Simbiose

By imbigoXxX

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simbiose substantivo feminino 1. ECOLOGIA interação entre duas espécies que vivem juntas. 2. FIGURADO (SENTID... More

1- Camila?
2- Gazela
3- Tucanos
4- Rêmoras
5- Borboletas, tigres e ...uma sapinha
6- Ohh, não. A chihuahua
7-Lombriga
8- Harpia
10- Louva-a-deus
11- Viúva Negra
12- Hamster
13- Suricatos
14- Doguinhos
15- Polvos
16- Camaleão
17- Lêmures
18- Pteranodontes
19- Siri
20- Leões
21- Pinguins
22- Calopsitas
23- Cobras
24- Corujas
25- Babuínos
26- Ouriço
27- Lobos
28- Cupins
29- Ursos
30- Simbiose
31- Pardela, Nemo e Anêmonas
32- Hipopótamos Pigmeus
33- Cigarras
34- Crocodilos
35 - Minhocas
36- Ornitorrincos
37- Baleias
38- Verme Aveludado
39- Pássaros Pavilhão
40- Vespas Mandarinas
41-Pangolins
42- Lontras
43- Cangurus
44- Toupeiras Douradas
45- Mariposas
46- Bicho Folha
47- Civetas
48- Tarântula
49- Ostras
50- Elefantes
Epílogo- Água-Viva

9- Canarinho

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By imbigoXxX

HEEY

Tudo bom ?

Já escolheram se são team Karla ou Camila? Me falem

Aqui sou uma mulher mais calada que em STB, então é isso. Beijinhos da imbiguinha e boa leitura.

-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

Havia muito barulho, o som entrava em sua cabeça como uma faca afiada. Estava longe de entender de onde vinha e o que significava. Na verdade, não sabia nem quem ela era, onde estava, ou o motivo de doer o simples ato de tentar abrir os olhos.

Desistindo de tentar abri-los, se concentrou na tarefa de lembrar-se de quem era. Desenhava, tinha certeza disso, sua mente encheu-se de imagens, algumas incompletas, tomando forma, a sensação em seu peito lhe dizia que eram suas. Isso, era ilustradora. O próximo que se lembrou foi de suas avós, elas sorriam, todos os sentimentos mais doces do mundo jorravam daqueles olhos, todos para ela.

-Vamos, Júnior. Eu sei que você consegue.

Sua avó lhe tocava na cabeça, enquanto incentivava que subisse na bicicleta. Tinha os olhos verdes como os seus, idênticos. Todos diziam que era como a cópia da senhorinha, quando mais nova. Sorriu de olhos fechados aproveitando o calor daquela lembrança. "Será que seu nome era Júnior?" ... Não, definitivamente não. Aquele era o apelido que tinha, exclusivo de sua avó, uma piada sobre ter o mesmo nome que ela.

Lauren, isso, seu nome era Lauren, assim como o da mais velha.

-LAUREN!!!

Franziu o cenho, a senhorinha nunca havia a chamado pelo nome, muito menos gritando. Era sempre calma e paciente. Mesmo assim em seu sonho ela gritava por seu nome com grande energia. Mas aquela voz, aquela voz não era a dela. Aos poucos o cenário em sua cabeça ia se modificando.

Não havia mais bicicleta, muitos menos os olhos gentis de sua avó, no lugar dos verdes surgiram castanhos. Dois grandes olhos castanhos, idênticos, mas distintos. Mais sentiu do que viu, que eram de pessoas diferentes.

"Karla e Camila"

Então surgiu o nariz bem desenhado e finalmente a boca, apenas uma boca, que gritava seu nome com intensidade. Tanta que seu coração se acelerou no peito, queria ir até ela, queria seguir aquela boca, mas não sabia de qual era. Estava junto com os olhos e quando gritava não conseguia distinguir a quem pertencia aquele tom.

O rosto inteiro se construiu, a expressão tensa, obstinada. Nunca parava de lhe chamar, como se precisasse dela. Tentou se mover, mas era impossível, era como se estivesse presa. A mulher, que agora já tinha um corpo, continuou a chamá-la. E por mais que tentasse, não podia se mover ao seu encontro.

