O melhor ano do nosso colegial

By leonmwah

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Nicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto co... More

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1 • A matrícula
2 • O Shopping
3 • A palestra
4 • O primeiro dia de aula
5 • A garota da palestra
6 • A inscrição para o clube de teatro
7 • A audição
8 • A aula de música
9 • O primeiro dia no teatro
10 • O clube de música
11 • A festa do teatro
12 • Domingo de ressaca
13 • A novidade de Gabriela
14 • O desentendimento no refeitório
15 • O jogo de queimada
16 • O fim de ótimos momentos
17 • O colega de Joana
18 • A Festa Junina
19 • O parque
20 • Uma festa entre amigos
21 • A conversa na estrada
22 • O vizinho
23 • Um papo de saudade
24 • A casa de Thomas
25 • O quarto de Thomas
26 • A conversa com Amélia
27 • O começo de uma última aventura
28 • O fim de uma última aventura
29 • A volta para casa
30 • O segundo primeiro dia de aula
31 • A aluna de intercâmbio
32 • A briga no corredor
33 • A conversa com a diretora
34 • Um recomeço
35 • Um canto no teatro
36 • Inscrição para cheerleader
37 • O reencontro na biblioteca
38 • O teste de Gabriela
39 • O problema de Gabriela
40 • A ideia
41 • A conversa depois do jogo
42 • A segunda festa do teatro
43 • A grande notícia
44 • O encontro
45 • A apresentação
46 • A proposta
47 • A escolha do vestido
48 • O casamento
50 • Ano Novo

49 • Noite de Natal

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By leonmwah

Depois do casamento os dias passaram depressa. Mas, mesmo assim eu não me enjoava de todas as manhãs seguintes ter Vovó e Thomas juntos na mesa.

Outro dia eu havia ouvido vovó e mamãe conversando algo sobre os recém casados morarem na mesma casa. Ouvi Joana dizendo que eles estavam procurando juntos imóveis para alugar pela região. Provavelmente a casa seria um pouco melhor que esta, visto que Jô estava prestes a ser promovida e, com a renda de Jonathan junto, poderíamos nos dar ao luxo de um lugar melhor.

Numa certa manhã, ajudei Thomas a guardar suas roupas novamente em sua mala e ele me ajudou a escolher as roupas que eu guardaria na minha, pois nós quatro e Jonathan iríamos viajar à casa de vovó para que passássemos o Natal juntos. Quando chegamos em casa na noite da cerimônia, comentei com Thomas sobre a mensagem que sua mãe tinha mandado sobre não poder comparecer no Natal.

— Eu já esperava por isso — ele disse. Fiquei calado.

Quando todas as malas ficaram prontas. Esperamos Jonathan passar em casa com seu carro para que todos seguíssemos viagem.

Enquanto mamãe sentou ao lado de Jonathan; Thomas, vovó e eu sentávamos juntos no banco de trás.

Pelo Instagram eu acompanhava meus amigos aproveitando seu pré final de ano. Amalie de volta à França junto de seus pais, Gabriela visitando os incríveis centros históricos de Portugal e Vinicius embarcando no avião rumo à Orlando, passar um lindo natal na Disney. Eu, bem, estava num carro cheio indo para o interior.

— Vocês todos vão me trazer uma lembrancinha bem legal da viagem de vocês! — digitei em nosso grupo de amizade no WhatsApp enquanto o carro saia da avenida para finalmente entrar na estranha.

Por um tempo não houve resposta.

O carro permaneceu quieto por algum tempo, pelo menos até Amélia se enjoar de observar os carros ao redor e iniciar um diálogo.

— Onde vocês irão passar a lua de mel?

Me libertei de meus devaneios para que prestasse atenção na conversa.

— Não planejamos nada — Jonathan explicou. — Mas se formos viajar eu não chamaria de lua de mel, pois adoraríamos que Nicholas fosse conosco. — Ele me olhou pelo retrovisor e eu sorri.

— Ah, mas vocês precisam de uma lua de mel!

— Nossa lua de mel será em todos os dias, durante todas as manhãs quando ambos acordarmos um ao lado do outro, juntos, preparados para mais um dia! — Joana concluiu.

— De que livro você pegou isso? — indaguei.

