Desencantados - COMPLETO ATÉ...

De Carlie_Ferrer

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Nota da autora
Capítulo 01 - Elise
Bernardo
Capítulo 02 - Elise
Bernardo
Capítulo 03 - Elise
Bernardo
Capítulo 04 - Elise

Bernardo

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De Carlie_Ferrer

 Será que ela estava na casa? Eu já tinha dado voltas em milhares de corredores diferentes, entrado em vários cômodos e nem sinal da filha do Rato, mas ela tinha que estar ali. Pelo menos era o que o Gordon pensava. Ele investigou a informação da morte da tal Elise, e como eu desconfiei, era infundada. Não havia lápide com o nome dela, e não havia nenhuma certidão de óbito. De acordo com o cartório do reino, Elise Barsel continuava viva. Ela não havia sido enviada para nenhum outro país, ele investigou, então estava no reino. A ideia de que Bárbara tivesse um cúmplice, ou alguém que aceitasse esconder a menina para ela era quase absurda, eu sabia como os camponeses gostavam de ser corretos, caretas, eles não fariam isso. A melhor forma de ela esconder a enteada sem que ninguém desconfiasse de nada, era prendendo-a em sua própria casa. Ela poderia alegar que a menina não gostava de sair de casa, que ela estava depressiva pela morte do pai, ou qualquer coisa assim. Então ela só podia estar ali. Mas eu já estava dando voltas a horas, e nem sinal de uma prisioneira.

Voltei para cima, passei pelo quarto de Bárbara e entrei no segundo quarto. Uma Carmine adormecida roncava como um porco e rapidamente saí do aposento. Entrei no terceiro quarto, a cama estava vazia, podia ser ali. Dei dois passos para dentro sem fazer nenhum barulho e algo pulou em cima de mim. Me assustei num primeiro momento, mas logo mãos femininas tocavam meu corpo e lábios beijaram meu pescoço. Aturdido pelo ataque, ascendi a luz e me deparei com Clarisse. Ela vestia uma camisola de seda, seu cabelo quase branco estava ralo sobre o ombro, diferente do cabelo volumoso dos jantares, e ela sorria maliciosamente. Interessante! Ela veio para cima de mim de novo e tive que me esquivar.

— Não precisa fugir, Alteza, sei que me deseja. Não pode estar realmente interessado na mamãe, ela é velha. Não sou santa, aceito ser sua amante.

Tive que conter a risada, eu estava em uma disputa de mãe e filha e poderia me divertir muito, na hora certa. No momento não podia fazer nada que despertasse a desconfiança de Bárbara e perder as terras, então, pacientemente afastei Clarisse. Ela continuou me atacando como uma louca e não tive outra saída a não ser atirá-la na cama com toda força que pude.

— Chega, Clarisse! Estou com sua mãe!

Ela pareceu em choque e começou a chorar, era só o que me faltava! A ouvi falando pelo nariz:

— O que ela tem que eu não teeeeeeenho, ela já está veeeeeelha, eu sou mais nooooova, você pode me ter por mais teeeeeempo.

Não aguentei mais sua ladainha e saí dali, não sabia o que fazer quando uma mulher chorava e Clarisse me fez perder tempo. Mas já era o bastante por uma noite, era melhor que fosse logo embora e poderia dormir um pouco antes de amanhecer. Com uma vela na mão, desci cuidadosamente as escadas, e ia saindo, quando reparei em um sapato deixado para trás. Era uma sandália velha de couro marrom, estava rasgada e desgastada. Devia pertencer a garota, mas por que estaria ali? Ela a estava usando quando nos encontramos? Me aproximei da sandália e avistei os três corredores, eu já tinha percorrido todos, certo? Ou será que não? Havia ido no da direita? Ou no da esquerda? Soltei um xingamento e segui pelo da esquerda, desci dois lances de escada e parei diante de uma porta estreita. Não devia ser nada. Dei a volta para ir embora, quando ouvi um barulho. Aproximei-me novamente e ouvi de novo, um palavrão. Eu devia estar ficando louco ou a porta estava ralhando comigo. Pisquei os olhos, eu devia estar com sono. Mas nessa hora o palavrão foi praticamente gritado e ouvi o barulho de algo acertando o chão. Abri a porta e me deparei com mais um lance de escadas para baixo. Eu não havia estado ali. Desci as escadas sem fazer barulho, mas não ouvi mais nada. Iluminei com a vela, era um velho porão, não havia nada ali.