-Venha até mim.

Disse, agoniada com a incapacidade de se mover. Os olhos piscaram, quando se abriram eram apenas de Camila, piscaram novamente e eram apenas os de Karla. Pareciam ter descoberto onde estava, estendeu-lhe a mão, Lauren estendeu a sua. Mas mesmo que se tocassem, não sentia aquele toque, estavam ali, próximas, carne com carne, mas nada de tato, nada de calor, nada de existência.

A mulher que voltou a ter os dois olhos distintos lhe sorriu, um tanto triste, desistiu de chamar, levantou os ombros, como se aceitasse seu destino. Uma lágrima rolou pelo rosto tão bonito e ela caiu. O chão se abriu a seus pés e a puxou para dentro em poucos segundos. O grito de desespero que se formou dentro de Lauren quase lhe arrancou os órgãos quando saiu.

Abriu os olhos.

Estava escuro, estava em sua cama.

-Lauren, pelo amor de deus!!!

Estremeceu ao ouvir no mundo real o mesmo que o de seu sonho. Mas aquela voz conseguia distinguir, era a de Karla. Levantou um tanto trôpega, sua cabeça pulsava em pontadas dolorosas. Mas ignorou aquilo, precisava ir até Karla, precisava evitar que acontecesse ali o que aconteceu em seu sonho. Mesmo que não fizesse sentido, seu medo fazia com que se movesse.

Passou pelo corredor com pressa, enquanto andava os chamados agoniados e batidas na porta continuavam. Tentou abrir a porta, mas percebeu que esta estava trancada. Após se esforçar a procura da chave, achou esta dentro da geladeira.

Sem perder mais tempo correu até a porta tropeçando nos próprios pés. Abriu bruscamente se deparando com uma Karla assustada, parecia agitada e aflita. As duas se abraçaram com força, desesperadas por motivos distintos, mas ainda assim, desesperadas. Lauren apertava a mulher entre seus braços quase de modo doloroso, a imagem desta sendo sugada pela terra ainda lhe atormentando em pensamentos.

Ficaram por alguns minutos daquela forma, apenas garantindo que a outra estava segura. Corações batendo frenéticos, mas se amansando aos poucos como se soubessem que o outro ali tão pertinho, era o que precisavam.

-Você está bem?

Karla perguntou baixinho, bem junto ao pescoço de Lauren que se arrepiou com o calor em sua pele. Assentiu com a cabeça, não tinha certeza se conseguia se comunicar sem ter a voz embargada, era uma grande chorona, principalmente se tinha medo.

Ainda não entendia a profundidade de seu desespero com o sonho, era um sonho afinal. Mas tudo sobre perder Karla e Camila a deixava profundamente angustiada. Nunca esqueceria a resignação daqueles olhos tristes enquanto caíam, o pouco de esperança deixando os castanhos, para se entregar ao abismo. Ela havia sido a única esperança ali e falhou, na vida real não falharia.

Nunca foi do tipo corajosa, sempre era a primeira a fugir quando seus primos e irmãos tinham idéias malucas. Sua natureza era dada a evitar situações de risco e problemas. Mas com relação as irmãs, por algum motivo, era diferente. Sentia-se disposta a pular naquele abismo, se necessário. Essa vontade lhe era assustadora, mal conhecia as mulheres.

Não havia nada acontecendo, mas sempre foi muito sensitiva. Apenas sentia as coisas, sentia o ar pesado antes que algo acontecesse. Nunca soube com precisão explicar o que acontecia, e sempre procurou não dar muito atenção, mas sempre estava ali, aquela coisa em si, aquela percepção exagerada dos acontecimentos a sua volta.

Apertou mais Karla em seus braços, não sabia em que sentido a mulher estava se perdendo, mas a manteria a salvo. Manteria ela e Camila também, as duas já tinham seu afeto, acima de qualquer interesse, o tinham. Lhe despertavam essa coisa protecionista que nem sabia ter, sempre foi a que se escondeu atrás dos outros, mas com relação as irmãs, parecia que não era assim. Mesmo que fosse diferente, gostava daquilo, gostava de se sentir forte o suficiente para cuidar de alguém.

