[CONCLUÍDA] Overlord| Jikook

By SaikoMente

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[CONCLUÍDA] "Solidão e escuridão combinadas, podem fazer com que coisas aconteçam nas sombras." Jimin decide... More

Reinado: LIVRO FÍSICO
A Dança com o diabo ▶PLAYLIST⏩
01° Reinado: Iniciação
02° Reinado: Decisão
03° Reinado: Ligação
04° Reinado: Imersão
6º Reinado: Construção
7° Reinado: Destruição
8° Reinado: Aniquilação
9° Reinado: Fragmentação
10° Reinado: Retaliação
11° Reinado: Inquisição
12° Reinado: Conexão
13° Reinado: Aquisição
14° Reinado: Ambição
15° Reinado: Presunção
16° Reinado: Estagnação
17° Reinado: Persuasão
18° Reinado: Submissão
19° Reinado: Divisão
20° Reinado: Regressão
21° Reinado: Ascenção
22º Reinado: Anunciação
23º Reinado: Restituição
24° Reinado: Intervenção
25º Reinado: Transformação
26° Último Reinado: FINAL + EPÍLOGO
PROMOÇÃO BOOKFRIDAY SÓ HOJE!

5º Reinado: Aproximação

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By SaikoMente

BOA NOITE

A MÚSICA TEMA DESTE CAPÍTULO QUANDO CITAREM MÚSICA É ESTA, Importantíssima:

BOA LEITURA

👑


Não podia evitar a dormência em seu couro cabeludo, ou suas orelhas aquecendo quando estavam a esta distância.

O cheiro fresco de eucaliptos que vinha das roupas do outro, a maneira como ajeitava seus cabelos escuros, deslizando os dedos com anéis entre as mechas. O som de sua voz, quando falava em voz baixa, pacientemente. Sua risada suave e discreta, que apertava seus olhos, as mãos menores que as suas e delicadas, folheando seus cadernos e livros. O jeito que seus lábios se moviam enquanto falava, sempre fresco em sua mente o fato de que ninguém o viu entrar no palácio naquela noite.

Quem é Jimin, afinal?

— "...Acima de tudo sê fiel a ti mesmo".

Lhe encarava, irremediavelmente, captando cada ato seu. — Sua vez, Príncipe. — piscou ao ouvi-lo, voltando a encarar o livro, tentando achar a linha que deveria traduzir, da leitura que selecionaram juntos naquela tarde. Isso passou a acontecer, não se prendiam mais aos conteúdos históricos ou filosóficos durante todo o tempo de aula naqueles três dias de semana em que se viam. Em alguma parte conversavam em voz baixa, desviando de assuntos que deixavam Jungkook desconfortável, o que fazia com que seus encontros se tornassem momentos de paz. — "...Coração, não te esqueça o de quem és." — Jungkook traduziu também.

Quem é você, Jimin? Queria perguntar, mais que qualquer coisa. Eles já tinham ou não se encontrado antes?

O outro assentiu, depois de ouvir a tradução imediata e impecável — Escolha outro. Tem uma biblioteca inteira ao seu dispor, no ambiente ao lado. — pediu. O Príncipe sentia o peito subir e descer rápido sempre que lhe encarava, e isso estava lhe tirando a paz.

Era medo, por saber que Jimin agora tinha conhecimento de tantas das suas fraquezas?

Ou era raiva, pelo mesmo motivo?

Ergueu o olhar, fixo nas costas do outro, tentando nomear a sensação. Não teve coragem de perguntar sobre embora constantemente pensasse na noite em que se afundou na banheira, e Jimin simplesmente apareceu. Era no mínimo intrigante que alguém tivesse passado pela guarda do palácio no meio da noite, e sumido da mesma maneira, sem que nem mesmo Chung-hee soubesse. Ele queria pensar que existia alguma possibilidade de existir uma explicação racional, que não o colocasse numa posição mais miserável.

Inquieto se levantou, se aproximando da estante aonde uma pequena porção dos livros que possuía ficavam, passando os dedos longos pelo dorso dos livros. Enquanto o fazia, sentiu o outro se mover, parando a um passo de si. Conseguia ouvir e sentir sua presença; Jimin esticou o braço, pegando um livro que estava disposto próximo de sua mão, e num instante a respiração do Príncipe se tornou difícil — Está entardecendo. Nosso tempo já acabou, me pergunto por que o senhor Chung-hee não veio nos avisar até então.

