20 Segundos para o clichê

By saturlt

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"O sapato certo te leva ao lugar ideal. No entanto, o melhor sapato te leva ao lugar desejado" London Smith... More

ST. DONNIE SCHOOL
Prefácio
Fase um: Os três mosqueteiros
fase um: 02
Fase um: 04
Fase um: 05
Fase um: 06
Fase um: 07
Fase um: 08
Fase um: 09
Fase um: 10
Fase um: 11
Fase um: 12
Fase um: 13
Fase um: 14
Fase um: 15
Fase um: 16
Fase um: 17
Fase dois: A ruptura
Fase dois: 18
Fase dois: 19
Fase dois:20
Fase dois: 21
Fase dois:22
Fase dois:23
Fase dois:24
Fase dois:25
Fase dois:26
Fase dois: 27
Fase dois:28
Fase dois: 29
Fase dois: 30

Fase um: 03

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By saturlt

VERÃO DE 2018
WASHINGTON, EUA.

— Moça, está escutando? — Dedos agitam o ar em minha frente, fazendo com que meus olhos pisquem e ganhem foco. Uma senhora com cabelos grisalhos e algumas rugas de expressão no canto de seus olhos sorri amigavelmente para mim — Está tudo bem? — Sua voz soa doce demais enquanto empacoto suas compras.

— Está, me desculpe pelo meu desatento — Falo apressadamente e lhe entrego o saco de papel transbordando com alimentos congelados, forço um sorriso que parece mais uma careta.

— Não trabalhe demais mocinha, faz mal para a saúde — Ela pega sua sacola e sai pela porta que estrala com o movimento. Solto uma lufada de ar e deixo meu corpo desabar na cadeira atrás de mim, meus músculos se flexionam e minhas juntas parecem duras enquanto estico meu corpo.

Minha cabeça está a mil, sem parar de pensar nas últimas horas, ou melhor em uma hora atrás. As palavras de Julie ainda continuam ecoando em minha cabeça, como uma música chiclete qualquer que não saía mais depois de escutar-la. Ser pega de surpresa é uma das coisas que amo e odeio, claro que surpresas boas todos gostam.

As ruins que são o problema.

Não que fosse algo ruim o fato da minha melhor amiga ficar com o papel de Emma Bovary, é só apenas estranho, até porque Julie nunca se interessou por nada que envolva canto, dança e atuação. Contudo, é no mínimo bizarro seu interesse tão repentino por atuação ter surgido do nada ou apareceu quando o sol de Miami entrou em contato com sua pele e magicamente a deu algum tipo de poção do querer.

Quando decidimos entrar juntas na aula de balé na sexta série, Julie foi três vezes e depois disse que aquilo não a interessava e apenas eu fiquei, todavia acabei descobrindo que fazer balé é a minha vida. É uma das coisas que eu amo de alma e corpo e estar dançando em um palco ou em uma sala rodeada de espelhos é o que me faz feliz.

É a minha válvula de escape.

Minha mãe não teve muita convicção quando disse que iria fazer as aulas, mas quando disse que usar as sapatilhas me levava para outro mundo, os olhos de Meredith brilharam intensamente e então eu soube que estava fazendo o correto. E foi desse mesmo jeito, este mesmo olhar quando ela me viu em cima do palco na minha primeira apresentação.

Foi surreal, como se a magia que as pessoas dizem que tem na Disney estivesse toda concentrada no palco, me fazendo pensar que por um instante, eu estava rodopiando sobre o mundo e que todos estavam ali para ver especialmente a mim. Como uma estrela. E foi ali naquele mesmo dia e hora, que selei o meu destino.

— Bailarina de cristal, está me ouvindo? — Uma voz e após um assobio me faz despertar do meu transe, aperto os olhos e viro em direção a figura parada de Adam John. Um sorriso maroto brinca em seus lábios quando retribuo seu olhar — Sonhando acordada?

Agora é minha vez de sorrir.

— Sonhei que Chris Evans aparecia agora aqui e se declarava para mim — Brinco.