Ela ficou quieta, me impedindo de dizer qualquer coisa.

A viagem continuou quieta, porém, se pensamentos emitissem sons, aquele carro estaria uma barulheira.

Thomas me mostrou alguns memes em seu Facebook através da tela de seu celular. Ri de vários. Em troca, lhe mostrei algumas de minhas músicas preferidas. No começo ele me julgou, mas não recusou quando perguntei se gostaria de ouvir junto comigo. Então, permanecemos cada um com um lado do fone na orelha até o fim da viagem.

***

No momento em que entrei em meu quarto, notei que algo estava diferente.

— Sua avó trocou sua cama — Thomas explicou quando notou minha expressão. — Agora você tem uma bicama. Parabéns.

— Você anda dormindo neste quarto?

— Sim.

Fitei seus olhos fingindo estar bravo, mas eu super concordava, afinal seria péssimo ele viver sozinho na casa logo à frente, sendo que ele poderia morar junto de vovó e um ser uma perfeita companhia um ao outro.

— Eu fico na cama de cima! — falei, correndo para me jogar sobre o colchão.

Ele contestou, correndo logo atrás de mim segurando pelo me braço. Mas, consegui chegar primeiro, entretanto, não consegui sair ileso, pois Thomas pousou em cima de mim. Empurrei ele para o lado secretamente fingindo não ter gostado do que havia acontecido e ambos rimos tanto que mamãe apareceu logo em seguida na porta para verificar o que estava acontecendo.

— Se comportem, hein!

Nos dois rimos mais.

Jo&Jon ficariam juntos no segundo quarto de hóspedes, agora equipado com uma cama de casal. Enquanto vovó permaneceria em seu quarto.

Alguns dias depois da noite do casamento, comentei com Thomas toda a conversa que eu havia tido com Gabriela no banheiro feminino e com Vinicius enquanto dançávamos sozinhos. Ele entendeu e disse que não queria me pressionar a fazer nada, e entenderia se eu precisasse de um tempo, pois ambos concluímos que eu tinha basicamente passado meu ano inteiro querendo alguém e, talvez, eu precisasse entrar numa espécie de hiato em sentir algo por pessoas. Mas, deixei claro que talvez eu quisesse dormir junto dele novamente numa ocasional noite de chuva.

Naquela mesma noite todos ajudaram na cozinha para um um delicioso macarrão com queijo para a janta. No final, cada um teve uma função diferente para hora de lavar, enxugar e guardar cada objeto. Podíamos ser facilmente confundidos com uma perfeita família de comercial de margarina.

Quando Thomas e eu deitamos na cama, fiquei esperando com que ele pedisse para se deitar comigo. Mas, ele não pediu. Vários minutos se passaram e, com a falta de esperança de qualquer iniciativa vinda dele, me joguei ao seu lado.

— Eu sabia que você acabaria vindo.

Mesmo com a única iluminação do quarto vir pela luz luar através da janela, consegui lhe dar um soco no ombro. Ele me deu outro de volta. Por um milésimo de segundo pensei em bater mais forte, mas sabia que este ciclo se repetiria até que um de nós saísse com um dos braços quebrado, então parei.

Dormimos de conchinha. Mas, desta vez eu quem estive atrás, entretanto, nossos corpos não se encaixaram da perfeita maneira como haviam na última noite chuvosa que tivemos na minha casa, logo viramos e trocamos de posição, agora Thomas atrás, se encaixando perfeitamente.

— É o universo falando que ao contrário isto não daria certo — sussurrei sem graça.

— E eu nem tenho interesse que dê. — Ele riu sem graça.

Uma respiração profunda vinda dos dois pares de pulmões naquele quarto, marcou o término de um dia que, junto de Thomas, tinha sido incrível.

***

Um alto barulho de mão batendo numa madeira me acordou rapidamente na manhã seguinte. Quando finalmente consegui abrir os olhos e focar minha visão na porta, notei que quem batia em sua superfície era mamãe.

— Vocês não deveriam dormir a menos de um braço de distância um do outro! Vamos, se afastem!

— Eu devo ter caído da cama. — Me defendi.

Joana riu e esperou até que Thomas e eu levantássemos para o café.

