[CONCLUÍDA] Overlord| Jikook

By SaikoMente

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[CONCLUÍDA] "Solidão e escuridão combinadas, podem fazer com que coisas aconteçam nas sombras." Jimin decide... More

Reinado: LIVRO FÍSICO
A Dança com o diabo ▶PLAYLIST⏩
01° Reinado: Iniciação
02° Reinado: Decisão
03° Reinado: Ligação
5º Reinado: Aproximação
6º Reinado: Construção
7° Reinado: Destruição
8° Reinado: Aniquilação
9° Reinado: Fragmentação
10° Reinado: Retaliação
11° Reinado: Inquisição
12° Reinado: Conexão
13° Reinado: Aquisição
14° Reinado: Ambição
15° Reinado: Presunção
16° Reinado: Estagnação
17° Reinado: Persuasão
18° Reinado: Submissão
19° Reinado: Divisão
20° Reinado: Regressão
21° Reinado: Ascenção
22º Reinado: Anunciação
23º Reinado: Restituição
24° Reinado: Intervenção
25º Reinado: Transformação
26° Último Reinado: FINAL + EPÍLOGO
PROMOÇÃO BOOKFRIDAY SÓ HOJE!

04° Reinado: Imersão

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By SaikoMente

Em Overlord mais cedo ou mais tarde, você precisa escolher um lado.

Contaremos com este capítulo, e a introdução irá até o dia do Príncipe, o aniversário de Jungkook. Depois disso, se inicia a SEGUNDA FASE.

MAIS IMPORTANTE: Overlord não tem a intenção de ser a receita do amor perfeito, e vocês notarão isso

No entanto contará com personagens de personalidade forte, (se eu tiver capacidade de desenvolver) suspense, terror e ação.

Caso não estejam lembrando de muita coisa, sugiro uma leitura dinâmica, daquelas bem rápidas nos capítulos anteriores. Vamos ver se dessa vez finalmente vou conseguir

Tenho um roteiro pronto; mas sempre mantenham em mente esses avisos acima. Boa leitura, Bom recomeço!

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imersão

substantivo feminino

1. ato ou efeito de imergir(-se); imergência, submersão.

2. ASTRONOMIA momento do desaparecimento de um astro, ao ser ocultado por outro.

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Na saída foram ao estábulo, acompanhados de Seokjin, para visitar o cavalo preto selvagem, tão afeiçoado ao filho do Rei — Ele parece melhor agora. — disse o professor.

— Sim... Graças a você, certo? Não é, Hanu? — Jungkook pergunta, e recebeu apenas silêncio e uma expressão neutra do outro.

Quando saíram dali, professor se encolheu, sentindo o vento frio da noite que começar a surgir. — Preciso ir agora. — falou, olhando para o céu.

— Por que você não fica? Coma aqui hoje — o mais novo oferece, mas o professor negou, dando um sorriso leve e inclinando a cabeça.

— Está tarde e frio, deixaremos para outro dia, Alteza — ele disse. Poderia parecer uma desculpa ou uma recusa educada, mas vindo dele na verdade realmente parecia que ele apenas deixaria para uma próxima oportunidade.

Jeon sorriu minimamente, de forma educada, em seguida, retirou a própria capa, passando pelos ombros do mais velho, depois de pedir licença, a ajeitando em seu corpo.

— Bom... A noite só vai ficar mais fria. Te acompanho até o caminho de saída — murmurou, erguendo minimamente as sobrancelhas, esperando a resposta do outro, que inclinou a cabeça parecendo pensativo sobre o gesto, assentindo de leve. Se despediu dos outros, andando ao lado do Príncipe. O vento frio soprava, anunciando a chegada da noite, assoviando entre as copas alta das árvores que cercavam todo o palácio real. Jungkook suspirou, antes de começar a falar. — Eu te disse que eu vejo certas coisas. No escuro, fora da vista dos outros, engatinhando, correndo. Acha loucura ouvir algo assim?

O professor ergueu uma sobrancelha, parecendo pensar.

— Se alguém jura dizendo que viu, não seria mais loucura negar? A humanidade é pequena demais, diante do universo. E podem existir milhares de outras realidades, paralelas à esta. — foi o que disse. O Príncipe não queria deixar de lado tudo aquilo, precisava contar todo o resto, afinal o professor era a primeira pessoa a não rir, ou negar veementemente tudo aquilo que ele certamente via, há anos.

— Mas enquanto todos ao meu redor negam, eu sinto que estou lentamente enlouquecendo. Ás vezes é em tudo que consigo pensar, outras perco o sono por dias. A verdade é que estou sempre assustado, esperando a hora em que vão finalmente me pegar. — sussurrou o final, e o professor parou aos poucos de andar, assim como ele. — A hora em que isso vai me encurralar.

Encarou o Príncipe, parecendo ponderar, por um momento. Cruzou os braços contra o corpo, se virando totalmente para o mais novo. —Eu tenho algum conhecimento sobre o que falamos. Amanhã vou tentar ajudar nisso, o que me diz? — falou, antes de estender a mão na direção de Jeon. Mas não como um aperto, e sim com a palma para cima, esperado que colocasse a dele sobre ela.

O Príncipe franziu o cenho em confusão, antes de lentamente colocá-la ali, e Jimin surpreendentemente a levou até os próprios lábios, parando em seguida num momento de hesitação, sem realmente beijar sua pele, antes de erguer a cabeça, mas não o olhar.

— O que quer que sejam, não irão te alcançar. Boa noite, Alteza. — concluiu, indo em direção ao portão, deixando o Príncipe ali.

👑

Mais tarde ao se deitar, não importava o quanto rolasse na cama, parecia incapaz de dormir. Não era novidade, no entanto o caso dessa vez tinha uma razão a mais. O cavalo de fato estava bem, e havia voltado a suas atividades normais. E o professor...

Ergueu a mão que ele não havia beijado, a sentindo com a outra. Por que não beijou?

A sensação era estranha porque lembrava o que alguns súditos tentavam fazer com o rei, coisa que sempre lhe trouxe ideia de desconforto, mas apenas pareceu surpreendente vindo de Jimin, mais cedo, e não deveria distraí-lo de dormir. Ele franziu o cenho, ainda pensando. É só que... tinha algo de errado nesse gesto? Porque o professor pareceu perdido por um momento, assim que o fez.

Num longo suspiro, ele virou para o lado, apertando os olhos, e tentando se concentrar em adormecer. Saber que finalmente receberia alguma ajuda era animador, porque estava cansado de sentir medo, antes quando Chung-hee contratou médicos para que seus episódios noturnos fossem tratados, todos pareciam ter medo de lhe dar o diagnóstico de loucura, afinal de contas quando o Rei estivesse presente de novo e soubesse que seu filho tinha sido humilhado à esse ponto, todos temiam que a mão de ferro ao governar e punir, do antigo Rei e pai de Jungeom Jeon se fizesse presente de novo.

