Nós Crescemos [✓]

By Mogridd

184K 19.6K 34.3K

[ESSA É A CONTINUAÇÃO DE - "VOCÊ CRESCEU".] Depois da noite onde Dilan e Lory choraram nos braços um do outro... More

Dedicatória.
Capítulo 1.
Capítulo 2.
Capítulo 3.
Capítulo 4.
Capítulo 5.
Capítulo 6.
Capítulo 7.
Capítulo 8.
Capítulo 10.
Capítulo 11.
Capítulo 12.
Capítulo 13.
Capítulo 14.
Capítulo 15.
Capítulo 16.
Capítulo 17.
Capítulo 18.
Capítulo 19.
Capítulo 20.
Capítulo 21.
Capítulo 22.
Capítulo 23.
Capítulo 24.
Capítulo 25.
Capítulo 26.
Capítulo 27.
Capítulo 28.
Capítulo 29.
Capítulo 30.
Capítulo 31.
Capítulo 32.
Capítulo 33.
Capítulo 34.
Capítulo 35.
Epílogo.
Contos da Duologia. Venham ler!

Capítulo 9.

5K 637 1.7K
By Mogridd


Lory.

— Quem é Stephan? – Indaguei em voz baixa, apoiando minha cabeça em seu ombro e relaxando. Pude sentir seu coração batendo de maneira rápida.

Din me me abraçou com força e escondeu seu rosto na curvatura de meu pescoço, ele estava chorando. Acariciei seus cabelos, tentando acalmá-lo.

Vê-lo assim dói.

Senti seu cheiro cheiro salgado enchendo meus pulmões, causando uma sensação morna. — Din – Sua respiração estava trêmula em meu pescoço. Eu não sabia o que falar, apenas abraçá-lo com cuidado e carinho. Tentar fazer meu calor o calmar.

— M-meu amigo – Suas palavras fracas me fizeram morder os lábios. Eu podia sentir pela batida de seu coração como aquilo doía. — Foi culpa minha, Lory — Segurei sua blusa com força. Eu não reconhecia sua voz, estava tão baixa, tão melancólica, tão fraca.

— Culpa do quê? – Silêncio, apenas seu choro baixo era escutado. — Baixinho, se acalma. Eu estou aqui. – Pedi, querendo ajudá-lo de qualquer maneira. — Aqui com você, por você. – Minha voz falhou. Eu também estava chorando. Essa situação era tão pesada, tão... Me tirava o ar.

Ele sussurrou um "obrigado" com dificuldade.

— Não foi sua culpa. Não importa como aconteceu, Stephan não se foi por sua culpa. – Dilan se afastou um pouco, fisgando meus olhos. Seus cílios longos brilhavam por causa da luz do sol e de suas lágrimas. Seus glóbulos possuíam um vermelho suave, que demostrava que ele estava chorando.

Levei minha mão até seu rosto, passando com cuidado pela mesma, secando uma lágrima que caia. Dilan fechou os olhos, parecendo apreciar o gesto. — Não foi sua culpa. – Sussurrei para ele. Acariciei sua pele úmida com o polegar, ela era macia e boa ao toque. Suas pequenas sardas me fizeram sorrir involuntariamente. Eram tão fofas.

Din abriu os olhos, eles estavam tão brilhantes. Meu coração acelerou.

— Eu vou te contar. – Ele segurou minha mão com carinho, voltando a fechar os olhos e beijá-la com suavidade. Meu corpo se estremeceu sobre o seu, quando senti seus lábios mornos em minha pele. — Por favor, não sinta pena de mim. Não lamente pelo meu luto, e não fique preocupada com isso. — Pediu com a voz arrastada. Assenti, sentindo meus lábios secos.

Dilan abriu os glóbulos, tirando um fio de cabelo de meu rosto e o colocando atrás das orelhas. Acabei sorrindo com seu ato. Ele observou meu rosto com cuidado e depois esboçou um pequeno sorriso no canto da boca.

