Sentado no chão da sala, Hobi lembrava como era maravilhoso quando Jiyoon era apenas uma criança sapeca que só pensava em comer jujubas assistindo desenho com roupas estranhas. Quando o único problema que dava era quando não queria ir para a escola porque queria aproveitar a companhia do pai durante a manhã, assistindo desenhos infantis enquanto bebia um copo de achocolatado enquanto o maior bebia uma caneca de café.
Hoje em dia Jiyoon gritava por tudo.
"Sai do meu quarto, Yoon!", gritou mais uma vez enquanto Yoongi ria jogado no chão entre o corredor e seu quarto, impedindo que a garota fechasse a porta. "Eu vou fechar a porta e te partir ao meio!"
"Jura que você vai ficar brava com isso?", disse indignado tentando segurar a risada. "Foi só um pacotinho de jujubas!"
"Que era meu!", gritou novamente.
Hoseok suspirou e tombou a cabeça no estofado do sofá enquanto bebia seu café. Torcia para que a filha não chamasse por seu nome e o incluísse na briga que estava tendo no andar de cima com Yoongi.
A adolescência era uma merda.
"Você está parecendo uma criancinha chorando por causa de jujubas.", Yoongi falou e Hoseok fechou os olhos fazendo uma careta, esperando pelo surto de Jiyoon.
"Elas eram minhas! Você comeu!", a voz chorosa se fez presente e o maior se segurou para não gargalhar de seus gritos, mas falhando. "Eu estou ouvindo você rindo, appa! Qual o problema de vocês?!"
Hope apenas observava deitada no corredor com Yoon ao seu lado. Queria ir até a dona para que ela fizesse carinho em si, mas parecia brava, então não chegava perto. Estava com as orelhas baixas e a cabeça encostada no chão, um pouco assustada pelos gritos.
O gatinho se levantou, como se tivesse se cansado de assistir, e desceu as escadas para ir até onde Hoseok estava, onde parecia calmo. Chegando perto do dono, o mesmo se levantou para ir até os dois que estavam gritando, deixando o gato sozinho na sala. Yoon apenas se esticou no sofá e dormiu.
Hobi foi andando até o quarto da filha, que mais parecia um campo de guerra, e colocou uma mão no quadril enquanto a outra continuava segurando a caneca. Jiyoon o encarou e quis chorar.
"Meu amor você só tem 15 anos e está tendo esse surto todo, imagine quando tiver com uns 30.", o pai disse com a voz calma na tentativa de acalmar a garota também. "Lembre que você vai ter que aguentar essa merda até os seus 50 anos. Se continuar virando a casa de cabeça para baixo uma vez por mês durante a semana inteira por causa de um chocolate, você vai ter cabelos brancos primeiro do que eu."
"Eu quero explodir.", disse caindo no choro e os dois adultos suspiraram. "Vocês ainda me amam, né?"
"É óbvio, princesa.", Yoongi disse se levantando, mas a garota fechou a cara e cruzou os braços.
"Eu ainda estou brava com você.", disse antes de bater a porta na cara dos dois.
Hoseok e Yoongi se encararam antes de darem de ombros e saírem dali, indo para a sala.
"Daqui a pouco ela aparece na cozinha.", o mais alto disse passando a mão pela cintura do outro e o puxando até as escadas.
Quando queremos que o tempo passe mais devagar, nunca é realizado, pois ele só passa mais rápido. Assim como quando queremos que o tempo passe rápido, ele vai se arrastando. É exatamente o que acontece com todos, principalmente com Hoseok, Yoongi e Jiyoon.
Tudo que queria é que o tempo parasse por um instante e esperasse até que o moreno se adaptasse com o que estava acontecendo com sua vida. Isso incluía a vida pessoal, acadêmica e amorosa. Tudo estava passando rápido demais, quando ele só queria aproveitar enquanto estava tudo nas mil maravilhas.
Meses depois que casaram, sem cerimônia e apenas uma comemoração entre amigos, Yoongi passou a morar com Hoseok e Jiyoon, mas não vendeu sua casa antiga. A única coisa que levou consigo foi seu piano que não o abandonaria por nada. Taehyung, o mais recente veterinário, não precisou insistir para morar nela. Em seu apartamento antigo, agora tomado por Jimin e consequentemente Jungkook também, não era permitido animais. E na casa que era de seu melhor amigo pôde finalmente adotar algum animal de estimação para que não ficasse sozinho sempre. Em duas semanas tinha quatro cachorros e dois gatos que acolheu das ruas.
Yoongi hoje tinha sua própria escola de música e se orgulhava de si mesmo toda vez que lembra o que passou para conseguir sozinho o que tem hoje. Sunhee era sua sócia a pessoa que mais o ajudava ali dentro, desde sempre. Estava tão feliz que não conseguia comparar, mas seus amigos e principalmente Hoseok parecia estar mais feliz do que o mesmo.
Os três não esperavam que fosse ser tão perfeito. A experiência de estarem todos juntos 24 horas na mesma casa era a melhor coisa que já aconteceu. Jiyoon a cada dia acreditava ser a pessoa mais sortuda do mundo por ter dois pais que demonstravam a amar tanto. Se orgulhava em dizer que seus pais eram dois homens e que os amava mais do que tudo nesse universo.
Mas nenhum dos dois acharam que cuidar de Jiyoon ia ser tão difícil depois que chegasse aos 12 anos. Toda a calma que a garota tinha aos 10 tinha trocado de lugar com o seu oposto, fazendo-a se irritar com tudo, gritar por tudo e chorar também.
Hobi se sentiu o pai mais feliz do mundo quando Jiyoon apareceu na cozinha dizendo que tinha virado mocinha, mas se desesperou porque não sabia o que fazer. Yoongi quem tomou a posse de conversar sobre puberdade com a garota, pois da última vez que Hoseok tentou fazer isso não conseguiu olhar na cara da própria filha por dois dias inteiros depois de se desesperar e comparar o seu período fértil com o cio de uma cadela sem querer.
A mimou de todos os jeitos, comprando o que a garota pedia, não saindo do seu lado e sempre a dando atenção. Ficou mais babão do que já era antes, mas se arrependeu no terceiro mês quando a garota teve a primeira crise de choro porque perdeu a página do livro que estava lendo.
Antes Hoseok não queria sair de seu lado, agora tudo que queria era manter distância.
Todos o avisaram que uma filha dava muito trabalho, mas não acreditou. Via a pequena que acordava cedo nos finais de semana só para não perder um episódio de seu programa favorito e pensava que ela nunca seria alguém que o desse trabalho. Quando chegou nos 12 anos mudou de pensamento, quando o maior lhe deu seu primeiro sermão e duas semanas de castigo porque mentiu dizendo que estava na escola quando na verdade estava na casa de uma amiga. A garota não sabia mentir e ela mesma se entregou, mesmo que Hoseok já soubesse de tudo.
Mas independente de tudo que passaram, dos gritos, das brigas, dos surtos da TPM, Jiyoon continua sendo sua princesinha. Até quando crescia mais e mais conforme os anos se passavam, aprendendo mais sobre o mundo e a natureza dos seres humanos.
Hoseok estava correndo atrás de Hope e de Yoongi, enquanto ambos decidiram brincar de correr com uma de suas gravatas pela casa. O atualmente loiro dava a peça para a cachorrinha e a mandava correr, rindo quando o moreno o alcançava e via que estava de mãos vazias.
O maior parou no meio da sala e ficou de braços cruzados, pensando em como tomaria aquilo da cachorra. Conforme os anos foram passando Hope mudava a cada dia, confiando mais nas outras pessoas e principalmente em seus donos. Estava mais extrovertida e brincalhona, todo minuto procurando alguma coisa para chamar a atenção dos moradores da casa para brincar com ela. E já sabia muito bem que se pegasse algo de Hoseok, ele brincaria consigo.
Hobi olhou para trás e viu Hope com sua gravata na boca, parada em uma posição de quem iria correr a qualquer momento. Sentiu um tapa em sua bunda e riu nasalado.