Horas depois, Chung-hee veio acordá-lo como fazia todos os dias, e comeu como fazia todos os dias, enquanto sol e lua trocaram de lugar duas vezes. — Tubo bem, Príncipe Jeon?

O mais novo balançou a cabeça mais uma vez exausto. As noites sempre pareciam curtas e de alguma maneira cansativas, mesmo sem pesadelos. Encarou a janela, percebendo que muitas manhãs começava assim, contemplativo e estagnado. — Sim... Tudo bem.

Mas seu coração ainda estava inquieto, como se aquele não fosse um dia qualquer. Foi mais cedo esperar o professor na sala, aguardando sua chegada sentado à mesa. Ouviu a porta finalmente se abrir, e se ajeitou no lugar, vendo o outro se aproximar de si. Fechou o caderno, depois de usar a última página, escrevendo. Escrevendo enquanto tentava entender algumas coisas, sua mente pairando até parar em Jimin, que tinha chegado. Os olhos dos dois se encontraram imediatamente.

— Boa tarde, Alteza.

Jungkook se sentiu respirar profundamente. Não estava sozinho.

👑

— Não sei se aqui aconteceu a maioria das vezes. Mas certamente foram várias. Havia uma poltrona que mandei remover, porque vi alguém sentado sobre ela. — Contou, sendo objetivo e claro em sua explicação. — A poltrona de couro havia sido levada semanas atrás, depois do ocorrido, no entanto, provavelmente não era o suficiente para parar os eventos.

— Não seriam peças de roupas? — O professor questionou, enquanto andava pelo quarto.

— Não. — o Príncipe disse, convicto. — Também aconteceu uma vez no rio. Algo segurou meu tornozelo, me puxando para baixo. Me afogando. — murmurou. Fora as outras vezes no passado, embora não tenham sido tão intensas e reais como essas. — Eu realmente gosto de passar muito tempo do lado de fora, isso nunca tinha acontecido antes, não na luz do dia.

— Um peixe? Uma cobra d'água?

O Príncipe respirou fundo antes de voltar a responder. — Eu vi uma mão e um braço. Meu calçado até mesmo ficou para trás, afundado no rio. As portas também se batem, maçanetas se mexem.

— Poderia ser Chung-hee.

Jungkook parou no lugar, no canto do quarto, cruzando os braços. — Está duvidando.

— Não estou duvidando, estou levantando hipóteses. Caso vacilasse em alguma delas eu suspeitaria, mas está sendo firme em todas as suas afirmações. E eu percebo como está incomodado ao falar sobre isso, se abraçando, encolhido contra a parede. — O outro balançou a cabeça, olhando para um ponto qualquer no chão. — Sendo real ou não, vejo que tem convicção no que diz, ao menos. — O professor se aproximou em passos firmes, o salto de seus sapatos contra o chão de tábua polida retumbando. Sem tocar o mais novo, indicou que erguesse a cabeça, olhando para si. — Eu estou aqui para te instruir, no que precisar. Te darei armas para usar contra tudo isso e proteger sua mente, dar um basta. Me avise quando estiver pronto, e começaremos.

O mais novo negou com a cabeça, antes de erguer o queixo e responder. Não queria mais esperar. — Eu estou. — Respirou fundo ao responder de imediato, deixando de apertar os dedos uns contra os outros. Jimin ergueu as sobrancelhas ao ouvir sua prontidão, mas assentiu, indo com ele e o auxiliando para que começassem.

— Respire fundo. E conte os segundos, até dez. Prenda por cinco. Repita. — O outro obedecia, deitado sobre a cama com os braços pousados sobre o tronco, de olhos fechados. — Este tipo de respiração pode te ajudar nos momentos em que estiver ansioso. Mas agora, mesmo que ouça qualquer barulho, ou enxergue formas na escuridão, deve focar apenas em sua própria respiração. Se quiser se proteger mais, feche os olhos. Seu cérebro sempre irá tentar associar formas à objetos e outras formas conhecidas, mesmo que por vezes não exista nada diante de você. — continuou.

Jungkook respirava, fazendo a contagem mentalmente, se sentindo um tanto quanto estranho por estar fazendo aquela atividade, e por ter falado todas aquelas coisas. Mas também aliviado.

No entanto se distraiu, ao sentir uma respiração contra sua pele, bem de perto. Abriu os olhos imediatamente, inspirando o ar de forma desregulada, encarando o professor que havia se aproximado. — Você se desesperou. Te disse para não abrir os olhos, mas qualquer estímulo te distrai. — apontou. — Recomece. — ordenou, e o Príncipe olhou em seus olhos, antes de obedecer. — Se chama paralisia do sono. Seu cérebro se desliga parcialmente, e você fica entre o sonho e realidade. — começou a falar, caminhando pelo quarto, enquanto o outro mantinha os olhos fechados, e a respiração compassada. — Ou entre duas realidades, quem sabe.

— E quando acontece durante o dia? — questionou, ainda de olhos fechados e retomando a respiração.

— Você pode sofrer desse sintoma a qualquer momento, talvez. Podem haver variações.

— Mas... É sempre tão real. Diferente de sonhos normais.

— Estamos apenas levantando hipóteses, não nego nenhuma das suas. Mas usando alguns métodos podemos descobrir certas coisas, e diminuir a frequência de outras. Depois de amanhã, podemos tentar outro, para que se lembre com maior clareza de todos esses eventos. — disse, voltando para a cama. — Abra os olhos. — O outro o fez, olhando para o professor, que estendeu a mão, o ajudando a se sentar. — Quando recuperar sua força, e começar a se proteger, irá perceber que nada pode te atingir. E estará em segurança.

Jungkook assentiu suavemente, e os olhos escuros subiram lentamente até encontrar os do outro, ao passo que o quarto se tornava silencioso novamente, sua mão ainda apoiada sobre a dele.

— Mas não pense demais nisso. Já basta. Vamos descer, me mostre os exercícios sobre a aula anterior.

O professor se afastou, mas os olhos escuros do outro ainda encaravam a própria palma.

👑

Foi de encontro ao chão, suspirando alto ao ser segurado nele por Seokjin. — Está com a cabeça no mundo da lua? — o outro questionou, secando a testa com o braço e estendendo a mão para o mais novo se levantar. Ele negou, balançando a cabeça e recolhendo a espada novamente.

— Então o que foi? Anda estranho há alguns dias, mais estranho.

O mais novo torceu o lábio irritado — Não foi nada. Só dormi pouco, me sinto lento. Vou tentar dormir melhor hoje.

— Não crie desculpas por ser ruim, dentuço. — brincou. O outro estreitou os olhos, sentindo energia voltar a percorrer seu corpo, embora estivesse cansado. Desafios sempre são bons combustíveis. Golpeou o amigo, avançando contra ele diversas vezes, até que recuasse no campo em que estavam lutando. — Ah! Agora está falando minha língua... — O mais velho disse, e prosseguiram na batalha, porém acabou derrubando o mais novo de vez, e chutando sua espada de madeira para longe. — Quase. — falou, sentindo suor percorrer o rosto. — Você está a cada dia melhor. — O mais velho suspirou, lhe encarando. — Como se sente? — questionou.