— Tudo bem. – Concordei. — Estou aqui. – Entrelacei nossos dedos, sentindo meu coração descontrolado.

Junto ao vento forte daquele lugar secreto, Dilan arrumou forças para começar a falar. A maresia salgada secava meus lábios, porém, seu calor sossegado e morno me acalmava.

Agora eu saberia de tudo.
Saberia de seu passado.

                                
                              ...*...*...

Dilan_Antes daquela noite.

Meus pés batiam contra o chão claro daquele hospital. Me ajeitei na cadeira dura, encarando o relógio na parede. Quando minha mãe vai sair daquele consultório?

Soltei o ar com força, passando a mão pelos cabelos e me levantando daquela cadeira. Eu não preciso de um psicólogo. Não sei porque ela está insistindo nisso.

Eu só preciso me esquecer deles, me esquecer de papai e Lory. Eles estão longe, eu não quero mais sofrer por eles. Esquecer é o caminho.

Coloquei minhas mãos dentro do bolso da jaqueta, andando sem pressa pelos corredores silêncios daquele hospital de merda. Pessoas tussindo, morrendo a cada dia naquele lugar. Eu não quero morrer assim, eu não quero morrer preso entre quatro paredes. Olhei ao redor, entediado com tudo aquilo.

Quando meus olhos bateram em uma menina de cabelos castanhos e curtos, meu coração disparou. Corri até ela e toquei seus ombros. Meu peito se encheu de felicidade, porém, a mesma morreu rapidamente quando a garota se virou para mim. No lugar de eu encontrar os tão desejados castanhos com chamas, encontrei um par de olhos azuis carinhosos.

Dei passos para trás me sentindo um completo idiota. Pedi desculpa com o rosto queimando, e de maneira rápida, me afastei daquela garota.

Idiota, patético, fraco.

Falei para mim mesmo que iria esquecé-la, porém, ela não sai da minha cabeça, de meus pensamentos. Já fazem a merda de quatro meses, por que estou tão preso a ela? Por que quero tanto vê-la? Por que isso dói tanto?

Puxei o ar com força, meu músculos tremiam. Eu preciso socar algo, gritar ou chorar. Chorar talvez seja uma boa opção, só dessa vez, só essa noite.

Encarei o lugar pálido sem interesse. A mesma coisa que qualquer hospital, pessoas tentando se livrar da morte ou apenas morrendo. Igualmente o papai. Papai morreu, chegou morto ao hospital.

Com a vista embaçada e o coração em uma sinfonia de dor, observei o menino ruivo que andava com fones de ouvidos pelos corredores. Ele balançava a cabeça no ritmo da música, e isso acabou sendo bem engraçado, porque ele corou quando nossos olhos se encontraram. Não pude evitar de rir.

Seu rosto se transformou em uma expressão indecifrável. Boca aberta e olhos arregalados. Ele se aproximou com rapidez de mim, me surpreendendo.

— Não ria de pessoas cantando – Pediu apontando para mim. Espremi os lábios para segurar minha vontade de rir.
Ele estava cantando?

— Ok. – Molhei os lábios, o fitando. Ele possuía uma cor muita forte de ruivo e olhos incrivelmente verdes. — Mas você não estava cantando – Ri alto com sua expressão incrédula. As pessoas ao nosso redor nós encararam, mas não me importei.

Ele, diferente de mim, ficou da cor de seu cabelo.

— Stephan! – Uma voz grossa gritou pelos corredores, me assuntando. O menino a minha frente arregalou os olhos e segurou meu braço, me puxando pelo hospital.

Puxei o ar com força quando chegamos a um quarto. Olhei ao redor com a respiração irregular. — Você é doido? Por que saiu me puxando? – Indaguei sem ar. Ele bateu a porta com cuidado, fazendo sinal de silêncio. Juntei as sobrancelhas, fazendo o que foi pedido.

Examinei o lugar. Era um quarto bem colorido, cheio de desenhos e pinturas. Não esperava ver algo assim em um hospital.