"Você está ensinando nossa neta a fazer coisas erradas, baby.", disse colocando as mãos nos quadris se virando para olhar o mais velho novamente.
Yoongi deu de ombros.
"Não é como se a mãe dela não fizesse pior.", brincou. "Acreditou mesmo que fui eu quem perdeu sua meia favorita? Eu nem sabia que você tinha uma meia favorita!"
Hoseok riu e o puxou pela cintura para depositar um beijinho em seus lábios. Hope largou a gravata e correu até a porta abanando o rabo, esperando que alguém entrasse. Os dois adultos sabiam quem eram e por isso não se largaram.
Mas vendo que Jiyoon não estava com Eunjin, franziram o cenho.
A garota abriu a porta e sorriu para o moreno parado na sala. Correu com os braços abertos e Hoseok preparou-se para a pegar no colo. Jiyoon pulou e envolveu sua cintura com as pernas e os braços em seu pescoço. O mais velho a sustentou segurando suas coxas e beijou sua bochecha.
"Estava com saudades.", disse com o rosto escondido no pescoço do moreno.
"Você só ficou fora por sete horas, princesa.", disse rindo. "E você não acha que está velha demais pra pular desse jeito? Você tem 18 anos, não 6."
Jiyoon deu de ombros e desceu de seu colo. Beijou a bochecha de Yoongi e foi até a porta novamente. Nenhum dos dois homens perceberam o garoto parado encostado a porta.
Hoseok arqueou a sobrancelha.
"É... A Jinnie não pôde vim comigo porque a tia Jiwoo ligou para ela...", a garota começou. "Eu trouxe... Vocês lembram do Dongyul?"
Yoongi sabia muito bem quem era, mas tentou demonstrar que não o conhecia e assentiu fraco. Hoseok não respondeu nada.
"Acho que sim. Oi, Dongyul!", acenou para o garoto. O mesmo retribuiu o gesto com um sorriso tímido. Desviou o olhar para o moreno e sorriu para ele, quase engolindo o seco. Hoseok não parava de o encarar.
Jiyoon puxou a mão do garoto até ficar mais próximo dos dois adultos. Limpou a garganta e olhou para o mais alto, chamando sua atenção para si.
"Appa, preciso te contar uma coisa.", disse baixinho e Hoseok não demonstrou outra reação. Yoongi tentava não rir. "Eu e... Dongyul estamos... Namorando."
Yoongi sorriu largo e comemorou como se já não soubesse a verdade que a garota tentava esconder. Jiyoon sorriu grande olhando para o namorado e para o mais velho dali, mas seu sorriso foi morrendo ao ver que Hoseok não demonstrou nenhuma reação novamente. Seu olhar continuava fixo no garoto. Dongyul tentou sorrir largo, mas o homem apenas suspirou entreabrindo a boca preparando alguma frase.
"Não entendi a brincadeira."
Jiyoon revirou os olhos dramaticamente fazendo Yoongi rir e apertar a mão de Hobi. A garota abriu os braços e passou ao redor da cintura do pai, sorrindo travessa. Hoseok a encarou com uma sobrancelha arqueada.
"Não faz muito tempo, só estava me preparando para te contar.", disse baixinho. "Então o trouxe aqui para te apresentar... De novo.", deu uma risadinha. "Está tudo bem né? Appa? Por que está suando?"
Yoongi olhou para o marido e começou a gargalhar. Dongyul não sabia se ria juntou ou se continuava calado, assustado.
"Hoseok?!", o chamou ainda rindo, mas depois passou a ficar preocupado. "Ei, você está bem?"
"Acho que minha pressão caiu.", disse olhando para um ponto fixo.
Hoseok sabia mais do que qualquer um que aquele dia chegaria, mas assim como todas as vezes que se preparava para cada novidade vindo da filha, o impacto era maior que seu preparo psicológico aguentava. Minutos depois de beber quase um litro de água, Jiyoon e Yoongi conversavam animadamente tentando não deixar o ambiente tenso com a encarada de Hoseok e Dongyul mantinham um com o outro.
E embora parecesse que agora iria ter algum problema, ou que iria tirar Dongyul de sua casa aos chutes, um mês depois estava planejando com o garoto para fazerem uma surpresa pra Jiyoon. Como se fossem super amigos. O garoto tinha 20 anos, mas parecia ter menos do que isso em todos os sentidos já que perdeu as contas de quantas vezes caçou briga com a família por causa de desenhos.
Jiyoon cresceu mostrando que nunca perderia sua graça e sua educação nunca mudaria, com qualquer pessoa. Não importa a idade, sempre parecerá uma garotinha de 10 anos de idade que não sabe mentir, cumprimenta até uma árvore na rua e sempre respeita todos. Independentemente de ter reciprocidade ou não. E era aquilo que a levava a evitar beijar ou ter qualquer tipo de conversa íntima com o namorado na frente de Hoseok e Yoongi sem ninguém ter dito nada. Assim como eles fizeram e ainda faziam consigo.
Hoseok se remoía por dentro por passar na frente do quarto da filha e a porta estar fechada com os dois lá dentro. Obviamente precisavam de um tempo a sós e o mais velho respeitava aquilo, já teve a idade da garota e sabia exatamente como era aquela situação. Embora sua vontade fosse retirar a porta do lugar e queima-la para não terem que fechar mais.
Mas um dia, depois de alguns meses, não perguntou nada antes de entrar no quarto da garota e se sentar ao seu lado.
A um bom tempo Jiyoon parecia muito diferente e distante, calada e quieta. Algo que não era normal vindo da garota hiperativa e falante. Hoseok e Yoongi perceberam no primeiro momento, mas não questionaram nada. Estavam preocupados, mas nunca tinham uma oportunidade boa para perguntar o que estava havendo.
Yoongi tinha ido jantar na casa de Taehyung com o irmão e seu genro, Jimin e Jungkook. Hoseok disse que iria ficar em casa justamente porque achava que Jiyoon parecia precisar de companhia. Tirou a conclusão quando perguntou se ela iria sair com Dongyul e a garota apenas negou fraco com a cabeça e subiu as escadas até seu quarto dizendo que iria estudar porque estava com dificuldade em física. Mas Jiyoon era ótima em física.
Entrou no quarto e a viu sentada no meio da cama de casal com o livro fechado na sua frente enquanto brincava com um lápis nos dedos. Olhava para um ponto fixo no edredom com seus lábios caído e um olha expressivo. Hoseok se sentou ao seu lado e não disse nada, temendo em dizer algo que fosse a deixar pior. Jiyoon olhou para si e deu um sorrisinho tão fraco que mal foi visto.
O homem sentiu seu próprio coração apertar.
"Devo matar quem?", perguntou baixo e a garota riu nasalado negando com a cabeça. "O que aconteceu, minha princesa?"
"O que te faz pensar que eu estou triste?", tentou descontrair, rindo.
Hobi arqueou uma sobrancelha, óbvio. Apontou com o queixo para a janela e a mais nova olhou para o céu com nuvens pesadas.
"O céu ficou escuro e você quase não falou hoje. Não deve ser apenas uma coincidência.", disse e Jiyoon voltou a o encarar, suspirando. "Sabe que tudo que acontece com você me preocupa. Desde um sorriso que não se abriu até a quantidade de palavras que você não falou durante um dia inteiro. Se não quiser me falar o que aconteceu, embora eu fique querendo saber, vou te respeitar e não vou questionar. Se quiser que eu escute e diga algo a respeito, eu também vou fazer se for te deixar bem. E se quiser que eu escute sem dizer nada, sou todo ouvidos pra você. Só não quero te ver assim."
A garota apenas deixou os objetos de estudos na ponta da cama e posicionou o maior na cama de modo que ficasse com as costas na cabeceira. Pegou um travesseiro e colocou em seu colo, deitou a cabeça ali e procurou a mão de Hoseok para coloca-la sobre seu cabelo. O maior entendeu e começou um cafuné carinhoso, apenas ouvindo sua respiração. Esperando.
