O assassinato no campo de gol...

Da ClassicosLP

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Obra da inglesa Agatha Christie. Altro

I - Uma companheira de viagem
II - Um pedido de socorro
III - Na Villa Geneviève
IV - A carta com a assinatura de "Bella"
V - A história de Mrs. Renauld
VI - A cena do crime
VII - A misteriosa Madame Daubreuil
VIII - Um encontro inesperado
IX - Monsieur Giraud descobre novas pistas
X - Gabriel Stonor
XI - Jack Renauld
XII - Poirot elucida certos pontos
XIII - A moça dos olhos ansiosos
XIV - O segundo corpo
XV - Uma fotografia
XVI - O caso Beroldy
XVII - Nossas novas investigações
XVIII - Giraud entra em ação
XIX - Eu uso minha massa cinzenta
XX - Uma declaração surpreendente
XXI - Hercule Poirot em cena
XXII - Descubro o amor
XXIII - Dificuldades no horizonte
XXV - Uma descoberta inesperada
XXVI - Recebo uma carta
XXVII - A versão de Jack Renauld
XXVIII - Fim da jornada

XXIV - Salve-o!

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Da ClassicosLP

Partimos da Inglaterra pelo navio da noite e, na manhã seguinte, seguimos para St. Omer, para onde Jack Renauld fora levado. Poirot não perdeu tempo e foi se encontrar com monsieur Hautet. Como não fizesse objeção que eu o acompanhasse, fui junto com ele.

Depois de todo um protocolo de formalidades, fomos conduzidos ao gabinete do delegado. Ele nos saudou cordialmente.

— Fui informado de que o senhor tinha retornado à Inglaterra, monsieur Poirot. Fico feliz em ver que não é o caso.

— É bem verdade que fui lá, monsieur, mas foi apenas uma rápida visita. Uma questão relacionada ao caso que julguei valer a pena investigar.

— E valeu?

Poirot deu de ombros. Monsieur Hautet apenas balançou a cabeça, suspirando.

— Receio que tenhamos de nos resignar com os fatos. Aquela besta do Giraud tem modos abomináveis, mas sem dúvida é muito esperto! Não há muita chance de que ele cometa erros.

— O senhor acha mesmo?

Foi a vez de o delegado dar de ombros.

— Ah, bem, falando sério... cá entre nós, naturalmente... o senhor consegue tirar alguma outra conclusão para este caso?

— Francamente, sim, pois parece haver muitos pontos que ainda estão obscuros.

— Por exemplo?

Poirot, porém, não entoou a conversa.

— Ainda não sistematizei esses pontos — observou. — São reflexões gerais que venho fazendo. Gosto daquele jovem e não posso acreditar que seja culpado de um crime hediondo como esse. A propósito, ele não apresentou nenhum argumento em sua defesa?

O delegado franziu o cenho.

— Não consigo entender esse rapaz. Parece incapaz de defender-se. Tem sido dificílimo convencê-lo a responder perguntas. Limita-se a negar o crime de uma maneira generalizada e, fora isso, mantém um silêncio obstinado. Vou interrogá-lo amanhã novamente. O senhor gostaria de estar presente?

Aceitamos o convite de imediato.

— É um caso lamentável — desabafou o delegado com um suspiro. — Tenho muita pena de madame Renauld.

— E como ela está passando?

— Ainda não recobrou a consciência. Por um lado, isso é bom, porque ela está sendo poupada do sofrimento. Os médicos dizem que ela está fora de perigo, mas deverá fazer repouso e ficar em silêncio após voltar a si. Pelo que percebi, não foi só o choque, mas também a queda que a levou a perder a consciência. Será algo terrível se seu cérebro sofrer danos graves, mas eu não ficaria surpreso se... Não, realmente não.

Monsieur Hautet inclinou-se para trás, movendo a cabeça com uma expressão pessimista, imaginando o pior.