— É a Adelaide, minha enfermeira. – Sussurrou. — Ela não pode saber que sai do quarto. – Dei de ombros, me aproximando de alguns livros que tinham alí. Eu nunca mais li nada, muito menos escrevi.

— O que é isso? – Apontei para um caderno de capa dura na mesinha. O garoto se aproximou e então riu, como se eu estivesse fazendo uma pergunta idiota.

— Um caderno de desenho. – Revelou rindo. — Coloco meus sentimentos aqui. Um diário de ilustrações. – Encarei sua pele clara, achando isso legal.

— É uma boa ideia. – Falei comigo mesmo. Nunca pensei em fazer algo parecido. — Posso ver? – Ele assentiu lentamente, parecendo um pouco indeciso. Peguei o objeto, folheando as folhas. Pisquei, não acreditando que ele tinha feito aquilo. — Isso são anjos? – Observei as gravuras bonitas, com asas brancas e peles escuras.

Ele sorriu e assentiu. Seus olhos brilhavam. — Gostou? – Confirmei com um aceno. Eu não iria falar para ele que aquele foi o desenho mais lindo que vi em toda minha vida. — As pessoas costumam imaginar os anjos com pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, porém, eu não acho isso. Para mim, eles são assim. – Ele apontou para a pintura na folha. — As pessoas costumam acreditar muito em um padrão, tipo que uma pessoa doente é triste. Eu também não concordo com isso. – Só então, com suas palavras sinceras, vim perceber que ele era um paciente de lá.

Uma pessoa doente, que está morrendo aos poucos dentro de quatro paredes.

Porém, ele não parecia triste.

— Você sempre está aqui? – Indaguei não sabendo se deveria. Eu só queria alguém para conversar, me esquecer deles.

Encarei seu rosto com sardas por toda parte esperando sua resposta. Ele sorriu, um sorriso fraco que doeu em mim. — Já faz um tempo que sim – Ele abaixou a cabeça, fitando o chão.

Fitei a janela de seu quarto, ela estava aberta. Não seria muito difícil invadir esse quarto. — Eu virei aqui essa noite. – Afirmei colocando as mãos nos bolsos. — É meio chato ficar sozinho, não acha? – O ruivo assentiu, com uma confusão no rosto. — Quero ver mais dos seus desenhos. Vou te contar algumas histórias legais, podem servir de inspiração – Caminhei até a porta, me virando para olhá-lo. — Deixe a janela aberta. – Ele sorriu, um sorriso verdadeiro dessa vez. — Nós vemos de noite, ruivinho.

Caminhei novamente para a sala de espera do psicólogo, me sentindo um pouco mais leve. Talvez eu tenha feito um amigo. Vou falar da Lory para ele, mesmo eu querendo esquecé-la, ele tem que saber como ela era incrível.

Venho apenas essa noite.

 
                             ...*...*...

Dilan_Naquela noite.

Encarei a janela do quarto de Tess. Eu não posso entrar pela porta de frente, eu não conseguiria encarar mamãe depois do que fiz. A casa deve estar uma bagunça, ela deve estar chorando em um canto da cozinha, como tem feito em algumas noites. Mas hoje é por minha causa. Por que eu fiz aquilo? Ela só está querendo seguir em frente, afinal, já vão fazer três anos.

Só faltam quatro meses. Quatro meses para inteirar três anos que eu fui embora, que eu deixei tudo. Merda.

Puxei o ar com força, minha cabeça girava, e eu me recusava a acreditar no que escutei. Stephan não pode estar morrendo. É mentira.

Escalei a árvore e pulei a janela do quarto de Tessa. A menina ruiva, que estava sentada na beirada cama, me encarou com desdém. Ela já sabia que eu voltaria. A ruiva se levantou com calma e andou até mim sem pressa.

A luz clara da lua iluminou seu rosto, me fazendo ficar assutado com sua expressão raivosa. — O que você pensa que fez? – Ela segurou meus ombros, sussurrando com repulsa. — Você sabe como está sendo difícil para a tia Suzana ter que lidar com isso tudo? Não foi só você que perdeu pessoas. – Abaixei o olhar. Ela estava certa, eu estava sendo um idiota, eu sei disso. Mas naquele momento, não me importei com isso.