Quando ia saindo, ouvi um barulho, e alguém chamou.

— Oi, tem alguém aí?

Segui o som da voz e me deparei com uma porta de aço na cor cinza, feito uma porta de cela, com um pequeno quadrado no meio por onde os presos recebem o alimento. Ela não tinha cadeado, mas uma tranca que era passada por fora. Abri a tranca esperando encontrar a jovem Elise desamparada e assustada, ela se jogaria em meus braços e eu seria seu herói. Então me casaria com ela, encontraria o tesouro e sumiria dali. Mas, assim que abri a porta, avistei a garota, a criada, chorando. Ela arregalou os olhos e pareceu desapontada.

— Você é o milagre? — pareceu resmungar.

— O quê?

Ela deu de ombros e ia passando por mim, quando a segurei.

— O que fazia presa aqui?

— O que você acha? A bruxa da sua amante me trancou.

— Ela não faria uma coisa dessa!

Cada vez ficava mais difícil aturar aquela mulher insuportável e cruel. Trancar uma pessoa em um porão? Eu nem queria imaginar qual havia sido o destino da pobre Elise.

— Tem razão, ela não faria isso. Eu me tranquei aqui por diversão. Mais plausível agora?

Ela estava brava, assustada e linda. Como era linda! Se não fosse uma criada, se fosse uma herdeira e tivesse acesso a vestidos caros e arrumadeiras, seria um perigo. Ela se soltou da minha mão antes que eu dissesse qualquer coisa e deu um passo para trás.

— Pode me dar licença?

Eu podia, mas ao invés disso decidi provocá-la.

— Você não vai me agradecer?

— Como?

— Você disse que a Bárbara a trancou aqui. Claramente serei eu a libertá-la. Acho que eu mereço um agradecimento.

Sua boca estava levemente aberta, como se estivesse surpresa, secou as lágrimas com uma mão e ao invés de agradecer, ficou apenas me encarando. Como se esperasse que eu saísse da porta para ela passar. Cruzei os braços, encostei-me ao batente da porta e esperei. Quando percebeu que eu estava falando sério, gaguejou. Foi nítido seu esforço, ela tentou me pedir desculpas, tentou mesmo, mas era orgulhosa demais, por fim me mandou ir para um lugar nada bonito e me empurrou para sair dali. Não consegui conter a gargalhada, ninguém me divertia como ela. Ela era forte, não me imploraria misericórdia nem se sua vida dependesse disso. Oras, ela estava disposta a ir para a forca, mas jogou uma caneca de sopa na minha cabeça e mesmo depois de saber quem eu era, ainda me acertou as bolas e mordeu minha mão. Nossos encontros de certo eram catastróficos, eu geralmente acabava ferido física e moralmente, ainda assim eu adorava estar com ela. Havia algo nela, além da beleza, que me prendia, me fazia querer irritá-la e querer agarrá-la. Com todo esse fogo, eu só podia imaginar como seria um beijo dela. E essa ideia se fixou em minha mente como nenhuma ideia já havia feito. Encarei seus lábios e não deixei que ela passasse, por fim ela desistiu e se afastou.

— Pretende ficar aí a noite toda? — perguntou irritada.

Neguei com a cabeça e continuei encarando seus lábios.

— Então? — ela estava impaciente.

— Estou esperando meu agradecimento. Você não precisa dizer, se é tão orgulhosa. Pode me agradecer de outra forma.

