Novo Lar

De Leoxbom

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Em 2049 é lançada a Gemini l, primeira de duas naves colonizadoras rumo a KOI-7923, chamado agora de Nova Ter... Mai multe

Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3

Capítulo 1

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De Leoxbom

Um clarão cegante ataca os olhos de Daniel. Ele tenta protege-los com as mãos e percebe que está imerso em uma bacia com água. Não pode ser água, ele pensa. A consistência é melada e muito gelada, muito gelada mesmo. Ele começa a encolher o corpo, tremendo e, por um segundo, se pergunta como está respirando. Seu pensamento e, por sorte, sua angustia são interrompidos quando uma mão o puxa para fora do caixão de hibernação. A ânsia de vomito é inevitável quando o tubo de 20 cm, usado para alimentação e respiração, é retirado de sua garganta. Ele tosse e se recompõe.

Uma toalha cai sobre seus ombros enquanto outra enxuga sua face. Ele abre os olhos e vê uma moça trajando um macacão branco com faixas vermelhas e uma plaquinha que diz: Equipe de Despertar.

- O... Onde estou?

Extremamente confuso, ele olha ao redor e vê diversos outros caixões como o seu, com enfermeiras como a sua ajudando jovens, crianças e velhos também perdidos como ele.

- Fique calmo, Daniel Correa Castro. Ela lê o nome escrito no caixão. Você é um dos colonizadores do projeto Gemini ll. Em menos de 5h ira chegar ao seu novo lar... Nosso novo lar. Perda de memória após a hibernação é normal e temporário.

Depois de seca-lo ela aponta para uma porta no extremo da sala onde outras pessoas estão se dirigindo e diz:

- Quando se sentir melhor, deve se dirigir aos chuveiros para a limpeza completa e depois a um dos orientadores. Eles irão indicar o número de seu armário.

A moça então se despede, pega seu carrinho de toalhas e vai em direção a outro caixão ainda fechado. O rapaz observa a cena se repetir: a enfermeira puxa outro coitado para fora de sua banheira, o enxuga e instrui. Ao olhar para a porta, um segurança acena para ele, fazendo sinal para que vá até lá, ao entender de Daniel, de forma amigável. Olhou para baixo então e percebeu estar apenas de cueca, ou algo que lembrava uma cueca branca. Terminou de enxugar o cabelo por conta própria e foi em direção a porta. Entrou na fila que havia para sair da sala de hibernação, jogou a toalha em uma caixa que ficava embaixo de uma placa onde pedia-se gentilmente que deixassem as toalhas.

Tomou seu banho em um banheiro enorme, cheio de chuveiros e sem nenhuma parede que impedisse um de ver o outro em seu processo de limpeza. Depois de se secar, enrolou a nova toalha na cintura e foi até o balcão de informações. Não havia nenhuma pessoa lá, apenas um leitor de retina que pedia em voz robótica que se aproximasse, colocassem o olho no local indicado e não se mexessem até a leitura ter sido feita. Daniel seguiu as instruções com obediência, assim como todas aquelas pessoas faziam, ainda meio perdidas. Se perguntou se estavam mesmo conscientes ou em um estado de zumbificação onde fariam qualquer coisa que as vozes mandassem.

- Armário 872. Disse a voz robótica e um mapa animado, indicando como chegar até o local, apareceu em uma tela.

Seguiu o caminho como indicado, parou em frente um armário do tamanho de uma porta e notou que este também tinha um leitor de retina. Repetiu o processo que havia feito alguns segundos atrás e após um bipe positivo, viu a porta do armário se abrir. Era um pequeno armazém onde se podia entrar, se trocar e até se sentar em um banquinho fixo. Notou dois caixotes grandes ao chão e um cabide com algumas roupas. As reconheceu como sendo suas e sentiu a memória voltando. Lembrou que não deixará nada para trás na Terra. Ambos seus pais já haviam falecido, não era casado, não tinha filhos. Tentou se lembrar de algum conhecido que poderia ter vindo com ele, mas não se lembrou de ninguém.