Eu sou um idiota.

— O tratamento do Stephan não está funcionando. – Murmurei com dor. Seu aperto diminuiu, para logo seus braços caírem ao lado de seu corpo. Levantei o olhar, encontrando seus olhos com lágrimas.

— Como? – Espremi os lábios. Eu não iria chorar em sua frente. — Mas ele me falou que estava bem. Ontem nós estávamos rindo enquanto trocavámos mensagens. – Sua voz estava falha. Sem aquele firmeza que sempre embalava seu tibre.

— Eu não sei, Theresa. – Sussurrei me segurando para não chorar. Eu só queria que tudo isso fosse uma mentira, ou a porcaria de um filme com um final feliz. Papai estaria vivo, Lory estaria aqui e Stephan não estaria morrendo.

Morrendo. Isso é uma palavra tão pequena, mas que carrega tanta dor.

— Vamos até ele. – Ela segurou minha mão, me puxando com rapidez. A parei, fazendo a mesma me fitar.— Vamos, Dilan – Pediu com desespero. Aquele quarto escuro não conseguia esconder suas lágrimas e a dor em sua voz. — Por favor – Pediu. Eu nunca tinha a visto assim.

— Vamos fazer o quê? – Sorri amargamente. — Falar que ele vai para um lugar melhor? Que milagrosamente ele vai ser curado? – Neguei com a cabeça. — Eu não vou fazer isso.

Espremi os lábios, sentindo a angústia invadir o meu ser. Eu quero chorar, eu quero ela aqui.

— Eu não vou deixar ele sofrer sozinho. – Revelou de forma firme. — Eu não vou deixar o garoto que eu gosto sofrer sozinho, Peterson. – Pisquei, não acreditando em suas palavras. — Cala boca, não fala nada. Eu gosto dele, então não pergunte nada. – Ela andou até mim, e então pulou a janela.  Coloquei minha cabeça para fora, vendo minha prima correr até seu carro.

Eu vou com ela.

Pulei a janela e entrei em seu carro. Colocamos o cinto e fomos até a merda daquele hospital. O vento era pesado e ficava preso em minha garganta. Era uma noite sem estrelas, sem luz.

— Eu não quero perder mais ninguém, Tessa. – Afirmei com um gosto amargo na boca. Eu não aguento mais guardar tudo isso comigo, isso dói tanto. — Eu não quero que ninguém mais me deixe – Engoli as lágrimas, fitando os postes de luz que passavam por nós depressa.

Ela ficou em silêncio. Não tinha o que se falar.

— Acho que isso não é uma escolha, Din.

Chegamos ao hospital. A grande estrutura nós recebeu com o vento gelado. Lembro-me de quando trouxe Tessa pela primeira vez aqui, Stephan falou muito com ela. Eu fiquei feliz com aquilo.

Molhei os lábios secos, segurando as lágrimas. Andamos com cuidado até a parte de trás do hospital. A janela dele estava aberta. Com cuidado, invadimos seu quarto. Estava tudo escuro, em silêncio. Tinha cheiro de remédio. Eu odeio esse cheiro. Tessa andou até o vulto magro que se sentou na cama. Pela luz da lua consegui ver seus olhos verdes, que brilhavam. Seu rosto com muitas sardas e já tão conhecido por mim.

O quarto estava uma bagunça. Seus desenhos rasgados pelo chão, me fizeram ficar paralisado.

— Tessa? Dilan? – Ele sorriu para nós. Aquele sorriso doeu profundamente. A merda daquele sorriso que ele sempre fazia quando eu ficava meses sem ir lá. — Achei que vocês não viriam mais – Ele tentou se levantar, porém Tessa o abraçou com força.

Encarei a cena com dor no peito. Se ele morresse, minha prima não poderia o abraçar daquele jeito.

— Você está bem? – Ela tocou seu rosto, sussurrando com preocupação.