Minutos se passaram e Jiyoon não tinha dito nada, muito menos Hoseok. Não tinha pressa alguma, não sairia dali por nada. Sua maior prioridade era sua filha e permaneceria ali a noite inteira se puder.
Ouviu um suspiro ruidoso e se atentou.
"Eu terminei com Dongyul.", disse baixinho, brincando com o tecido da fronha do travesseiro. "Faz um tempo."
Hoseok pensou em dizer algo, mas resolveu não dizer nada. Continuou com o que fazia em seu cabelo, esperando-a.
"Eu sentia que não estávamos na mesma sintonia. Ou eu não estava.", respirou fundo e se virou para ficar de barriga para cima, encarando o pai. "O que você e a Sohyun sentiam?"
Hoseok não se incomodou com o fato da mais nova se referir a mãe daquela forma. Depois de uma certa idade Jiyoon percebeu que não tinha o porquê de chama-la de mãe se quando se encontravam pareciam mais duas amigas do que mãe e filha. Sohyun tampouco dizia algo quando a garota a chamava pelo nome. Estranhamente se sentiam melhores quando a genética não era inclusa entre elas.
Hobi suspirou.
"Vazio. Como se a nossa onda já tivesse passado a muito tempo e nós só estávamos..."
"Parados no mesmo lugar sem saber o que fazer a respeito.", completou e o maior assentiu.
"Sem saber se queríamos sair em busca de uma outra onda juntos ou se desistíssemos e fosse cada um procurar sua própria onda."
Jiyoon ficou um pouco receosa em dizer o que estava preso em sua garganta a muito tempo. Tinha medo do que seu pai poderia dizer e tinha medo também do modo como poderia dizer. Era algo que tinha guardado dentro de um baú no seu peito e prometido a si mesma que iria deixar pra lá, que era besteira e um dia talvez trataria daquilo. A proporção que o conteúdo do baú tomou a afetou de uma forma inimaginável. Um copo que encheu até a borda e transbordou.
Sabia muito bem que era sua mente tentando arrumar uma desculpa para si mesma, cobrindo a culpa que sentia perante ao término. Tudo a acertando como marteladas e ao menos sabia o que dizer primeiro.
Se deveria dizer.
Pensou em esconder e fingir que nada daquilo estava acontecendo. Que era tudo passageiro e uma coisa que com o tempo será esquecida. Cogitou em deixar tudo guardado, mas sabia que era uma má ideia. Olhou mais uma vez para o maior e o viu sorrir para si, um sorriso que sempre a iluminou e trouxe consigo, junto com a calmaria e paz, a confiança e a tranquilidade.
Hoseok era mais do que seu pai. Era seu melhor amigo e seu refúgio.
Suspirou forte procurando coragem e palavras para dizer o que queria dizer. O que deveria.
"O que eu sentia por Dongyul não era exatamente a mesma coisa que ele sentia por mim. Eu não conseguia e...", parou a frase e respirou fundo. "O que me deixa mais triste é o fato de não sentir tristeza ou coisa semelhante com o término, e sim alívio. E também porque eu acho que não fomos para frente porque o que eu deveria estar sentindo por ele não existe...", foi diminuindo o tom de voz conforme falava.
O mais velho entendeu exatamente o que a filha estava querendo dizer com aquilo e também entendeu o seu silêncio. Passou o polegar pela maçã de seu rosto e assentiu fraco.
"Quer continuar me falando?", perguntou cuidadoso.
Jiyoon realmente não sabia se queria dizer ou não. Não conseguia procurar palavras que amenize a situação e deixe-a menos tensa. Era realmente difícil para si, mas Hoseok estava ali, lhe mostrando mais uma vez que confia em si e que não a julgaria nunca.
Um assunto simples que sempre era tratado com normalidade por todos. Mas era um assunto tão delicado para si, mal tinha certeza do que estava acontecendo justamente por nunca ter parado para resolver o tal problema. Mas sabia que alguma hora teria que resolver. E talvez agora era um perfeito sinal para seguir em frente.
A mais nova respirou fundo e olhou nos olhos de Hobi.
"Eu acho que não o amo mais."
Hoseok arregalou levemente os olhos. Estava esperando que respondesse algo bem mais sério, como ter se apaixonado pelo melhor amigo dele ou algo do tipo. Teve a certeza de como Jiyoon era inocente com sentimento ao ouvir aquilo.
Estava um pouco sem palavras pelo fato de ter preparado um outro discurso em sua mente, mas o calor que seu coração era cativante. Embora estivesse preocupado com o que Jiyoon achava daquilo. Era nova, mas sabia muito bem como era aquele autoconhecimento. Apesar de ser algo completamente normal, para ela era tão sério que se sentiu mal por imaginar coisas bem mais distintas.
"Como chegou a conclusão de que nunca amou ele?", perguntou e começou a pentear seus cabelos com os dedos.
Jiyoon suspirou.
"Já faz um tempo que eu ando questionando esse meu pensamento, mas nunca concretizei nada porque talvez fosse só uma confusão. Enquanto namorava com Dongyul, deixei essa dúvida de lado, mas sempre vinha à tona quando o via ser tão bom comigo, até...", parou e pensou se continuava ou não, mas resolveu deixar pra lá.
Hoseok percebeu que não era somente aquilo que a intrigava. Talvez dizer que não sentia mais nada pelo garoto não fosse a verdadeira dúvida, mas claramente ela não queria falar sobre. O que já tinha falado já era um bom impulso para si mesma e estava feliz por vê-la compartilhando algo tão confuso consigo.
"Você fez bem em terminar com ele, meu amor. Se não sentia a mesma coisa não valia a pena continuar forçando o relacionamento. Além de te machucar, também machucaria ele por faze-lo gostar ainda mais de você a cada dia.", o moreno falou e se inclinou puxando a cabeça da mais nova para cima. Beijou sua testa demoradamente e sorriu. "Eu realmente não sei o que vai ser da proximidade de vocês dois, se vão continuar amigos ou se vão se afastar. O que eu posso te dizer é para tomar essa decisão com cuidado para não machucar vocês dois. Sei que você vai saber o que fazer, você sempre encontra saída pra tudo.", sorriu carinhoso antes de continuar. "E eu sei que ainda tem algo te corroendo, mas também sei que não está preparada para dizer, isso se for dizer. Quando sentir que chegou a hora para colocar tudo que guarda para fora, eu vou estar aqui para te ouvir sempre."
A garota suspirou forte com a fala do pai, sentindo um perto forte no peito, como se quisesse ser libertado. Sabia que se guardar para si não ia adiantar de muita coisa e desabafar com alguém ia não só deixar sua consciência limpa como também poderia ajudar com suas dúvidas. E Hoseok era a pessoa que sempre poderia confiar.
Hobi a encarou, atento.
"Não foi só por isso.", disse mesmo sabendo que o mais velho já sabia que havia mais coisa.
Suas bochechas começaram a corar, mas mesmo assim respirou fundo e procurou a voz para dizer.
"Eu realmente não sei como te dizer isso sem soar constrangedor para nós dois...", começou.
O maior suspirou, sentindo seu coração começar a acelerar já esperando pela pressão que sentirá para dar conta de mais uma de suas perguntas.
Então a mais nova voltou a falar.
"Ele meio que... Tentava me convencer a dormir com ele."
Hoseok sentiu o constrangimento dar lugar a um ódio cego, rapidamente deixando sua pele dormente.
Seus dedos pararam de fazer carinho na filha e seus olhos se arregalaram em surpresa e incredulidade. Esperava por tudo, menos aquilo. Estava totalmente puto.
"Ele te forçava a fazer sexo com ele, Jiyoon?!", perguntou endireitando a postura. Não esperou por uma resposta e continuou a falar. "Ele fez alguma coisa com você? Céus, eu juro que..."
"Não!", a mais nova se prontificou em dizer. "Na verdade, eu não sei. Ele já tentou fazer algo, mas foi o que me levou a terminar com ele. Inclusive o fato de não me entender e sempre ficar estranho comigo. Não sei se foi só o fato da falta de sentimento que me deu esse impulso ou o fato de que talvez ele não queira mais continuar comigo...", falava gesticulando.