De repente, pôs-se de pé e fez a seguinte observação:

— Isso me faz lembrar uma coisa. Tenho aqui uma carta para o senhor, monsieur Poirot. Deixe-me ver onde a guardei.

Começou a procurar a carta entre seus papéis. Por fim, encontrou-a e a entregou a Poirot.

— Enviaram-me isto apenso à minha correspondência para que eu a encaminhasse ao senhor — explicou. — Porém, como o senhor não deixou nenhum endereço, tive de deixá-la aqui comigo.

Poirot examinou o envelope com curiosidade. O nome do destinatário fora escrito com uma caligrafia longa e inclinada, decididamente feminina e certamente redigida por mãos estrangeiras. Em vez de abrir a carta, ele guardou o envelope e se levantou.

— Até amanhã, então. Muito obrigado por sua cortesia e amabilidade.

— Não foi nada. Estou sempre à sua disposição.

Na saída do prédio, demos de cara com Giraud, mais cheio de empáfia do que nunca, ostentando um ar de autossatisfação.

— Ahá! Monsieur Poirot! — gritou alegremente. — Então já voltou da Inglaterra?

— Nota-se — respondeu Poirot.

— Creio que o desfecho para o caso já está próximo.

— Concordo com o senhor, monsieur Giraud.

Poirot falou num tom meio desanimado, o que pareceu agradar muito a seu interlocutor.

— São todos uns criminosos previsíveis! Nem conseguem se defender. É extraordinário!

— Tão extraordinário que faz a gente pensar, não é verdade? — sugeriu Poirot, mantendo o tom de voz mais reservado.

Mas Giraud mal estava ouvindo. Ficou brincando com sua bengala.

— Bem, tenha um bom dia, monsieur Poirot. Fico contente em saber que o senhor finalmente reconhece que o jovem Renauld é culpado.

— Pardon! Não estou nem um pouco convencido disso. Jack Renauld é inocente.

Giraud o encarou por alguns instantes e, então, soltou uma gargalhada, batendo os dedos na testa com energia. Em seguida, exclamou: — Tem certeza que está bem das ideias?

Poirot empertigou-se. Seus olhos brilharam com irritação.

— Monsieur Giraud, o senhor tem me insultado deliberadamente com seus modos durante todo o processo de investigação. O senhor precisa aprender uma lição. Sou capaz de apostar quinhentos francos afirmando que encontrarei o assassino de monsieur Renauld antes do senhor. Aceita o desafio?

Giraud olhou para ele demonstrando total espanto. E novamente murmurou: — O senhor não está bem das ideias.

— Ora, vamos lá! — insistiu Poirot. — Aceita ou não aceita?

— Não tenho a menor intenção de tomar o seu dinheiro.

— É, pelo jeito o senhor não tem coragem de aceitar!

— Ora, se é assim, eu aceito! O senhor diz que meus modos o insultam. Então sejamos honestos: pelo menos uma ou duas vezes os seus modos me irritaram.

— Fico muito satisfeito em ouvir isso — concluiu Poirot. — Bom dia, monsieur Giraud. Vamos, Hastings.

Fiquei em silêncio enquanto descíamos a rua. Meu coração estava apertado. Poirot havia manifestado sua intenção de forma bem clara. Cada vez mais eu duvidava de meus poderes para salvar Bella das consequências de seus atos. Aquele infeliz encontro com Giraud havia irritado Poirot profundamente e agora ele estava ainda mais determinado a alcançar seus objetivos.

De repente, senti uma mão tocar em meu ombro. Virei-me e dei de cara com Gabriel Stonor. Paramos para cumprimentá-lo e ele sugeriu nos acompanhar até o hotel.

— O que faz aqui, monsieur Stonor? — perguntou Poirot.

— Precisamos sempre ficar ao lado de nossos amigos — respondeu ele, secamente. — Especialmente quando eles são acusados injustamente.

