POV Sam
Eram só três dias longe, mas eu estava com saudades dela. Aproveitaria o tempo para colocar alguns trabalhos em dia e também tentar encontrar alguma solução, por isso, a primeira coisa que fiz foi entrar em contato com alguns amigos que talvez pudessem me dar uma luz.
Abri a agenda e vi vários compromissos que minha agente havia agendado, mas um deles me chamou muito a atenção: uma reunião na sede da produtora, com o diretor geral, sozinho.
Peguei o telefone para checar com ela:
- Marina, essa reunião aqui, sabe do que se trata? É algo sobre a série? - Perguntei sem entender o motivo de uma reunião dessas em pleno sábado.
- Não sei o teor Sam, mas acredito que seja algo que você não possa negociar.
...
Não tinha um bom pressentimento quando entrei na sala e encontrei o diretor sozinho me esperando. Apesar de toda sua simpatia, eu sabia exatamente porque eu estava ali.
- Sente-se! Ele pediu educadamente. - Sei que está cheio de compromissos, prometo ser direto e não demorar, tenho um voo daqui a pouco também.
Após cumprimentá-lo sentei do outro lado da mesa, assentimento que ele podia começar a falar.
- A reunião passada que tivemos não me surpreendeu. O relacionamento entre você e Caitriona já era nítido não só para o público, mas para nós também. A química que vocês têm é palpável e claro, nós temos nosso departamento que vê as entrevistas e tudo o que acontece fora das telas. - Ele fez uma pausa para ter certeza de que eu estava realmente prestando atenção e continuou.
- Pois bem, eu sei que não reagiram bem à nossa negativa, não é a primeira vez que lidamos com isso e sabemos que não será a última. Mas algo no caso de vocês, particularmente me chamou a atenção, foi diferente dos casos anteriores. Eu sei que não desistirão e estou aqui para te falar algo que não costumo falar para todos, mas você falou uma coisa em uma entrevista que ficou martelando em minha mente.
- E o que seria? - Era primeira coisa que eu conseguia dizer depois que ele começou seu discurso.
- Você disse que faria qualquer coisa por ela, e se faria mesmo, eu digo a você que o melhor a ser feito é se afastar dela enquanto o show estiver no ar.
- Desculpe, mas não gostaria de discutir o futuro do meu relacionamento com você. - Eu estava tão desconcertado que não conseguia pensar direito, mas não consegui me levantar e fiquei ali, ouvindo as muitas razões profissionais pelas quais eu deveria me afastar de Caitriona.
Eu não queria concordar, mas ele estava certo. Fazia muito sentido, tudo fazia muito sentido se a gente olhasse do ponto de vista profissional e do show business.
Se eu realmente fosse capaz de fazer qualquer coisa por ela, eu teria que ser capaz de deixá-la para não prejudicar sua carreira. Eu a amava tanto e entendia e sabia e conhecia todo o caminho que ela percorreu para chegar ali, não seria justo eu estragar tudo, não agora.
Saí do escritório atordoado, sem saber o que fazer, mas tinha uma pessoa que poderia me ajudar, me dar uma luz sobre o assunto. Pedi para minha agente reformular minha agenda, eu precisava encontrar alguém.
...
Parado na soleira da porta, após tocar a campainha, Ana, uma das diretoras da série, a que havia dirigido o episódio do casamento, se espantou ao me ver do outro lado, mas no fundo, ela sabia porque eu estava ali.
- Sam! Tá tudo bem? - Ana perguntou abrindo a porta e me convidando para entrar e sentar em seu sofá.
- Sim, quer dizer, mais ou menos. Desculpa vir sem avisar. - Falei tentando me desculpar, porque estava começando a me dar conta do que eu eu estava prestes a fazer.
- De certa forma, eu esperava uma visita dessas, mas para ser sincera, achei que seria Caitriona quem me procuraria. - Ela disse com um olhar terno indicando que estaria ali pronta para me ouvir, conversar e tirar todas as minhas dúvidas.
Na hora que se seguiu Ana me ouviu, sentiu minha tristeza, sanou minhas dúvidas e me contou tudo o que sabia e todas as histórias que havia acompanhado de atores que se apaixonaram durante um trabalho.
O saldo final não era animador:
- Esconder é desgastante, assumir é arriscado, desistir é dolorido. Sinto não ter uma resposta pronta para te dar. Contei tudo a você. Os pontos positivos e negativos de cada decisão. - Ela fez uma pausa pegou minha mão, antes de prosseguir. - Eu sei o quanto você a ama e também sei o quanto ela ama você, assim como a importância de suas carreiras em suas vidas. E sei que encontrarão um caminho. Mas..
- Mas?
- O diretor não deixa de ter razão, se quiser proteger Caitriona de muita coisa, e estou dizendo de muita coisa mesmo, deem um tempo, pelo menos até o show acabar. Abrir mão de algo que amamos para protegê-lo, é uma das maiores provas de amor que podemos dar a alguém!
...
Eu não sei como cheguei em meu apartamento. Eu estava dilacerado. Sentia que estava encurralado e só havia uma única coisa a ser feita.