Hobi franziu o cenho tentando acompanhar o que ela dizia.
"O que quer dizer?"
"Que eu não consigo, appa.", admitiu em um suspiro. "Eu não consigo ter relações. Com ninguém."
Segurou o choro e continuou a falar, sem conseguir olhar para o pai que lhe encarava com atenção. Atento a cada palavra que era dita.
"Eu já tentei várias vezes e definitivamente não sinto nada, vontade nenhuma. Me desculpe por estar dizendo isso para você, mas isso vem martelando minha cabeça a tanto tempo que eu precisava ouvir sua voz me dizendo que vai ficar tudo bem. Não a voz das minhas amigas dizendo que isso é falta de preparo mental e físico. Muito menos o Google afirmando que eu estou com câncer no útero.", suspirou e finalmente olhou para o mais velho.
Hoseok ouvia tudo com atenção.
"Já ouvi dizerem para mim que talvez seja a falta de afeto que não permitisse sentir nada. Talvez seja até confusão da minha parte, mas eu me imagino em um relacionamento com as pessoas, mas nunca me imagino passando de carinhos afetivos e muito menos... Fazendo outras coisas...", diminuiu o tom de voz na última fala. "Talvez seja um pouco cedo para tirar essas conclusões, mas você acha que eu possa ser assexual?"
Hoseok respirou bem fundo, mantendo-se em silêncio enquanto absorvia as palavras com cuidado. Era realmente uma bomba que não sabia por onde começar a desarmar.
Ouvi-la dizer que já tentou várias vezes o levou a sentir um ciúme chato e invasivo pensando no sentido que a mais nova quis dizer com 'eu já tentei várias vezes', mas tinha que enfiar em sua cabeça que Jiyoon estava crescendo e que aquilo era completamente normal. E que além de tudo não tinha muita moral, já que na idade dela ele fazia tudo três vezes pior.
O foco era na sua dúvida e em tudo que a mesma tinha acabado de contar, então iria focar-se somente nisso.
"Filha sinceramente, não sou eu quem tenho que responder isso, só você pode saber. Se você acha que é muito cedo, então respeite seu próprio tempo e continue se conhecendo. E não é necessário que se rotule, se não se sente confortável então deixe a questão em aberto.", sorriu. "Mas te peço uma coisa e preste muita atenção, tudo bem?", a garota assentiu. "Nunca se pressione e nem deixe que ninguém te force a nada. Nunca. Se não quiser, não faça, independentemente de a pessoa pedir, forçar ou implorar. Se não se sentir bem e não quiser, não bote a mão no fogo. Respeite a si mesma em primeiro lugar, entendeu?"
Jiyoon sorriu assentindo e se levantou para beijar a ponta do nariz de Hobi. O mesmo espelhou seu sorriso e encostou suas testas, olhando diretamente nos olhos um do outro.
"Obrigada, appa."
"Obrigado por confiar em mim para dizer o que é tão importante para você, minha vida. Eu te amo infinitamente.", beijou seu nariz.
"Eu te amo universamente.", disse rindo fraco com a pequena referência que criou. "Faz massagem no meu pezinho de novo?"
"Não."
"Então sai do meu quarto. Não fala mais comigo.", disse se levantando e tentando empurrar o maior da cama, mas Hoseok não se mexeu. Jiyoon deitou na cama e com os pés cobertos por duas meias com estampas de planetas que iam até seu joelho, tentou chutar o pai para fora da cama. O maior começou a rir e a mais nova cruzou os braços, bufando com os lábios formados em um bico malcriado. "Você come tijolos?! Por que eu não consigo nem te tirar do lugar?"
"Porque você é pequena e não consegue nem tirar seu sapato do lugar.", deu de ombros e se levantou depois de beijar a pontinha do seu nariz. "O jantar está pronto, gnomo."
"Pra sua informação, eu tenho 1.58 de altura.", brigou indignada.
Ficou em pé em cima da cama e fez um barulhinho com a boca chamando a atenção do mais velho. Abriu os braços e Hoseok revirou os olhos, indo até ela e ficando de costas para que a mais nova se pendurasse no mesmo, enlaçando as pernas em sua cintura e os braços em seu pescoço. O moreno saiu do quarto a carregando sem problema algum.
Jiyoon começou a fazer carinho em seu cabelo enquanto era carregada, mas com seus dedos emaranhados nos fios arregalou os olhos e sorriu.
"Não acredito!", disse alto e Hoseok se assustou, quase gritando pela garota ter falado alto perto de seu ouvido. "O Yoon me deve um sanduíche e um pacote de jujubas!"
"Do que você está..."
"Achei seu primeiro fio branco!", disse e o mais velho riu. "Parabéns, Jung Hoseok!"
Pararam em frente ao espelho que tinha no corredor e a garota segurou o fio rindo e sacudindo os pés no ar, ainda sendo carregada. Hoseok ria de seu surto, pois já tinha visto aquele cabelo branco antes, mas não tinha dito nada. Jiyoon escalou mais ainda suas costas até conseguir olhar em seus olhos por cima de sua cabeça.
"Appa como se sente sendo oficialmente um idoso? É para um documentário que eu e o Yoon estamos fazendo.", disse com os rostos quase colados.
Hoseok a encarou indignado.
"Por que vocês me tratam como se ele não fosse mais velho do que eu?! E eu nem sou velho, só tenho 36 anos!"
"Cuidado com a sua pressão, senhor. Se acalme.", lembrou e o moreno revirou os olhos e voltou a andar, descendo as escadas. "Para um idoso, você está ótimo.", disse apertando seus ombros, rindo quando sentiu o maior rir com seu comentário.
"Nunca deixei de estar ótimo. Pare de graça.", resmungou. "E eu não sou idoso."
"Oh, então significa que você não me ouviu? Tudo bem, vou repetir a pergunta um pouco mais alto: para um idoso, você está ótimo.", disse dando ênfase na palavra próximo de seu ouvido.
Hoseok a largou já final da escada e saiu andando, a deixando sozinha gargalhando na entrada da sala.
"Não fica bravo! Vamos jogar bingo pra você ficar feliz, tudo bem? Ou prefere xadrez?"
"Jiyoon não me faça xingar. Ou juro que te mando ir pra casa do caralho.", gritou da cozinha para que a garota ouvisse. Segundos depois rosnou bravo consigo mesmo. "Merda. Já xinguei, me desculpe. Finge que não falei nada."
Era incrível a capacidade de como Hoseok sempre conseguia a fazer esquecer de tudo que lhe deixa cabisbaixa fazendo o mínimo. Depois de ter compartilhado com ele o que lhe perturbava sentia-se tão leve. Seu pai sem dúvidas sempre será seu melhor amigo, contando principalmente com Yoongi. As duas pessoas que confiava cegamente.
Sabia que a confiança era totalmente recíproca, pois no seu aniversário de 19 anos os dois lhe deram a total liberdade de fazer o que quiser. Desde sair para qualquer lugar de sua preferência com seus amigos, até sair sozinha e fazer o que quiser, sabendo que a garota nunca faria nada que os preocupassem.
Por fim Jiyoon optou por comemorar no mesmo lugar que seu pai foi quando atingiu a maioridade, acompanhada de Hoseok e Yoongi. A família também chamou Seokjin, Taehyung, Namjoon e o casal recém noivos, Jimin e Jungkook. Todos apareceram no bar já muito conhecido. Hobi disse para a garota fazer o que quisesse sem se preocupar com nada, pois cuidaria de si. Contanto que não abusasse.
"Não sei porque está falando assim, eu nem bebo.", deu de ombros olhando para a pista lotada.
Yoongi sorriu para a mesma.
"Essa é minha bebê. Criei certo. Está vendo só, Hoseok?!"
O mais alto revirou os olhos.
