[NOTAS INICIAIS]
Esse especial mostra o começo do que poderia ter sido o segundo livro de Nas Mãos do Diabo. Esses capítulos não têm impacto na cronologia da história já que, teoricamente, não existiram. Quero mostrar eles para vocês como um agradecimento por vocês acompanharem essa saga comigo há tanto tempo!
Ps: todos os capítulos desse especial foram escritos e apagados em 2019 🚶♂️
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NAS MÃOS DA REDENÇÃO
VOLUME III
Umbra
J U N G K O O K
— NO QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO? — Gritei para Oxelfer.
Encarei o espelho que Jimin havia atravessado quebrando em milhares de cacos diante de meus olhos. Os vidros ainda seguravam seu reflexo apavorado em queda-livre e, caso eu fechasse os olhos e me concentrasse bastante, ainda poderia sentir seu cheiro e a sensação de seu toque em minha pele.
Em meu rosto, em meus pulsos, em meu pescoço e em meus lábios. Estava impregnado.
— Eu só fiz o que você sempre quis fazer — disse ele, afastando-se da cova para pegar a bolsa de adornos. — Eu fiz o certo.
— Mas... — engoli em seco, cravando as unhas em punhados de barro com indignação. — Eu não queria isso!
— Não queria que ele fosse para Umbra? — Arqueou as sobrancelhas. — Então por que me pediu para montar a armadilha?
Porque pensei que ele iria me esquecer...
Que iria me odiar...
Que me jogaria fora como um nada.
— Ele me ama — murmurei entre dentes antes de fitá-lo. — Você não tinha esse direito!
Ele riu.
— Acho que você esqueceu que não sou um de seus soldados, não é mesmo? Nunca joguei seu jogo.
— Filho da puta!
Pela primeira vez, suspirei um suspiro de alívio assim que abdiquei de todo o meu controle, todo o meu domínio e todo o jogo. Peguei minha bengala e quebrei-a ao meio, destruindo, com ela, todo o meu império e todo o meu controle sobre tudo. Com a vista embaçada, observei a maldita gosma negra escorrendo pelo corpo de todo o meu exército até desintegrar-se no barro do cemitério, libertando a todos.
O primeiro que vi foi Namjoon, depois Jin, depois Taehyung e Hoseok. Yoongi tentou avançar sobre mim, mas Hoseok o parou com um abraço e disse algo que jurei nunca esquecer:
— Ele já está sendo castigado, amor — disse em prantos, talvez pelo alívio de sua liberdade. — Ele perdeu quem mais ama.
— POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? — Oxelfer gritou, cético ao ver o castelo de Khaos sendo descoberto pela gosma, revelando sua superfície de tijolos vermelhos e sua glória antes escondida por toda a obscuridade de minha decoração.
— Nada disso faz mais sentido — respondi-o, ainda de joelhos, mirando minhas mãos trêmulas sujas de lama. — Ele se foi.
— Talvez não, ainda não — disse uma voz suave.
Era Namjoon aproximando em passos hesitantes.
— Eu achava que Umbra era apenas uma lenda — prosseguiu. — Mas, agora que sei que é real, talvez a lenda que li uma vez também seja verdadeira.
— Qual lenda?
Tudo voltava ao normal lentamente. O céu retornava ao seu tom de escarlate, a lua amarelada emergia por entre as nuvens de carmim, o barro perdia sua cor morta e ganhava uma tonalidade marrom viva, as árvores não-tão-mortas farfalhavam em alegria pelas primeiras rajadas de ar que recebiam há bastante tempo.
Encarei o povo que, antes, era meu exército e temi seu ataque de fúria, entretanto, nenhum ousou aproximar-se. Talvez ainda temessem a mim, talvez ainda esperassem algum ataque surpresa.
Mas eu estava cansado demais.
— A Lenda do Portal — Namjoon respondeu, desviando o olhar da figura miserável de Jin de joelhos.
Jin estava envergonhado demais para encará-lo, uma vez que sabia que seu parceiro já havia descoberto tudo sobre seu passado e, principalmente, tudo o que ele havia maquinado para fazê-lo esquecer.
— Que portal? — Indaguei fungando. — Por que quer me ajudar? Tudo o que fiz foi usá-lo!
Ele sorriu.
— Porque eu quero meu rei de volta — respondeu. — Não estou fazendo isso por você.
— Oh...
Nunca por mim.
Nada.
— Existe uma lenda sobre o Portal guardado pela Serpente de várias cabeças no Primeiro Círculo Infernal. Diz que ela guarda a entrada para Umbra com seu corpo colossal e está alerta para qualquer ser querendo invadi-la.
— Até mesmo o rei do Inferno?
— Você não é o Rei, mas, sim, até mesmo Khaos. Dizem que foi o próprio Deus quem criou a entrada e definiu como regra que ninguém deveria entrar... ou sair.
— Irei tentar — afirmei já me pondo em pé.
— A serpente irá matá-lo — Oxelfer riu. — Você não a controla. Na verdade, você a teme.
Estremeci, pois ele estava certo.
— Eu farei de tudo para encontrar o meu garoto — encarei Namjoon. — Tudo.
[...]
No Inferno, por baixo de todos os panos, os andares do Castelo, os Círculos Infernais, os poços de uma profundidade quase inacreditável, as minas, as cavernas subaquáticas e as covas do Cemitério dos Perdidos, existe um lugar quase inabitado. Neste lugar, onde a névoa que o recobre tem um estranho tom de verde com pequenos rastros de roxo, algo muito poderoso habita.
Este lugar é chamado de Umbra.
Existe uma lenda bastante antiga de que, antes mesmo de os Três Mundos serem criados, cada um regido por um ser-supremo, Umbra já existia. Era apenas um ponto no universo, podendo ser confundido com uma grande estrela envolta de pura maldade. A lenda conta que os Mundos foram construídos encima desse lugar como uma tentativa de contenção de sua maldade. O que, por centenas de séculos, eles haviam conseguido.
Outra lenda, a pior de todas, conta a história de um ser feito de maldade pura. Uma maldade violenta, sanguinária, carnívora e suja que anseia por morte e destruição. Há escrituras que contam que este ser surgiu antes mesmo de Khaos, o deus-universo, e de Tânatos, o deus-morte.
Este ser, desconhecido por todos, esquecido na história, é o primeiro sinal de ódio já visto. Sua força é descomunal, sua raiva desmerece às gênesis, pois é algo tão... puro, tão poderoso, que um simples estalar de seus dedos é capaz de destruir um planeta inteiro.
A lenda conta que Umbra não era um lugar qualquer, mas sim uma prisão feita para conter este ser, cuja essência era a maldade, em um sono profundo. Seu corpo era velado em um caixão de ossos no fundo de uma tumba, onde havia sido posto por Deus após uma batalha secular. Para que continuasse dormindo, era preciso que ninguém, sequer, tocasse em Umbra. Caso acontecesse, sua tumba seria violada, libertando-o de uma vez por todas.
Eles deveriam saber disso, deveriam saber que não deviam mexer com algo que não poderão controlar. Ele não deveria ter caído ali..., pois, agora o ser havia acordado.
A anticristo havia acordado.