~Megan~
Todas as barreiras estão sendo atacadas...
E agora essa onda de impacto passando por nós e afetando nossas forças. Odeio pensar na possibilidade, mas acredito que isso foi uma barreira caindo.
Me lembro com clareza da sensação que senti quando a barreira da província da água caiu, e mesmo não sentindo o impacto tão pesado, o sentimento que despertou em mim foi bem parecido. E tanto eu como Adam sentimos.
Tobias agora está jogando para vencer e de surpresa, é pouco provável que ganhemos todas as batalhas.
Como aqui no acampamento. Não sei como ele descobriu a localização dele, mas agora que ele está em chamas e não há sinal de ninguém por perto, tenho que melhorar o meu jogo.
Ainda de joelhos no chão, analiso os nossos arredores e não vejo sinais de batalha. Apenas fogo.
— Não parece que tinha alguém aqui quando o fogo começou — Adam diz e vejo que ele também está escaneando os entornos.
— Será que vale a pena averiguar dentro dos lugares para saber se há alguém que ficou para trás?
— Prefiro pensar num modo de nos comunicarmos com as pessoas que estavam aqui. Tinha um exército aqui, não podem ter escapado sem deixar rastros.
Um alarme começou a tocar, e lembro muito bem desse alarme. Ele tinha tocado da última vez. Uma voz grave e desconhecida começa a falar.
"Não tivemos tempo para soar o alarme na última barreira... Mas agora, preparem-se cidadãos de Nihal, mais uma barreira está ruindo".
Meus olhos se arregalam e Adam busca a minha mão, apertando com firmeza. O homem de voz grossa começa uma contagem regressiva, mas antes que chegasse ao final dos números, mais uma vez sinto o impacto percorrer o meu corpo.
A respiração tinha ficado suspensa por uns bons segundos depois e o desespero faz com que o meu coração acelere.
— Quantas barreiras ainda estão de pé? — Adam pergunta, as juntas de seus dedos rígidas.
— Não sei. O Tobias ele... Parece sempre estar um passo a nossa frente, sempre aparecendo aqui, sempre sabendo de tudo o que acontece...
— Ele teve muito tempo para se preparar Megan. Ele já passou por cima de muitas pessoas para poder ver tudo com um pouco de antecedência.
— Acha que não sei disso?! O fato dele ser brilhante agrava ainda mais a situação. Parece que sempre que estou conseguindo me firmar, ele está esperando para puxar o meu tapete! É enervante!
— Então voe comigo Meg. Não dependa apenas das suas pernas — as palavras dele me atingiram e toda a força que vinha por trás.
Nem controlo o impulso de puxar o seu corpo em direção ao meu e passando os braços por sua cintura, o abraço. Meu rosto está acalentado em seu peito e ele apenas enterra os dedos suaves em minhas costas.
Não falamos por uns bons segundos e quando sinto as batidas dos nossos corações entrarem em sincronia, me afasto e tento me encher de coisas boas, mas é difícil.
— Precisamos encontrar o seu exército. Precisamos fazer alguma coisa — Adam está determinado.
— Será que ainda dá tempo de fazer alguma coisa? — meus olhos pinicam e quero colocar a culpa na fumaça, mas sei que não é por isso
— Você tem tão pouca fé assim em Martin e sua avó Megan? — ele diz firme. — Deve ter pelo menos uma em pé. Eles não são fracos.
— Mas o elemento surpresa...
— Não há surpresa que abale aqueles lá. Eles estão de pé. E vão permanecer de pé o tempo que for necessário.
— Você tem razão — um sopro de coragem me preenche e meus joelhos se firmam o suficiente para que me coloque de pé. Adam está segurando minha mão e nos apoiamos um no outro.
Uma movimentação nos arredores me chama atenção e mesmo debilitada, reúno meus domínios trôpegos e me apoio ainda mais em Adam para me preparar para um possível combate.
Mas não era perigo.
Mas de alguma forma não tornava mais fácil de enfrentar.
Um pequeno esquilo de grandes olhos pretos e brilhantes pulou de um arbusto, e congelou ao olhar para o lado e encontrar os dois dominadores.
Os dentes proeminentes ficam ainda mais evidentes quando o queixo do animal cai e os olhos parecem brilhar um pouco mais por conta de uma severa umidade que tomou conta deles.
As palavras ficam presas na garganta, e não consigo me mover enquanto a fumaça que cobre o corpo do pequeno animal se confunde com a produzida pelo incêndio e me vejo encarando os olhos brilhantes e agora bem humanos do meu guardião.
— Megan... — sua voz carrega tanta coisa.
— Você está bem? — a pergunta já está saindo do meu peito bem antes que possa me controlar.
Ele solta uma risada sem graça e pensa na resposta.