"É tudo um teste. Estou vendo até onde ela vai.", disse piscando. "E mais: eu não falei pra você beber. Quis dizer que se alguém fazer alguma coisa com você, nós saímos daqui com uma viatura e eu vou algemado."
Seokjin apareceu na frente do bar onde a família se encontrava e parou ao lado de Jiyoon para abraça-la pelo ombro.
"Não acredito que você está aqui. Você cresceu tão rápido...", fingiu choro. "Seu pai é totalmente sem noção em te trazer aqui."
Jiyoon riu alto com a fala do mais velho, confusa.
"Está feliz ou indignado que eu esteja aqui?"
"Acho que estou em choque.", disse dando de ombros. "Antes era eu e Hoseok, os dois solteirões. Agora sou eu e a filha dele.", riu e a soltou para chamar o barman. "Tudo bem, qual vai ser a entrada pra o mundo mágico que é a maioridade? Você vai beber comigo hoje."
Hoseok o encarou incrédulo.
"A Jiyoon não bebe, hyung. E nem vai."
A garota revirou os olhos rindo enquanto o mais velho ria alto. Claramente estava um pouco alto, mas tinha total noção do que falava e fazia.
"Não acredito. Esse espírito dela deve estar adormecido então. Não é possível ela ser filha de um posto de gasolina e nunca ter colocado uma gota de álcool na boca."
"Toma vergonha na sua cara, Seokjin. Quase 40 anos nas costas agindo como um adolescente!", brigou e o moreno mais velho arqueou uma sobrancelha.
"Você que começou!"
Jiyoon e Yoongi riram de quando os dois homens começaram a discutir como duas crianças. A garota viu Taehyung parar ao lado dela e olhar os dois homens brigando, fazendo uma expressão de pura indignação. Seu melhor amigo deu de ombros e deu um gole na garrafa de soju que tinha em mãos.
Tae respirou fundo de um modo dramático e chamou a atenção da menina, que apenas ria.
"Posso ser sincero com você?", a menina assentiu. "Na sua idade eu já estaria melado de bêbado em comemoração ao meu aniversário."
Yoongi arqueou a sobrancelha.
"Inclusive eu tive que cuidar.", resmungou e o amigo revirou os olhos.
"Eu era independente e você cuidou porque quis!"
"Da próxima eu te deixo jogado no chão do banheiro então, mal-agradecido."
O Min olhou para Jiyoon e a puxou pelo braço para ficarem longe de Hoseok e Seokjin. Fez o mesmo com Tae e sorriu para a garota.
"Em um dia qualquer eu não diria isso para você nunca, mas vou ser totalmente sincero com você.", Jiyoon assentiu esperando ansiosa. "Você está fazendo 19 anos e já sabe muito bem o seu limite, além de já ser maior de idade. Sabe que não te privamos de nada porque sabemos que você nunca faz nada de errado, confiamos muito em você. E hoje é seu aniversário, daqui a algumas horas é o meu e hoje é um dia especial porque minha bebezinha está se tornando uma adulta. Então o que você quiser fazer vamos deixar, tudo bem?", disse e a garota assentiu. "Você tem vontade de saber como é?"
Jiyoon soltou um suspiro forte e riu.
"Sinceramente? É o que eu sempre quis fazer com vocês, mas nunca falei porque pensei que me matariam."
Taehyung abriu um sorriso largo acenando para o barman. Yoongi revirou os olhos rindo e voltou a atenção para Jiyoon.
"Provavelmente Hoseok surtaria se me ouvisse dizer que quero muito jogar tudo pro alto com você hoje, ser seu melhor amigo Yoon. Você poderia fazer o que quiser hoje. O que me diz?"
Jiyoon olhou pro Tae e para Yoongi fixamente, mordendo o lábio inferior receosa. Olhou para trás, vendo Hoseok já conversando animadamente com Seokjin como se não tivessem brigado antes.
Por fim, sorriu para Yoongi e assentiu.
"Tudo bem, vamos ser apenas os 2yoon por hoje."
"Mas com moderação.", o mais velho lembrou.
"Sempre.", a menina sorriu.
E no meio da noite, entre todas as pessoas alegres e falantes daquele bar, não tinha restrição do que poderiam fazer. Era um dia especial e não iriam estragar nada, existindo apenas um grupo de amigos. Seokjin contava piadas sem graça e ria das mesmas como se não fosse uma coisa que contava quase todos os dias. Hoseok não bebia nada, pois saberia que teria que voltar dirigindo e cuidar de todos. Jimin e Jungkook dançavam juntos e riam de qualquer coisa, mesmo estando sóbrios. Namjoon conversava com Hobi enquanto tentava manter Jin longe de álcool.
Jiyoon e Yoongi não beberam tanto assim, mas por ser a primeira vez da garota tendo essa experiência com pouca coisa já estava se sentindo tonta e reconheceu que precisava parar. Hoseok não ficou bravo, estava rindo da maneira como a mais nova estava falando gritando e o abraçando o tempo inteiro. Prometeu a si mesmo de não esquecer nenhum detalhe daquele dia. Não era uma lembrança exemplar, mas iria lhe render boas risadas futuramente.
Muito menos esquecer do calor que sentiu em seu peito em ver Yoongi e Jiyoon dançando juntos enquanto cantavam parabéns um para o outro sendo acompanhados por outras pessoas ao redor. Mesmo que não fosse um momento apropriado para pensar em como sua vida era perfeita, se sentia o homem mais sortudo do mundo. Tinha o mundo em suas mãos.
E o amor dentro de si só aumentava, a cada dia tendo a certeza de que definitivamente não precisava mais de nada na sua vida.
Lá fora caía uma tempestade que com certeza assustava qualquer um que estivesse nas ruas com guarda-chuvas ou dentro de seus carros. Os trovões eram altos e os relâmpagos fortes iluminavam não só o céu como as casas e tudo que ninguém nunca pensou um dia ver iluminado nas ruas. Mesmo caindo o mundo lá fora, Yoongi não se importava nem um pouco.
Na sala deitado no sofá lia seu livro tranquilamente enquanto ouvia Jiyoon tocando habilidosamente o piano, a melodia da canção sendo quase totalmente abafada pelos trovões. Hope dormia no pé da garota, sem se preocupar muito com o som estrondoso lá fora. Já havia vivido demais e encarado muitas tempestades, nada mais a assustava. Já não tinha mais tanta energia para correr atrás de seus donos quando estivesse assustada.
Incrivelmente a chuva não o incomodava na leitura, na verdade, o ajudava a relaxar. Ultimamente esteve muito ansioso depois de uma chamada para uma palestra sobre a música daqui a dois dias em uma universidade. Pulou, riu e chorou quando soube que sua presença era a mais esperada, mas durante dias não conseguiu dormir por preparar um discurso em sua cabeça.
Se distraiu com a garota batendo a testa nas teclas, fazendo um som estridente soar. O mais velho a encarou com o cenho franzido.
"Como consegue se concentrar com todo esse barulho?", ela perguntou virando a cabeça ainda abaixada para encarar o outro.
Yoongi deu de ombros.
"A chuva me deixa calmo.", disse voltando a olhar para o livro. "E você? Desistiu de estudar?"
Jiyoon negou com a cabeça mesmo sem ser vista, mas fazendo o som das teclas soarem.
"Só dei uma pausa mesmo para pensar um pouco. E pra passar meu sono também, porque estou virada.", suspirou. "Apesar do meu pai implicar com a minha faculdade, física não é difícil."
"Para uma futura astrônoma, não mesmo.", respondeu dando de ombros e a garota riu. "Dorme um pouco, amor."
"Se eu dormir, perco a determinação. Amanhã eu durmo.", respondeu.
Pela visão periférica viu a morena se levantar e dar a volta no sofá para puxar o assento, fazendo com que o mesmo se tornasse maior como uma cama. Sentou-se sobre as coxas do mais velho e jogou o tronco sobre si, o fazendo largar o livro para a abraçar. Jiyoon pegou sua mão e colocou sobre sua cabeça para que o mesmo fizesse carinho no local.