— Que seria...

Fixei meus olhos em seus lábios e umedeci os meus. Ela entendeu a deixa, porque ficou ainda mais irritada. Pela luz da lua que entrava através de uma janela com grade, eu podia ver claramente sua expressão assassina. Ela ia me matar, partiu para cima de mim imediatamente.

— Ora, seu pervertido, imbecil!

A contive antes que me acertasse e virei os braços dela para trás, prendendo-os nas costas, então dei um passo empurrando seu corpo com o meu, colando-os de uma maneira tentadora. Um grande estrondo aconteceu então junto com um grito de sua linda boca.

— A porta, seu imbecil!

Mas já era tarde, a porta bateu. A soltei atordoado e tentei abri-la, apenas para confirmar que estávamos presos. E a porta só abria pelo lado de fora. Eu podia sentir a raiva dela vindo até mim. Olhei para ela com toda calma possível, temendo pela primeira vez em vinte e três anos pela minha vida.

— É, acho que no final das contas eu nem vou merecer o agradecimento. Pelo visto não serei eu a salvá-la de sua prisão.

Seus olhos me fuzilavam, esperei que partisse para cima de mim de novo e me acertasse as bolas, dessa vez de maneira irreparável, mas ela permaneceu parada, estranhamente parada, seus ombros deram uma sacudida e ela começou a chorar. Ela chorava e se lamentava e eu não sabia o que fazer. Odiava mulheres chorando perto de mim, nunca sabia o que fazer. Aproximei-me cauteloso e tentei segurá-la pelos ombros, mas ela se debatia, então não tive outra saída, a puxei para o meu peito e apertei o mais forte possível seus braços, prendendo-a a mim.

— O que houve? Por que está chorando?

Tentei não me concentrar tanto em seu corpo quente encostado ao meu e mais nas palavras confusas que ela repetia sobre sua vida.

— Não acredito que você se trancou aqui comigo.

— Não precisa se preocupar, na certa pela manhã alguém virá nos resgatar.

— Eu sei — concordou ainda aos prantos.

— Então qual é o problema?

Afrouxei o aperto por cinco segundos para secar suas lágrimas que molhavam minha blusa e ela me empurrou afastando-se. Imediatamente senti falta do calor de seu corpo mais perto.

— Ela vai me matar. Quando me vir sozinha aqui com você, vai me matar!

Ela estava com medo de Bárbara.

— Isso não vai acontecer. Eu explicarei tudo a ela.

Ela parou de chorar e me encarou:

— Mesmo? E o que vai dizer que estava fazendo a essa hora da madrugada no porão da casa quando milagrosamente me encontrou?

Gaguejei e não encontrei uma resposta adequada. Embora mentir fosse meu hobby, ela estava certa, eu não saberia explicar isso.

— Foi o que pensei — ela disse. — Não sei o que estava fazendo aqui, mas sua única explicação plausível será que veio atrás de mim. E como ficamos presos aqui, ela vai achar que alguma coisa aconteceu. E então, vai me jogar no poço.

— Daremos um jeito. Esse poço existe mesmo?

Ela assentiu.

— E ela já jogou alguém lá?

Ela me encarou com tristeza no olhar.

— Não queira saber.

Senti um calafrio percorrer meu corpo. Elise. Não podia ser isso. Aproximei-me dela e a arrastei até o chão ao meu lado, segurei bem suas mãos, olhando em seus olhos.

— Eu vou te explicar o que procurava aqui. Eu não estou de verdade interessado na Bárbara.

Ela arregalou os olhos.

— Estou aqui para descobrir o paradeiro de uma pessoa. Elise Barsel, você a conhece?

Ela arregalou ainda mais os olhos e ficou um tempo calada. Ela sabia de alguma coisa.

— O que quer com Elise? — perguntou finalmente.

— Protegê-la. Quero tirá-la daqui.

Ela parecia desconfiada.

— Por qual motivo?