O Príncipe suspirou, fechando os olhos no chão por alguns instantes. — Ainda não sei. Mas suponho que bem. — Jungkook sorriu minimamente de lado, recusando a mão de Seokjin mas se levantando sozinho, recolhendo a arma de treino no chão. Depois disso ainda teria uma aula, e a próxima seria com Jimin — Mais uma vez. 

👑

— Boa tarde, professor — cumprimentou, e o mais velho entrou pela sala. — Obrigado, Chung-hee — falou para o mais velho, que inclinou a cabeça, antes de sair.

— Boa tarde, Alteza. — Jungkook abriu os cadernos, folheando calmamente por alguns segundos. — Você conseguiu concluir? — ouviu o outro questionar, se aproximando depois de retirar o paletó e se inclinar ao seu lado, observando o que havia escrito. — Está ficando bom em abranger outros idiomas, consegue até reconhecer e ler esses símbolos. — murmurou, ainda observando outras páginas.

O Príncipe escorregou lentamente o olhar do caderno para a mão espalmada do outro sobre a mesa de madeira, e então para seu braço, continuando a subir o olhar até ver o olhar maxilar marcado, seguido pelo queixo e lábios cheios. Desceu o olhar curioso novamente, dessa vez encontrando um cordão preto, dentro da camisa do outro, levemente aberta pela posição. Finalmente conseguiu perceber que cheiro era aquele, que subia e se desfazia fresco nas narinas, lembrando menta.

Ele tinha o mesmo cheiro dos eucaliptos, no tempo frio.

— Alteza?

— Hmm? — Ergueu os olhos escuros para Jimin, apertando a caneta que segurava.

O mais velho se afastou finalmente, escorando o quadril contra a mesa pesada, cruzando os braços sobre o peito.

— Como passou a noite? Algum sonho ou sensação ruim?

Jeon suspirou, negando. — Dormi bem. Talvez sentir que finalmente receberia alguma ajuda tenha me ajudado já de primeira. — O de óculos assentiu, erguendo levemente o canto dos lábios.

— Acha que por enquanto ficará bem?

— Não posso garantir — o mais novo disse. — Nunca sei quando irei ver ou sentir algo novamente — murmurou, e por mais que tentasse sorrir com os lábios, uma sombra pairava nos olhos, fazendo sua expressão se tornar amarga.

O professor não disse nada sobre isso, ocupando o banco do piano — Sabe tocar? — o Príncipe questionou de imediato.

O professor dedilhou levemente sem pressionar os dedos curtos sobre as teclas. — Um pouco, talvez. No entanto um pianista não tem mãos como estas, não acha? — perguntou, mostrando as dele. Jungkook deu uma risada curta balançando a cabeça. — Do que está rindo, Alteza? Falo sério. Mãos como as minhas não funcionam bem para esse tipo de atividades.

— Oh, então por favor, avalie as minhas. Pretendo abandonar as atividades da realeza e me tornar um músico — brincou, se levantando e estendendo as mãos para o professor. Este não tirou o sorriso mínimo dos lábios, segurando as duas mãos do mais novo delicadamente. O Príncipe franziu o cenho, piscando algumas vezes retirando as mãos depois de um breve momento.

— O que acha de retornarmos ao seu quarto? Quero mostrar outro método para clarear as memórias. O cérebro tende a esquecer ou a lembrar demais do que nos faz mal. Mas quando entramos num estado de concentração... Enfim, pode ser que consiga compreender melhor.

Jungkook ponderou, balançando a cabeça novamente em seguida. — Claro. — respondeu. Enquanto caminhava, por um instante sentiu a mão do outro apoiada na base de sua coluna, até que deixassem a sala de estudos.

— Estarei bem aqui, o tempo inteiro. Assim que sentir necessidade ou desespero, me avise erguendo a mão. Eu te puxarei de volta no mesmo instante. — Jimin disse, se afastando dois passos da banheira cheia.

O Príncipe no entanto ainda estava no canto do cômodo. — O que eu devo vestir?

O professor ponderou. — O que quiser. — Jungkook respirou fundo, assentindo timidamente, antes de se virar um pouco, começando a desfazer as casas dos botões da peça superior externa, devagar. — Seu amigo mora com você há quanto tempo? — perguntou, se escorando na parede. Jungkook ergueu levemente as sobrancelhas, surpreso por outro assunto surgir.

— Desde que nasci, desde que me entendo por gente ele está por aqui. Ele me ensinou muitas coisas, e saímos juntos sempre até o rio Cairus. Na verdade a maioria dos colaboradores do reino moram por aqui, é quase uma comunidade nas propriedades por perto. Bom, na propriedade. O monte inteiro e o redor pertence ao rei.

— Colaboradores... Quer dizer empregados? — Jimin riu. — É permitido que você saia até que distância?

O Príncipe deu de ombros. — Desde que esteja no território, posso circular. Não sou um prisioneiro. — sua voz diminuiu na última afirmação, e ele sorriu minimamente.

— Menos mal, eu diria. Viver é ser livre. — o professor respondeu. Quando se deu conta, o mais novo já estava apenas com uma camisa branca de mangas cumpridas e tecido suave, cumprida, indo em direção à banheira. Se segurou nas laterais, sentando devagar, afundando na água, apenas a cabeça para o lado de fora, encarando o outro que retirava os óculos e arregaçava as mangas, antes de se aproximar. Olhos escuros, castanhos e afiados.

— Quando se sentir pronto. Se lembre. Deve tentar relaxar, prendendo a respiração. Se concentre no que quer se lembrar ou refletir sobre. O outro assentiu, respirando fundo antes de afundar pela primeira vez.

Inicialmente sua mente não sossegava, pensando ainda sobre suas roupas, sobre o olhar de Jimin, sobre o teto do banheiro. Estava ficando difícil se concentrar, então tentou relaxar os músculos, e perceber as partes de seu próprio corpo, passando a contar os segundos. Falta de ar, desespero. Se ergueu, segurando o braço do professor, que o apoiou no mesmo instante. — Boa tentativa... Mas quando sentir a necessidade de subir, se vier de fato não teremos efeito algum. Só suba se achar que não consegue se manter na imersão. O Príncipe assentiu, retirando a franja dos olhos com a ajuda imediata do outro nisso, respirando fundo. Concentração.

Afundou novamente, começando a contar, ignorando o desespero inicial, que instintivamente vinha. E começou a deixar que os pensamentos passassem livremente, indo embora e aos poucos deixando o espaço mental vazio apenas permitindo que os pensamentos circulassem e fossem embora. Quando estava quase completando um minuto, e passou a sentir receio por estar imerso na água, decidiu parar, se erguendo, apertando os olhos encharcados para enxergar.

— Não funciona... — falou, sentando na banheira respirando fortemente.

Mas não havia ninguém ao seu lado.