"Está muito nervoso?", perguntou com o rosto escondido em seu peito. Yoongi assentiu. "Sei que vai se sair bem. Você é o melhor professor do mundo e uma pessoa incrível. Quando estiver palestrando olhe para a plateia e encontrará Beethoven te aplaudindo e pedindo uma aula particular."
Yoongi riu franzindo o cenho, parando o que fazia quando sentiu um beijo ser depositado no topo de sua cabeça. Olhou para cima e encontrou Hoseok sorrindo para si com Yoon no colo.
"Oh, olá, tudo bem? Estava pensando em você. Ia te pedir em namoro hoje.", Min disse ainda acariciando o cabelo da garota.
"Eu já falei que a resposta é não.", respondeu.
"Poxa. Por quê?"
"Sou casado."
"Merda...", bufou. "Então quando tudo acabar me avisa. Vou estar esperando."
Hoseok riu.
"Vai esperar a vida inteira. Nada vai acabar."
"Meu Deus, vocês me dão nojo.", Jiyoon reclamou. Levantou a cabeça e fez uma expressão confusa para o maior. Depois riu com o comentário que fez em sua cabeça. "A cada vez que vejo você, parece mais velho. Até o gato você carrega para todos os lugares.", disse e Yoongi riu. "Como foi o xadrez?"
"Foi ótimo. E como foi a pintura no rodapé da casa?", devolveu dando as costas e a garota fez bico.
"Touché.", assoviou, mas depois fechou a cara. "Ei! Eu tenho 1.60!"
"Minha nossa, se ponham no lugar de vocês! Duas pessoas de 21 e 39 anos brigando como se fossem duas crianças.", Yoongi revirou os olhos brincando. "E por que você está com o Yoon no colo até agora?"
Hoseok voltou para a sala e o colocou na ponta do sofá. O gato se deitou e dormiu no mesmo minuto.
"Ele estava no banho comigo.", deu de ombros.
Yoongi riu e o encarou de cabeça para baixo.
"Ainda acredito na teoria de que o Yoon é um informante do FBI que está infiltrado aqui para estudar seu corpo e descobrir se eu tenho a permissão de ter um avião desses em casa.", apontou para seu corpo inteiro e tanto Jiyoon como Hoseok riram alto.
"Ou é pra garantir que não escorregue e bata a cabeça. Na sua idade pode ser bem perigoso.", Jiyoon falou forçando uma expressão triste e Yoongi jogou a cabeça para trás enquanto ria. Hoseok revirou os olhos. "Se bem que o Yoon não está numa idade boa também. Imagina que trágico se cai os dois no banheiro e ninguém levanta ninguém."
"Lembre-se que você ainda está na idade de ficar de castigo, gracinha.", resmungou semicerrando os olhos para a mais nova, que lhe mandou um beijo no ar. "Não vou fazer massagem no seu pé hoje."
Jiyoon fez bico e Hoseok riu dando a volta no sofá para se sentar no espaço livre ao seu lado. Deitou seu corpo sobre as costas da mais nova e se esticou para beijar a parte de trás de sua cabeça. Aproveitou que a mão de Yoongi ainda fazia carinho na mesma e a beijou também, com carinho e um sorrisinho pequeno nos lábios.
Por longos minutos apenas o som da chuva era presente. Yoongi já tinha se esquecido de seu livro a muito tempo, sua maior prioridade agora era se concentrar no carinho que fazia no cabelo da garota que estava deitada de bruços sobre seu corpo com a cabeça virada para o lado. Seus braços estavam ao redor do corpo abaixo do seu, o abraçando de uma forma tão confortável que não reclamava de seu peso. Hoseok estava deitado ao lado deles no sofá, com a cabeça deitada sobre as costas de Jiyoon enquanto a abraçava pela cintura. A forma como seu corpo se mexia conforme respirava calma denunciava ter caído no sono na posição que estava.
Yoongi mantinha sua cabeça encostada no braço do sofá, com os olhos fechados enquanto se agraviava com o som dos pingos grandes caindo e com os trovões fracos. Abriu os olhos brevemente e olhou para baixo encontrando o olhar de Hoseok o mirando fixamente. Seus olhos carregavam um brilho tão significativo que se tornavam palavras, uma única certeza.
A de que estava segurando seu mundo nos braços e olhando para sua maior fonte de felicidade.
Yoongi sorriu e levou a outra mão para a lateral de seu rosto, passando o polegar pela maçã saliente abaixo de seu olho.
Suspirou e permaneceu com seus olhares presos um ao outro.
"Eu te amo. Muito mesmo.", sussurrou o mais alto. "Não preciso que você responda nada, pois estou apenas falando o que passa pela minha cabeça, e a única coisa que eu consigo pensar é no que eu seria hoje se não tivesse te conhecido. Você é tudo para mim e eu te devo tantos agradecimentos por ter trazido tudo que estava faltando para hoje ser a própria forma física da felicidade. Eu nunca vou cansar de olhar para você e muito menos de dizer e demonstrar o quanto eu te amo, Yoongi. Eu te amo."
O mais velho sorriu tão grande que jurou poder rasgar suas bochechas. Era tão surreal que estava seriamente duvidando de que tudo aquilo não era apenas um sonho. Tinha medo de acordar a qualquer momento em seu quarto, sozinho e com lágrimas nos olhos depois de ter o sonho mais perfeito que já teve em toda sua vida.
Seu coração estava batendo tão rápido, expandindo a felicidade por todo canto de seu corpo. E ao notar aquilo, Jiyoon sorriu escondido.
Sorriu assim como fazia no dia atual, em sua formatura.
Hoje com 25 anos de idade Jiyoon concluía sua faculdade de Física e se sentia tão orgulhosa de si mesma que queria sair gritando para todos os lados. Desde o ensino médio foi se dedicando a física e matemática e hoje eram as matérias mais simples para si devido aos estudos puxados. E o apoio de sua família era o principal motivo de estar ali hoje, principalmente de Yoongi que sempre a ajudava a estudar. Passando madrugadas com a garota em claro, mantendo o rosto nos livros por entender mais da matéria.
Yoongi não a largava por nada. Toda vez que tinha oportunidade a abraçava e girava no ar dizendo o quanto estava orgulhoso e feliz por ela. Mesmo repetindo a mesma coisa a cada vinte minutos, Jiyoon sorria e se sentia envergonhada como se estivesse ouvindo aquilo pela primeira vez.
O salão estava cheio, formandos e seus conhecidos para todos os lugares, todos muito bem vestidos e sorridentes. E Jiyoon tinha quase certeza de que metade da cerimônia eram seus conhecidos que queria a presença.
Seokjin passou um braço pelos seus ombros e beijou o topo de sua cabeça. Em sua outra mão segurava uma taça de champanhe, o dando um ar tão charmoso que chamava atenção pela sua beleza exuberante destacada pelo terno cinza.
A cada ano que se passava, Seokjin ficava mais lindo.
Estava muito feliz por ele ter deixado sua nova clínica em Busan por hoje somente para vim passar dois dias consigo. Não só ajudou em seu discurso como também ajudou com seu vestido.
"O que pretende fazer agora, querida? Porque eu tenho uma ótima ideia pra você.", disse a encarando.
Jiyoon franziu o cenho.
"O que?"
"Aproveitar sua roupa de gala para casar comigo hoje à noite.", piscou.
A garota riu alto e assentiu.
"Talvez depois que eu tiver bêbada mais tarde.", piscou de volta. "Agradeço a ideia."
"Você está me enrolando?", fingiu indignação. "Depois de tudo que passamos juntos?!"
"Deixa de ser assim, Jin.", Jiwoo disse rindo. "Então pretende fazer Astronomia mesmo? Isso é incrível, meu bem! Juro que vou te visitar."
Jiyoon assentiu animada, batendo palminhas.
