipe, embora se afastasse até cair no fim da escada.

E então abriu os olhos.

Tudo estava escuro ao seu redor. Silencioso. Não havia boneco, nem música, nem Jimin. Estava na escada, caído como se tivesse caminhado até ali, mesmo dormindo.

Tudo que fez foi apertar o colar que notou estar ao seu alcance, o colocando de volta imediatamente antes de se levantar para correr até a porta, para fazer o que costumava fazer, tempos atrás. Abrindo a janela de Seokjin, viu o outo levar um susto, mas não o ameaçou com um pedaço de pau, porque simplesmente não o esperava ali. Afinal, fazia muito tempo desde a última vez. — Jungkook? O que houve?

— Eu vou te dizer o que vi. Vou te dizer o que me atormenta.

— Jungkook...?

— Não vi apenas flechas naquela noite. Na noite em que ele morreu. Haviam sombras dançando ao redor dele.

— O que está falando? Por que veio aqui discutir algo assim, no meio da noite?!

— Meu pai detestava Jimin. Hoseok é de um povo escravizado por Belo Monte. Os dois devem... Ao menos um deles deve ter feito isso.

— Jungkook, você está falando bobagens. Teve algum pesadelo de novo? Como seu pai seria capaz de algo assim, por nada? Ele disse que não se importava com seu relacionamento com Park, ele disse que nem acreditava que duraria!

— Se negar isso está automaticamente concordando que o Rei é o culpado, ou que alguma coisa maligna realmente matou Jimin.

— Pare com isso, Jungkook. Você mesmo disse que não acredita mais nessas coisas!

— Eu estava tentando me proteger! Me proteger porque em cada quina, em cada fresta de móvel aberto, em cada assento e atrás de cada porta eu sentia, imaginava ou via algo. Eu conseguia sentir coisas tão palpáveis quanto qualquer objeto por aqui. E quanto mais negavam mais enlouquecido eu ficava... — Ele reclamava, indo de um lado para o outro, com olhos estatelados lacrimejantes — Eu vi flechas no peito dele. Mas também vi sombras dançando ao redor de Jimin. Se essas coisas mataram ele, se tiraram ele de mim, quero que voltem a aparecer e venham até mim. Que cobrem a dívida de quem realmente merecia.

— Você não merece. — Seokjin disse, com firmeza.

— Ele não merecia.

— Nem você.

— Que planos ele tinha para o futuro dele? O que ele desejava? Quem essa gente pensa que é para roubar algo assim?! — elevou muito a voz, socando a cômoda ao seu lado, fazendo as pequenas molduras de foto tremerem no lugar.

— Jungkook!

— O que houve? — Alie chegou, passando pela porta e se aproximando dos dois mais novos.

Seokjin bufou, pegando o braço de Jungkook e mostrando para a mais velha. — Está vendo essas manchas roxas? Ele não esbarrou em lugar nenhum, nem está se batendo ou apanhando. — disse, entredentes. — Sabe o que o médico disse? Que se chama melancolia. Ele está triste, ao ponto do corpo dele demonstrar dessa maneira. Mesmo que finja que não.

— Não estou triste...

— Jungkook está fora de si. — falou, o ignorando. — Ajude para que ele se acalme, eu vou tomar um pouco de ar, antes que eu enlouqueça também. É insuportável vê-lo nessa situação deplorável! — exclamou, se afastando dos outros dois.

O Príncipe arfava, sem ar, tentando se apoiar no móvel, mas sentindo a energia fugir completamente de suas pernas, vacilando, e sendo acolhido pela mais velha, que o ajudou com dificuldade a sentar-se na cama. — Menino Jungkook... — ela murmurou, acariciando seus cabelos, mas o outro se esquivou rapidamente do toque, chegando a sentir desagradáveis arrepios por conta disso, se arrependendo em seguida.

— Eu sinto muito... Eu sinto muito.

— Nós sabemos. — Ela disse compreensiva, com olhos gentis.

— Eu estou bem. Eu estou bem, eu juro que sim. Mas essa raiva não passa... Ela não vai embora. — disse com dificuldade, amassando a roupa no peito, onde por baixo ficava seu coração dolorido.

— Eu sei disso. Eu sei. — ela dizia, tentando acalmar o mais novo, até que ele se levantasse pedindo desculpas repetidamente secando o rosto e dizendo a si mesmo que iria parar de chorar.

O dia seguinte para o Príncipe foi como um borrão. Sabia que era seu aniversário, se lembrava se ter cumprimentado diversas pessoas, de se trocar e colocar outra máscara, mais uma vez.

Apenas obedecia todas as ordens que recebeu, e parecia apático ao resto até que tudo terminasse. Notou a presença de alguns conhecidos, mas nada lhe despertava o interesse, e quando tudo acabou, apenas se concentrou em dormir, aproveitando a exaustão para se forçar a isso.

Depois, retornou ao que estava sendo nos últimos tempos. Se manter forte o suficiente para evitar ser atingido de novo e continuar a buscar uma resposta que o convencesse.

👑

E aí?

Bom, quero saber uma coisa

Contem aqui a experiência mais assustadora que já tiveram, vamos dividir medos

Vou contar uma que não é a mais assustadora, mas tem a ver com overlord. Quando escrevo geralmente ouço barulhos na lavanderia, mas alguns dias atrás enquanto escrevia esse capítulo ouvi passos de alguém subindo calmamente a escada, por volta de uma da manhã. Achei que fosse a vizinha, porque os gatos estavam brincando, mas parou. O sensor que SÓ ACENDE POR MOVIMENTO DE HUMANO acendeu, aqui no andar de cima, não passa carro pra dizer que foi por isso. Acendeu. juro por tudo.

Eu desliguei tudo rápido e corri pro quarto me cobrindo com o cobertor 😭

Medo? Haha

Enfim, por isso demorou tanto, eu estava literalmente com medo de escrever...

Obrigade por ler, visitem minhas outras histórias, sempre confiram as tags e classificações etárias.

Good night 😃 fiquem com essas capinhas que humildemente fiz e amei

E se vocês tem dúvidas, deixei claro na sinopse, mas reforço por aqui

JIMIN VAI VOLTAR.

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