Quando em Vegas

By MariaFernandaRibeir2

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Julia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos cl... More

Alerta de gatilho+ aviso aos leitores
Dedicatória
Prólogo
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Epílogo
Brianna e Harvey contam sua história
Contato

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By MariaFernandaRibeir2

Dustin

É estranho dizer isso, mas em todos os meus vinte e poucos anos de vida nunca pisei em um hospital num feriado. É estranho não sentir o cheiro de canela e açúcar do Natal ao acordar, mas não consigo sentir falta, porque a primeira coisa que os meus sentidos captam ao despertarem é a respiração da Julia. Ela está viva, o que mais posso querer? Os médicos não autorizaram a saída dela ainda, e apesar de ser estranho, reclamar é a última coisa que farei.

— É claro que você já acordou.  Será que algum dia eu terei o prazer de acordar antes de você e poder dizer isso?

Viro para ela.

— Bom dia, Juzinha. Espírito de Natal sempre presente, é assim que é bom.

Ela grunhe.

— Já é hoje? Não gosto da ideia de passar o Natal aqui. Não posso dormir o dia todo e fingir que sou uma herdeira com isso.

— Não, mas você pode ver um filme de Natal comigo. Tem um monte na televisão, pode até escolher.

— Por que isso está soando estranho?

— Porque, na verdade, há visitas chegando. A Julie, o Oliver, nossas sobrinhas...

— Pode parar por aí. Quando foi que eu te dei o direito de adotar as minhas sobrinhas? E não precisa responder. A resposta é nunca.

— Elas me escolheram, não o contrário. Ouvi tanto "tio Dustin" nas últimas semanas que alguém poderia imaginar que eu tenho um irmão perdido.

Ela bufa e eu mordo o lábio pra não sorrir tanto.

— Você está com ciúme das nossas sobrinhas, que fofo, amor.

— Eu ainda não decidi se vou continuar sendo sua esposa, elas não são as suas sobrinhas.

— Entendo que o seu ciúme seja tamanho que você esteja pensando em se divorciar de um homem incrível, mas isso não mudará nada. A Holly até mesmo fez um desenho pra mim.

O bufar dela agora é raivoso.

— Ela só fez um desenho pra mim depois que fez para todas as outras pessoas que conhece. O que você tem que eu não tenho?

— Acho que ninguém mais na minha frente na fila dos desenhos.

Ela abre a boca pra reclamar, mas a porta abre e o que acho que é a Holly coloca a cabeça na fresta.

— Tio Dustin? — ela sussurra.

— Já acordei, Holly. O seu pai está onde?

— Harlow. Ele está vindo, eu vim na frente porque queria te contar do meu sonho sem que a Holly contasse o dela com um unicórnio no meio. Nada contra unicórnios, mas eu preciso te contar o meu. — acho engraçado o linguajar adulto que ela usa, mas sei que deve estar só replicando alguém.

Vejo a curiosidade da Julia, mas a menina nem olha para ela. Me abaixo para ouvir, já que é segredo.

— A tia Julia estava com um barrigão igual o da tia Lauren. A mamãe disse que aquilo é um bebê. A tia Julia engoliu um bebê também?

Preciso de toda a minha força de vontade para não rir.

— Não, eu acredito que a dieta da tia Julia continua sendo soro na veia.

— Continua mesmo. — ela diz.

— Você já acordou, tia? O papai diz que sempre dorme até tarde nos feriados. Hoje é feriado, sabia? Você pode dormir mais. Ah, quase que esqueço. Eu e a Holly brigamos porque ela disse que você ia ficar lelé da cuca, porque ela leu que bater a cabeça faz isso e você bateu a cabeça, e eu disse que não, que você estava bem e ela tinha visto. O papai deixou nós duas de castigo, e disse que só você poderia nos tirar do castigo. Você nos tira, tia?

A Julia faz que sim, uma expressão muito séria no rosto.

— Mas vocês duas não podem ficar brigando.

A criança olha pra mim, querendo saber o que ela disse, e traduzo para ela. Ela abre a boca pra falar, mas a Julie abre a porta ofegante.

— Harlow, você não pode sair correndo assim em um hospital! E se a tia Julia estivesse com médicos?

— Eu não estou. — minha mulher responde.

A Julie estaca no lugar.

— Julia? Você acordou? Ah meu Deus. O Oliver nem pra me contar! Ah Deus. É um milagre de Natal!

— O que é um milagre? — a Harlow pergunta.

Começo a explicar, mas o Oliver abre a porta com a Holly a tiracolo, e aponta para a Harlow.

— Se você me fizer correr tanto assim com a sua irmã no colo mais uma vez, eu vou te matricular na aula mais difícil de atletismo quando for para o ensino fundamental.

Ela olha para a Julia.

— Você vai falar com um juiz pra mim, não vai tia? Eu não quero fazer atletismo.

Ele bufa e coloca a menina no chão.

— Stitch, a Harlow foi educada com você?

— Stitch? — murmuro.

A Holly explica pra mim.

— Ela é má e fofinha, segundo o papai.

Ele olha para a filha.

— Ela é, e muito. Você está se sentindo bem para conversar?

A Julia faz que sim, e ele coloca as mãos no bolso.

— Vocês podem nos dar licença? É só por alguns minutos. Preciso conversar com ela sobre coisas de adultos, agora que está bem para isso.

Sei que é sobre a tentativa de assassinato, por isso dou um beijo na bochecha da minha mulher e acompanho as filhas dele e a Julie para fora.

— Eu quero comer gelatina rosa! — a Holly anuncia.

— Isso só o tio Dustin pode trazer para você, ele é que é amigo das pessoas daqui. — a Julie responde.

— Acho que consigo convencer os meus amigos duendes a fazerem uma gelatina rosa.