O sorriso leve do Professor naquele momento pareceu familiar a Jungkook.

Ele direcionou os olhos escuros para os do mais velho, quando as palavras lhe escaparam — Então fique. Temos aposentos suficientes para te acomodar também... —Apertou um pouco o livro que segurava em sua mão, quando o pedido lhe escapou.

Os olhos castanhos de Jimin buscaram os seus imediatamente, e nenhum dos dois ousou desviar. Era impossível que Jungkook descobrisse o que aquela pessoa estava pensando, então podia apenas aturar a inquietação, até que recebesse um aceno de cabeça, e os lábios se curvando lentamente para cima, em resposta.

👑

Seu sono era entrecortado.

Sempre acordava alarmado como se fosse a hora de se levantar, mas apenas encontrando o escuro. O cansaço o fazia se sentir sonolento, então acabava fechando os olhos, piscando longamente, e descansando pouco, mas logo os abria, encarava o teto, pensando se havia algum problema nele, se haveriam mais goteiras, e se deveria perguntar sobre isso a Chung-hee. Não era a primeira vez que despertava sentindo aqueles pingos de água. Qualquer assunto lhe distraía de dormir, enquanto seu coração queimava inquieto, de maneira dolorosa, pela ansiedade constante que lhe atordoava até dormir sem perceber. No meio da madrugada, no entanto, despertou quando sentiu a coberta deslizar sobre seu corpo, sendo lentamente puxada dele. Se ajeitou na cama, puxando o cobertor novamente para si, sem notar de fato o movimento, e estava pronto para fechar os olhos e se forçar a dormir de novo.

Mas a porta que Chung-hee fechou estava aberta.

O Príncipe se sentou no colchão macio e espaçoso, respirando fundo e olhando ao redor, um tanto quanto desesperado. Nada no fim do dossel, nem sobre a cama, nem nos cantos do quarto.

Apenas a porta aberta.

De qualquer maneira teria que se levantar para fechá-la, porque não conseguiria dormir, vendo as estátuas do corredor no outro lado. O Príncipe balançou a cabeça, se levantando e fechando o robe que usava para dormir, caminhando devagar naquela direção, sempre olhando para trás também. Sua paz para dormir certamente já havia se esvaído. Por isso caminhou rapidamente, em direção às escadarias, onde havia um pouco de luz, embora ainda fosse assustadoramente silencioso.

A biblioteca estava aberta também.

Franziu o cenho, se abraçando e continuando a caminhar, até o cômodo espaçoso e cheio de livros. — Alteza? — ouviu a voz atrás de si, e se virou naquela direção, com a respiração alterada pelo breve susto. Quase balbuciou algo que expressasse felicidade, em saber que mais alguém estava acordado naquele lugar. — O que houve?

Jeon se aproximou dele, para que pudessem falar ainda mais baixo. — Boa noite, professor. — sussurrou.

— Ah... Boa noite. Algum problema? — Jimin questionou, e o outro lhe encarava, torcendo os dedos das mãos uns contra os outros.

Pensou em contar sobre a porta, mas estava apreciando demais seu momento de paz após o susto, para relembrar sobre ele, e ainda era verdade que não queria voltar a se expor para aquela pessoa — Perdi o sono. E quanto a você?

O outro também enrolado numa roupa de dormir de tecido fino e delicado do palácio, nas cores da bandeira de Belo Monte, balançou a cabeça — A casa é diferente, e o quarto grande demais. Duvido que eu consiga fechar os olhos, por um instante que seja.

Jungkook sorriu de leve, se aproximando um pouco. — Medo?

Jimin ergueu o queixo, subindo o canto dos lábios também. — Talvez. Um diferente do seu, mas provavelmente sim.

O Príncipe balançou a cabeça, esfregando os braços sob o roupão, puxando ar entre os dentes, olhando para os lados. Não queria subir, e demorou bastante até que reunisse a coragem para pedir — Bom, já que não conseguiremos dormir de qualquer maneira... Por que não fazemos algo nesse tempo? — o mais novo questionou com o tom de voz incerto, recebendo um sorriso surpreendido.

Jungkook baixou os olhos salpicados pelo amarelado das luzes, em direção à mão que lhe foi estendida, e logo o braço do professor se dobrou, quando o ofereceu ao mudar de ideia sobre a mão.