A água estava morna, porém tudo estava escuro, como se já fosse noite do lado de fora.

Sentiu o coração passar a bater com a força de tambores no peito, retumbando até os ouvidos, olhando ao redor. Engoliu com dificuldade, tentando acalmar a própria respiração. — Professor? — chamou, com a voz miúda. A porta entreaberta, o cômodo vazio, ecoando sua própria voz. Balançou a cabeça, com medo de fechar os próprios olhos e dar de cara com outra realidade, pior que aquela. — Jimin... — murmurou, sentindo frio ao se levantar. Olhou para trás, e então para frente novamente, antes de sair da divisória de porcelana a passos lentos e incertos, criando uma trilha de água.

Nesses momentos, se esquecia de que era um Príncipe e um lutador apto.

Era como se não pudesse se defender. Pressionou os lábios um contra o outro, começando a caminhar para a saída, abrindo a porta que rangeu, apertando os olhos por um instante ao ouvir o barulho arrastado ecoando pelos corredores que pareciam ainda mais longos.

Seu quarto. Escuro, a janela indicava que era de fato noite, por mais impossível que fosse. Secou a visão, um lado de cada vez, andando devagar para fora do quarto, quem sabe alguém do lado de fora conseguisse explicar o que estava acontecendo, ou encontrasse o próprio Jimin. Se apoiando nas paredes e sempre olhando para todos os lados, começou a caminhar, em direção à escadaria. De lá vinha luz e vozes.

— Não me importa! — pulou no lugar, ouvindo a voz do próprio pai. Finalmente algo que fizesse sentido. Se aproximou dela, pronto para pedir ajuda à ele.

Como nos velhos tempos, a presença de alguém que o amasse poderia afastar o medo. Caminhou mais apressado pelo corredor, deixando o rastro de água para trás. — Não me importa, e só não expulso você porque ele se apegou. — falava para alguém, parecendo irritado. — Mas se não sossegar, não irei levar sequer isto em consideração.

— Pai? — pensou em chamar, mas não foi a própria voz que ouviu. O mais velho olhou para trás, em direção à porta do próprio quarto. Estava entreaberta, e era de onde a voz infantil tinha vindo. Impossível... O adulto passou por si, sem parecer vê-lo, entrando no quarto, abrindo a porta ao passar por ela. Antes que fechasse, viu o Rei se aproximar da cama, antes de tocar o ombro da criança. A criança que viu no espelho por anos, ele próprio, mais novo.

E a porta se fechou.

Se virou para trás, esperando encontrar a pessoa com quem o Rei gritava e discutia, no entanto ela descia as escadas, e quem encontrou foi apenas uma mulher de vestes amareladas, sombriamente no canto, espectadora daquela pequena cena entre Alie e Jungeom, assistindo em silêncio, seu rosto tomado pelas sombras mesmo que estivesse a um passo de distância, uma visão que fez seu coração disparar no peito, ainda pelo pavor, mas também... Tão perto.

— Alteza! — se sentiu ser puxado para fora da água, e inspirou o ar com força, diversas vezes, piscando e olhando ao redor, enquanto uma mão retirava seus cabelos presos em seu rosto, e outra lhe apoiava nas costas.

Era dia, estava ao lado de Jimin, como deveria ser.

Não se moveu e balbuciou qualquer resposta ao ser puxado por ele, ainda em estado de choque, de forma que mais tarde a lareira fosse acesa, e ele só se desse conta de como e onde estava quando o mordomo começou a falar mais do que geralmente falaria.

— Obrigado. — murmurou, recebendo o chá quente de Chung-hee.

— Não entendo. Por que estava na banheira, usando roupas? Devo voltar a te ajudar a se banhar e se trocar, como fazia quando era pequeno? — questionou.

Jungkook quase sorriu, negando. Quase, porque até mesmo seus músculos do rosto se moviam dificultosamente — Eu estava testando uma coisa — explicou, num murmúrio. O professor precisava ir, então o deixou sob os cuidados do mordomo, que ainda resmungava por sua irresponsabilidade. — Meu professor já foi?

Chung-hee assentiu. — Ele sempre deixa o território antes que anoiteça. Pode ser perigoso ao redor do palácio, com a floresta — explicou.

— Eu sequer agradeci. — o Príncipe murmurou, abaixando a cabeça.

— Deve ter outra oportunidade. Suas aulas vão até o dia do Príncipe, ele voltará mais vezes. Além do que, passou a abranger mais áreas do conhecimento, pelo que percebi em suas anotações. — comentou, e Jungkook desviou o olhar. — Está ficando a cada dia mais inteligente. — disse esboçando uma expressão orgulhosa, logo o deixando sozinho novamente.

O Príncipe balançou a cabeça, olhando o próprio reflexo no líquido quente, liberando vapor. Agora teria muito sobre o que pensar, enquanto o tempo passava e a noite se tornava mais densa.

👑

A biblioteca era um lugar onde passava tempo naquele palácio. Mas naquele dia era diferente. Não estava ali para ler ou coisa do tipo, e sim à procura de um quadro. Vasculhava entre as estantes e os quadros de artistas dados como presentes, em aniversários do país ou festas. — Príncipe? — ouviu Chung-hee lhe chamar, apenas olhou rapidamente para o mais velho, voltando a remexer os quadros. — O que houve?

— Estou procurando uma coisa.

— E o que seria? Não há livros neste lado... — o mordomo disse, se aproximando, mas o mais novo negou.

— Não estou procurando livros. Quero o quadro da minha mãe. Me ajude, por favor. — pediu.

O outro balançou a cabeça, se aproximando. — O quadro dela não está aqui. Ele foi removido, seu pai ordenou, se esqueceu?

— Mas... Era bom ter o quadro da rainha, eu gostaria de tê-lo agora, por favor.

— Isso foi proibido, o quadro provavelmente iria ficar danificado com o tempo.

— No momento não me interessa esta proibição.

— Mas o Rei...

— O seu futuro Rei sou eu, Chung-hee. E eu disse que quero o quadro nesse instante. — respondeu, irritadiço de uma maneira que raramente, talvez nunca fosse. O mais velho abriu os lábios surpreso com a atitude inesperada de Jungkook, atônito no lugar. O Príncipe notou sua expressão, parando no lugar e balançando a cabeça pronto para se desculpar. — Chung-hee...

— Não foi esse o Príncipe que ajudei a criar. Ele demonstra respeito aos mais velhos, ao país e principalmente às vontades de seu pai. Às ordens dele. — Jungkook abaixou a cabeça, se sentindo envergonhado e sem jeito. Olhou ao redor, se dando conta de que jamais encontraria o quadro. E mesmo que encontrasse, não teria sua mãe de volta. Ele só queria ver o rosto novamente, e gravar com a maior precisão possível. Quem sabe assim nos sonhos ele a veria de verdade?

O Príncipe assentiu, se inclinando antes de deixar a biblioteca.