Estávamos no dia vinte de dezembro. Eu comentara com mamãe sobre eu ir junto de Thomas para o centro de comércio da cidade, pois vovó ainda não havia montado sua árvore de Natal e garantiu que gostaria que fôssemos até o centro para comprar alguns enfeites novos.

O café estava delicioso, mas confesso que eu teria saboreado mais se eu não estivesse tão ansioso para sair junto de Tom.

Subi correndo e fiz minha limpeza bocal. Coloquei uma das calças jeans que eu havia comprado junto de mamãe no começo do ano e coloquei minha favorita camiseta branca com um grande coração de pixel estampado logo em seu centro.

Segundos antes de sair, vovó sorriu para mim ao ver que eu usava a camiseta que havia me dado.

***

As árvores em ambas as calçadas da rua de vovó estavam tão belas quanto da última vez que mamãe e eu viemos em julho, mas agora durante o verão, seus galhos revelavam flores dos mais variados tons de cores existentes.

Num certo momento, Thomas e eu competimos um com o outro em quem conseguia andar por mais tempo sem pisar nas linhas. Clássico. Quando ele ficou por um tempo na minha frente, pude notar que, em cada vez que ele pulava e aterrissava no chão, seu cabelo balançava de uma maneira que me fazia morrer de vontade de passar a mão. Eu apreciava Thomas de um modo que talvez nunca havia. Eu não queria necessariamente beijá-lo. Mas apenas passar um tempo junto dele. Jogar algum jogo de tabuleiro, assistir a um filme na televisão, cozinharmos cookies.

Enquanto Gabi e Vini se divertiam em outro país, eu não desejava por nada a mais enquanto estava junto de Thomas, pulando na calçada desviando de rachaduras pelo chão.

Não demorou muito para chegarmos no centro.

O centro se constituía basicamente numa rua reta formada por paralelepípedos, onde nenhum carro passava. Apenas pessoas circulavam ali. Em cada lado da rua tinham várias e várias lojas e restaurantes com as mais coloridas mesas em suas fachadas para que clientes pudessem comer ao lado de fora. Nesta época, longos fios de luzes coloridas de natal estavam pendurados através de postes de um lado para o outro da rua. Ali a noite era linda, mas ainda era de manhã.

— Vamos — disse Thomas, — eu te guio.

Coloquei a mão sobre seu peito para que ele não desse nem um passo sequer.

— Moro aqui há quinze anos, não preciso ser guiado.

Ele arqueou as sobrancelhas indignado, mas não disse nada. Fomos então para uma loja muito colorida ao lado esquerdo, pois muitas árvores e enfeites de Natal brilhavam logo em sua entrada.

Luzes coloridas sempre me instigaram. Elas são tão hipnotizantes. Quando criança, mamãe sempre fazia questão de me levar para lojas assim, entretanto, apenas olhávamos e saíamos sem comprar nada.

— Lindo aqui, não? — falei, sem esperar qualquer resposta.

— Aquela rena é a sua cara! — ele disse apontando para uma rena de pelúcia que balançava o bumbum ao ritmo da música que tocava.

— Seu bobo.

Adentramos mais a fundo através dos corredores coloridos como sempre ficavam em Dezembro.

Chegamos numa estante com várias serpentinas brilhantes das mais variadas cores vivas que se poderia existir. Coloquei uma azul brilhante como um cachecol em meu pescoço e Thomas tirou uma foto com seu celular. Fiz ele prometer me passar a foto o quanto antes e que não divulgasse na internet de modo algum.

— Agora tenho algo para usar contra você! — Ameaçou.

— Vou levar uma fita dessa para vovó. — Não dei importância. — Temos bastante dinheiro para gastarmos hoje.

— Viva o capitalismo.

Me senti dentro de um filme musical, onde os funcionários e fregueses ao redor dançavam e cantavam enquanto Thomas e eu passávamos pelas prateleiras pegando tudo que fosse enfeites que nos chamasse atenção e os enfiando na sacola.

Num certo momento, encontrei um saquinho de plástico com muitas pecinhas de madeira com diversas formas, como: Papai Noel, renas, carvalhos e estrelas. Pensei que vovó adoraria ganhar algo daquilo de presente para usar em algum de seus trabalhos de artesanato. Coloquei na sacola.

