Sina acordou às 06:00 da manhã em ponto como de costume. Fazia isso todos os dias até nos finais de semana para não perder o hábito, era o que ela dizia. Foi para o banheiro fazer sua limpeza de pele facial seguido de 30 minutos de bicicleta elíptica. Uma ducha relaxante para logo depois se vestir. Uma blusa preta, uma saia longa e tênis brancos. Desceu as escadas rapidamente e tomou seu café da manhã.
Pontualmente as 08:00 estava no colégio, pronta para mais um dia que óbvio, já estava prontamente programado; Primeira aula de História, Biologia, Física II e Matemática. Depois uns 10 minutos para se limpar das prováveis raspadinhas que ainda estariam por vir de Heyoon, Diarra, Shivani, Bailey ou Josh. Depois apresentaria seu solo no clube deixando todos os outros boquiabertos e morrendo de inveja de seu talento. Sem esquecer é claro da Srta. Lovato, que como sempre tentaria arruinar sua vida. E mais tarde após o colégio iria para casa de Noah ajuda-lo com suas matérias que ainda estava com dificuldades.
Noah saiu da casa da namorada antes do sol aparecer. Os pais de Heyoon gostavam de seu namorado mas não achavam nada agradável o garoto se aproveitar do momento. Já que eles estiveram que passar a noite fora por questões de trabalho. Hana e Jin trabalhavam juntos por serem dois empresários de sucesso. Tinham que estar sempre viajando para conferências, reuniões, divulgações e parceria com outras empresas. As viagens as vezes eram para cidades mais próximas mas também distantes, necessitando eles ficarem até quatro dias fora. Isso era uma coisa que Heyoon e Noah tinham em comum: A ausência dos pais.
Mas Dona Charlotte era quem socorria os pais da morena. Uma senhora muito simpática que beirava aos 70 anos, cabelos grisalhos e olhos azuis expressivos. Heyoon a tinha como uma avó, ou melhor, uma segunda mãe.
A senhora que morava sozinha, apesar de ter uma neta que morava em New York com o pai, cuidava de Heyoon desde as fraudas. Tinha um enorme carinho pela menina que só tendia à aumentar. Sua casa era bem perto da morena, ao lado da própria. Para garantir. Em seu quarto a menina estava perto da janela que facilitava a comunicação entre ambas sem precisar ir a casa da outra.
- Banana e... Bacon? - Perguntou se aproximando mais da janela de seu quarto. A mulher assentiu com seu sorriso contagiante enquanto mexia a panela.
- Vai vir tomar café ou precisa de um convite formal? - Perguntou Charlotte levantando o olhar.
Heyoon não pensou duas vezes antes de correr para casa de sua avó. Jamais recusaria bananas e um bom bacon.
(...)
- Suas roupas... Não sei em qual classificação coloca-las. - ele disse, enquanto analisava a loira dos pés à cabeça.
Sina se limitou apenas a revirar os olhos.
- Sina, não falo por mal. Já te ofereci uma repaginada mas não sei porque custa em recusar... Olhe para mim. - Deu uma volta para que a menina analisasse o seu look. – Eu hoje estou de Alexander McQueen. - Disse com um sorriso orgulhoso se referindo a marca de sua roupa enquanto Sina olhava pra ele como se o mesmo tivesse três cabeças.
- Sai da frente sua bicha. - Insultou Krys seguido de uma raspadinha por um de seus amigos homofóbicos.
- Brutamontes! - Soltou enquanto respirava fundo coberto pela recém raspadinha.
- Acho que sua roupa de Alexander McQueen ficou bem melhor agora. - Sina não pôde evitar, ela tentava ao máximo segurar o riso.
Lamar ignorou.
- Meus olhos estão ardendo... - Parou por um momento e voltou a falar ainda estático. – A minha roupa vai manchar e o meu cabelo que levei horas pra arrumar... e agora veja como ele esta! - Soltou um grito batendo o pé irritado.
- Vem... Vamos até o banheiro. Eu te ajudo.
Eram exatamente 19:30 quando Sina chegou à casa de Noah. O garoto abriu a porta e fez uma careta engraçada.
- Pontual, huh? - Sorriu deixando a loira passar por ele.
- Como sempre. - Completou e sorriu ao ver a mãe de Noah ali.
- Boa noite senhora Urrea.
- Hey, boa noite Sina. - Sorriu amigável para garota. – Já lhe disse que é só Wendy. Sem essa de senhora.
Sina corou concordando.
- Filho eu vou ter que ficar de plantão hoje novamente. Foi um imprevisto, Patrícia ficou doente e me pediu para substituí-la e não tive como negar... Mas já deixei o jantar preparado. - Argumentou para Noah enquanto mexia em algo dentro da bolsa.
O garoto suspirou balançando a cabeça concordando.
- Sinta-se em casa querida. - Despediu-se dos dois dando um beijo na testa de cada um. Já perto da porta ela olha para Noah e sorri.
– Mamãe te ama.
Noah apenas deu um meio sorriso ouvindo a porta da casa se fechando.
- Você devia dizer pra ela. - Sina preencheu o silêncio que tinha se tornado.
- Dizer o que?
- Oras Noah... Não se faça de desentendido. Dizer que sente falta dela, de sua companhia. Dizer que queria que ela passasse mais tempo com você. Que a ama!
– Não sei do que está falando. - Tentou dissimular enquanto olhava pro chão.