Precisava pensar, por isso deixou o palácio, em direção à margem do rio Cairus. Provavelmente horas se passaram enquanto esteve parado ali, observando a água correr, enquanto os sons do vento passando entre as árvores era ouvido. Seokjin estava fora trabalhando nos pés do monte, Chung-hee estava nervoso consigo, Alie trabalhando, e certamente não era alguém a quem recorria a qualquer momento, como quando tinha seis anos.

Fechou os olhos, pensativo, se perguntando por dentro "O que você está tentando me dizer, mãe?"

Mas é claro que não tinha resposta. Pelo que estava tão ansioso? Não conhecia o lugar sobre o qual iria reinar, não tinha uma família pela qual ser responsabilizado, ou um passado que quisesse defender. Todos os dias eram iguais, sua história era apenas uma repetição infinita, e quando mudasse, seria para se tornar uma outra repetição. Linhas escritas por outras pessoas. A coroa. Pensar em tudo isso tirava seu sono, o fazia perder a atenção em suas atividades diárias, e se sentir impotente.

Talvez a presença do que era provavelmente morto, seria o que lhe fazia mais vivo, nos últimos tempos a agonia ao encarar o escuro e sentir que não estava só, por mais perturbador que fosse. Ainda que fosse desesperador, ver os rastros de fantasmas ou demônios pelo palácio fazia seu coração acelerar no peito, seu sangue ferver, seu cérebro se desesperar. Ele se esquecia por algum tempo de todo o resto.

Voltou a olhar o rio, se lembrando de quando foi puxado. Se seu primeiro instinto não fosse a sobrevivência, teria se deixado levar. A sensação de deja-vú a respeito desses sentimentos era forte, talvez fosse algo que tivesse vivido numa intensidade mais baixa, quando era mais novo, mas que foi se escalando e aumentando exponencialmente até que chegasse a esse ponto. O cheiro de eucalipto se fez mais presente com o vento frio, então ponderou sobre ligar para o professor, em busca de uma resposta. Fez o caminho de volta, passando pelo estábulo rapidamente, apenas para ver seu cavalo. Ele corria na área cercada, cheio de energia e com um pelo lustroso, digno de um cavalo selvagem. — Me sinto bem por te ver feliz. — murmurou, acariciando a cabeça do animal, que se aproximou dele ao vê-lo parado ali. Olhou para a entrada dos fundos, ao longe às suas costas, antes de se direcionar à ela.

— Quero que encontrem o Príncipe nesse instante! — ouviu o grito do pai. Ele estava em casa? — Correu em direção ao pátio, avistando o mais velho de longe — Aí está você... — murmurou, antes de se aproximar e segurar o mais novo pelo braço. — O que significa isso? — apontou com a cabeça. O Príncipe olhou naquela direção, vendo os empregados que trabalhavam do lado de dentro do palácio enfileirados, Chung-hee juntamente deles. Desviou do olhar dele, ainda envergonhado, olhando ao redor.

Acima, no alto da parede, o quadro de sua mãe, pendurado e exposto.

Jungkook abriu os lábios surpreso, sentindo o aperto em seu braço afrouxar e se aproximando dele. Estava reluzente e limpo, como novo, à quase quatro metros do chão, entre duas colunas na parede. O quadro de sua mãe, Jiwon.

— Acha engraçado? Pedir para Chung-hee algo que eu mesmo tenha proibido, e ao receber uma recusa fazê-lo por conta própria? — questionou.

O mais novo se virou para ele, confuso. — Como?

— Por que motivo pendurou este quadro? Como conseguiu, sem a ajuda de nenhum criado? — o Rei questionou, e o Príncipe não poderia estar mais surpreso. — Você pediu que encontrassem, e não te atenderam. Invadiu os quartos à procura até encontrar e fazer algo assim? Que prazer encontrou de repente na rebeldia, em me irritar dessa maneira? — o mais velho continuou.

— Não, não fui eu quem fez isso, eu não mandei que pendurassem nem pendurei sozinho! Chung-hee me disse que não... Eu...

— Mentira! — Jungeom esbravejou. Ser um nobre exigia que distorcesse algumas verdades, mas para ele era inaceitável se tal atitude viesse do próprio filho.

— É a verdade, eu sequer estava aqui! — Jungkook tentou argumentar.

— Então como justifica? Se foi algum deles entregue agora, antes que seja você a estar em problemas...

— Não fui eu! Não pedi nada, e quando pedi fui negado, então saí para ver o rio. É tudo que eu fiz, eu juro! — O Rei lhe encarou, um tanto quanto friamente, um olhar que não via há alguns anos.

— Saia da minha vista. Não quero te ver nas refeições a mesa, nem durante os próximos dias. — Jungeom Jeon disse, se afastando do filho e indo para uma de suas salas.

As pessoas paradas ali foram dispensadas por Chung-hee, que se aproximou do Príncipe. — Jeon... Príncipe Jeon, você... O mais novo se soltou, seguindo o mesmo caminho do pai, apressado, entrando sem bater, enquanto sentia os olhos ardendo, tomado por um momento de impulsividade.

— Vocês todos negam, mas a verdade está clara diante de nossos olhos! — exclamou.

— Quem te permitiu entrar aqui? Fora, agora! — Jungeom bateu na mesa.

— Não vou para fora, porque preciso falar. Isso está me enlouquecendo... quem mais poderia colocar o retrato ali, sem que ninguém visse?

O Rei lhe encarou em silêncio por alguns instantes. — Não ouse.

— Vocês esqueceram dela, e tentam apagar a existência da rainha, mas ela esteve aqui, e está tentando se comunicar conosco! Comigo! — afirmou, recebendo olhares discretos que certamente o julgavam como irracional. E não era, levantando uma hipótese como essa? — Eu não enlouqueci...

— Cale a boca. Chung-hee, tire essa criança daqui. — Jungeom disse.

— Eu a vejo em meus sonhos, eu sinto a presença dela pela casa... Ela quer nos avisar, quer nos ajudar e estar presente...

— Sua mãe está morta! — gritou. — Morta, enterrada, e não sairá de onde está!

— Príncipe Jeon, por favor... — Chung-hee tentava segurá-lo e puxar para longe, mas o outro sequer ouvia, seus punhos cerrados tremendo enquanto lacrimejava.

— Mentira! Se não foi nenhum de nós, foi ela, porque ela quer ser lembrada, por isso aparece para mim... O que aconteceu com ela, como ela morreu no meu parto, como uma rainha estava sem assistência?

— Jungkook! — o Rei voltou a gritar, batendo na mesa mais uma vez. O filho nunca tinha falado assim antes, como podia ser que estava dessa maneira agora? Se ele continuasse, era apenas natural que recebesse uma lição como antes, e sua mão chegou a se erguer.