Quando aterrissamos no caixa, tínhamos nas mãos bolas para pendurar na árvore de Natal, luzinhas coloridas para colocar envolta dos arbustos no jardim de vovó e também para pendurarmos nas paredes e teto do quarto em que Thomas e eu dormíamos.

— Quando você sair eu vou arrancar todas elas!

— Mando minha vó te expulsar da casa dela.

Saímos da loja com sacolas cheias. Se vovó não gostasse de algo — o que seria impossível, pois ela sempre gostou de coisas coloridas e brilhantes — eu certamente transformaria tudo aquilo em uma fantasia para usar no carnaval.

Thomas perguntou se eu não gostaria de passarmos numa sorveteria para tomar um sorvete. Falei que não, mas acabei aceitando logo depois que ele disse que pagaria.

— Ué — falei, — você pegou só um copo de sorvete. Cadê o meu?

Ele pegou duas colheres de plástico coloridas e espetou em uma das três grandes bolas de sorvete dentro do copo.

— Nós vamos dividir — explicou debochado. — Espero que você não sinta nojinho da minha baba.

Sentamos um de frente pro outro numa mesa de ferro super chique em frente à sorveteria que se eu tivesse ido duas vezes na vida, já tinham sido muitas, afinal um pote daquele era mais caro que um rim meu.

Algumas vezes nossas colheres bateram uma na outra. Fiz caras de nojo forçadas, mas ele não ligou para nenhuma delas. Nossos pés de vez em quando batiam um no outro. Até que decidimos mantê-los encostados.

Conforme andávamos um ao lado do outro de volta para casa de vovó, nossas mãos batiam uma na outra. Finalmente Thomas acabou segurando minha mão. Pareceu que no começo ele estava receoso de eu retirar minha mão, mas sua respiração aliviada tomou conta de seus pulmões logo quando mantive elas unidas.

Os olhos de Amélia brilharam quando viram o que continha nas sacolas que carregávamos.

— Precisamos montar agora esta árvore! — ela gritou. — Nick, gostaria de pega-la no sótão?

— Claro! — Thomas e eu dissemos em coro. Olhei confuso para ele logo depois, pois eu jurava que Amélia havia falado apenas comigo.

Quando abri a portinha no teto ao fim do corredor do último andar e a escada desceu, Thomas fez questão com que eu subisse, pois apenas eu sabia onde a árvore estava.

— Belo bum bum! — zoou logo que comecei a subir.

— Vai se foder.

Peguei todas as caixas que precisava e quando me dei conta, Thomas, vovó e eu estávamos na sala montando a árvore e em seguida pendurando os enfeites que já tínhamos e os que compramos. Mamãe não estava em casa, pois havia saído com Jonathan para sei lá Deus sabe onde.

— Nem imagino, querido! — Vovó respondeu quando perguntei.

Thomas estava do outro lado da árvore. Através dos galhos, de vez em quando trocamos alguns olhares. Eu fingia não gostar, mas ele sabia que eu adorava.

Por fim, faltou apenas com que eu pendurasse a estrela no topo. Antes que eu a encaixasse na ponta da árvore, vovó pediu para que Thomas e eu nos juntássemos para que ela pudesse tirar uma foto de nós dois juntos com sua Polaroid. Segundos antes do flash ser acionado, Thomas apertou minha bunda. A foto ficou sensacional.

***

No dia seguinte, quando Joana comentou durante o almoço sobre os presentes que abriríamos ao soar da meia noite, me fez começar a pensar no que eu daria a todos que compareceriam na noite da ceia.

Lembrei que mamãe dissera que não queria um presente meu, pois fazia questão que eu entendesse que minha existência era o melhor presente que todos os dias ela poderia abrir. Mas, mesmo assim eu ainda sentia que devesse lhe entregar algo.

Tom saiu de casa por um tempo, portanto, aquele era um momento perfeito para eu permanecer sozinho em meu quarto para confeccionar seu presente.

Peguei uma folha de papel e, sobre a escrivaninha de nosso quarto, comecei a desenhar da melhor forma que eu pude um desenho de Thomas, para recompensá-lo de certa forma pelo desenho que havia feito para mim momentos antes de eu ir embora da casa de vovó no meio do ano. Os traços jamais seriam tão profissionais quanto o que ele havia feito, mas deixei bem claro que fiz com o coração.