— Conheci o pai dela, em nossa última conversa ele estava bastante preocupado com a filha. Prometi para ele cuidar dela e quero cumprir, mas Bárbara me disse que a menina está morta.

Ela arquejou e levantou-se, afastando-se de mim. Contudo pude perceber o movimento negativo que fez com a cabeça. Ótimo, Elise estava viva.

— O que sabe sobre ela? Preciso que me conte para salvá-la — insisti.

Ela ficou dando voltas. Esperei, deixei que pensasse, garanti que nada de mal aconteceria a ela por me contar. Depois de um tempo interminável, ela finalmente disse:

— Ela não está morta.

Respirei aliviado.

— Mas não vou te dizer onde ela está.

Minha expressão deve tê-la assustado, porque ela tratou logo de explicar.

— Não acredito que tenha vindo até aqui, se deitado com a Bárbara e vasculhado a casa durante a madrugada apenas para salvar Elise. Você quer alguma coisa em troca.

— Eu tenho tudo, o que mais poderia querer?

— Ninguém tem tudo. Eu não sei o que é, mas você quer alguma coisa.

Quase me peguei sorrindo por sua esperteza, enganá-la não seria fácil assim. Não havia outra saída, eu precisava seduzi-la. Aproximei-me devagar e ela deu um passo para trás, dei outro passo em sua direção, decidido, e ela continuou andando para trás até encostar-se a parede. Então, calmamente para não a assustar, apoiei um braço em cada lado da sua cabeça, prendendo-a aqui.

— Eu prometo que quero ajudá-la — disse com a voz rouca, baixinha, quase sussurrada. — Qual o seu nome?

Ela pareceu se assustar com minha pergunta.

— Não importa. Pode me chamar de criada, como tem feito.

Assenti.

— Vou te chamar de garota, então. Ouça, garota, eu conheci Arthur Barsel, fiz uma promessa a ele e pretendo cumprir. Você pode me ajudar e ser recompensada por isso.

Joguei aquele meu olhar para ela, mas ela continuava assustada.

— Você não entende — disse temerosa.

— O quê? Você pode me contar, linda, o que não entendo?

De repente ela levou as mãos aos olhos e voltou a chorar.

— Ela vai me matar. Tanto faz dizer onde está a Elise ou não, não serei recompensada porque ela vai me pegar antes e me jogar no poço! E eu nunca mais verei você e nem o Romeu, nem Tempestade e nem ninguém.

— Acalme-se. Ela não vai matar você. Fique calma!

Eu tentava contê-la, mas ela não parava de chorar, mais uma vez não tive saída, a puxei de novo para meus braços, tirando suas mãos do rosto, deixando nossos rostos próximos demais e a beijei. Na hora em que meus lábios tocaram os dela, ela parou de chorar e ficou imóvel. Eu insisti, passei a língua por seus lábios e ela entreabriu a boca um pouco, o suficiente para minha língua penetrar sua boca e logo ela correspondia meu beijo com voracidade.

Como eu imaginava, só que mil vezes melhor, o beijo dela era paixão pura, quente, profundo, quanto mais perto dela eu estava, mais perto queria estar, toquei a lateral de seu corpo e ela se encostou mais ainda em mim. Quando tirei os braços de sua cintura para acariciá-la, ela se afastou e num acesso começou a gritar e a limpar a boca.

— Eca! Eca! Que nojo!

— O que foi agora? — perguntei ofendido.

— Você a beijou! Você beijou a bruxa e me beijou depois. E se eu pegar uma doença?

— Não seja boba. Parece uma criança agindo assim.

Tentei aproximar-me dela mais uma vez, queria beijá-la de novo, queria desesperadamente beijá-la a noite toda, mas ela se afastou.

— Não toque em mim! Não volte a tocar em mim.

Era uma batalha perdida. Ela se sentou o mais longe possível de mim e tive que me contentar em sentar em um canto e ficar observando-a até o sol nascer.

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