Já se passou quase uma semana, e eu ainda estava sem notícias de Julia. Nikki não tinha conseguido rastrear o celular dela. Ele achava que ela trocou o número. E agora que ele já sabia da armação de Stella, sabia o quanto isso era importante. Ele até tentou por outros meios, mas não conseguiu nenhuma informação.
Ela entrou em contato com Gladys algumas vezes, mas não quis nem ouvir meu nome, e não deu pista nenhuma sobre sua localização em Santorini.
Tom tentou a Chiara, mas ela também não lhe deu assunto, tomando as dores da amiga. Eu entendia e apreciava a lealdade dela, mas para mim, isso não foi uma coisa boa.
Eu já estava de volta a Londres por uns três dias, e hoje seria minha reunião com os meus advogados sobre o distrato com Stella.
Eu fiz de tudo para não ter que estar presente, mas ela fez essa exigência, ou então iria para a justiça, e a última coisa que eu precisava no momento era uma batalha judicial.
Quando cheguei ao escritório, ela já estava acompanhada do advogado dela.
- Boa tarde a todos!
- Pensei que não viria Henry.
- Vamos direto ao ponto senhores...
- Você vai mesmo me ignorar?
Eu respirei fundo para não mandar ela para o inferno, e falei o mais educadamente possível.
- Srta. Mayers, nós não viemos aqui para ser cordiais uns com os outros, mas para resolver questões legais, então por favor, vamos a isso de uma vez.
Ela ia falar alguma coisa, mas seu advogado a conteve, graças a Deus, pois só a voz dela já me tirava do sério. E meu advogado começou a explanação.
- Srta. Mayers, você leu os termos do distrato?
- Sim, e acho que o valor da multa não é o justo.
- E o que a senhorita chamaria de justo?
- Aqui diz 150.000 libras, mas pelo tempo que eu me dediquei a carreira dele, acho que mereço o dobro.
- Isso é uma loucura! O valor está correto.
- Não, não está. Vocês não levaram em conta o desgaste emocional de minha cliente. O que ela abriu mão na vida, para viver em função do Sr. Cavill...
Os advogados começaram a discutir, enquanto eu ficava olhando para o sorriso cínico dela, e entendi que o que ela queria, era postergar tudo isso. Esse tipo de divergência requereria um adiamento para mais cálculos, e assim eu teria que encontrá-la novamente. Mas eu queria me ver livre disso hoje, então falei.
- Eu pago!
- Henry...você não pode...
- Smith... Eu pago. Faça as alterações que forem necessárias e resolva de uma vez.
- Vejo que você ainda é um homem justo Henry...
- Não! Só que para me ver livre de você, eu pago o que for preciso.
O sorriso de vitória sumiu de sua cara, e no lugar tinha um ódio quase palpável dirigido a mim. Mas eu não ia me preocupar com isso.
Smith alterou os documentos muito contrariado, e dez minutos depois tudo estava acabado.
Me levantei e saí sem olhar para ninguém. Estava no corredor com o Tom esperando o elevador, quando ela saiu com seu advogado.
Entrei no elevador e Tom parou na minha frente, impedindo que ela entrasse também.
- É sério isso Henry? Não vai me deixar entrar?
Olhei para o teto e o Tom respondeu por mim.
- Espere o próximo por gentileza.
A porta se fechou e eu respirei aliviado.
- Finalmente.... Menos um problema.
- Assim espero Tom.
Voltei para casa e pedi que o Tom tentasse a Chiara novamente. Eu só tinha mais sete dias para encontrar Julia, antes que ela voltasse para o Brasil, e aí sim, eu não teria como achá-la.
Vi como as feições do Tom se transformaram com preocupação enquanto falava com a pequena italiana, e não gostei nada daquilo.
Ele desligou, esfregou o pescoço, procurando uma forma de me dar uma notícia ruim.
- Fala logo Tom... O que ela falou?
- Você não vai gostar Henry. Ela não me deu a localização de Julia, mas disse que ela conheceu alguém...
- O quê? Não, não pode ser... Ela não faria isso comigo.
- Henry, ela acha que você a traiu com a Stella. Claro que ela faria.
- Não, Julia não é assim.... Não posso aceitar isso Tom.
- Então não aceite.
- Mas o que posso fazer se não consigo falar com ela? Só quem sabe onde ela está é Chiara, e ela não vai me dizer. Ela quer proteger a amiga.
- Então vamos convencer a Chiara da sua inocência primeiro. Se formos para o aeroporto agora, chegaremos lá antes do anoitecer.
- Ela não fala inglês. Pode não acreditar que o áudio é verdadeiro.
- Veremos isso quando chegarmos lá. Você quer ou não a Julia de volta?
- É tudo que eu mais quero.
Duas horas depois, estávamos embarcando num voo para Nápoles.
- Não é melhor avisarmos que estamos indo?
- Para quê? Para ela se esconder? Não, vamos chegar de surpresa mesmo Henry.
Chegamos em Acciaroli ao anoitecer e fomos direto para a frente da casa de Chiara.
Eu usava um jeans surrado e uma camisa de malha simples, com meu boné enterrado na cabeça para que ninguém me reconhecesse.
Tom ligou para ela enquanto esperávamos no portão.
- Ciao Chiara! Henry ed io siamo di fronte a casa tua. Per favore, fateci entrare.*
*Oi Chiara! Henry e eu estamos na frente de sua casa. Por favor, deixe-nos entrar.
- Non si arrende? Ho detto che non ti dirò dov'è Julia.*
*Ele não desiste? Já disse que não vou falar onde Julia está.
- Chiara...Henry há le prove che è stata tutta l'allestimenti di Stella. Fateci entrare e potete vedere.*
*Chiara...Henry tem provas de que tudo foi armação da Stella. Nos deixe entrar e você pode ver.
Eu não estava entendendo o que estava sendo dito, mas como ainda estávamos do lado de fora, acho que o plano do Tom não estava dando certo.
Quando ia me dar por derrotado, a porta da frente se abriu e meu coração palpitou com a possibilidade de conseguir saber de Julia. Chiara fez sinal para que entrássemos.
Ela ainda me olhou desconfiada, mas aceitou ouvir o áudio, e ver o vídeo do hotel e Tom, ia traduzindo tudo. Quando terminou, ela estava pensativa.
- Ela não vai falar nada?
- Calma Henry, ela deve estar processando tudo.
Depois de um tempo, ela pediu ao Tom que me dissesse que ia ajudar, mas antes ela queria saber o que eu sentia pela Julia de verdade, e que eu falasse devagar para que ela pudesse entender.
- Eu não durmo nem como direito desde que descobri o que aconteceu. Eu deveria ter demitido a Stella, quando ela começou a implicar com a Julia, mas nunca achei que ela fosse chegar a isso. Eu preciso me explicar com ela. Eu não sei mais viver sem Julia em minha vida.
- Prometti che la renderai Felice?*
*Promete que vai fazê-la feliz?
- Com todas as minhas forças. Porque eu só serei feliz se ela for feliz comigo. Eu a amo Chiara!
Ela então sorriu e me deu o nome do hotel e o número do quarto dela. E quando eu perguntei sobre o cara que ela conheceu, Chiara disse que não havia nada de concreto entre os dois, mas que Julia estava balançada.
Saí direto da casa dela para o aeroporto.