"Eu vou sentir tanta falta de todos vocês.", fez um biquinho. "Depois que eu vi que consegui uma bolsa integral, eu conversei com o Yoon. Ele também acha que é bom eu terminar meus estudos no exterior presencialmente. Inglês vai ser uma língua que eu vou precisar ter na palma da minha mão, e juntamente com o fato de não ter Astronomia por aqui eu só juntei o útil ao agradável.", sorriu largo.
"E o que Hoseok achou disso?", Seokjin perguntou.
A garota puxou o ar entre os dentes.
"Não foi uma reação que eu esperava, nem o Yoon. Ele só faltou prometer trazer a universidade até mim para não precisar sair daqui. Mas depois de duas semanas ele me deu uma mala de presente e me pediu desculpas.", sorriu lembrando do acontecido de alguns meses atrás.
"Vai ficar sozinha lá?"
"Não, com Byul e Chae. Minhas duas amigas. Elas pensaram a mesma coisa que eu, então começamos a correr atrás de um sustento e empregos por lá, desde o ano passado.", deu um sorrisinho sem mostrar os dentes. "Vou embora daqui a cinco meses."
Taehyung arregalou os olhos.
"Que rápido! Já comprou as passagens?"
"Sim. Sohyun me deu de presente de formatura.", sorriu e depois fez um biquinho. "Queria que ela tivesse vindo."
"Falando nela, onde ela está?", Jiwoo perguntou.
"Arcando com as papeladas pra tomar o emprego daquele louco do pai dela.", deu de ombros. Seokjin soltou uma gargalhada alta. Sua tia a olhou repreensiva, prendendo sua risada. "O que?! O fato de hoje ser dependente de cuidados foi uma lição por ele ter impedido a Sohyun de conseguir entrar em qualquer outra empresa por vingancinha. Infelizmente não sinto remorso nenhum. Se nem a Soso e a Haneul sentem, por que eu vou sentir?"
Seokjin negou fraco com a cabeça parando de rir e a puxou pelo ombro para beijou sua têmpora.
"Enfim, eu estou muito feliz por tudo estar dando certo, querida. Vamos sentir muito a sua falta, mas contanto que siga seu sonho você tem o apoio de todos os seres vivos existentes no planeta.", sorriu e a mais nova fez o mesmo. "Mas quero presentes."
"Interesseiro.", Taehyung revirou os olhos brincalhão.
Jiyoon riu e viu Hoseok voltar mantendo uma conversa animada com Yoongi até a mesa onde estavam. Onde os únicos sentados eram Jimin, Jungkook e Namjoon que mantinham uma conversa descontraída.
Sorriu orgulhosa mais uma vez ao ver o Costume preto que havia escolhido para os mais velhos, percebendo como havia caído tão bem neles. O cabelo pintado recentemente de preto de Yoon juntamente com a vestimenta também preta destacou tanto sua pele que teve a certeza de que o preto foi feito para si. Achava incrível como apesar de sua idade, a aparência do mais velho enganava tanto, pois seu sorriso sempre continuará doce. Hobi havia adotado seus fios brancos em seus cabelos grisalhos e não se importava nem um pouco. Seu rosto nunca mudava e seu sorriso carregava dez anos a menos em sua idade real. O óculos de armação redonda deveria o deixar com um ar mais velho, mas era totalmente o contrário, além de o deixar mais lindo e com um ar bem mais sério.
Quando voltaram Hobi sorriu beijando a testa da mais nova, entregando a taça de champanhe que prometeu ir buscar para a mesma.
Seokjin olhou para o casal e sorriu mostrando as ruguinhas quase pequenas no canto de seus olhos.
"Inferno, vocês estão atraentes demais.", comentou dando um suspiro longo. "Quando vamos sair?"
Jiyoon o encarou rindo.
"A literalmente minutos atrás você estava me pedindo em casamento!", fingiu-se estar magoada.
"Desculpa, seus pais ainda mexem comigo.", fez bico. "Mas eu te amo."
"Bem enrolado o relacionamento entre vocês quatro.", Taehyung comentou rindo. "Ji quando vamos ouvir seu discurso? Se não disser que eu sou a melhor pessoa que já apareceu na sua vida eu vou embora."
Jiyoon arqueou uma sobrancelha.
"A porta é ali atrás.", apontou e depois levantou a taça para o homem. "Toma cuidado ao voltar pra casa."
O mais velho presente riu e beijou sua cabeça.
"Esse é meu bebê."
"Eu não sou bebê de ninguém!", Jiyoon deitou a cabeça rapidamente, com um bico nos lábios. "Eu já sou uma adulta, me respeitem!"
"Você é meu bebê.", Hoseok disse arqueando uma sobrancelha. "Não é?"
Jiyoon encolheu os ombros e desmanchou o biquinho, dando lugar a um sorriso tímido mostrando as duas covinhas do lado de sua boca enquanto assentia. Amava quando seus pais a chamavam daquela forma, embora não demonstrasse muito.
Yoongi riu e negou com a cabeça.
"Contraditório a Jiyoon falar isso quando ainda usa shampoo de bebê.", Taehyung provocou e a garota o encarou com as bochechas infladas. O mais velho sorriu e piscou.
Uma garota saltitante veio na direção de Jiyoon e agarrou em seu braço, sorrindo. Seus cabelos loiros batiam na altura de seus ombros desnudos pelo vestido amarelo sem alça. Sorriu para todos educadamente e se aproximou para abraçar Hobi e Yoon, jogando seus braços por cima do ombro dos dois.
Ambos sorriram beijando a cabeça da loira ao mesmo tempo. A mesma sorriu e se afastou voltando a se agarrar ao braço da morena.
"Ji vai começar a cerimônia de apresentação!", disse com a voz alta, animada. "Vamos! Você precisa ficar do meu lado!"
"Tudo bem, Byul, calma.", Jiyoon riu. "Eu já vou indo. E qual é a intimidade com os meus pais?", cruzou os braços.
Byul deu de ombros.
"Eles me adotaram.", sacudiu os ombros como uma criança. "Vou indo. Tchauzinho! Vejo vocês em casa, pais!"
Seokjin e Tae riram de seu jeitinho extrovertido e a menina deu a língua para Jiyoon antes de sair acenando para todos presentes, se despedindo. Saiu saltitando novamente e Hoseok olhou para a filha com um sorriso.
"Sabe o que dizer, certo?", perguntou e a mais nova assentiu sorrindo. "Nervosa?"
"Nem um pouco. Yoon me falou que se eu me sentir nervosa ou constrangida é só imaginar todos pelados que passa.", disse e Yoongi riu com a expressão confusa de Seokjin.
"Eu ia ter uma crise de riso e desmaiar no meio do discurso.", Jiwoo apareceu do nada virando o restante do conteúdo da taça e olhou para a mais nova. "Você não vai precisar imaginar nada disso, meu bem. Você é perfeita em tudo e vai se sair muito bem, minha astrônoma."
Jiyoon assentiu sorrindo e beijou a bochecha da tia. Em seguida se aproximou dos pais e os abraçou apertado, sentindo o braço de cada um rodear sua cintura. Seus pés saíram do chão permanecendo apenas uma barra do vestido arrastando na superfície.
Yoongi beijou uma bochecha e Hoseok a outra.
"Vai lá e mostra a mulher foda que você é.", o mais velho disse e piscou um dos olhos para a garota, que sorriu e assentiu. "Te amamos, meu mundinho. Você é incrível."
Jiyoon ameaçou beijar sua testa, mas ao invés disso projetou a ponta da língua para fora e o lambeu fazendo uma onomatopeia incomum. Hoseok começou a rir quando a garota saiu dando uma corridinha olhando para trás lançando um beijo no ar. O mais velho mostrou o dedo do meio para a mesma disfarçadamente fingindo que estava coçando sua têmpora e a mais nova revirou os olhos.
Quando a cerimônia começou a garota fez questão de se a primeira a começar seu discurso, sem nenhuma demonstração de nervoso ou timidez. Falava ao microfone olhando o tempo inteiro para sua família, dizendo o quanto os agradecia por estar ali naquele momento e o quanto os amava. Hoseok e Yoongi a encarava na plataforma do salão como se não existisse mais ninguém ali, apenas os três. O orgulho era bem maior do que a emoção de ver uma pessoa que criaram juntos agora se formando em uma faculdade que foi seu sonho desde sempre. Estava brilhando mais do que todas as estrelas visíveis no céu ali na frente, seu sorriso trazia consigo toda paz que precisam.