— Então o senhor não acredita que Jack Renauld tenha cometido o crime? — perguntei, curioso.

— Certamente que não. Conheço bem o rapaz. Admito que haja um ou dois aspectos desse caso que me causam estranhamento. Mas, mesmo assim, apesar de ele estar se comportando como um tolo, definitivamente não posso acreditar que Jack Renauld seja o criminoso.

Recebi esta afirmação do secretário com alívio. Suas palavras pareciam ter tirado um grande peso de minha consciência.

— Não tenho dúvidas de que muitas pessoas pensam como o senhor — exclamei. — Há realmente poucas provas contra ele. Posso apostar que ele será absolvido com toda a certeza.

Entretanto, a resposta de Stonor nem de longe se parecia com o que eu esperava dele.

— Eu gostaria muito de acreditar no que o senhor está dizendo — declarou, muito sério. Então, voltando-se para Poirot: — O que o senhor pensa disso?

— Acho que a situação dele é muito grave — respondeu Poirot, com seu jeito tranquilo.

Stonor foi direto ao ponto:

— O senhor acha que ele é culpado?

— Não, mas penso que será muito difícil para ele provar sua inocência.

— Ele vem se comportando de uma maneira muito estranha — desabafou Stonor. — Sei perfeitamente que há muitos detalhes obscuros nesse caso. Giraud não está atento a isso, vê as coisas por seu lado exterior apenas. Mas a história como um todo é mesmo muito esquisita. E, no geral, parece que querem manter silêncio. Se mrs. Renauld pretende ocultar alguma coisa, deve realmente ter razões fortes para isso. Respeito a posição dela, não seria capaz de me intrometer. Porém não consigo entender a atitude de Jack. Qualquer um pode ver que ele quer ser considerado culpado!

— Mas isso é um absurdo — protestei, interrompendo mr. Stonor. — Porque há o punhal, por exemplo... — Fiz uma pausa, inseguro a respeito do que Poirot aprovaria que eu revelasse. Continuei, escolhendo melhor minhas palavras: — Sabemos que o punhal não poderia estar em poder de Jack Renauld naquela noite. A própria mrs. Renauld sabe disso.

— É verdade — concordou Stonor. — Quando ela voltar a si, certamente dirá isso e muito mais. Bem, agora preciso ir.

— Um momento — Poirot impediu sua partida, segurando-o, pelo braço. — O senhor poderia me avisar imediatamente quando mrs. Renauld recobrar a consciência?

— Certamente. Posso fazer isso sem nenhum problema.

— Essa questão do punhal é importante, Poirot — salientei, enquanto subíamos as escadas. — Mas eu não me senti à vontade para falar mais a esse respeito diante de Stonor.

— Foi uma atitude acertada de sua parte. Devemos guardar as informações em segredo o máximo possível. Em relação ao punhal, seu argumento não serve de muita ajuda para Jack Renauld. Lembra-se de que estive ausente por uma hora esta manhã antes de partirmos de Londres?

— Sim.

— Bem, estive ocupado tentando descobrir a firma contratada por Jack Renauld para fabricar aqueles punhaizinhos. Não tive muita dificuldade. Eh bien, Hastings, eles receberam a encomenda de três estiletes, e não apenas dois.

— Isto quer dizer que...

— Quer dizer que, após ter dado um de presente para a mãe e um para Bella Duveen, há um terceiro punhal que ele certamente guardou para seu próprio uso. Não, Hastings, temo que essa questão do punhal não irá nos ajudar a livrá-lo da guilhotina.

— Não chegaremos a esse ponto — exclamei, apavorado.

Poirot fez um gesto desanimado com a cabeça.

— Você o salvará — afirmei com convicção.

Poirot lançou-me um olhar frio.

— Você não acha isso uma coisa impossível, mon ami?

— Deve haver um jeito — murmurei.

— Ah! Sapristi! Você espera que eu opere milagres. Ah, não diga mais nada. Em vez disso, vamos ver o que contém esta carta.