Durante o desenho, eu pensava sobre o que estava acontecendo entre nós. Eu não queria, muito menos buscava, por relacionamento algum. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha medo do que pudesse rolar entre ele e eu, mesmo que não estivéssemos necessariamente numa relação.

Ele me deu a certeza de que realmente era verdade quando diziam nos filmes que o coração quer o que ele quer. Quando Joana e eu voltássemos novamente para nossa casa, iria demorar para eu rever Tom. Ao contrário de Vinicius, pois assim que o ano letivo se iniciasse, nos veríamos sempre. Mas posso dizer que eu estava preparado.

A hora de colorir foi a minha preferida. Pintei sua camiseta da cor azul. Sua calça com uma mistura de sombreamento de cinza e preto. Sua pele rosada e seu cabelo castanho caindo levemente sobre sua testa.

Dobrei a folha na mesma quantidade de vezes que Thomas havia.

Em seguida, numa outra folha, comecei a pensar num poema, ou texto, para mamãe.

Quando sua imagem no dia do meu primeiro dia de aula pousou em minha cabeça, as palavras de um bonito texto começaram a surgir e se materializar no mesmo instante. Não foi necessário com que eu apagasse nada nenhuma vez. Do jeito que as palavras saíram, assim ficaram.

Eu não tinha nada para Jonathan, então esperava que ele entendesse, afinal não havíamos tido ainda um contato real um com o outro. Confesso, ele tentou algumas vezes se aproximar, mas subconscientemente eu o cortava e o impedia de obter qualquer contato real comigo. Um dos meus desejos para o Ano Novo era de que Jon e eu nos aproximássemos mais. Isto, de certa forma, seria inevitável, pois ele passaria a morar conosco. Mas anotei como um desejo de qualquer jeito.

Ouvi a porta da frente bater Thomas chegou e eu tinha que esconder seu desenho o mais rápido possível. Fiquei parado no meio do quarto sem saber o que fazer. Eu já tinha olhado para todos os lados e não encontrado nenhum esconderijo. Seus passos sobre as escadas se tornaram cada vez mais próximo. Olhei para minha cama e instintivamente levantei o colchão e joguei o papel dobrado embaixo.

Tom apareceu na porta encostando no batente. Fiquei arrepiado.

— O que está fazendo aí?

— Estou sentado. Não consegue ver?

Então levantei e voltei à escrivaninha.

— O que é isso? — perguntou logo quando chegou ao lado da cadeira em que sentei.

— O presente para minha mãe.

— E o meu?

Olhei para ele, que estava agachado para ficar da mesma altura que eu. Nossos rostos estavam tão próximos quanto há muito tempo já estiveram.

Lhe dei um selinho demorado.

Eu não sabia onde eu estava com a cabeça. Mas confesso que, quando ambos abrimos nossos olhos e olhamos um para o outro, não demostramos arrependimento algum.

Ele se aproximou novamente e dessa vez meu corpo já estava virado em sua direção. Demos um beijo de língua tão gostoso que no mesmo instante tive a certeza de que nunca esqueceria daquele momento.

Thomas piscou pra mim quando nos afastamos novamente.

— Gostei do presente, mas ainda não é noite de Natal. Vai ter que me dar outro.

Fui bater em seu ombro, mas ele conseguiu se esquivar rapidamente.

Levantei da cadeira e lhe dei um ternoso abraço.

— Quer ir lá em casa jogar videogame? — questionou logo quando nos afastamos.

— Quero.

— Quem ganhar tem direito de dar um soco no outro sem a chance de revidar!

— Aceito.

Descemos a escada correndo e atravessamos a rua.

Eu não fazia a menor ideia de como se jogava FIFA, porém, curiosamente, após muitas partidas, eu havia ganhado.

Dei um soco no ombro de Thomas e, quando pensei que ele fosse revidar, fui surpreendido quando empurrou minhas costas contra o chão que estávamos sentados e ficamos por alguns minutos nos beijando.

***

Vinte e quatro de dezembro chegou num piscar de olhos.