Resolvi não falar nada com Caitriona por telefone, ela chegaria logo e conversaríamos. No outro dia, eu tinha um jantar marcado com alguns executivos para novos trabalhos e precisava ir.
Quando cheguei no restaurante marcado junto com minha agente, um circo já estava montado. Fotógrafos, repórteres e uma moça loira que tive a leve sensação de estar ali me esperando.
E não era sensação, fomos rapidamente apresentados e várias fotos desse momento foram tiradas, assim como fotos do nosso jantar e perguntas, que eu não sabia bem como responder, foram feitas e respondidas de forma padrão pela minha agente, que pelo visto também foi pega de surpresa.
- São apenas conversas iniciais sobre novos projetos! Em breve, assim que tiver tudo acertado, anunciaremos os novos trabalhos. - Ela respondia educadamente.
- E quem é a loira Sam Heughan? Sua namorada? - Perguntou algum dos repórteres quando eu já estava entrando no local.
Não respondi! Eu também não sabia quem ela era, mas no dia seguinte quando vi nossa foto juntos em todos os lugares, já sabia quem ela viria a ser: minha suposta namorada.
Então era assim que as coisas iriam funcionar, era assim que se separava um personagem de um ator.
POV Cait
Assim que cheguei no aeroporto de Dublin, mandei uma mensagem para Sam que respondeu que estaria me esperando no aeroporto, em nosso local de sempre. Nos dias que fiquei com minha família, percebi que era com Sam que eu queria ficar, e assim como muitas outras dificuldades na minha vida, essa era outra que eu enfrentaria de cabeça erguida.
Apesar da viagem ter sido tranquila, levei um susto quando entrei no carro e olhei para Sam, sabia que alguma coisa tinha acontecido.
- O que aconteceu? - Perguntei oferecendo meu abraço.
- Nada! - Ele respondeu, mas tive a sensação de que algumas lágrimas queriam brotar de seus olhos. - Vamos pra casa? Precisamos conversar.
Seguimos o caminho praticamente em silêncio até chegarmos ao meu apartamento. Entramos, arrumei as coisas e encontrei Sam com um copo de whisky sentado no meu sofá fitando o nada em sua frente.
Cheguei por trás, dei um abraço nele e um beijo no pescoço.
- Eu estava com saudades sabia? - Disse ainda ali agarrada a ele.
- Eu também estava, mas senta aqui, acho que precisamos ter uma conversa. - Ele disse batendo com uma das mãos ao seu lado no sofá.
Bebi um gole de seu copo e esperei até que ele começasse.
- Acho que você tinha razão aquele dia no café! Tem muita coisa em jogo, as coisas não são tão simples, talvez fosse melhor a gente dar um tempo até a poeira abaixar. - Ele dizia sem olhar pra mim.
Abaixei na sua frente para que ele não tivesse como desviar o olhar do meu.
- Sam, eu não fugi, eu só precisava pensar. Fui ver minha família e meu pai me lembrou que já enfrentei situações bem mais complicadas sempre de cabeça erguida e prezando pela verdade e não teria porque ser diferente agora. Você parecia tão certo que daríamos um jeito, o que aconteceu enquanto estive fora? - Perguntei ainda sustentando meu olhar no dele que teimosamente insistia em desviar.
- Não aconteceu nada Cait, só não quero te prejudicar, não quero que a gente coloque nossas carreiras em risco.
Aquelas palavras soaram tão estranhas aos meus ouvidos. Ele se aproximou, tentou me dar um abraço, mas recusei, precisava antes de tudo entender o que estava acontecendo ali. Ele abaixou a cabeça, colocou o copo no balcão e disse que precisava ir embora.
Tudo estava estranho, Sam estava estranho.
- Sam! - Chamei ele antes que saísse. - Então tudo foi uma mentira?
De repente ele voltou rapidamente pra mim e olhou nos meus olhos. Percebi que estava transtornado, mordia os lábios e os olhos estavam vermelhos. Segurou meu braço e falou:
- Uma mentira? Você acha que eu não te amo? Acha que menti e fingi esse tempo todo?
- Não encontro outra explicação para esse seu comportamento. - Eu já não sabia mais o que sentia naquele momento.
- Por Deus Caitriona, você não sente? Você não sente quando a gente faz amor? Não consegue perceber o tamanho do sentimento que tenho aqui dentro. E é tão grande que às vezes é difícil carregar, fazer escolhas, protegê-lo. Eu amo você! Faria qualquer coisa por você, você sabe disso.
- Não parece Sam, não parece que faria. Não parece estar falando a verdade. Sabe o quanto eu odeio mentiras. E se estiver mentindo agora, como acho que está, não sei se conseguiria te perdoar.
Ele se virou novamente para a porta.
- Eu preciso ir embora!
- Para não continuar mentindo mais? - Eu disse com raiva!
Tirei o colar que ele havia me dado e coloquei em cima da mesa, o que fez Sam me olhar com uma tristeza muito grande, no rosto, as lágrimas já rolavam soltas, assim como no meu.
- Eu amo você Cait! Espero que um dia você enxergue isso! - E então virou as costas e foi embora.