Stephan desviou o olhar por um minuto, e depois assentiu sorrindo. Ele sempre desviava o olhar quando estava mentindo.

Eu e Theresa nos encaramos com dor. Combinamos de não falar nada, ele teria que nos contar, se fosse da sua vontade. Ela o abraçou novamente, enquanto eu me apoiava na parede, observando a cena. Ele não vai morrer, é impossível uma pessoa morrer estando tão bem.

Eu dizia isso para mim mesmo. Eu queria acreditar nisso, porém seu estado cada vez mais magro, a palidez em seu rosto, suas forças indo embora, isso me impedia de acreditar.

— Eu quero sair do hospital hoje. – Stephan revelou de repente. — Só dessa vez. Eu quero ver o nascer do sol lá em cima, naquele lugar que vocês me disseram que foram. — Meu peito se apertou com sua voz fraca, e seu pedido. — Eu só quero respirar um pouco. Viver um pouco das coisas que vocês viveram. Quero esquecer, nem que seja por um minuto, que eu não posso fazer isso. — Seus glóbulos verdes fisgaram os meus com esperança. — Só hoje.

Minha cabeça girava. Eu não estava pensando direto. São tantas coisas.

— Não – Declarei. — É melhor não.

— Sim. – Tessa rebateu, me fazendo encará-la. — A vida é muito curta para ter medo de fazer algo. — Ela me encarou seriamente. Eu podia me ver em seus olhos, seus olhos melancólicos.

Tessa vai embora amanhã. Hoje será sua despedida. Talvez seja a última vez que veja Stephan, ela está com medo disso.

Eu também estou.

Molhei os lábios, fitando o breu daquele quarto gelado. — Tudo bem. – Sorri para eles. — Veremos o nascer do sol juntos. — Afirmei. —  Vamos te tirar desse hospital, ruivinho. Já que é o que você quer.

Ele sorriu, parecendo agradecido com aquilo.

Em silêncio, pulamos a janela daquele quarto. Stephan carregava um par de brilhos nos olhos. Era a primeira que o via assim.

O vento de madrugada nos recebeu com todo seu conforto. Respiramos juntos aquela brisa fresca, aproveitando o momento juntos, antes de entrar no carro.

Encarei Tessa e Stephan ao sentar no banco dos passageiros. Eu vi quando eles entrelacaram seus dedos, e como eles se olharam. Aquilo doeu. Ela iria embora amanhã, ele não sabia. Mas pelo menos, agora, eles estavam juntos. Juntos no agora.

Quando o carro começou a se mover, uma música conhecida encheu meus ouvidos. As tão amadas músicas do Stephan. Naquela viagem gelada, onde dividimos uma madrugada de aventuras, cantamos Lady GaGa no carro. Nossas risadas encheram o ambiente. Eu me sentia leve, era impossível algo de ruim acontecer naquelas circunstâncias.

Nossos gritos eram altos. Nossas vozes desafinadas nos faziam rir. Eu me sentia uma adolescente, depois de muito tempo, eu conseguia me sentir vivo. Eu conseguia respirar.

Quando chegamos naquela colina onde se dava para ver  toda cidade, estacionamos o carro de qualquer maneira.

— Você estaciona muito mal, ruiva. – Stephan comentou rindo, e eu o segui. Minha prima nós olhou incrédula.

— Eu que dirigi o caminho todo, e vocês ainda falam isso? Mal agradecidos! – Apontou rindo. Com altas gargalhadas, nos sentamos na grama.

Silêncio, silêncio foi tudo em que conseguimos ficar, pois a vista era de tirar o fôlego. Quando vim aqui, de manhã, não era tão bonito.

— Parecem estrelas. Estrelas na Terra. – Stephan comentou sobre as luzes da cidade, me fazendo concordar. Já fazia muito tempo que não via as estrelas. Nossa cidade não tem, as nuvens as tampam. Porém, aqui em cima, onde o vento e mais gelado que o normal e meu coração bate rapidamente,  podemos vê-las.

