Eu tinha um amigo
Que vivia sempre sorrindo
Era jovem e dos outros distinto
Para ele o mundo era lindo
Não que sua vida fosse
Livre dos mais variados problemas
Mas eu não havia compreendido ainda
O que ele queria dizer com seu lema
Quando acontecia-lhe algo
Não muito agradável
Pegava de seu bolso uma garrafa
Com um líquido questionável
E se alguém lhe perguntasse
"O que você está bebendo?"
Ele de pronto respondia
"É veneno amigo, é veneno"
Tal verso me confundia
Talvez até me preocupasse
Mas o líquido o fazia sorrir
Diante de qualquer impasse
Quando estava prestes
A chorar diante de uma intempérie
Pegava seu cantil, bebia e ria
Enquanto seu refrão repetia
Não tinha motivo para falar
Ninguém havia lhe perguntando
Mas ele continuava rindo e dizendo
"É veneno amigo, é veneno"
Hoje entendo tudo
Finalmente compreendo seu lema
Que repetia não para os outros
Mas para si mesmo diante de um problema
Descobri o que era
O tal líquido misterioso
Mas apenas para meu desgosto, pois
Preferia não saber a fórmula do elixir milagroso
E quando me perguntam
O que meu falecido amigo bebia
Eu receoso respondo
"Era veneno amigo, era veneno"