— Já tive melhor. E vocês como estão? A queda das barreiras deve ter afetado bastante seus corpos...
— Não foi uma coisa tão grave, já que não estamos muito perto das barreiras der...
— O que você faz aqui? — pergunto cortando a fala do Adam.
— Antes que você pense errado, eu não estava atrás de você — seu tom é seco, mas não grosseiro. — Como percebeu, as coisas em Nihal estão caóticas, e Moe pediu-me para que viesse vasculhar o local, para saber se tudo foi devidamente destruído.
— Moe? Você o conhece?
— Sim. Suas forças no momento vão se juntar com as nossas. Seu exército está indo buscar a Laura e o cristal com o poder da barreira para que temos como nos defender dos ataques do Tobias que virão. Com força total agora.
Engulo em seco ao perceber que todos os caminhos mesmo indo em diferentes direções, ainda se encontram no final num único sentido.
— Juntar tudo o que Tobias quer destruir e obter em um único local não me parece muito sensato... — digo.
— Mas as nossas defesas também vão estar reunidas. E quando as coisas que podemos perder são escassas, ele vai ter que trabalhar muito mais pra retirar das nossas mãos... — Martin diz.
Sei que o que ele diz faz sentido.
— Então o acampamento não foi atacado? — pergunto apontando para a cortina de destruição não distante de nós.
— Ah, ele foi sim. Mas Moe estava preparado e conseguiu evacuar as tropas e destruir qualquer evidência que pudesse levar Tobias as fraquezas dos nossos exércitos...
— E ele apenas deixou que eles se movessem sem interferências?
— As forças dele estavam separadas quando ele fez o ataque. Ele seria massacrado caso tentasse algo contra esse acampamento. Tobias não é idiota, então apenas perdeu essa batalha.
— Por isso ele destruiu — Adam diz. — Para que quando Tobias voltasse não encontrasse nada.
— Sim — Martin confirma. — E percebendo que a melhor chance deles é juntando forças com todos que querem se erguer contra Tobias, Moe veio nos procurar.
— Entendo... — digo. — Vocês sabem o que Tobias está fazendo com a energia das barreiras, correto?
— Moe nos informou sobre tudo, mas já tínhamos uma informação parcial sobre tudo. Por isso que o exército está indo transportar o cristal. Eles conhecem o terreno, e em poucas fendas devem estar na barreira do Raio. Precisamos do poder do cristal para manter a nossa defesa firme.
— Tobias já deve estar sabendo dessa movimentação.
— E estamos preparados pra ele — não senti a menor dúvida nessa afirmação do Martin. Então ele puxa uma longa respiração para continuar a falar. — Será que eu posso falar um momento com você Megan, à sós? — ele pergunta olhando diretamente para o Adam.
— Se ela quiser falar com você, fiquem à vontade... — Adam dá de ombros e então me encara.
Concordo com a cabeça e ele me dá um sorriso tranquilo enquanto se afasta de nós, nos dando a privacidade que Martin pediu.
— O que você quer falar comigo que o Adam não poderia escutar? — pergunto quando ele passa um tempo sem falar nada, apenas me olhando.
— Na realidade nem sei se tenho algo pra dizer. Só queria olhar um pouco pra você — não tenho resposta para aquilo e apenas continuo a encará-lo.
— Se você não tiver nada, eu gostaria de...
— Você está melhor... Sabe? — ele me interrompe.
— Não, não sei — respondo sincera.
— Longe de mim dizer que você estava mal antes. Mas agora, olhando pra você e conseguindo identificar os sentimentos que percorrem o teu ser... Sei que você vai conseguir chegar no lugar certo, e onde deseja chegar.
— Só olhando pra mim você consegue identificar meus sentimentos? Não me faça rir Martin.
— Não me subestime você Megan. Se esqueceu a quantidade de tempo que passei dentro de você? O quanto eu conheço cada canto dos muitos sentimentos que se habitam em você...?
Ele tem razão.
— Acompanhei boa parte da sua mudança interior, vi os seus momentos de força e os de fraqueza também. Perdi uma parte, uma importante parte, mas agora vejo que as suas mudanças tiveram um objetivo. Os caminhos não foram os que as pessoas que te amam escolheriam para você, mas eu estou feliz por você se encontrar.
— O-obrigada.
— Você tem todo o direito de negar-me isso. Mas será que posso te abraçar?
Como posso negar isso a ele? Logo eu, que com a minha ideia fixa de me afastar de todos, acabei morrendo de saudades deles todos os dias.
Então concordo com a cabeça e meus braços se abrem em sua direção.