A galáxia inteira parando apenas para ver um único planeta girar.
No final da noite, Jiyoon dançava o que deveria ser uma valsa com Seokjin, Taehyung e Namjoon animadamente de um modo divertido e único. Jimin e Jungkook pareciam presos em seu próprio mundo dançando juntos em um canto do salão, rindo de como os quatro estavam dançando no meio das pessoas. Jiwoo observava de longe Eunjin e sua atual namorada dançando juntas totalmente fora do ritmo, sorrindo por ver a filha tão sorridente e feliz.
Hoseok e Yoongi estavam do lado de fora do salão, em um espaço onde não tinha mais de cinco pessoas além deles ali. Era como uma varanda que ficava de frente para um jardim pequeno onde continham mesas também. O céu estava limpo e pintado pelas estrelas que destacavam a lua minguante bem visível pela vista de onde estavam. A música dentro do salão era baixa no local que se encontravam, competindo com o barulho dos grilos do jardim para saber qual som era a atração daquela noite.
O mais velho estava com os cotovelos apoiados na grade que tinha na borda da varanda olhando para o jardim. Hoseok estava atrás de si com os braços ao redor de sua cintura e o queixo apoiado em seu ombro. Vez ou outra virava o rosto apenas para beijar o pescoço do mais baixo ou apenas para lhe encarar, antes de sorrir e voltar a olhar para o céu.
Yoongi lembrou de algo e riu descontraído fazendo o outro o olhar curioso.
"Sabe quando você começa a lembrar de tudo que já aconteceu para te trazer até onde está hoje?", perguntou aéreo. Hobi assentiu e continuou o encarando fixamente. "Eu estava pensando em como estaríamos hoje se não fosse a matrícula da Jiyoon na aula de piano. É tão distinto que chega a ser engraçado como uma simples atitude pode transformar a vida de qualquer pessoa. Como comprar uma maçã vermelha ao invés de um pêssego, escolher um piano ao invés de um violão, ou tomar café ao invés de chá.", riu fraco.
Virou o corpo para ficar de frente para o mais novo, ainda encostado a grade. O puxou para que se aproximasse mais de si e o abraçou pela cintura, deixando a cabeça apoiada em seu ombro. Respirando seu cheiro como se ali estivesse armazenado todo o oxigênio que precisaria para viver. O outro beijou o topo de sua cabeça e segurou seu queixo para ter seus olhos vidrados nos seus. Yoongi suspirou.
"Hoseok quando eu tento imaginar minha vida sem vocês, é como se estivesse com os olhos fechados. Não vejo absolutamente nada, apenas um breu escuro e vazio. Hoje em dia eu vejo que até o dia que te vi pela primeira vez eu andei vivendo com meus olhos fechados por todo aquele tempo e você os abriu. Jiyoon sempre esteve certa em nos nomear como a Lua e o Sol. Sem você eu sou só uma pedra escura e sem brilho algum, mas com a sua luz eu me sinto vivo, eu existo.", respirou fundo e mergulhou seus dedos em seu cabelo, arrastando por seu rosto até parar com a palma por sua bochecha. Hoseok empurrou o rosto contra sua mão e fechou os olhos. "Você definitivamente sempre foi o amor da minha vida, mesmo tomando café sem açúcar."
O maior riu e puxou seu queixo até que conseguir juntar seus lábios em um selinho demorado.
"Eu te amo, baby.", sussurrou com as bocas encostadas. "Mas da próxima vez que tentar colocar adoçante no meu café de novo as coisas vão desandar."
"Eu já disse que foi sem querer!", disse manhoso, batendo o pé no chão. "Eu já aceitei que seu único defeito é beber café sem açúcar."
"Divórcio.", resmungou.
Yoongi riu e lhe mostrou a língua. Hobi a mordiscou e deu outro selinho.
Sentiram alguém se aproximando e olharam para o lado vendo Jiyoon se aproximar com seus sapatos de salto alto na mão. O vestido azul escuro agora estava arrastando pelo chão, denunciando a diferença de altura quando estava com os sapatos e o quanto aquele vestido ficava grande em si. Sua altura e seu rosto angelical não era fiel a sua idade, a pureza em seus olhos eram a mesma de quando era criança. Definitivamente não havia mudado nada.
Hoseok sorriu quando jogou seus sapatos no chão e se encaixou no abraço entre os dois mais velhos.
"Era para eu ter vindo com as minhas Balenciagas.", suspirou e Yoongi fez uma careta.
"Aquela coisa é horrível, Yoon."
"Olha a boca antes de falar delas.", Hoseok alertou e o mais velho revirou os olhos.
Jiyoon levantou a cabeça para olhar pro céu e soltou um suspiro longo. A posição em que estavam o Yoongi estava olhando diretamente para o rosto da garota enquanto Hoseok olhava os dois. Aos poucos o local ia esvaziando e as luzes se apagando aos poucos conforme todos iam embora. As únicas pessoas daquela varanda eram apenas a família, que permaneciam da mesma forma. Abraçados de uma forma desengonçada e única.
"Pensar que em algum tempo eu não vou mais sentir esses abraços todos os dias me entristece de tantas formas.", a garota sussurrou como se fosse um segredo e ninguém além deles poderiam ouvir. "Posso levar os dois na mala até Nova Iorque?"
"Não, porque não vai caber nós junto com suas roupas e seus livros.", Yoongi deu de ombros e a garota riu. "A menos que você leve no bolso."
Jiyoon colocou os dois dedos abaixo do queixo, como costumava fazer desde quando era criança. Olhou para os dois adultos e depois para o próprio bolso.
"Meu bolso é muito sujo. Vou guardar no coração mesmo.", disse com um sorrisinho pequeno. Apontou para a lua e sorriu mais. "Meu coração vai ser como um armazenamento. E toda hora nos junta de forma espiritual e física quando olhamos para o nosso mundo lá em cima, como eu disse antes.", a voz era baixinha, como se fosse o segredo mais secreto do mundo. Yoongi sorriu vendo como a menor não havia mudado em nada desde quando a conheceu. Jiyoon mostrou seu próprio pulso onde carregava sua pulseira antiga com seus pingentes ainda brilhantes. Os dois mais velhos fizeram o mesmo. "Não importa se vamos estar separados ou não, se olharmos para o céu vai ser como se estivéssemos todos juntos vivendo naturalmente. E enquanto o universo não deixar de existir, todo nosso amor vai continuar crescendo a cada dia que passar. Vocês são os melhores pais do mundo e eu amo muito os dois."
Hoseok sorriu e segurou seu rosto com as duas mãos. Beijou sua testa demoradamente, depois seu nariz, bochechas, olhos e logo estava espalhando beijinhos por todo seu rosto. Yoongi riu com a risada de Jiyoon e a apertou em seus braços para também beijar sua cabeça.
E permaneceram juntos por horas, sendo banhados pela luz da lua e prometendo que nunca deixariam de se ver. Seja pela tela do celular ou pelo eclipse de seus corações interligados.
Um fenômeno que será infinito.
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fodase to muito triste kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
primeiramente eu quero agradecer a cada um que acompanhou até o final e apoiou até aqui, porque eu não esperava mais de mil visualizações nessa história. postei porque precisava tirar as ideias da cabeça e postar em algum lugar e hoje tem mais de 100 mil visualizações cara!!!!!!! eu realmente espero que tenham gostado da história, dei o meu melhor e sou eternamente grata pelo carinho que ela recebeu. vocês são incríveis e eu amo vocês vei :(((
em breve voltarei com outra long pra vocês, ok?? obrigada de novo e comentem o que acharam. estou no twitter, se quiserem me dar bicuda meu user é @sopecandle. até uma próxima ♥♥♥