O Príncipe se encontrou sem ação, mas ainda assim aceitou caminhar com ele biblioteca adentro.

Contou sobre os livros que já havia lido, e algumas histórias dele e Seokjin, quando eram pequenos, ao ser compelido por alguma pergunta sempre se lembrava de algo para falar, o que era surpreendente. Jimin ouvia atentamente cada uma com o rosto apoiado na mão, olhos expressivos, fazendo comentários a respeito, o que levou Jungkook a se perguntar se ele realmente era alguém tão introspectivo como imaginava, ou apenas se abria de fato com pessoas dispostas a ouvir, como Seokjin, Chung-hee. E agora Jimin. Num jogo quase emocionante de damas teve que segurar suas risadas ouvindo as reclamações do professor sobre como era habilidoso, e era surpreendente que ninguém os tivesse ouvido ainda.

No piano, usando o pedal que abafava o som, enquanto dedilhavam as teclas aleatoriamente, Park mostrava um trecho de uma música que conhecia devido ao tempo que passaram juntos nas aulas — Esta peça que você sempre toca... — Jungkook murmurou, ouvindo a melodia — Me faz sentir um pouco de tristeza. — comentou.

— Então vamos trocar. Não queremos tristeza, certo? O Príncipe não pode ficar triste, de jeito nenhum — Jimin disse num tom calmo, lhe encarando nos olhos até que Jungkook abaixasse o olhar para as teclas de cor perolada.

O outro passou a tocar outra melodia, e o mais novo arriscava nos acordes mais agudos, enquanto dividiam o banco, tocando suavemente quando o outro dava espaço, e às vezes tocando no mesmo espaço.

Jungkook deitou a cabeça sobre o instrumento musical quando o fecharam no fim da madrugada, apoiando o lado do rosto no braço, ainda olhando para Jimin, que encarava as próprias mãos espalmadas no piano. Estava em confusão por dentro, mas ainda não se questionava sobre isso, então não hesitou em apoiar sua mão perto dali também, a ponto de sentir suavemente o calor da palma de Jimin, embora ainda estivessem separadas.

No penumbra projetada sobre eles pela janela no cômodo, ele respirava mais depressa, sendo encarado pelos olhos castanhos, quase bordô, agora num tom frio pela iluminação, mas atenciosos por outro lado. Mesmo encarando a própria mão ele podia sentir o que aquele olhar fixo passava, e os efeitos que tinha em sua mente.

O que está acontecendo...?

— Estava bastante frio, naquela noite. Mas enquanto você estava lá, quando apareceu... eu me senti aquecido, de volta a mim — murmurou, pensativo e ao mesmo tempo presente, sem saber sobre o que deveria falar, apenas desabafando alguns pensamentos.

Ainda sem olhar para o mais velho esticou seu dedo mínimo, apenas o suficiente para encostar por um instante em sua mão. — Queria descrever o que está se passando, Alteza.

Jungkook sentia o coração acelerado, e muito mais ao ouvir sua voz sussurrada tão de perto. Sentia uma atração crescente por ele, que se alastrou rapidamente, mais rápido do que poderia administrar ou até perceber enquanto registrava coisas simples sobre ele, como o tom de voz ou o perfume. Quando se deu conta, aquela sensação lhe atingia até o pescoço — Descreva. — murmurou.

Jimin balançou a cabeça, suspirando, e se afastando minimamente no assento, espaço ganhado e imediatamente perdido, porque o Príncipe se aproximou dele, ainda mais que antes, num ímpeto de coragem. — Eu tentava imaginar em que tipo de pessoa o Príncipe se tornou, a dúvida era tão grande ao ponto de ter que vir verificar por mim mesmo. Mas não esperava que fosse assim... — disse num tom sugestivo, sem se explicar. Assim como? — Está demandando todos os meus pensamentos — o professor começou. — Meu corpo e minha mente, Alteza — Jungkook sentiu o peito queimar, ao ouvir aquilo, porque era ainda mais do que imaginava que receberia. — Seja como for... Não se jogue fora — ouviu Jimin pedir, erguendo os olhos castanhos para ele.

Não esperava aquilo, e ficou especialmente balançado porque sabia exatamente o que significava.

— Eu acredito que você deve se tornar forte, e que tem total capacidade disso e de qualquer coisa que queira nesse mundo. Por favor, se valorize mais — Jimin sussurrou novamente, apenas para ele, olhando em seus olhos, quando piscou, entendendo suas palavras. — Eu vou estar aqui para te ouvir e te ajudar, desde que me queira nisso.