-Você estava gritando, me deixou tão preocupada.

A angustia na voz de Karla fez seu coração diminuir no peito. Não gostava da ideia de deixá-la tão preocupada. Passou as mãos pelas costas da latina em um gesto tranquilizante. Apenas ali, percebeu o quanto estava com saudades desta.

-Foi apenas um pesadelo, não se preocupe.

Karla assentiu, mas mesmo assim não a soltou. As duas pareciam compartilhar de uma ligação muito particular, muito intensa. Ainda abraçadas Lauren começou a puxá-la para dentro da casa e para mais fundo ainda em seu coração, para espaços ainda inabitados. A levou até o sofá, pois já sentia sua cabeça voltar a latejar e não queria desmaiar em cima de Karla, provavelmente a esmagaria.

-Você está ficando um pouco verde, Lo.

Apontou a outra, franzindo a sobrancelha em preocupação. O cuidado da mulher consigo, era tão genuíno que as borboletinhas em seu estômago, mesmo um pouco bêbadas, ainda conseguiam voar, provocando aquela sensação curiosa.

-Eu bebi, um pouco mais do que deveria.

Karla suspirou a olhando com cuidado, não havia recriminações ali, o que deixou Lauren aliviada. Não tinha forças aquele dia para aguentar qualquer tipo de olhar ou sentimento ruim vindo da professora. Sentia-se mais sensível que o normal, ainda mais com relação a ela.

-Eu fiquei sabendo.

Aquilo lhe chamou atenção, tudo bem que a cidade era especialista no esporte fofoca. Mas aquilo havia chegado aos ouvidos da outra muito rápido.

-Camila me contou, depois de passar uma eternidade brigando comigo. Você tem a língua grande.

A última parte veio acompanhada de um olhar cerrado que fez o coração de Lauren se apertar no peito. Mas rapidamente Karla desfez a expressão negando com a cabeça, passou os dedos por seu rosto em um carinho muito gostoso que fez com que fechasse os olhos quase ronronando.

-Me desculpe.

Disse culpada. Karla apenas suspirou, perdida em pensamentos por alguns instantes. Era interessante vê-la daquela forma, parecia levantar uma barreira entre o mundo exterior e interior. Abandonava o que tinha do lado de fora e se fechava lá dentro, Lauren se mordia por saber o que se passava ali. Se pudesse daria uma olhadinha naquele mundo tão interessante, que sempre atraia a professora.

-Eu que preciso me desculpar, eu e Camila decidimos coisas entre nós e te deixamos no escuro, o que não foi certo. Esperar que tudo corresse bem era ser otimista demais.

Lauren não entendia nada do que a outra dizia e seu olhar deixava isso bem claro. Karla apenas lhe deu um de seus sorrisos bonitos deixando um beijinho em sua testa.

-Nós vamos conversar sobre isso, mas depois que cuidarmos dessa sua ressaca. Tudo bem?

Era uma pessoa muito curiosa. Mas o tom doce de Karla e o jeito que lhe olhava com afeto, fez com que concordasse sem maiores problemas. A mulher sorriu mais, e logo saiu em direção a cozinha deixando-a ali, perdida em pensamentos sobre o que poderia estar acontecendo.

Não demorou muito para que voltasse com coisas indicando que bebesse. Nem questionou o que era, só queria que aquela dor maldita passasse para que conseguisse voltar a pensar de forma normal. Quem quer que fosse que estivesse com sua bonequinha de vodu, precisava parar de espetar a cabeça da coitada.

Karla colocou uma música calma, bem baixa, e sentou-se ao seu lado, parecia muito tranquila mesmo que visivelmente pensativa. Após um tempo, desistiu de manter-se sentada e deitou a cabeça no colo da mulher, talvez estivesse sendo muito ousada, mas não ligava muito para isso. Precisava de um cafuné e deixou isso bem claro ao capturar a mão da latina e posicionar esta na própria cabeça.

Karla sorriu um pouco, mas não deixou de lhe ceder os carinhos. Tinha a mão leve e precisa, muito boa na tarefa de relaxá-la. Passava os dedos fazendo voltas em seu couro cabeludo e as vezes deixava que deslizassem um pouco pelo cabelo.