O sorriso de seus lábios murcham e seus ombros se encolhem, cabisbaixo.

Adam não gosta que eu fale do Chris Evans em sua frente pelo simples fato do cara ter sido minha paixonite de infância. Eu falava tanto dele, que as pessoas a minha volta já estavam cansadas do mesmo falatório sobre ficar dizendo que iria casar com Chris e ter lindos filhos louros. Adam John foi uma dessas pessoas, ele simplesmente me ignorava quando abria a boca para falar do fascinante e gostosão Evans.

— Qual é, Adam? Sabe que estou brincando. — Contorno a bancada me pondo em frente ao seu corpo grande e coberto de músculos bem definidos e distribuídos igualmente. Solto um suspiro e jogo minha mão sobre seu ombro — Você vai mesmo ficar assim por causa de uma brincadeira?

Adam John não responde.

— Adam, não vai me responder? — Espero, mais uma vez nada. Apenas o som de sua respiração é minha única resposta — Não me ama mais? É isso?

Sua cabeça se ergue e seus olhos procuram pelos meus.

— Sabe que nem em um milhão de anos isso poderá acontecer.

Comprimo os lábios e deixo minha mão cair de seu ombro, viro meu rosto para a porta e solto um suspiro.

— Você é tão bobinho Adam e, é bom e ruim ao mesmo tempo. — Volto a olhar-lo — Seu garotinho perfeito e chato — Aperto suas bochechas rosadas, Adam segura minhas mãos e tira de sua face, as segurando entre os dedos.

— Você é minha mãe, por acaso? — Pergunta erguendo a sobrancelha.

— Eu não precisaria agir como a sua mãe se você soubesse dizer um simples não. — Indago e dou uma revirada de olhos, desvencilhando de suas mãos e voltando para trás do balcão.

Uma coisa sobre o A. J que sempre me irritou: ele não saber dizer não. Literalmente ele não consegue dizer essa palavra para qualquer pessoa que peça algo a ele, até mesmo as coisas mais inusitadas e sem noção. Adam faz sem questionar, apenas dizendo que está ajudando a pessoa e que é um ato de bondade, mas para mim tá mais para idiotice do que uma ação humanitária.

É o que temo também.

Quantos mais pessoas sabem sobre esse defeito de Adam, mais se aproveitarão dele e ver alguém fazer algum tipo de brincadeira com ele ou com Julie, me tira realmente do sério. Como Aquiles e seu calcanhar, Adam e Julie são o meu digamos assim, ponto fraco.

Patético, eu sei.

— Mas o que você faz aqui? Não está na hora do seu treino? — Pergunto notando que ele não está com a sua usual jaqueta do time. Ele passa a língua nos lábios e logo seu olhar adquire um brilho diferente.

— Pâmela não está conseguindo falar com você, parece que hoje tinha treino e você não foi — Solto um ruído frustado assim que ele termina de dizer. Putz, como eu pude me esquecer do treino das Bella's Trix?

— Ela está com muita raiva? — Pergunto mesmo já sabendo a resposta.

Adam assente e solta uma lufada de ar pela boca.

— Não é tão ruim, é só dizer que estava ocupada — Sugere ele.

Nego com a cabeça.

— Não é assim que se lida com a Pâmela, mas eu dou um jeito. Não se preocupe.

Ele olha para o relógio em seu pulso e ligeiramente arregala os olhos.

— Tenho que ir, o Mitchell vai passar uma nova tática para o próximo jogo — Ele se curva sobre o balcão e rapidamente encosta seus lábios em minha bochecha — Não esqueça do nosso piquenique amanhã.

Uma rajada de vento passa pela porta no instante que Adam sai. Os pensamentos pesados de minha cabeça parecem ter sido acalmados por uns minutos, suspiro aliviada.

Este é o efeito que Adam John tem sobre mim.

Um calmante direto em minhas veias.