— Vai me bater de novo, por não querer me ouvir falar no nome dela? Ou vou ter que voltar a tomar os remédios que não me deixavam saber nem em que dia estamos?! Eu sou um ser humano também! — O Príncipe comprimiu os lábios, piscando, enquanto seu queixo tremia, e sua garganta pesava pela vontade de chorar — Seu comportamento não é de alguém que a amou. — murmurou, antes de deixar a sala, sob os gritos do Rei e se afastando rapidamente, antes que Chung-hee lhe alcançasse. Apenas entrou eu seu quarto, se trancando ali, e pedindo que todos fossem embora, com a respiração descompassada pelo medo, mas o Rei não esmurrou a porta para que abrisse, nem veio lhe espancar, como imaginou que seria.

Enquanto a adrenalina da discussão se dissolvia, ele confirmava o que sentia por tantos anos.

Era como um intruso, paparicado por Chung-hee por exemplo, um belo enfeite que era colocado ao lado do trono do Rei nas festas celebradas ali, com uma máscara no rosto.

Tinha várias tarefas listadas, mas não se sentia suficiente para a mais importante delas.

Quando deixou o quarto, era o meio da noite. Após as refeições, poucos barulhos e vozes eram ouvidos no palácio, mas os ecos ganhavam proporcionalidade gigante, batendo contra as paredes frias e retornando aos ouvidos.

Se sentia cansado, mesmo que seu dia tivesse sido resumido à aquela manhã e às quatro paredes de seu quarto. Abrindo a porta, encontrou os diversos corredores vazios, de pisos lustrosos que refletiam as estátuas e quadros de forma distorcida e sombria. Amarrou o robe que usava após o banho, se pondo a caminhar.

Ao descer as escadas, o quadro ainda estava lá. Balançou a cabeça em negação, sem entender. — O que quer de mim, mãe? — questionou com a voz baixa, encarando a fisionomia da outra no retrato gigante. — era você, não era? — o silêncio ainda prevalecia no lugar, apenas passos e vozes baixas de empregados ao longe, quase impossíveis de se ouvir.

Ia se afastar, em direção à biblioteca, mas então voltou a olhar para trás. Um telefone, sobre um móvel de pedra fria.

Jungkook pesadamente, respirando fundo antes de se aproximar dali. Levou o telefone ao ouvido, discando o único número que havia decorado. O que ele deveria dizer caso Jimin atendesse? Que estava insatisfeito com seu pai, e sua mãe morta tinha agido? Antes que fosse atendido depois de alguns toques que ecoaram em seus ouvidos, desligou, suspirando.

Era patético envolver outra pessoa em seus problemas, que certamente iriam parecer rasos, comparados aos de outras pessoas.

Se quisesse saber sobre sua mãe, teria que usar o caminho mais eficiente que conhecia.

👑

Imerso na água, com apenas a luz do quarto acesa, o Príncipe ponderava, antes de se afundar completamente. Sua mente se esvaziou aos poucos, e mesmo que seu corpo se desesperasse, pedindo por ar, ele resistiu, se acalmando, sabendo que o impulso de se levantar era apenas uma reação natural.

Mas não sentia paz.

Não sentia, porque sabia de alguma forma que algo estava errado, algo não se encaixava. Vislumbres de aniversários anteriores eram lembrados, as máscaras animalescas ou banhadas a ouro dos convidados, a comida, a dança. Rostos desconhecidos, o seu próprio coberto. E então, mais dias iguais. Estudos, treino, pesca, estudos. Dançando num campo aberto, pulando na grama. As paredes do palácio.

Queria se lembrar, se em algum tempo foi diferente. E se não houvesse algo diferente de tudo aquilo...

Abriu os olhos, sob a água, vendo o teto.

Seu corpo já estava no limite, e sua visão começava a turvar.

A água estava gelada. Naquele instante, começou lentamente a ver uma silhueta se formar, do outro lado da transparência. O Príncipe conteve o ímpeto de respirar, pelo susto, estreitando os olhos, tentando ver melhor o vulto preto, que ia ganhando forma aos poucos.

— Jungkook... — era uma voz feminina, suave. — Jungkook — Estava perto... Sentia o corpo tremer e esfriar, distorcer e desistir, enquanto tudo ficava mais leve. Perceber isso, fez com que ele liberasse o ar em seus pulmões debaixo d'água, porque era um alívio inimaginável.

— Jungkook! — ouviu ser chamado novamente, dessa vez sendo puxado para fora da banheira, tossindo.

Ouviu a água se remexer, mas apenas isso, porque mesmo que o outro continuasse lhe chamando, parecia momentaneamente surdo, enquanto um apito fino soava em seus tímpanos, fazendo com que piscasse forte, atônito e perdido.

Sentiu imediatamente o vento frio tocar sua pele, notando que de fato a água da banheira também já havia esfriado há muito tempo. Seus dedos estavam enrugados e esbranquiçando, ao passo que o queixo tremia, os lábios ganhando um tom azulado; ele puxava o ar com força para dentro dos pulmões, olhando ao redor e tentando se situar.

— O que estava fazendo?! — o outro questionou, exasperado.

Era o professor.

Como...?

O Príncipe sequer se importou com sua nudez enquanto era erguido da porcelana, mas foi coberto por Jimin imediatamente com seu roupão.

Não notou nada, porque sentiu de perto o toque da morte.

Era inclusive impossível que estivesse vivo, porque não se lembrava de ter emergido para respirar em momento algum, algo mais uma vez, estava errado. O que estava vendo e pensando, imerso na água?

Sendo segurado pela cintura, sentiu a mão do professor segurar também seu queixo com olhos arregalados e uma respiração tão descompassada quanto a sua própria, fazendo com que olhasse para si, enquanto era apertado em seu braço contra o corpo quente do outro. — O que estava fazendo? — repetiu.

O que estava... fazendo? Sua mente estava enevoada, sem conseguir responder. Os lábios do mais novo se moveram, porém não foi capaz de produzir som algum, não tinha palavras, porque no fundo compreendeu o que estava fazendo. E se não fosse pelo professor... — Você precisa se aquecer... — murmurou, pronto para se afastar, mas o Príncipe segurou a barra de seu colete, o mantendo no lugar, ainda segurando seu corpo.

— Não... — queria terminar a frase, demandando segredo. O professor lhe encarou, parecendo indeciso sobre o que deveria de fato fazer, mas ele não queria que ninguém o visse daquele jeito, caso ele quisesse buscar alguma ajuda, causaria certamente um pequeno caos, e logo seu pai saberia também. Não queria preocupar Chung-hee, Seokjin ou Alie. Não queria preocupar ninguém, porém, Jimin, um quase completo estranho já estava irremediavelmente ali, vendo tudo. Vendo Jungkook, em sua transparência.

Ouviu um longo suspiro, enquanto ele colocava a mão nos quadris, ao olhar profundamente em seus olhos, pensativo. Segurou o Príncipe pela mão, o retirando do banheiro e fechando a porta, antes de ir até a entrada do quarto, fechando e trancando ambos ali dentro também. O mais novo se abraçava com um dos braços, parado no lugar onde havia sido deixado, o roupão aberto, não o cobria em nada, e parecia tão fragilizado quanto uma criança. Jimin desviou o olhar, começando a retirar o colete úmido, seguido dos sapatos e meias, sendo apenas observado em silêncio. Abriu também a camisa, se livrou do cinto em sua calça, antes de se aproximar da cama, ouvindo o bater dos dentes de Jungkook.