-Você quer saber agora?

Perguntou baixinho após passarem alguns minutos naquilo. Lauren assentiu com a cabeça, nem se deu ao trabalho de abrir os olhos, estava quase dormindo a esse ponto.

-Eu ouvi sobre você estar na empresa, mais especificamente na sala de Camila. E bom, fui conversar com ela sobre isso, eu sei que ela nunca tem boas intenções.

A voz da professora já começava a sair do tom sereno. A pontinha de irritação crescendo a cada segundo que falava sobre a irmã. Era como colocar uma faísca em material combustível, o que permanecia estável antes desta, logo se incendiava com rapidez.

-Então ela disse que eu não tenho nada a ver com a vida dela e que faria o que quisesse com você.

Lauren abriu os olhos virando a cabeça na direção do rosto da latina, que não a olhava naquele momento. Mesmo de onde estava, Lauren percebeu os lábios cheios se apertarem em irritação, o carinho em sua cabeça também era mais intenso, nada violento, mas ainda assim mais forte do que minutos antes.

-Eu já vi muitas mulheres enlouquecerem por ela, Lo. Eu não sei o que ela tem, mas sempre faz com que fiquem como viciados, como se ela fosse algum tipo de droga. Sempre querem mais, e quando não conseguem, se definham em abstinência.

Lauren franziu o cenho muito forte, assustada com a definição, e mais assustada ainda com o tom que Karla falava aquilo. A voz doce da mulher havia sumido, no lugar tinha um tom rouco que vinha de dentro, bem fundo. Não duvidava que Camila tinha grande efeito nas pessoas, sabia disso, era uma dessas. Mas nunca imaginou nada semelhante aquilo que Karla descrevia.

-Eu gosto de você, Lauren. Nós somos amigas, não queria ter que te ver assim por minha irmã. E bom...eu sei que isso significaria o fim da nossa amizade, não existe forma de esquecer Camila me tendo por perto.

A agonia de Karla era substancial. Parecia doloroso se ver como alguém que sempre seria associada com Camila. Parecia oprimida, sufocada por aquela realidade, e o pior, culpada. Como se os supostos erros da irmã também fossem dela.

Lauren levantou a olhando nos olhos com curiosidade. Os castanhos sempre fugiam dos seus, quanto mais a encarava mais agitada a mulher parecia, se mexendo no sofá e apertando as mãos uma na outra.

-Ela sugeriu que na verdade eu tinha interesse em você e era tão trapaceira que usava de artifícios para eliminar a concorrência.

Lauren sentiu suas sobrancelhas subirem antes que tivesse controle sobre elas. As bochechas de Karla se avermelharam e ficou se perguntando se aquilo era pela irmã estar certa, ou por a mulher se lembrar do beijo que haviam trocado, dos beijos aliás.

-Eu disse que podíamos estabelecer um acordo, então nenhuma das duas ficaria com você e manteríamos a paz. Ela não queria aceitar, mas ameacei participar de decisões no Simbiose e nada melhor para convencer minha querida irmã em um acordo, do que isso, ela odeia que se metam naquela coisa.

Lauren sorriu da careta de Karla, que debochava descaradamente da irmã. Era realmente uma mulher muito fofa, tinha vontade enrolá-la e cuidar como se fosse um bebê. Talvez aquele não fosse um desejo muito racional, considerando que se tratava de uma mulher adulta, mas era o que sentia.

-Me desculpe por fazer isso sem falar com você. Não está no meu direito decidir assim sobre sua vida, mas estava com tanto medo de te ver ferida, e de perder sua amizade. Eu não sei, apenas agi por impulso e quando vi já estava apertando a mão do diabo.

-Ei, se acalme, eu não acho que estou chateada. Na verdade ainda vou precisar de tempo para processar tudo.

Karla suspirou encostando no sofá.

-Eu apenas não acredito que foi tudo em vão, talvez eu até tenha piorado as coisas. Camila vai para cima de você com tudo que ela tem agora.

-Bom, você está me avisando. Eu vou saber o que esperar.