O abraço é caloroso e sorrio quando braços e mãos me apertam firme e um sentimento tão conhecido se apodera de mim. Ah como eu senti falta dele... Lágrimas se formam em meus olhos e mesmo naquela confusão, eu senti uma calma me banhar.
~Martin~
Estava tão cansado, mas a situação ainda não me permite descansar.
Do modo mais furtivo que consigo vou passando por fendas e me misturando a fauna local para passar desapercebido. Preferi vir sozinho. Assim posso me mover melhor.
Não demoro a chegar no acampamento que Moe mencionou. O calor do fogo logo penetrou por entre os pelos do pequeno animal que estava transformado.
Tudo ali está mortalmente silencioso. Não há movimentação, mas mesmo assim sinto algo remoer nas minhas entranhas. E quando eu saio de um arbusto silvestre entendo o motivo da inquietação.
Megan está ali, me encarando com seus olhos expressivos azuis.
Posso ter passado desapercebido por muito dominadores, mas o olhar que ela me dá nesse momento, sei muito bem que ela vê por trás do meu disfarce.
Também pudera. Ela conviveu bastante com o meu eu esquilo.
Não quero que ela converse comigo olhando para baixo, então desfaço o meu disfarce e volto a minha forma original. O jovem Adam também está com ela e sorrio apenas para mim. Já sabia que os dois estariam juntos, mas ver a imagem ali, me traz uma paz que não consigo descrever.
A princípio, tive que respirar fundo muitas vezes para pensar com cuidado nas palavras que sairiam da minha boca. Tirei coisas do meu peito, mas foi apenas quando nos abraçamos, que eu senti que de algum jeito, tudo ficaria bem.
Conhecia o tremor do seu peito. O tremor que acontece quando ela está segurando o choro. E quando aperto um pouco mais os meus braços ao seu redor, escuto um soluço tranquilo.
— Pode soltar se quiser — digo, esperando que ela chore sem se segurar, mas ela levou as minhas palavras na literalidade, já que se enrosca ainda mais no abraço.
— Ainda não — a voz dela sai chorosa.
— Claro — minha mão começa a fazer um carinho em seus cabelos curtos e vejo Adam olhar na nossa direção com um sorriso. — Sabe... Senti sua falta — tiro as palavras do meu peito e sorrio.
— Eu também — ela admite. — De todo mundo na realidade... Pensei que fosse apenas...
— Fico aliviado em saber disso.
— Melhor o Adam voltar pra cá... — Megan faz um sinal para que o jovem que está próximo a nós volte a ficar na nossa companhia.
— É melhor eu ir também. Vir cumprir o que me pediram para fazer aqui — começo a me afastar, mas não poderia deixar a oportunidade passar. — Sabe... Chegamos num ponto crítico, e vamos precisar de toda ajuda que pudermos colocar as mãos... Vocês dois não tem interesse?
— Parece que nos aproximamos da batalha final, não é mesmo? — Adam pondera.
— Exato, não acho que adiante trabalharmos separadamente agora, já que temos um objetivo tão claro...
— A ajuda será muito bem-vinda. E a companhia também!
— Então você ganhou uma dominadora na sua linha de frente — Meg diz séria. — Dois, caso o Adam também queira comparecer.
— Eu disse que estaria com você. Independente. Então vamos?
— Preciso ainda resolver algumas pendências. Querem me acompanhar? Ou já vão se locomover até a barreira do raio?
— Encontramos vocês no campo de batalha... — Meg se adianta. — Eu ainda tenho algumas pendências para resolver também...
— Claro... Então nos encontramos lá.
— Sim, até breve...
Aceno com a cabeça para os dois e vou até o bunker que Moe tinha indicado. Meu coração está acelerado e estou feliz por ter conseguido falar com a Megan assim.
O seu crescimento está encruado em sua pele, tatuado em seus olhos. Ela está preparada para tudo.
Não quero pensar no que ela teve que passar, ou pior, fez os outros passarem, para adquirir esse tipo de confiança. Edith vai ficar muito contente em reencontrar a neta.
Claro que a situação poderia ser melhor, mas estou feliz por, em breve, poder realizar o trabalho que nasci para fazer.
O de ser guardião.
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E apenas uma barreira de pé queridos dominadores! Realmente as ondas de poder que os atravessaram no capítulo passado foram as barreiras restante caindo.
Agora que a última resistência se acumula na barreira fragilizada do raio, o que vai ser de Nihal? Tobias arquitetou tudo para esse momento, e ele deve estar animado por finalmente as coisas estarem saindo do jeito que ele planejou... Tá talvez não a resistência da província do Raio, mas não tem como acertar tudo!
E agora, como vai ser esse reencontro com a Edith? Estão preparados? Acho que não estou, mas farei o meu melhor!
Nos vemos no próximo capítulo! Beijos e até breve dominadores!