Respirou fundo, puxando as colchas, abrindo espaço para se deitar ali, antes de voltar a se aproximar dele, a passos lentos. A vestimenta do mais novo também foi deixada no chão, enquanto este se deitava na cama, sendo guiado e coberto pelo professor, mas ele não ficou ali parado, e sim foi pelo outro lado do dossel, entrando debaixo dos cobertores também. — Existem linhas que não devem ser cruzadas. No entanto, você precisa se aquecer de alguma forma, se não quer descer e procurar outra ajuda que não seja a minha. — explicou.

O mais novo lhe encarava fixamente, os olhos vazios aos poucos ganhando vida novamente, tentando compreender. Abaixou o olhar depois de algum tempo, se aproximando de bruços, devagar, até ser acolhido num abraço quente, e sentir a colcha rodear seus ombros, lhe protegendo completamente, junto com o braço do professor, também cercando seus ombros, e fazendo com que se aproximasse mais, apoiando o corpo contra o dele e o rosto em seu peito, se sentindo imediatamente familiar com a sensação.

Jungkook aos poucos deixou de tencionar os músculos, ainda de olhos abertos e atentos, antes de segurar a apertar o tecido da camisa aberta de Jimin entre os dedos longos gelados, que ganhavam força lentamente de novo, com os olhos encarando o nada, distantes. Sentiu a perna do professor entrar entre as suas, também transmitindo calor, suspirou alto, se encolhendo mais finalmente percebendo sua temperatura começar a subir novamente, devagar. Só então respirou fundo, sentindo vida em seu corpo.

Quando acordou no dia seguinte, foi com Chung-hee entrando em seu quarto, usando uma chave mestra. Ele parecia preocupado, e estava falante, embora obviamente não soubesse nada sobre o ocorrido. Jungkook por outro lado, levantava o inferno em sua mente.

Agora Jimin sabia que ele era louco, e não só isso. Tinha o visto naquela situação, prestes a tirar a própria vida, por nada. Não tinha motivos pra ser tão fraco e deprimido, e ainda assim tinha acontecido.

Por outro lado, talvez, já que Chung-hee não dava sinais de que sabia da visita de Jimin, ela sequer fosse verdade.

O Príncipe olhou para a cama e o lençol remexido, vazio, ao seu lado. Seu corpo aquecido, desnudo e a banheira cheia da qual Chung-hee reclamava, tentando enxergar alguma lógica em tudo aquilo.

👑

— O que está fazendo? — perguntou, se aproximando de Seokjin. Este se apressou em juntar suas coisas espalhadas sobre a própria cama.

— Jungkook! — O mais velho pulou em sua direção, lhe abraçando. — Deixe eu ver... — se afastou encarando o mais novo numa preocupação engraçada. — Você emagreceu? Parece mais fracote.

O outro retirou sua mão, desconfortável ao toque — Não, Seokjin. Não emagreci. O que estava aprontando?

— Hm, quando te vi achei que estivesse doente, seus olhos estão fundos. Não estava fazendo nada, mas você... Não deveria estar em aula com aquela dona que ensina o piano, ou esgrima no salão...? Ah não, hoje é com o professor novo, não é? — questionou, caminhando com ele em direção ao estábulo.

O mais novo balançou a cabeça, sem responder imediatamente, de fato. O professor devia ter chegado, mas não tinha certeza de qual deles seria. E mesmo que fosse Jimin, talvez não estivesse pronto para vê-lo. — Não preciso de aulas hoje. — foi o que disse.

— Eu gostaria de ter sido informado sobre isso antes que viesse. — Olharam para o lado, encontrando Jimin, que caminhava em sua direção, calmamente.

— Senhor Professor... — murmurou Seokjin. O mais novo ficou estático, encarando o outro nos olhos. Ele tinha Hanu próximo a si, do outro lado da cerca.

— Boa tarde. Estava indo ao seu encontro, Chung-hee me enviou. — murmurou. Jungkook tentou esboçar uma resposta, mas não conseguia pensar em nada. Seokjin pediu licença saindo, deixando os dois sozinhos, ignorando o olhar de Jeon que pedia pra que não o fizesse, e saindo do alcance da mão do mais novo, que tentou pará-lo, o mais discretamente possível. O Príncipe comprimiu os lábios, desviando o olhar e abaixando a cabeça.

— Estou sendo dispensado, talvez? — ouviu o outro questionar.

Suspirou, se aproximando do cavalo, consequentemente do professor, acariciando a cabeça do animal — Não era minha intenção. — respondeu, quase num sussurro.

O mais velho assentiu, ajeitando a crina trançada de Hanu também. — Se estiver desconfortável, basta me dizer. Não precisa se obrigar a ficar na minha presença.

— Não! — O de óculos lhe encarou, atento quando o Príncipe ergueu a voz, antes de rapidamente se corrigir— Não é isso.

— Então o que seria?

Jungkook voltou a suspirar, tentando não devolver o olhar fixo do outro. Tinha muito o que dizer, mas também nada. Como iria se justificar a ele, depois da cena vergonhosa que viu? Aos olhos de qualquer um, ele não passava de uma criança mimada que não suportava ser repreendida pelo pai ao qual sempre obedeceu antes.

Mas não conseguia tocar diretamente no assunto. — Não vai perguntar? — Poderia especificar melhor, mas ambos sabiam perfeitamente do que ele estava falando. — Quero dizer... Você chegou num instante... De uma maneira que nem pareceu real. Como conseguiu entrar? — O professor ainda manteve silêncio por mais alguns instantes, e isso fez Jungkook duvidar de si mesmo de novo. Jungkook tinha telefonado a ponto de ouvir alguns toques, mas como ele saberia que se tratava do Príncipe? — Talvez eu tenha te imaginado ali.

— Ou eu realmente estive ao seu lado. E talvez ainda queira compreender seus motivos. — o outro respondeu. — Acredito que certas coisas não podem ser explicadas, elas simplesmente são como são. Nem tudo se traduz com palavras, mas sei o que vi nos seus olhos. — O Príncipe abaixou a cabeça, engolindo com dificuldade o nó que se formou em sua garganta. Apertou os olhos, voltando a acariciar o cavalo, em silêncio. Quando repousou a mão ao lado do corpo e sentiu a de Jimin deslizar por acidente de leve na sua, fechou o punho, apertando os dedos por reflexo. — Então... Irá mesmo me dispensar ou ainda aprecia nossos estudos? — questionou, recebendo o olhar do outro, finalmente. Jungkook apenas se perguntava... Quem era realmente Jimin?