A primeira coisa para qual olhei quando acordei foram os pisca-pisca acesos que havíamos pendurado no teto do quarto anteontem. Olhei para a cama no chão ao lado e fiquei algum tempo observando Thomas dormindo.

Peguei meu celular no criado mudo e, quando liguei o Wi-fi que vovó havia finalmente instalado em sua casa, fui supreendido por uma mensagem de Vinicius.

Vini: Nick, estive pensando sobre o que conversamos na noite do casamento de sua mãe e confesso que até então estive tentando entender seu ponto de vista. Não está sendo fácil, confesso, mas aos poucos estou aceitando e concordando, pois depois que me distanciei de você e da Gabi, eu também tenho muito medo de te perder de novo. E mesmo que sejamos ou não namorados um do outro, espero que ainda me deixe dizer que eu te amo, afinal, é verdade.

Eu: Vinicius seu bobo! Eu também te amo. Está sendo também um pouco complicado para mim. Sempre quando estou com Thomas, fico pensando se o que estou fazendo é certo e toda vez me pego secretamente me punindo em minha prórpia mente. Estou longe de estar preparado para um relacionamento, mas eu realmente gosto de ficar próximo dele. Espero que as coisas melhorem para nós dois. Dói não te ter, mas se tivermos que parar de se beijar para evitar possíveis coisas piores no futuro; estou disposto a pagar o preço.

Vini: Eu também.

Thomas abriu os olhos no mesmo segundo que bloqueei a tela do meu celular.

— Bom dia — ele saudou.

Para uma manhã de véspera de Natal a casa estava muito quieta. Em todos meus anos de vida, quando morávamos eu e mamãe, cada manhã dessas ela acordava animada para preparar as costelas de porco para serem assadas. Mas, a casa estava quieta.

Não demorou muito para que Joana levantasse depressa com a impressão de estar atrasada e correr pelo corredor para descer as escadas. Amélia apareceu gritando logo atrás.

— Espera, Joana!

— Bom dia! — finalmente respondi a Tom.

Nem tomamos café e todos já foram direto para a cozinha, que mesmo com nós cinco juntos, ainda parecia grande.

Ajudei mamãe e temperar a costela e porco, enquanto Thomas ajudava vovó com o peru. Jonathan separava alguns ingredientes para fazer um delicioso pudim, garantiu.

As horas se passaram e a noite chegou. Enquanto as carnes estavam no forno, o arroz cozido e pudim na geladeira, cada um começou a se arrumar. Eu e Thomas tiramos joquempô para vermos quem iria primeiro ao banho. Ganhei.

Na minha família nunca foi costume se arrumar muito bem para comparecer à mesa, então uma camiseta vermelha, junto de uma calça jeans e tênis foi mais que o suficiente para compor meu look para a noite. Diferente de Thomas, que colocou uma camisa rosa social e passou muito tempo arrumando seu cabelo.

— Ansioso? — perguntei sentado na cama o vendo se olhar no espelho do guarda-roupa.

— Claro. — Olhou para mim pelo espelho.

— Você e seus pais costumam comemorar o Natal?

Tom engoliu em seco.

— Quando eu era mais jovem nós comemorávamos mais. Mas agora não mais. Eles me deixavam com minha tia. Só que agora esta minha tia não mora mais no Brasil.

— Sorte que você tem minha vó.

— Sorte que eu tenho sua vó. — Riu e fez uma pausa. — Mas também tenho você.

Ele desiste de arrumar seu cabelo que de qualquer jeito fica ótimo e caminhou até a cama e sentou ao meu lado. Sem pedir, lhe dei um abraço e ele retribuiu, me fazendo sentir o cheiro de seu perfume provavelmente importado de algum país da Europa.

De vez em quando eu me pegava pensando o quanto devia ser difícil para Thomas ser deixado sozinho em casa 90% de seu ano. E ainda ter que passar o Natal na casa de sua vizinha, pois seus pais estavam ocupados demais trabalhando. Apesar de algumas atitudes imaturas, por conta da idade, Tom era bem responsável. E isso me fazia sentir bem ao seu lado.