Eram palavras que só podiam significar uma promessa.

E para ele, que não tinha muitas pessoas com quem contar, a promessa de presença que podia parecer tão simples, era o suficiente para descompassar o coração.

Sem pensar duas vezes, esticou um pouco a própria mão, a colocando mais perto da do outro, de forma que seus dedos menores se tocassem, e sua boca imediatamente se tornou seca, enquanto o couro cabeludo se arrepiava.

Estava confundindo as coisas? Simples palavras de ajuda, por algo a mais? Buscou essa resposta erguendo os olhos absolutamente escuros para ele, afinal tudo era incerto.

Jungkook franziu o cenho, enquanto o peito aquecia e se inquietava — Isso é por conta do que você viu, naquela noite? Por que eu estou assim? — perguntou, se sentindo um pouco patético, ciente do estado em que o outro o encontrou.

Jimin negou de imediato, se aproximando mais ao cobrir a mão do Príncipe, fazendo seu coração acelerar e confundir, mas aquietar quando se sentiu ser levado a um abraço.

Jungkook engoliu em seco de olhos arregalados, imóvel até se acostumar, apoiando a testa no ombro do mais velho, se virando minimamente sentindo a ponta do nariz tocar a pele, e o cheiro fresco e indiscutível de eucaliptos, uma carícia suave na cintura e aquele contato suave, que se intensificou quando sentiu os dedos do outro afagando cuidadosamente seus cabelos. — Eu estou dizendo isso, porque não consigo parar de pensar em você. — dessa vez a voz soou ainda mais baixa, porém bastante clara, tão próxima de seus ouvidos.

O Príncipe arregalou os olhos, e conteve o ímpeto de pressionar a mão contra o próprio peito, porque seu coração saltava, de forma que temesse ser ouvido por Jimin.

Suas mãos hesitantes se apoiaram nas costas do outro, e de olhos fechados não poderia dizer quando ou se chegaram a se separar de fato.

O calor e o conforto de um toque íntimo como aquele eram coisas que há muito tempo ele não tinha nenhum acesso, então um simples abraço era o suficiente para que logo estivesse segurando suas lágrimas, enquanto sentia sua respiração estremecer, até aquietar.

Acordou com o nascer do sol, brilhando em seu rosto, sozinho com a cabeça apoiada ao piano, e o roupão que Jimin usava sobre seus ombros.

👑

Seokjin e Jimin eram pessoas diferentes, ocupando espaços totalmente distintos em sua vida. Mas depois daquela noite, era difícil se enganar quando sua pele pedia por aquele tipo de contato novamente.

Estava dormindo melhor, e passando tempo de qualidade com o melhor amigo, conversando mais com Chung-hee, como costumava fazer, no entanto qualquer pausa significava que acabaria pensando em seu professor, e isso o inquietava.

Sem tardar, a temporada de frio havia chegado, e com ela a neve que se aprontava para cair no final da tarde. Esperava do lado de fora do palácio a chegada de um mensageiro, uma vez que seu pai estava novamente fora do país. Não era comum que se apresentasse a ninguém, no entanto certos assuntos o pai ordenava que apenas Jungkook cuidasse. Certamente como parte dos aspectos de se tornar Rei no futuro.

O homem era ruivo, e usava uma capa branca como o restante de sua roupa, e detalhes de ouro, que lhe lembrou a vestimenta de um frequente visitante do palácio. — Boa tarde, Príncipe Jeon. Meu nome é Hoseok. Acredito que se lembre vagamente de mim. — se apresentou, inclinando a cabeça. O Príncipe assentiu, lhe dando as boas-vindas. Não era a primeira vez que recebia alguém, embora fosse raro que tivesse de lidar com isso diretamente. — O Grande Domo tem prazer em servir vossa Majestade — falou, entregando ao Príncipe uma carta, certamente dos nobres de lá.

Chung-hee recolheu a carta numa bandeja prateada, abrindo espaço para que os dois entrassem, o ruivo observando atento o palácio, adentrando no local. — É muito bonito. A arquitetura é de tirar o fôlego — apontou.

— De fato. — Jungkook respondeu colocando as mãos para trás, observando o outro sob a máscara.

— Feita com mão de obra de meu país, era de se esperar algo grandioso. — acrescentou.