O sorriso dela vale todas as quebras de protocolos que terei que enfrentar para conseguir o que quer.

Julia

O Oliver fecha a porta atrás deles e olha pra mim de lá.

— Você não havia contado que o Dustin te ama tanto.

— Porque ele não ama.

— Julia, olha, eu entendo que você ache que não é alguém feita para ser amada, mas não é assim que funciona.

— Oliver, ele pediu o divórcio e você está trabalhando nele. Achei que você, melhor que ninguém, entendesse que o amor não é um conto de fadas, como conversamos há alguns dias.

— Ele nem tem um advogado, Julia. Não sei nem se esteve interessado o suficiente nesse divórcio para saber que precisa de um.

Fico confusa.

— Como ele pediu então?

— Não sei. O Pierre disse que ouviu a Claire dizer que ele perguntou ao Jake quem o ajudou no divórcio dele, há muitos meses. Mas este era eu, e ele nunca entrou em contato comigo, mesmo após pedir o divórcio a você. Não posso responder por ele, mas acho que ele não queria realmente isso, querida, porque a primeira coisa que é feita nisso é encontrar um advogado.

— Oliver, eu não estou doida. Ele falou que queria o divórcio.

— E eu acredito em você, mas não sei não. Se você tivesse visto o desespero dele ao chegar aqui com a maquiagem toda borrada, entenderia o meu ponto. Ele quase teve um infarto também.

Isso eu sei que é mentira, e digo isso.

— Você não viu a pulseirinha de paciente no braço dele? Uma enfermeira checa a pressão dele todos os dias.

De fato tem uma pulseirinha no braço dele, mas isso não significa nada.

— Oliver, talvez ele tenha se assustado, talvez tenha mudado de ambiente muito rápido. Ele não me ama e não pode me amar.

—Não é você quem decide isso, Julia. Eu sei que você teme ferir as pessoas que te amam caso algo aconteça com você, mas aconteceu e você quase matou ele com isso. Logo isso significa que...

— Nem mais uma palavra sobre isso. Eu quero falar com ele.

— Quer que eu chame ele?

— Por favor.

Em meio minuto o homem está na porta.

— Mandou me chamar?

— Entre e feche a porta. — digo. Ele o faz e eu falo de uma vez. — Você me ama? Que porra é essa Dustin?

— Desculpa, Julia, mas eu não sei se posso te explicar isso...

— Você não pode me amar.

— O quê?

— Você me ouviu. Se eu não deixei isso claro antes, não há como deixar mais claro que isso. Você não pode me amar.

— Eu fiz alguma coisa? Ou você fez? De onde você tirou isso?

— É um fato, Dustin. Não há discussão sobre isso.

— Um fato? E que argumento sustenta esse fato? Você é uma advogada, sabe melhor que eu que um veredito grande destes precisa de argumentos para ser formado.

Se ele está preparado ou não, eu não me importo. Foi ele quem pediu.

— Você ama a Nara.

Parece que dei um tapa na cara dele.

— Julia...

— Dei o meu argumento, agora você decide o que fazer com ele, sem ficar falando para as pessoas que me ama. Isso faz elas acreditarem que eu tenho alguma chance com o amor, e machuca ver que nunca vou corresponder às expectativas delas. O Oliver mesmo já acha que eu sou uma pessoa predestinada para o amor, e não sou. Estou bem com isso, acredite ou não.

— Meu Deus, mulher, você acha mesmo que eu não te amo? Eu amo. Mais que tudo neste mundo, eu amo. E não sei o que fez você pensar o contrário, se eu não consigo esconder isso desde que te vi naquele estacionamento. Droga, talvez até antes.

— Você jura que não sabe, Dustin? Você simplesmente me largou no inferno para ir ficar com a mulher com a qual está destinado a se casar de verdade, em uma cerimônia de verdade, com um padre que não seja um pilantra desempregado, e ainda fez o Oliver vir falar comigo que eu deveria te dar uma chance. Tive que fingir por uma semana que eu não sabia, mas já chega. Espero que você seja muito feliz com ela, não posso te expulsar daqui porque o hospital não é meu, mas não espere que eu aceite fazer parte de um trio que não seja o da OJP.

Ele parece verdadeiramente consternado.

— Se você quer um casamento de verdade, eu posso cuidar disso. Não vou me casar com ninguém além de você, e nunca quis nada do tipo, mas se você quiser, é só dizer onde e quando e eu farei acontecer. Se você quiser o divórcio... droga, eu faço que você quiser, mas eu não vou voltar pra Los Angeles. Você terá que aceitar mais um ex na sua vida, porque eu vou ficar em Atlanta. E eu não deixei você em Washington para ir ficar com a Nara, Julia.

— Ah não? O que você foi fazer então?

— Ela disse que estava grávida e que não ia criar a criança sem mim. Eu não poderia ser o pai, mas... eu não podia deixá-la fazer isso com uma criança. Fui abandonado quando nasci, e por mais que entenda o desespero da minha mãe, dói saber que por um momento ela não me desejou. Sei que você sabe como é, não espero que você me perdoe, mas você sabe também.

Engulo em seco, porque sim, eu sei também. Tive a sorte de ter o meu pai, mas sempre vivi com a rejeição da Marnie, e vi os meus irmãos filhos dela sofrerem do mesmo mal. É difícil não ser o Michael nessa família.

— Eu não acho que posso te perdoar de imediato, Dustin, mas vou considerar isso quando voltarmos para Atlanta.

Ele fica calado por meio minuto inteiro. É um recorde.

— Você quer que eu volte com você?

— Para eu avaliar a situação, você precisa fazer parte dela. Mas não vá achando que está tudo bem, porque não está.

— Claro, não acho nem um pouco.

O sorriso dele diz o contrário.

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