Levantamos e caminhamos à sala que, sinceramente, estava linda com a árvore sobre a mesa de centro. Alguns presentes embrulhados abaixo deixavam o ambiente ainda mais colorido em conjunto com as luzes coloridas piscantes pelos galhos falsos da árvore de Natal. O desenho de Thomas e o texto de mamãe estavam guardados em meus bolsos, enquanto o saquinho de vovó estava contido numa linda e colorida embalagem embaixo da árvore.

Todos sentamos na mesa da sala de jantar, que raramente era usada. O banquete estava servido e bastou a última pessoa sentar-se para que cada um começasse a se servir.

Joana sentou-se ao lado de Jonathan, vovó na ponta e de frente para Jo&Jon ficou eu e Tom. Confesso que eu amava cada vez que ele esbarrava seu pé no meu embaixo da mesa.

Durante a janta, conversamos sobre assuntos aleatórios. Acredito que foi na ceia que mais pude conhecer Jonathan que em qualquer outro dia pude. Ele contou sobre um dia, quando criança, que subiu numa árvore de maçãs para se provar a uns garotos do bairro em que morava, mas acabou caindo e torcendo o tornozelo. Também falou sobre um dia que estava conversando por e-mail com um de seus professores da faculdade e, sem querer, recebeu o gabarito da prova que teria semana que vem em anexo.

Todos rimos bastante das coisas que ele contou. Foi bom conhecer seu lado palhaço, não apenas o "namorado, depois noivo, e então marido de mamãe".

Seu pudim estava uma delicia.

Quando a louça foi lavada, foi questão de minutos para que todos finalmente abrissem os presentes.

O alarme do meu celular indicou o horário da meia noite. No mesmo tempo todos foram até a sala para a abertura dos presentes.

— Vou começar! — avisou Joana, levantando-se do sofá em direção aos embrulhos abaixo da árvore. — Hum, o que temos aqui?

Retirou um cachecol de dentro do único embrulho com seu nome. Ela correu em direção de Amélia, que estava de pé filmando tudo com seu celular. Ambas se abraçaram e mamãe demonstrou ter ficado muito feliz com seu presente. Joana sempre teve uma admiração especial por presentes feitos à mão.

— Tenho um pra você aqui! — falei, retirando o papel dobrado que havia em meu bolso.

Lhe entreguei e quanto mais ela desdobrava, mais minha ansiedade me castigava. Ela então manteve seu olhar sobre o papel por algum tempo. Seus olhos indo de um lado ao outro da página indicavam sua leitura. No fim, com os olhos cheios de lágrima, minha mãe me abraçou e não cansou de repetir inúmeras vezes que me amava. Fiquei feliz tanto quanto mamãe ficou, pois pareceu nem notar que Jonathan não havia lhe entregado nada.

Thomas então se levantou e foi até abaixo da árvore. Ele não esperava ganhar presente de todos, então se contentou com o único que ali havia com seu nome.

— Um suéter! — ele quase gritou, animado, quando retirou a peça de roupa do embrulho.

— Gostou, querido? — vovó perguntou andando em sua direção. — É uma pena que você só poderá usa-lo no inverno do ano que vem.

— Eu amei!

Mais um abraço ternoso naquela noite.

Antes que ele se sentasse novamente, levantei e lhe entreguei o papel muitas vezes dobrado.

— Fiz especialmente para você!

Thomas arqueou uma das sobrancelhas fingindo estar indignado, mas logo em seguida seu rosto demonstrou a alegria contida que sentia. Quando viu o desenho, seus olhos se encheram de vida e a lembrança do desenho que havia me feito há alguns meses logo chegou em sua mente, supus.

— Muito obrigado, Nicholas! — Ele me envolveu num delicioso e quente abraço. — Eu adorei muito! Está muito bonito.

— Claro, este garoto é você! — Eu ri sem graça, sem perceber o que eu havia dito diante todos que estavam ali. Mas não liguei. Era Natal. Thomas estava feliz e eu também.

Quando sentou e permaneci de pé, notei que agora era a minha vez de pegar um presente.

Estudei os embrulhos e vi que tinham três embalagens ali. Uma certamente de mamãe. A outra de vovó. A terceira provavelmente era a de Jonathan. Mas como ele saberia o que eu gostaria de ganhar?

Abri o primeiro presente, que se revelou ser um copo feito de barro por vovó.