O Príncipe franziu o cenho, mas manteve silêncio a respeito. Era verdade que o Grande Domo só se recuperou no reinado de seu pai, depois de constantes anos de ataque vindos do reino de Jungkook, Belo Monte. A bandeira do país deles se tornou vermelha, não por um ato de resistência, mas pelo sangue derramado, certamente; enquanto a de Belo Monte era azul e verde, como se fosse uma lembrança incômoda de que terras e rios lhe pertenciam, indevidamente — O que gostaria de comer?

— Ah, por enquanto gostaria de algo quente para beber. Sabe a previsão de chegada do Rei?

Jungkook acenou com a cabeça — Ele viria hoje, mas virá no dia de amanhã, e ficará durante toda a semana. Chung-hee, poderia por favor pedir que providenciem os aposentos? — O mais velho assentiu, inclinando o tronco antes de sair, deixando o Príncipe a sós com o outro e os guardas, que sempre ficavam ali, parados como as estátuas dos corredores.

— O Príncipe tem ido muito ao centro da cidade, visitar as atrações? — Hoseok questionou.

O outro não deveria responder algo assim, e se respondesse geralmente omitia o fato de não sair, pelo fato de Jung Hoseok não pertencer à nação de Belo Monte. Ajeitou a máscara sobre o rosto, respirando fundo, ganhando tempo para falar qualquer coisa que fosse conveniente. — Jungkook! — Quase agradeceu verbalmente ao ouvir Seokjin chamá-lo.

— Hoseok, meus empregados irão te acompanhar até seu quarto, e enviarão também sua refeição, se assim preferir, em alguns instantes. Pela manhã meu pai poderá lhe responder todos os seus questionamentos. Se me der licença...

— Claro... Tenha uma boa noite, Alteza. — Jeon inclinou a cabeça, se afastando do ruivo, que era acompanhado até um dos quartos do palácio real. Se aproximou apressado de Seokjin, para ajudá-lo com os animais, já que a geada estava próxima.

— Você me livrou de mais uma. — murmurou.

— Eu sempre te livro. Sou seu anjo da guarda, eu diria. O que acha de outro jogo de alvos hoje?

👑

Com a queda da neve, Jungkook pediu a refeição em seu próprio quarto, também, pegou um dos livros da biblioteca para passar o tempo sozinho. Os dias se passaram, mas ainda não podia agir normalmente ao se lembrar do que aconteceu. Havia abraçado o próprio professor. Várias vezes, carinhosamente, naquela noite, de uma maneira muito íntima, com sentimentos que não esperava encontrar em um abraço com alguém como ele. Sentia claramente a ponta dos dedos de Jimin em suas costas ou em sua nuca, o cheiro e o calor nítidos nos abraços.

Chung-hee devia estar achando estranho quando cobria a boca para não sorrir, ou as bochechas quando pensava demais sobre isso.

Não era uma reação normal, em toda a sua vida quando abraçou pessoas, — não foram muitas, mas — nunca se sentia assim.

E tudo que queria era vê-lo de novo, embora em parte também sentisse medo, o peito queimando em adrenalina ao pensar nessa possibilidade, o que não estaria lhe preocupando, se os abraços e carinho fossem despretensiosos. De sua parte, não eram, e sentia que estava enganando Jimin.

Não teve tempo nem coragem de se ater demais ao que fez consigo mesmo na banheira, e até pensava que talvez tivesse desmaiado, e não feito propositalmente. Mas ver Jimin tão preocupado era surpreendente, já que sua postura costumava ser calma e quase inatingível durante as aulas, sempre suave, sempre certo das coisas. Então desassociar seu coração acelerado dele era... Difícil.

Desceu o olhar para o livro piscando várias vezes tentando se concentrar, mas parando quando ouviu de longe trote de um cavalo chegando, e franziu o cenho. Seu pai teria chegado mais cedo, sozinho? Se levantou devagar, aproximando-se da janela e a abrindo minimamente para ver. Bem abaixo dela havia alguém, montado num cavalo de fato, e com uma capa preta, retirando o capuz e olhando para cima e então para o lado, o vendo na janela.

— Não é possível... — Sussurrou.