Retornaram juntos, e o mais novo ficou apreensivo com a ideia de se fechar numa sala, seu pânico e ansiedade mais evidentes naqueles últimos dias, de uma maneira quase insuportável, de forma que suas mãos se tornassem frias e trêmulas, enquanto seu coração queimava de um jeito sufocante.

— Aonde... Aonde paramos? — o Príncipe questionou, com a voz baixa. Manteve sua mão posicionada para escrever quando ouvisse alguma ordem, mas ela nunca veio, apenas a mão do outro se esticou, abaixando seu pulso, não o tocando diretamente, mas indicando que não o faria estudar nada.

Jungkook abaixou a caneta, enquanto seus olhos caíam e ardiam, sua expressão vacilando, não ousando se voltar para o professor. Desde que se encontraram naquela noite tão estranha, esteve aturando sozinho.

Na verdade, ele sempre esteve aturando sozinho.

Surpreendentemente, Jimin apenas preservou o silêncio e lhe fez companhia, naquele período de tempo que ficaram na sala.

👑

Chung-hee chegou ao palácio de Belo Monte, depois de perder o que lhe prendia no mundo fora daquele lugar, já era um homem bastante maduro, sem muitas perspectivas de mudanças em sua vida. Ser escolhido para ir atender ao Rei; como um simples farmacêutico, foi uma surpresa, mas não era um fardo saber que seus próximos anos seriam ali.

Suas limitações se davam dentro do território do monte, mas sendo responsável pelo Príncipe, a permissão de circular era ainda menor, e essa questão ele nunca entendeu.

Quando o conheceu, aquela criança se escondia dele e parecia assustado, de forma que lhe custasse dias até conquistar sua confiança minimamente, mas ainda assim não foi um prazo relativamente tão longo. A perseverança do menino não durou por um motivo bastante simples, na verdade.

O palácio, ao contrário do que ele acreditava, contava com um número limitado de empregados, os guardas e soldados pareciam fantasmas silenciosos assim como eles, vindo, cumprindo seus horários. Exceto pelo garoto um pouco mais velho, e as aparições esporádicas do rei, aquela criança estava sempre sozinha.

A vida em volta do palácio parecia apagada, os animais afugentados floresta adentro, o sol tímido do topo do monte, nem sempre conseguindo atravessar as nuvens frias. Lentamente, a palma de sua mão passou a ser ocupada pela menor daquele menino, que sorrateiramente se aproximava e insistia em ficar ao seu lado, em ser carregado quando tinha sono no fim do dia, por mais que o mordomo mantivesse sua expressão estoica e distante não era o suficiente para afastá-lo.

Em uma das ocasiões nas primeiras semanas, em que estava reportando o andamento de seu trabalho, o Rei lhe disse algo que provavelmente nunca iria esquecer.

Chung-hee comentou sobre como o menino não tinha uma rotina adequada de sono, sempre acordando no meio da noite, e sobre como não comia bem, perguntando ao Rei como podia ser que aquela criança ainda estava crescendo tão bem, mesmo vivendo assim; seu intuito era elogiar o sangue real, ou suavizar a expressão do monarca.

Mas a resposta fez com que ele não dormisse naquela noite.

Na verdade, ponderou por horas naquela madrugada, sabendo que logo pela manhã teria de ir cuidar do menino. Ele pensou que a partir daquele momento, devesse ter medo do futuro dono da coroa, de apenas seis anos. Mas bastou encarar os olhos escuros e brilhantes, de uma inocência imensurável, a mãozinha estendida em sua direção, esperando que o mordomo a pegasse e o guiasse, como estiveram fazendo desde que o aceitou. Foi ensinado sobre hierarquia, história e muitos dos mistérios do mundo, então seu respeito se difundia mesmo à pessoas como o Rei, talvez principalmente pessoas como ele.

Porém, ele sabia reconhecer sutilezas da natureza, tais como o Príncipe, ainda que o Rei estivesse cego pela rejeição. Todos precisam de cuidados, e agora era seu dever pessoal dedicar o restante de sua vida àquela criança.

Era melhor que ele mantivesse distância do próprio pai, ou poderia acontecer como foi uma vez. Naquela ocasião, Jungkook não deixou que Chung-hee o ajudasse a se trocar, mas era impossível ignorar os hematomas pelo corpo do Príncipe.

Não permitiria que voltasse a acontecer. Vê-lo crescer e educar não era um fardo, afinal impossível que alguém sobreviva sozinho, agora já parecia um homem feito.

—Príncipe Jeon? — O chamou novamente, ao tocar seu ombro. Não era como se pudesse ou conseguisse ser afetuoso o suficiente, mas aquele rapaz ainda era uma criança ansiando por atenção. Apenas tinha se tornado silencioso e nada exigente sobre isso, depois de tudo.

E muitas vezes o viu apático, quando o pai ordenava que os médicos lhe prescrevessem remédios que derrubavam a consciência do Príncipe por dias, dos quais ele voltava assim.

—Hum? — Os olhos escuros encontraram o do senhor.

Chung-hee suspirou — Você estava se divagando. De novo.

Claro, ele não conseguia prestar atenção no que o mordomo estava dizendo.

— Desculpe. Eu estive... um pouco cansado.

— Príncipe Jungkook... — Chung-hee tenta. O mais novo pisca, pois seus olhos parecem estar lacrimejando.

— Eu me senti tão culpado... eu não deveria ter brigado com você. Eu sinto muito por isso, eu realmente sinto.

O mordomo balançou a cabeça. Por que ele estava se pressionando sobre isso agora? — Você é jovem. Imediatista. É normal que você queira as coisas, e que as queira instantaneamente. Não se preocupe, apenas tente dominar seus sentimentos um pouco mais.

O príncipe olhou para a comida, já que não podia fazer as refeições na sala de jantar, enclausurado em seu quarto. Dominar? Mais uma vez, seus pensamentos vão para o Professor. Sentimentos costumavam ser tão fáceis de ignorar. Seus medos se desvaneciam eventualmente, suas inseguranças desapareceriam cobertas por um pano caro. Mas seu coração estava tremendo nos últimos dias, e sua respiração doía, sob o peito ardendo numa ansiedade que o estava matando.

Ele não pode dominar tudo isso, como um animal selvagem, pode?

Jungkook balançou a cabeça, de volta para comer em silêncio. Sua mente ainda estava pensando em algumas coisas, no entanto. Essa foi a primeira vez que ele teve alguém para segurar. Alguém real, que estava disposto a ajudá-lo. E ele se sentiu sozinho, pensando que essa pessoa era seu professor. E como disse antes, envergonhado, pelo mesmo motivo.

—Deveria dormir um pouco se não estiver se sentindo bem. Eu posso cuidar de tudo lá embaixo — O Príncipe o encarou ao ouvir, pensando se deveria comentar sobre alguma das coisas que sentia no momento, mas ele apenas acena com a cabeça novamente, tentando sorrir um pouco, falhando, mas se despedindo de seu mordomo, quando a porta se fecha.

Continuou olhando para as paredes, levando a colher à boca esporadicamente, sozinho.














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