– Vamos... Pare, eu te conheço muito bem. - Chegou perto dele acariciando o braço do garoto.
– Sou sua irmã de alma, lembra? Te conheço como a palma da minha mão.
– Então vamos minha irmã de alma, tire minhas dúvidas em matemática porque eu estou completamente perdido. Desde que o professor chega dizendo Bom dia classe eu já me perco. - Tratou de mudar de assunto fazendo a amiga dar uma gargalhada.
Levou Sina para sala de estar onde se encontrava vários livros em cima da mesa.
– E lá vamos nós... - Sina sussurrou.
A noite seguiu-se rapidamente. Sina tratava de ajuda-lo com todas as dúvidas sem se dar conta que as horas estavam passando. Olhou para o horário pelo celular e quase teve um infarto ao constatar que eram 23:27.
– Meus pais já devem estar preocupados, eu tenho que ir.
– Sim claro. Eu te acompanho. - Disse já se levantando e estalando o corpo inteiro fazendo uma careta nascer no rosto de Sina ao ouvir vários estralos que para ela, eram agoniantes.
– Não precisa. Eu vou andando e nem é tão longe, só alguns quarteirões...
– Eu não sou louco de deixar você ir sozinha, ainda mais à esse horário. Nem pensar. - Pegou seu casaco que estava no sofá colocando o mesmo.
– Okay... - Revirou os olhos. – Eu realmente morreria de medo de ir sozinha.
– Eu sei. Te conheço como a palma da minha mão. - Sorriu repetindo a mesma frase que ela havia usado horas atrás.
Estava frio e Sina passava as mãos nos braços para tentar se esquentar em vão. Noah quando percebeu, instantaneamente tirou seu casaco e deu pra ela, que sorriu agradecendo. O casaco era muito grande, as mangas iam depois das mãos da menina, então Sina se sentiu bem quentinha com ele. Ambos traçaram o caminho conversando sobre coisas triviais sem poder evitar risadas espontâneas até que Sina estancou seus pés olhando para algo. O garoto franziu o cenho olhando para ela e seguiu seu olhar. Havia uma fonte com uma grande estátua cinza no centro, muito bonita por sinal que adornava aquela imensa praça quase vazia. Nunca haviam notado aquela fonte ali então supôs que havia sido colocada recentemente. Sem se conterem chegaram mais perto explorando-a.
Limitaram-se a observa-la por um tempo até que a voz da menina quebrou o silêncio.
– Noah... por que você está com a Heyoon? Juro que não entendo. - Já fazia um tempo em que ela queria perguntar aquilo.
– Por que não? Eu gosto dela, simples. - Disse amigável.
– Sinceramente eu não entendo como alguém possa gostar de Heyoon Jeong. Ela é tão... urg. – Balançou a cabeça com cara de nojo.
– Diz isso porque não a conhece de verdade. - Retrucou. Sina bufou olhando pra ele.
– Também não entendo como possa ser amigo dos idiotas do Josh e Bailey. Eles são asquerosos!
– Não sou amigo deles. Somos apenas colegas do mesmo time de futebol e só. Você não me vê conversando com eles, vê? - Deu de ombros. – E também não iria cair bem, já que os mesmos jogaram raspadinhas na minha cara quando eu era novato.
– Falou o senhor popularidade. - Retrucou sarcástica.
– Não sei do que se queixa tanto Sina. Sua vida é perfeita! - Sina riu incrédula ouvindo aquilo.
– Não zoa né, Urrea.
– Estou falando sério! Você é decidida, não se importa com o que os outros pensem de você. Sabe de onde veio, para onde vai, tem dois pais que te amam e que sempre vão estar do seu lado. Tem uma voz incrível para uma garota de apenas dezessete anos. Tem um futuro brilhante como cantora, sempre soube o que queria e luta para conseguir isso com unhas e dentes... E eu. - Olhou pra si mesmo soltando um riso nasal. – Sou um cara que não tem ideia do que vai fazer depois do colégio, não sei pra onde vou... Do que adianta essa 'popularidade' agora, se daqui alguns anos ela não valerá de nada?
– Do que está falando? - Perguntou incrédula. – Minha vida é uma droga! Todos me vêem como uma perdedora e no fundo realmente me sinto assim. Não sou tão decidida como você pensa, eu tento me mostrar assim para camuflar minhas inseguranças e não me sentir um lixo como todos fazem com que eu me sinta. Você é o Quarteback do time, bonito, popular, todas as meninas morrem de amores por você. Namora a garota mais bonita e popular de lá, todos te adoram ali e... - Divagava e Noah revirou os olhos.
– Chega. - Bufou interrompendo o discurso da menina. – Não fode Sina...
– Sua vida que é perfeita aqui! - Finalizou a loira batendo o pé.
– É a sua! - Insistiu.
Começaram uma discussão sobre o monólogo de vida perfeita entre eles. Sina virou de costas pra ele cruzando os braços com a cara feia acabando com discussão, Noah fez o mesmo. A respiração de ambos estavam falhadas por conta do debate. Ficaram assim por alguns segundo, sem saberem o próximo movimento do outro, ambos viraram pra frente gritando juntos:
– Eu queria ter a sua vida! - Gritaram em coincidência finalizando de verdade a discussão.
A luz do poste piscou instantaneamente e se quebrou assustando Sina que deu um passo pra trás. Todas as luzes da praça começaram a piscar igual se quebrando logo depois, deixando os dois se olhando na total escuridão da noite.