E ele sinalizou, indicando que subiria até o Príncipe. Como tinha conseguido entrar, de novo? Ninguém sequer o anunciou, e os guardas não estavam aonde se podia ver daquele ponto. Jungkook saiu da janela, já sorrindo e sentindo o coração aquecer em ansiedade, descendo as escadas tão apressado fechando o roupão, que ia aos tropeços se apoiando no corrimão, mas congelando imediatamente surpreendido quando encontrou Hoseok no pátio, bebendo algo numa taça de cristal.

— Vossa Alteza. — murmurou, se inclinando. O mais novo desacelerou os passos e diminuiu o sorriso. Estava sem máscara alguma no rosto. — Ah, por favor, não se acanhe, estou apenas bebendo. Algum problema?

— Ah... Não... — Olhou para a entrada, para onde Chung-hee ia. Aproveitou que o ruivo lhe deu as costas, encarando um dos quadros, para gesticular com Chung-hee para que o distraísse, invertendo os papéis. O mordomo se aproximou dele, cumprimentando Hoseok. — Dê a ele algo bem mais forte para beber. — O Príncipe sussurrou ao mais velho.

— Não acredito que cometeu a imprudência de descer. O que o Senhor Park faz aqui? — Chung-hee sussurrou de volta. Jungkook se esforçou para conter o sorriso, e apenas deu de ombros, com uma expressão inevitavelmente levada e alegre.

Chung-hee tinha o cenho franzido, mas já não via aquela expressão há tanto tempo que apenas suspirou em desistência — Suba com ele. Vou me livrar do outro, seu jantar já deve ter chegado ao seu quarto, está tarde, se atrasaram na cozinha.

— Obrigado... — Jungkook queria abraça-lo como quando era criança, e ele o livrava de qualquer problema, como quando se afastava demais na margem do rio, mas se ateve apenas a lhe dar um leve aperto no braço.

— Ainda terá que explicar esta visita noturna. Se não para mim, para seu pai. — Chung-hee levantou o indicador coberto pela luva branca.

— Para você. — o Príncipe se apressou em falar. O de cabelos grisalhos negou com a cabeça, se dirigindo ao ruivo, e o encaminhando para a adega, enquanto Jungkook foi depressa até a entrada onde Jimin se encontrava com os ombros esbranquiçados pela neve. O segurou pelo braço e subiu com ele pelas escadarias vazias.

Quando entraram no quarto, fechou a porta, com Jimin do lado de dentro, e se virou devagar para ele, ainda sem saber ao certo o que dizer, colocando as mãos na frente do corpo, remexendo os próprios dedos, sua boca secando. Jungkook não tinha experiências, mas tinha conhecimento sobre muitas coisas. Ver um simples amigo ou professor não o deixaria assim, e sua consciência crescente sobre esse simples fato fazia seu interior estremecer e queimar.

— Está molhado — apontou depois de pensar aflito sobre o que dizer.

Jimin assentiu, surpreendentemente também quieto e com a expressão sólida pacífica de suas aulas desmontada, segurando uma parte de sua capa, amassada entre os dedos — A neve está forte — respondeu, e Jungkook balançou a cabeça, assim como ele.

O quarto estava silencioso, e a ansiedade que era uma velha conhecida para o mais novo quis se pronunciar e sugerir possíveis mentiras. A verdade é que não fazia sentido que Jimin estivesse ali.

— Algo aconteceu para que viesse numa tempestade? — O Príncipe ergueu a sobrancelha, para calar aquela voz perversa.

Suspirou longamente, o encarando para responder — Estava por perto. Pensei em passar direto pelo palácio, porém precisava te encontrar, de alguma forma. Não poderia esperar três dias. — falou, com sinceridade, e Jungkook entreabriu os lábios, surpreso, comprimindo um sorriso em seguida. — Você está bem? — o professor murmurou. — Tem dormido? Se alimentado? — continuou, apertando as luvas que havia acabado de tirar das mãos.

Jungkook assentiu. — E quanto a você? Não acha melhor tirar a capa molhada? Pode acabar se resfriando...

Park encarou o próprio corpo por alguns segundos. — Claro... — O Príncipe ponderou, mas deixou a incerteza de lado, se aproximando do professor para empurrar um punhado de neve em seu ombro, mas parando para olhar em seus olhos, sendo imediatamente abraçado daquela mesma por ele. Suspirou, deixando o ar sair devagar, fechando os olhos. Já tinha recebido abraços de pessoas antes, até de pessoas queridas, como seu amigo Seokjin. Mas não era essa a sensação, não sentia ansiedade, euforia, nem vontades estranhas.