Estamos longe de tudo e de todos. Em um lugar bonito, onde as luzes são estrelas. Um lugar com cheiro de vida.

Fechei os olhos, respirando profundamente aquela sensação. Era a primeira vez que respirava de verdade desde que deixei minha estrela. Eu podia sentir ela aqui, contando sobre seu dia e tocando meus cabelos.

Lágrimas de saudade desceram por meus olhos, mas rapidamente as limpei. Uma vez que chegar em casa, colocarei tudo para fora, lembrando dessas lindas luzes que vi aqui.

— Stephan – Tessa o chamou. A encarei aflito, ela estava chorando. — Por que você está escondendo isso de nós? – Indagou com a voz embargada em choro. — Por que você não fala logo que o tratamento não está funcionando!? – O garoto, que estava no meio de nós, ficou em silêncio. Paralisado.

— Theresa –  A olhei com repreensão. Nós combinamos de não falar nada.

— Como vocês sabem? – O ruivo indagou, fitando seus pés que balançavam sobre o penhasco.

Puxei o ar, me segurando para não chorar. Isso não pode estar acontecendo, era para ele negar, falar que é mentira.

— Então é verdade? – Indaguei sem voz. — Você está morrendo? – Aquelas palavras me machucaram profundamente. Eu queria gritar.

— Eu não tenho medo da morte. – Seus olhos admiraram o céu negro. Me perguntei como eles podiam brilhar ao falar aquilo. — Esse será o final de todos, afinal. – Puxei o ar com força, algo pesado se acumulava em meu peito. — Eu tenho medo de não aproveitar os últimos segundos, meus últimos momentos. – Espremi os lábios quando ele sorriu, um sorriso verdadeiro. — Eu irei mor – Não o deixei terminar.

— Cala boca. – Ordenei, sentindo minha garganta dolorida. — Como você pode falar algo assim!? – Gritei, foi impossível segurar as lágrimas. — Eu não quero te ver dentro de um caixão, seu idiota! Eu não quero que você pare de respirar! – Apontei, eu estava destruído. — Você é meu único amigo, Stephan. Como você pode falar algo assim!? – Segurei meu peito com força. As lágrimas não paravam de vir, junto delas, memórias de meu pai no caixão. Eu não quero ter que viver isso de novo. Não quero que ele morra também. — Não fale nunca mais isso – Pedi sem forças.

Para minha surpresa e de Tess, Stephan começou a rir. Uma risada discreta e baixa. — Não precisa disso – Ele fisgou meus olhos. Seus glóbulos brilhavam, um brilho feliz e sincero.

Molhei os lábios secos por causa do vento gelado. — Por que você está falando isso? – Indaguei com a voz baixa. Meu coração doía e mais lágrimas desciam. Agora eu me sentia perdido no brilho daquelas estrelas.

— Eu irei morrer, Dilan. Não sofra por causa disso. – Um vento forte passou por nós, bagunçando seus cabelos ruivos. Ele os ajeitou com os dedos, fitando Tessa com um sorriso tímido nós lábios. — Você também, Theresa. Não é para chorar – Stephan empurrou seus ombros de forma brincalhona. — Eu estarei em algum lugar, torcendo por vocês. Quero que vocês encontrem o amor de vocês, e quando vocês tiverem filhos, conte nossas histórias para eles. Contem que um dia vocês conheceram um certo menino, um menino que declarou não ter medo da morte para as estrelas. Esse menino serei eu. Eu deixei minha marca em vocês, isso é o que importa. – Ele olhou para nós, com um sorriso feliz e olhos cintilantes. — Minha vida não foi atoa. Eu não respirei apenas entre quatro paredes, eu gritei em uma colina! – Gritou para as luzes. Aquela cena tirou meu fôlego.

O menino de cabelos ruivos que gritava com estrelas, em cima de um penhasco. Esse era Stephan Campbell.

As lágrimas se apossaram de mim, assim como a dor em meu corpo. Tessa, sem falar nada, o beijou. Pisquei, atônito com a cena.