Karla sorriu sem humor a olhando com certa pena, como se fosse uma criança inocente que precisa ser ensinada. Era engraçado ver como a professora percebia a irmã, sabia que se não prestasse atenção ao máximo, não conseguiria entender aquela relação completamente.

-Camila é sedutora de uma forma que vai além do normal. Ela vai te dar exatamente o que você quer, sem que você saiba que é aquilo que quer.

Lauren não entendia o que aquilo significava. Sentia-se quase ofendida por Karla a ver como uma grande boba. Não que não fosse, provavelmente o era, mas a mulher ignorava totalmente sua capacidade de se defender, como se esta não existisse.

-E a gente, como ficamos nisso?

Perguntou, querendo mudar de assunto. Seu questionamento pegou Karla de surpresa que a olhou muito assustada. Lauren quase riu da reação, nunca pensou que seria o tipo de mulher que deixaria alguém como Karla tão nervosa.

-Ué, normal.

Respondeu desviando os olhos.

-Karla....

-Nós somos amigas, Lauren. Eu não vou tentar competir com Camila, já chega de me sentir horrível por sempre perder para ela. Não acho que tenho ânimo para isso.

Lauren até pensou em dizer alguma coisa, mas o aspecto triste da outra a impediu. A verdade é que não podia negar se sentir atraída por Camila, precisava de tempo para descobrir qual espaço cada uma tomaria em sua vida. Achava melhor não incentivar algo que poderia ferir a professora, se odiaria se chegasse a magoa-la.

As duas ficaram algum tempo em um silêncio não tão confortável. Dessa vez, seus pensamentos se perdiam em direções tão distintas que a conexão que tinham parecia mais fraca. Estavam em lugares diferentes, mesmo que lado a lado.

-Por que você nunca me falou do seu pai?

Karla a olhou, confusa com a mudança brusca de assunto. Pareciam destinadas a migrarem de foco o tempo inteiro aquele dia. Lauren deu de ombros , como se dissesse que não podia evitar. Sua cabeça normalmente já trabalhava em velocidade muito grande, quando estava tão afetada, piorava a situação.

-Nós temos uma relação um tanto complicada, eu menos que Camila, mas ainda assim turbulenta.

Lauren assentiu, entendendo um pouco.

-Quando minha mãe morreu éramos pequenas e ficamos apenas com ele. Mas acho que somos mais parecidas com ela, ele é muito distinto. Talvez na teimosia, ele e Camila sejam iguais, mas no resto somos diferentes.

Karla então sorriu, um sorriso muito travesso. Os olhinhos castanhos brilhando com humor. Lauren sentiu seus próprios olhos se ampliarem na direção da mulher, nunca havia visto aquilo ali, e lhe parecia muito instigante.

-Meu pai é muito religioso e houve esse tempo que nos obrigava a ir para igreja com ele. Eu até que gostava. Mas haviam pessoas muito conservadoras e intransigentes lá, mesmo que fosse exceção, era incômodo conviver com tantos sentimentos ruins.

Karla sorriu mais largo.

- Camila parecia um animal selvagem enjaulado, ela é provavelmente a responsável pela degradação moral de noventa por cento das pessoas que tinham nossa idade ali, e boa parte dos mais velhos também.

O tom de Karla era tão mais ameno que Lauren achou estranho que fosse usado para falar de Camila. Era incrível, absolutamente incrível, ela amava a irmã, afinal. Em algum lugar daquela relação havia amor.

-Mas nessa época papai ignorava o gênio ruim dela, a tratava como uma princesinha. Ela canta muito bem e ele adorava exibi-la para os outros, dizia que era o canarinho dele.

Nunca tinha pensado em Camila como alguém que cantasse, talvez dançar, mas cantar parecia muito distante da visão que tinha da mulher. Mesmo assim, achou interessante, provavelmente a mulher sabia fazer tudo.

-Você canta também?

Perguntou interessada, mas Karla negou com veemência. Até a ideia parecia muito assustadora para a professora que fez uma careta.

-Camila sempre foi mais artística, e mais exibida também.

Lauren sorriu achando graça do desagrado da outra voltar com tanta facilidade.

-Ela ainda canta na igreja?