Jimin apertou um pouco mais sua cintura, afagou suas costas enquanto o Príncipe deixava o abraço afrouxado para também circular seus ombros com mais firmeza, estremecendo por dentro, seus lábios se abrindo buscando ar, sentindo as mãos segurando firmemente seu corpo, acariciando.

Olhou a janela aberta, a neve caindo sutilmente, depois da nevasca forte de minutos atrás. — Durma aqui, por favor — pediu, num ímpeto de coragem, sentindo o coração retumbar dentro do peito, queimando como a lareira, que aquecia ambos. O professor lhe encarou se afastando minimamente, deixando a janela para qual olhava, em que a neve se acumulava, de lado. Jungkook hesitou, era demais pedir algo assim?

Bem, seria melhor que ele ficasse, afinal estava tarde e tinha de alguma maneira se esgueirado escondido...

— Está me convidando para dormir no palácio?

O Príncipe ponderou, olhando para a mesa de madeira, ou o livro sobre ela. As letras do título pareciam se bagunçar e sequer formar palavras, porque seu foco estava até na respiração do outro ao passo que copiosamente apetava as mãos fechadas. Então negou. — Comigo. Pode ficar comigo?

Park olhou fixamente em seu rosto, de forma que se sentisse içado a encará-lo de volta, com a mesma intensidade. Por mais ingênuo que fosse, conseguia sentir a energia atrativa, quase magnética entre eles — Como desejar, Alteza.

👑

O professor saiu do banheiro já livre das roupas úmidas, usando as peças secas que tinha por dentro da capa, se escorando no batente da madeira, de braços cruzados. — Sirva-se, por favor. — murmurou o Príncipe, em tom de voz baixo o suficiente apenas para que Jimin ouvisse.

Ele lhe observou, antes de liberar os braços, se aproximando devagar. — Não é correto que eu coma nos mesmos pratos que um Príncipe.

— Te convidei para o meu quarto, acha mesmo que os pratos têm alguma relevância? — O professor lhe encarou, e então Jungkook abaixou a cabeça, ficando em silêncio por alguns instantes. Estava aos poucos se tornando impulsivo. — Desculpe.

— Pelo que?

Jungkook ponderou, remexendo no tecido de suas roupas. — Eu faço e falo coisas absurdas nos últimos tempos. Meu comportamento também está absurdo e incoerente para alguém mais novo, que deveria ouvir o professor, e não ordenar coisas.

— Continua sendo o Príncipe, independente de nossos talvez dez anos de diferença. E eu sou um mero súdito seu — Jeon lhe observou, enquanto ele caminhava para mais perto de si, sentando sobre o baú na beira do dossel, bem diante do Príncipe.

— Você não é. Está aqui por isso? — O mais novo suspirou, retirando seu casaco de veludo azul, tecido bordado com fios dourados, ficando com a camisa branca e transparente por baixo. — Está aqui porque ordenei que ficasse? — questionou.

— Pareço estar sob ordem? — o professor devolveu sorrindo de lado, de uma maneira que raramente fazia. — Mas eu te disse antes que está na minha mente. Quer queira ou não, eu sou seu escravo, apenas por isso.

O mais novo ergueu uma sobrancelha, sem responder imediatamente estreitando os olhos em sua direção antes de desviar, porque sabia que seu rosto devia estar tão vermelho quanto a bandeira do Grande Domo.

— Vamos comer, antes que esfrie. — sugeriu, se aproximando da bandeja e abrindo os pratos. Sopa. Chung-hee não estava mesmo contente consigo. Sopa, fatias de pão finas, duas porções de frutas diferentes. — Algum problema? — Park questionou. Jungkook lhe encarou, antes de negar, pegando um pedaço de pão para comer.

— Coma também. — falou, apontando para os alimentos com a cabeça. Park assentiu, tomando um pouco da sopa e comendo parte do restante também. Quando o Príncipe foi ao banheiro e se trocou, encontrou Jimin ao lado de sua cama, retirando também algumas de suas peças de roupa.

Abriu a colcha de seda, entrando debaixo dela e esperando que o professor se deitasse também. O de cabelos escuros lhe encarou, retirando os óculos e os deixando no móvel do seu lado da cama, ou pelo menos o lado que havia ocupado até então. Ele suspirou longamente, balançando a cabeça, encarando a parede do outro lado do quarto, diante da cama. — O que estamos fazendo? — questionou. — Aqui não é o meu lugar, é?