"Assista este vídeo e aprenda sozinha, ninguém mandou faltar o treino"essas são exatamente as palavras que Pâmela Andrews jogou sobre mim assim que a encontrei no dia seguinte, parada no corredor procurando algo em seu armário, o jeito doce e meigo foi substituído pelo azedo e amargo assim que me viu chegando. A dupla personalidade de Pam chegava a me assustar, algo que nem em mil anos conseguiria me acostumar.

Ela não é uma garota chata e esnobe como pensam, ela é legal e divertida, mas o cargo de capitã de torcida a deixa bastante sobrecarregada para o tom azedo dela surgir na velocidade da luz. E isso reflete em quase todas as garotas que são líderes, por isso somos vistas como "as megeras de St. Donnie School"

Nada bonitinho e fofo.

Jogo minha bolsa em cima da grama recém cortada e pego a pequena caixa de som, meus dedos pressionam os botões em busca da música certa, algo como Madonna nos anos noventa. Quando a música explode, coloco a caixinha no chão e começo os movimentos que assisti no vídeo mais cedo. Levanto os braços e vou remexendo o quadril enquanto a música passa, logo dou uma cambalhota e com o pouso perfeito, a voz de Madonna se cala dando espaço para a minha respiração entrecortada preencher o ambiente.

— Adam, acha que vai dar certo? — Vozes vindo do vestiário chamam minha atenção. Pego minha bolsa e com passos de formiga, caminho até o final do estádio, onde se localiza os banheiros femininos e masculinos. Quando me aproximo da base, vejo que a luz do lado dos meninos está ligada e sombras se projetam pela parede azul metálica.

— Sabe que o dia do convite está chegando né? Quero que saia perfeito — A voz de Adam chicoteia o local.

Franzo a testa.

O que Adam está fazendo aqui a está hora? Era para ele estar na aula de pré-cálculo.

Me aproximo mais, a curiosidade tampando meus sentidos que diziam para mim correr, ignoro e me aproximo da porta. De costas vejo Adam com as mãos no bolso e a sua frente está uma garota de cabelos castanhos que enxergando melhor parece a Julie?

— Aqui, já faz mais de duas semanas que escrevi — Ele lhe passa um papel e noto que o papel está cheio de corações cor-de-rosa e a caligrafia impecável de Adam no encarte.

Adam está se declarando para Julie?

Ela pega o papel e o analisa, um sorriso ladino se esboça em seus lábios.

— Que lindo — Elogia ela. Uma expressão de surpresa se adquire em sua face. Adam parece sem jeito enquanto balança o pé, as bochechas adquirindo um tom vermelho vivo.

— Foi difícil, mas finalmente consegui expor meus sentimentos nesta folha de papel — Murmura ele. Meus lábios estão secos a medida que meus olhos se enchem de água. Afasto um pouco para trás e sem perceber, derrubo a vassoura que estava atrás de mim, a madeira estrala assim que entra em contato com o piso — Tem gente aqui? — Escuto a voz de Adam, a sua sombra mais perto de onde estou.

Sem tempo para pensar, corro pelo gramado passando pelas barricadas e assentos, o ar gelado chicoteando minhas pernas desnudas até o fim do campo, quando passo pela porta e me escondo entre a parede e a vaga que tem entre a porta. Meus pulmões clamando por oxigênio.

Meus olhos ardem enquanto tento reprimir as lágrimas que insistem em fugir, quando recupero o fôlego, saio em direção ao banheiro principal. Minha cabeça dói a medida que as imagens de segundos atrás se projetam em minha frente.

Como assim Adam se declarou para Julie?

Por que ele nunca me disse nada?

Ele realmente não me considera sua melhor amiga?

Em um trio de três, um relacionamento é possível sem abalar a amizade?

E Julie? Ela gosta de Adam?

Pontos de interrogação faz sapateado em minha cabeça enquanto vou passando por aqueles corredores que por mais que eu não queira, já viu muitos momentos meu de fraqueza e agora mais um para mim lembrar toda vez que passar por aqui de novo. Não tem como as coisas piorarem.

Ou tem?


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