Eu não consegui me mover, não consegui falar, não consegui pensar.
Eu a observei, tentando negar a mim mesma e acordar de um terrível pesadelo.
Ela estava morta
Morta
Phill Grey a matou, a tirou de mim assim como tirou Charlie.
- Tia Mey? - balancei seu corpo com força tentando acordá-la e entre as lágrimas que escorriam por minhas bochechas gritei por seu nome, lembrando de tudo que passamos, tudo que vivemos juntas.
Você é a filha que eu não tive Sarah, eu me orgulho de você.
- Sarah... - ouvi Rick me chamar, me puxar suavemente pelo braço, mas eu estava em transe.
Independente do que aconteça querida, eu estarei ao seu lado sempre. E ao de Charlie também.
Eu prometi aos seus pais quando vocês nasceram, e acredite: eu me importo mais com vocês dois do que comigo mesma.
E agora, eles estavam mortos.
Os dois, a minha família...
Eu não consegui salvá-los.
- Sarah, a gente precisa ir embora agora! - gritou Rachel, me puxando, tentando levantar meu corpo.
- Eu não vou sair Rachel, pode ir sem mim! - virei o corpo de Mey e vi um machado cravado em suas costas. - Você e os outros. - o retirei de seu cadáver e levantei-me, enxugando as lágrimas.
- Eu não vou mais fugir.
Um círculo de internos havia se formado ao nosso redor, mas havia uma pequena brecha.
- Se quiserem sair daqui, eu dou cobertura pra vocês.
Se forem rápidos conseguirão!
- Nós não vamos sem você Sarah, nem pense nisso. - exclamou Josh com um pequeno sorriso.
- Isso, nós entramos aqui juntos e é assim que vamos sair: juntos! - Dylan continuou, fitando as pessoas que nos cercavam.
Não consegui me conter e uma lágrima insistiu em cair.
- Vocês estão com suas armas, certo? - eles assentiram, as segurando. - Não se separem por favor, se ficarmos próximos teremos mais chance!
Machados, lanças, facões, e o arco e flecha de Rachel.
Estávamos prontos.
- Sarah eu... Antes da gente morrer, eu preciso muito te dizer uma coisa. - murmurou Rick aproximando-se do meu ouvido.
- Nós não vamos morrer, mas pode falar Rick.
- E-eu, e-eu amo você Sarah.
E não, não é como um amigo.
Antes que eu pudesse falar algo ele se retirou.
- Em formação! - bradou ele.
- Vamos acabar com esses desgraçados.
Subitamente, a guerra se instalou entre nós.
Os internos correram em nossa direção com lâminas afiadas em mãos.
- São muitos. - gritou Rachel dando dois passos para trás.
- São, e daqui a pouco todos estarão mortos.
Uma multidão nos cercou, e agora tínhamos apenas 2 opções:
Lutar ou lutar
Um garoto se aproximou,e junto a ele, outros três.
Enquanto um grupo apenas observava, esperando sua vez de atacar.
Fantasiados e querendo minha morte,querendo entregar minha cabeça a Phill.
Mas isso não aconteceria, não hoje.
Eu entregaria as deles.
Os analisei rapidamente, e pensei no que Tia Mey me ensinou.
Acerte as pernas.
Eram tolos, e seus golpes...
Até uma criança poderia lutar melhor.
- Desista Sarah, você e seus amigos. Vocês não tem chance.
Suor escorria, nos banhava se misturando com o cheiro de sangue e tinta.
Cadáveres pelo chão, o som estridente de ossos sendo quebrados.
Navegávamos nesse mar de sangue como marinheiros experientes, como se tivéssemos nascido para isso.
Não tivemos escolha, as circunstâncias nos mudaram, o medo, percas.
Agora é guerra
{·}
Em um momento de distração, senti uma ardência em minha bochecha.
O líquido escarlate escorreu, molhando o chão e as pontas de meus dedos.
E o responsável por isso me olhava com arrogância e confiança.
- Ah querido, você não devia ter feito isso.
Ergui o machado, mirando em seu joelho e antes que ele pudesse pensar em fazer algo, o acertei.
Seu osso ficou exposto, o sangue espirrou em meu rosto.
- Vá pro inferno, logo Phill estará lá com você.
Com o crânio partido ao meio, retirei o machado de sua cabeça e me preparei para outra.
As luzes oscilavam, e em uma dessas, vi Elisa correr entre eles com um galão branco em suas mãos.
Ela tinha algo em mente.
- Aonde ela está indo?
- Não temos tempo para descobrir. - indagou Rick, acertando um palhaço que vinha em minha direção.
- Está sentindo esse cheiro Rick?
- Gasolina? - sussurrou Dylan.
- Vão atear fogo, vão queimar esse lugar. - gritou Josh, decapitando um garoto loiro que se aproximava.
- Corram! Saiam daqui! - era a voz de Elisa. Proclamou enquanto acendia um fósforo e o jogava na gasolina que havia espalhado pelo chão.
- O que ela está fazendo? - perguntou Rachel intrigada.
- Ela vai matar a todos nós.
Quando as chamas se apossaram de uma pequena parte do chão os internos entraram em desespero.
Corriam de um lado para o outro, e clamavam desesperados pelo nome de Phill Grey.
- Sarah, vocês precisam ser rápidos! - Elisa bloqueou a porta e com um machado acertava qualquer um que tentasse sair.
- Por que ela está nos ajudando? - assim como Rick, todos nós queríamos saber o por quê dessa mudança repentina.
- Vamos pensar sobre isso quando estivermos longe daqui, em instantes esse lugar todo estará completamente em chamas.
Corremos, a placa luminosa "saída" nos guiou meio a fumaça.
Os gritos por socorro e o cheiro de carne queimada: era só isso que havia ali agora.
- Saiam, agora! O tempo está acabando.
Coloquei meus amigos para fora, e me certifiquei de deixá-los a salvo.
Permaneci no hospital, havia algo para resolver.
- Ela morreu por sua causa Elisa. A Mey está morta, e você causou isso! - as lágrimas cobriram meus olhos, mas ainda assim mantive-me forte.
- E-eu estava com medo, muito medo. Pensei que com eles eu teria uma chance, e eu... Eu me arrependo por... - não consegui terminar de ouví-la, meu machado a interrompeu.
Suas palavras e sua vida.
Acertei seu estômago, abrindo-o, expondo sua vísceras.
Em um último ato, Elisa caiu de joelhos, engasgando-se com seu próprio sangue.
- M-me desculpe. - balbuciou, enquanto a vida se esvaziava de seu corpo.
- Tarde demais.