— Eu te amo, ruivinho. Quando eu encontrar uma pessoa, ela saberá de você. – Tessa disse, após ele ficarem longos minutos se beijando. Meu rosto queimava.

Stephan sorriu para ela, tirando um fio de cabelo de seu rosto e beijando sua testa. Foi exatamente como ele me disse, como ele disse que faria quando tivesse seu primeiro beijo. A névoa subiu sobre nós, deixando a floresta mais escura. — Eu também te amo, mas isso não será uma promessa. Não quero que você fique presa a mim depois de minha morte. – Como ele podia falar aquilo tão facilmente? Abracei meus joelhos, chorando ainda mais. Stephan não podia morrer.

Para mim, tudo era uma brincadeira. Eu estava apenas esperando a parte que ele me falaria isso. Porém, o sol nasceu e isso não aconteceu.

Ficamos durante horas, chorando e rindo, esperando o sol nascer. Quando isso aconteceu, contamos nossos maiores medos um para os outros. Tessa tinha medo de morrer jovem, Stephan tinha medo de não aproveitar o último momento, e eu, bem, eu tinha medo de tudo.

Quando as estrelas foram embora, e o sol chegou, anunciando o começo de um novo dia, gritamos até não aguentar mais. Naquele penhasco gritei por papai, que nos olhava lá em cima, por Lory, que eu desejava ver novamente, e por Stephan, eu queria que vivesse. Que aquilo fosse mentira. Tessa dormiu em seu ombro.

— Obrigado, Din – Stephan agradeceu, enquanto continuávamos no mesmo lugar. Apreciando a brisa e o sol da manhã. Era muito bom.

Juntei as sobrancelhas, ele riu.

— Eu aproveitei meu último momento por sua causa. Tive meu primeiro amor, meu primeiro beijo, por sua causa. – Funguei, eu não queria chorar mais. — Sabe, você é um menino muito complicado – Afirmou, mexendo nos cabelos de Tess, que dormia calmamente. O vento fortei bateu em nosso rosto, o fazendo sorrir. — Quando você sentir muita saudade da Lory, ou estiver muito cheio, escreva, coloque seus sentimentos no papel. É uma boa rota de fuga, um diário. Conte sua história lá, páginas que só você irá ler. – Naquele momento, quando seus olhos verdes fisgaram os meus e ele sorriu de maneira suave, acreditei que sua hipótese sobre os anjos estava errada.

Anjos são ruivos e tem muitas sardas no rosto. Olhos verdes que brilham. Talvez eles não possuam asas, e sim, palavras angelicais.

Eu acredito nisso. E eu também sentia que aquela era nossa despedida, essa confirmação só me fez chorar mais. Eu não quero isso.

— Pare de chorar. Nem parece que é o Dilan Peterson, o menino mais pegador da cidade. – Zombou rindo. Solucei, sentindo uma enorme dor no peito. Meus olhos doíam.

— Você sabe que eu nunca fiz isso. Elas apenas me beijam e eu peço para elas irem para suas casas. – Ele riu discretamente, negando com a cabeça.

— Eu sei. – Sua voz era calma e macia. — Quando você reencontrar sua estrela, fale de mim para ela. Acho que ela vai acabar se apaixonado, sou um bom partido. – Estufou o peito, e mesmo com toda tristeza, não pude evitar de rir.

— Tudo bem. Eu falarei de você para ela. – Ele empurrou meu ombro, e nós nós olhamos. Senti que deveria abraçá-lo, mais tarde me arrependeria de não ter feito isso.

Tessa acordou. Ela nos levou para o hospital novamente. Nós gritamos e cantamos no carro. Eles se beijaram na porta do hospital, e então Stephan entrou. Ele me olhou com carinho e sorriu. Vi agradecimento em seus glóbulos. Combinei de vir mais tarde, não ficaria mais tanto tempo sem vir. Ele agradeceu e então se foi.

Foi a última vez que o vi vivo.