Perguntou com humor, sabendo que a resposta com toda certeza era não. Karla gargalhou alto se dobrando no sofá, ria tanto que chegava a ter lágrimas descendo pelos olhos. Lauren do outro lado se permitiu admirar a cena. A trança um pouco bagunçada jogada ao lado do ombro da mulher, o nariz franzido, os dentinhos de baixo ligeiramente tortos, da forma mais fofa que já viu na vida.

-Ela é proibida até de entrar.

A outra respondeu com dificuldade, sem conseguir conter a risada. Alguma coisa em Lauren a fazia pensar que havia uma história muito interessante por trás daquilo.

-Me conte.

Karla riu mais um pouco e pareceu pensar se era adequado contar, ficou apreensiva até que viu a mulher dar de ombros.

-Houve esse dia que vários lideres se reuniriam lá, uma programação especial, entende. Meu pai insistiu que ela deveria cantar. Mas Camila não queria, ela queria ir ao Simbiose aquela noite, uma competição significativa aconteceria lá. Os dois discutiram muito, e ele não abriu mão. Ameaçou cortar tudo que ela tinha.

Lauren levantou as sobrancelhas, não estava habituada com uma criação tão restritiva. Seus pais sempre foram do tipo que respeitavam seus desejos, claro que lhe ensinavam o que era correto e impediam comportamentos muito perigosos. Mas estavam invariavelmente abertos ao diálogo.

-É muito obvio que Camila não se deixou conter, naquele dia meu pai entendeu que nunca teria total controle sobre ela.

-Vamos, me conte o que houve.

Perguntou muito ansiosa para saber, vendo Karla sorrir de sua curiosidade.

-Bom, ela fingiu que concordava. Juntou todos os amigos que tinha ali, incluindo Shawn e Jennifer, no dia da apresentação dois deles se trancaram na sala de som. Alguns serviram como os guardas particulares dela e quando começou a cantar, não foi nada menos do que Take me to church.

Lauren abriu a boca extremamente espantada. Conhecia aquela música, não era exatamente a melhor coisa para se cantar dentro de uma igreja. Camila era definitivamente muito má.

-Sim, querida. Ela é louca. Você precisava ver o choque que se abateu no lugar, Camila sabe ser intensa quando quer, cantava com toda a alma, sua voz em uma mistura de ódio e ressentimento por se ver obrigada a estar ali. Algumas senhoras quase morreram do coração.

Aquela parte, Karla disse um pouco mais grave, parecia sentir pelas pessoas que precisaram ver aquilo. Ao mesmo tempo que ria da atitude da irmã, era bem claro que não achava certa.

-Ela apontou para meu pai e para outros líderes em todo o refrão, ainda me lembro da expressão no rosto deles quando ela cantou : "Take me to church, I'll worship like a dog at the shrine of your lies I'll tell you my sins and you can sharpen your knife, offer me that deathless death, good God, let me give you my life.

Lauren levantou as sobrancelhas, era uma letra muito pesada. Conseguia imaginar a rainha do simbiose com toda sua pose fazendo aquilo em frente a uma igreja lotada. A voz doce de canário, transformada, tudo na intenção de acompanhar os olhos acusadores de harpia.

-Eles ficaram mortificados, Lo. E no final ela ainda beijou a filha do pastor em cima do altar.

Lauren arquejou e Karla assentiu com a cabeça, concordando. Parecia ainda se chocar com a audácia da irmã.

-Eu não concordo com ela, me parece muito desrespeitoso. Não o beijo em si, mas a letra, as acusações. Existem pessoas muito sinceras ali, independente das diferenças de opiniões, acho muito errado ferir estas pessoas assim. Mas ao mesmo tempo não posso mentir e dizer que odiei por completo, nunca mais precisei voltar a igreja depois disso, ao que parece minha visão dá lembranças ruins para eles.

Lauren não sabia o que dizer, definitivamente não sabia. Toda a atitude lhe parecia muito chocante, muito errada, mas ainda assim... Camila Estrabão era toda uma força da natureza e pensava se aquilo acontecia de um jeito ruim ou bom. Sabia que a mulher era do tipo que ocupava o papel principal, só não tinha certeza se era como antagonista ou protagonista.  

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