Jungkook respirou mais rapidamente, temendo que ele decidisse ir embora. Nesses momentos quando sentia que não teria de jeito nenhum o que mais queria, eram os que usava com facilidade o título com o qual geralmente não se importava — Tem outro lugar para onde deveria ir, além de estar ao lado do seu futuro Rei?

O de cabelos escuros lhe encarou, esboçando um sorriso fraco. — Não, Alteza. Porém penso que esse lugar terá o nome de outro alguém.

— Terá o nome que eu decidir. — Jungkook sussurrou. Não queria encontrar relutância.

— Acha que seu pai concordaria, se soubesse? — O Príncipe se calou. Seu pai talvez fosse seu calcanhar de Aquiles, e não suas asas. Obviamente não permitiria, e seria capaz de afastar o professor para sempre daquele palácio. — Como me responde isso, Jungkook?

Ele subiu o olhar, encontrando o de Jimin. De fato, parecia bastante errado, principalmente o fato de ter expectativas que não tinham nada a ver com um relacionamento de simples professor e aluno. Não disse nada, apenas se aproximou, espalmando a mão no peito do outro, usando como apoio para tocar o rosto no dele usando o seu, o mais próximo que conseguiu chegar, com o coração descompassado, a palma das mãos parecendo suar, mas os olhos brilhantes cheios da determinação que reuniu. — Por que está falando nele, quando está comigo? — questionou, segurando o rosto do outro com uma das mãos, ainda sem se afastar — Eu pensei que demandasse sua mente, seu corpo e todos os seus pensamentos, Jimin.

O outro lhe observou o rosto, descendo o olhar de seus olhos até a boca do mais novo. Foi o suficiente para que o encostasse de volta na cama, colocando parte do tronco sobre ele, antes de unir os lábios aos do Príncipe, que abriu as pernas para que ficasse entre elas, envolvendo seus ombros com os braços, num gemido baixo de satisfação, quando finalmente conseguiu o que queria sem saber, desde a noite que ficaram sozinhos, franzindo e relaxando o cenho, incerto de se devia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, apertando os olhos numa expressão confusa, mas com atitudes de quem não podia parar a si mesmo.

Jungkook encheu as mãos com os cabelos castanhos do mais velho, interrompendo o beijo apenas para receber os toques seu pescoço, abrindo os lábios e ofegando ao senti-lo ali, enquanto o puxava para mais perto, abraçando e sendo abraçado, calor se alastrando livremente por seu corpo. As sensações o assustavam, as emoções começavam a se empilhar.

O outro parou aos poucos, ao passo que o Príncipe mordia o próprio lábio, de olhos fechados, queimando e dormente ao mesmo tempo. Jungkook abriu os olhos escuros, encontrando a beleza sóbria do mais velho, combinada às feições joviais, e apenas voltou a beijá-lo devagar, desta vez colocando a própria língua em contato com a dele, de uma maneira harmoniosa embora tímida e inexperiente, enquanto arrepios percorriam seu corpo, e os sons do beijo passeavam pelo quarto.

Jimin parou o contato, e apoiou a testa contra a dele, antes de sussurrar. — Somos de lados opostos, Jungkook.

Como aluno e professor, nobre e pessoa comum? Ainda que seja isso, não importam as circunstâncias. Jungkook pensou e negou, afagando os cabelos próximos à sua nuca, e roçando os lábios nos dele. — Então, por favor, fique ao meu lado.

letra da música:

Se eu fosse jovem, fugiria desta cidade
Enterraria meus sonhos debaixo da terra
Assim como eu, nós bebemos para morrer
Nós bebemos essa noite

Longe de casa, armas de caça
Vamos abatê-los um por um
Nós vamos derrubá-los
Não foram encontrados, não estão aqui

Que comece a caçada
Tudo ocorre como deve
Que comece a caçada
Derrube o grande rei
Que comece a caçada
Tudo ocorre como deve
Que comece a caçada
Derrube o grande rei

E rompe através do silêncio do nosso acampamento à noite
E rompe através da noite, a noite toda, a noite toda
E rompe através do silêncio do nosso acampamento à noite
E rompe através do silêncio
Tudo o que sobrou é tudo o que eu escondo



- capítulo editado 16/05/21 com alterações de enredo.

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