E retirou o envelope do bolso do paletó. Seu rosto contraiu-se enquanto lia. Em seguida, passou-me aquela única e fina folha de papel.

— Há outras mulheres sofrendo neste mundo, Hastings.

A caligrafia estava borrada e dava sinais de ter sido escrita sob grande perturbação emocional.

Caro monsieur Poirot,

Se o senhor receber este bilhete, peço-lhe encarecidamente que venha em meu socorro. Não tenho ninguém a recorrer e Jack precisa ser inocentado a qualquer custo. Imploro ao senhor de joelhos que nos ajude.

Marthe Daubreuil

Comovido, devolvi a carta a Poirot.

— Você vai ajudar a moça?

— Agora mesmo. Vamos chamar um carro.

Em meia hora estávamos na Villa Marguerite. Marthe nos esperava na porta. Deixou-nos entrar segurando firmemente a mão de Poirot.

— Ah, que bom que o senhor veio... Como o senhor é bondoso. Estou desesperada, não sei mais o que fazer. Eles não me deixam visitá-lo na prisão. Estou sofrendo horrivelmente. Estou quase ficando louca.

"É verdade o que estão dizendo? Que ele não nega ter cometido o crime? Mas isso é uma loucura porque é impossível que tenha sido ele! Nunca, nem por um segundo, acreditarei numa coisa dessas."

— Tampouco eu acredito nisso, mademoiselle — disse Poirot gentilmente.

— Mas se é assim, por que ele não fala? Não entendo...

— Talvez porque ele esteja protegendo alguém — sugeriu Poirot, observando a moça.

Marthe fechou a cara.

— Protegendo alguém? O senhor quer dizer a mãe dele? Ah, desde o início suspeitei dela. Afinal, quem vai herdar toda a vasta fortuna? Ela! É fácil interpretar o papel de viúva dolorosa. Pura hipocrisia. E dizem que, quando ele foi preso, ela caiu dura no chão — e fez um gesto dramático. — E, sem dúvida, monsieur Stonor, o secretário, foi seu cúmplice. Formam uma bela dupla de ladrões, aqueles dois. É verdade que ela é bem mais velha que ele, eu sei... mas os homens não ligam para isso diante de uma mulher rica!

Sua expressão era de amargura.

— Stonor estava na Inglaterra — ponderei.

— Ele diz isso... mas quem pode provar?

— Mademoiselle — disse Poirot, com calma —, se vamos trabalhar juntos, a senhorita e eu, precisamos deixar as coisas bem claras. Em primeiro lugar, devo lhe fazer uma pergunta.

— Sim, monsieur?

— A senhorita sabe qual é o verdadeiro nome de sua mãe?

Marthe fitou-o por um minuto e então, deixando a cabeça tombar entre os braços, caiu em prantos.

— Pronto, pronto — disse Poirot, dando tapinhas em seus ombros —, agora fique calma, petite, já entendi que a senhorita sabe. Então tenho uma segunda pergunta: a senhorita sabe quem monsieur Renauld realmente era?

— Monsieur Renauld... — ela ergueu a cabeça e ficou olhando para ele com ar confuso.

— Bem, posso ver que isso a senhorita não sabe. Agora, por favor, ouça-me com atenção.

Ele descreveu cada detalhe do caso, mais ou menos como havia feito comigo no dia em que embarcamos para a Inglaterra. Marthe ouviu cada palavra com a máxima atenção. Quando ele terminou, ela suspirou longamente.

— Nossa, o senhor é maravilhoso... magnífico! O senhor é o maior detetive do mundo.

Com um gesto suave, deslizou o corpo para fora da cadeira e ajoelhou-se diante dele com uma sofreguidão tipicamente francesa.

— Salve-o, monsieur — implorou. — Eu o amo tanto! Oh, salve-o, por favor! Salve-o!


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