Seus olhos estavam fundos e seus cabelos bagunçados. De tarde, quando estava ajudando Tessa com a mala, recebemos uma ligação dizendo que o encontraram morto em sua escrivaninha. Ele tinha deixado um bilhete para mim, com meu número e nome. Ele morreu dormindo.

Eu corri até lá junto com Tess. Não deixaram nós vermos ele. Naquele dia eu chorei mais do que qualquer dia. Eu nunca mais o veria. Foi uma dor tão forte, tão profunda, e eu me senti culpado. Falaram que seu estado piorou porque ele saiu. Se tivesse ficado no hospital, teria mais alguns meses de vida. Eu me culpei porque eu deixei ele ir, eu deveria ter negado.

Ele e Tessa não poderia ficar junto porque ela iria embora no outro dia, mas sim, porque ele morreu. Adiaram a viagem de Tess, ela teve que ficar para ir no enterro dele. Eu não fui. Eu não aguentaria, não de novo.

Pois sua vida teria ido embora, ele não poderia mais sorrir ou cantar as músicas que ele tanto amava. Ele não poderia mais respirar, nem falar. Então por que eu iria para lá? Apenas para ver seu corpo morto coberto por roupas bonitas, ou os monstros de seus pais, que nunca iam visitá-lo, chorando?

Eu não iria aguentar isso.

Aquela foi nossa última noite. Vimos o sol nascendo juntos. Gritamos e cantamos. Eu deveria tê-lo abraçado quando tive a chance.

O bilhete que ele deixou para mim comoveu a mim e toda minha família. Mamãe também sofre muito. Nele estava escrito:

"Lembro-me de quando te vi. Você me zombou por estar escutando Lady GaGa, e fez uma promessa para mim. Uma promessa que viria de noite. Eu fiquei muito feliz com aquilo, obrigado Dilan. Eu não sei se existe céu ou inferno, mas acho que virarei uma estrela. Estarei olhando por você,  olhe para mim também. Se não for muito incômodo, compartilhe os momentos que teve comigo com os outros, também quero marcar a vida de outras pessoas. Eu sei que você vai querer me esquecer, porque você é assim, mas, mesmo assim, lembre-se que eu fui o menino que cantava Lady GaGa, que eu fui o menino que beijou sua prima, o menino que acreditava em anjos.

Eu lembrarei de você como o menino complicado, que tinha muitas histórias legais. O menino do sorriso gentil, que olhou para um doente e ofereceu sua amizade.

Diga para sua prima que a amo, mas infelizmente não vou poder dividir uma vida com ela. Sigam em frente, por mim.

Do seu amigo ruivo, Stephan Campbell.

Nos vemos nas estrelas.

E desculpe-me se a Lory se apaixonar por mim.

Espero que isso não pareça gay, mas se parecer, não me importo.

Eu te amo, irmãzinho caçula."

"Morrendo. Isso é uma palavra tão pequena, mas que carrega tanta dor"

Eu não sei se deveria ter feito essa capítulo assim, porém eu queria contar toda a história do nosso anjinho Stephan.

O que acharam?

Espero que tenham gostado♥️

Muito obrigado por tudo, se não fossem vocês, o livro não seria nada. Amo vocês, muito obrigado por tudo 💜

Nos vemos quarta♥️

Próximo capítulo quarta.

Continue Reading

You'll Also Like

390 74 7
Harumi Baji, uma jovem de quatorze anos que vive uma vida nada pacífica, sendo uma das únicas membro da Kanto Manji Gang. Membro da segunda divisão...
138K 10K 30
📍Sicília - Itália Gina Pellegrine é uma menina doce e inocente criada sob educação religiosa, que conquista os olhares de todos aonde quer que pass...
420K 40.9K 43
Vingança. Essa é a única coisa que possui um lugar especial no coração de Luca, um anjo caído disposto a tudo para se vingar de seus inimigos. Mas, o...
206K 22.1K 59
Cìlia um populoso continente composto por 10 reinos onde Mountsin é o reino mais poderoso e o salvador dos humanos, por subjugarem seres mágicos cons...