— Você pode pinta-lo depois da maneira que quiser! — sugeriu.

Corri em sua direção e lhe dei um abraço. Sussurrei em seu ouvido que eu tinha amado e que jamais conseguiria fazer um copo tão lindo e perfeito quanto aquele.

Então abri o segundo. Um par de meias com estampas de um desenho animado chamado "Hora de Aventura", do qual eu havia parado de acompanhar há alguns anos.

De primeiro momento eu não sabia para quem olhar. Mas quando meus olhos se passaram por mamãe, tive a certeza de que o presente era seu.

— Suponho que você vai adorar usa-las para ir à escola ano que vem! — garantiu.

— Vou sim! — confessei, indo de encontro a um abraço gostoso.

Peguei o terceiro e último presente. Todos em volta aguardavam pacientemente com que eu abrisse. Conforme eu ia retirando o laço azul, eu buscava olhar discretamente para Jon.

Antes de retirar a peça de dentro, pude perceber que era uma camiseta branca. Quando retirei-a completamente do embrulho, notei sua estampa: Um coração de pixel com as cores do arco-íris.

Na mesma hora olhei para vovó, mas, quando nossos olhares se cruzaram, ela apontou para o garoto ao meu lado. Thomas.

— Você quem deu?

— Sim. Gostou?

Sem pensar duas vezes lhe dei um abraço forte com os olhos cheios de lágrima.

— Eu amei muito, muito. Muito.

Ele piscou para mim. Estava muito contente e com um sorriso de ponta a ponta de seu rosto. Mas não maior que o meu.

Lhe segurei a mão.

Então foi a vez de Jonathan, que se levantou e abriu o último embrulho abaixo da árvore. Uma camiseta roxa lisa.

— A minha cor favorita! — disse à Joana, que em seguida lhe deu um longo beijo.

Ainda de pé, Jonathan retirou de seu bolso alguns papeis.

— O meu presente é, na verdade, três passagens de avião.

— Eu não acredito nisso, Jonathan! — falou Joana, sem acreditar no que estava ouvindo. Era difícil concluir se ela estava animada ou zangada com o marido.

— Para onde? — perguntei curioso.

— Maranhão! Visitaremos os lençóis maranhenses em janeiro.

Jogada de mestre. Conhecer este lugar era o sonho de mamãe, desde quando havia lido um livro cujo sonho da protagonista também era este.

Joana deixou sua raiva de lado e lhe deu um abraço.

— Você sabe que eu vou ajudar a pagar depois, né?

— Nada disso! — disse vovó. — Eu também ajudei com o presente. Pare de contestar Joana.

Todos riram.

— Muito obrigado novamente pelo presente, Thomas — sussurrei em seu ouvido, ainda segurando sua mão.

— Vou pendurar seu desenho na minha parede.

Nossos rostos estavam tão próximos que, mesmo diante da minha família, não liguei em lhe dar um selinho demorado enquanto ainda sentados no sofá. Minha ótima visão periférica me mostrou que meus pais e avó viram, mas que pareceram não ligar.

Eu havia ouvido outro dia vovó e mamãe conversando na cozinha. Num certo momento da conversa, ouvi Joana perguntar sobre Thomas. Amélia deu respostas incríveis sobre o garoto. Aquela demonstração de afeto entre nós dois parecia super aceita entre as pessoas naquela sala, entretanto, talvez mamãe se preocupasse caso isso fosse feito ao lado de fora das quatros paredes da sala. A vida para um garoto gay fora de casa não é muito fácil. Antoine e Ethan me deixaram isso bem claro através de um ano inteiro.

Dei um último abraço e beijo em mamãe e vovó. Em seguida, todos foram para seus respectivos quartos. Guardei meus presentes em algumas gavetas da cômoda e Tom fez o mesmo.

Com Thomas dentro do quarto, coloquei meu pijama, sem ter vergonha de que ele visse meu corpo. Consequentemente, ele fez o mesmo. Não imagino o que ele tenha pensado ao ver minha barriga, mas, quando vi a sua, tive a certeza de que um dia gostaria de ver muito mais.

— Quer dormir comigo esta noite? — perguntei quando ambos já estávamos deitados em cada um de nossos colchões.

— Estava esperando você me pedir por isso.

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