Com um toque na telinha touch ao lado da porta, ele a fechou e percebeu o quao claustrofóbico era o armazém. Sem nenhuma janela e apenas uma luz fraca azul, vestiu seu macacão. Notou que era parecido com o da enfermeira, exceto onde no dela corriam a linhas vermelhas, neste eram azuis e na placa de identificação estava escrito "Colonist. Eletric Eng", traduzindo: Colono, engenheiro elétrico. Virou-se para um espelho escuro em uma das paredes. Fitou um rosto quase quadrado, sem barbas e quase sem cabelo nenhum. Passou a mão nos pequenos pelinhos que ainda restavam e sentiu o pinicar em sua palma. Vai crescer de novo, pensou chateado.

Depois de calçar sua bota e colocar relógio, deixou o resto de seus pertences para trás e saiu para o corredor. A porta se fechou automaticamente após alguns instantes.

No corredor ele seguiu o fluxo de pessoas, que agora pareciam mais acordadas e apressadas e acabou chegando ao refeitório. Uma área gigantesca, cheio de mesas iguais aquelas de piquenique em praças. Haviam buffets nos cantos, onde multidões faziam filas para se servirem. Ao olhar pra cima viu as estrelas e percebeu que era a primeira vez que via o espaço desde que acordara. A vista da imensidão escura, animada apenas por pequenos riscos de luz das estrelas cadentes aumentou ainda mais a sensação de solidão que sentia. Isso é real, pensou. O planeta em que nascera, todas as pessoas que conhecia, pelo menos as que se lembrava, haviam ficado para trás. O que seguiria? Será que iria se adaptar a nova casa? Conheceria alguém? Casaria? Teria filhos? Ficou ali perdido no buraco negro de seus pensamentos, de boca aberta, olhando para cima.

- Ei, você está na fila? Perguntou uma menininha enquanto puxava seu macacão na altura da cintura. Não devia ter mais que 10 anos. Atrás dela sua mãe sorria e então Daniel percebeu que a fila chegara até ele.

Depois de carregar seu prato com uma gororoba branca, um pedaço de carne e um pouco de salada, ele pegou uma garrafa verde clara de bebida sem rotulo algum e procurou um lugar para se sentar. Quase todas as mesas já estavam ocupadas, mas ao passar o olho uma segunda vez, notou um espaço no meio de duas pessoas. Foi em direção a elas e pediu licença para sentar. Sem ouvir uma só palavra, um velho e um rapaz se ajeitaram, aumentando o espaço que vira antes.

Daniel se sentou, tirou os talheres do plástico e começou a comer. Notou que a simples ação de pegar a comida com o garfo e leva-la até a boca parecia mais difícil do que se lembrava. Sua mão estava um pouco descoordenada e precisou de 2 tentativas para sentir o gosto da carne na boca.

- Heh! Mas que droga não é mesmo? Disseram que é temporário.


Ao erguer a cabeça e olhar para o lado, viu o rapaz que se ajeitara para cabe-lo no banco. Estava careca como ele, mas tinha a barba por fazer e seu macacão parecia 2 números maiores que o certo. Na verdade, olhando melhor, o rapaz é que parecia ser dois números menores que uma pessoa saudável.

- Daryl, botânico, prazer. Disse enquanto esticava a mão para cumprimenta-lo

- Daniel, Engenheiro elétrico. Ainda estou tentando me recompor da hibernação, não esperava que ia ser tão pesado assim.

- Bem, não é algo que recomendo fazer sempre, mas vamos ficar bem. Você veio com mais alguém? Daryl parara de comer para conversar olhando nos olhos de Daniel.

- Não, sou só eu mesmo. Você?

- Minha mulher e minha filha estão em outro modulo... 16. Vamos nos encontrar quando pousarmos.

Houve uma pausa onde ambos voltaram a comer. O velho que estava do outro lado terminou a refeição e se levantou.

- Você sabe o que vem agora? Ainda estou meio confuso. Disse Daniel sem graça

- Bem, se não me engano vamos ter um breve treinamento sobre o que fazer na descida, onde vamos pegar nossas coisas. Algo assim. Caramba você ficou bem mal mesmo em. Ou não leu as instruções antes da hibernação. A grande maioria não lê.

Não houve mais conversa e após terminarem de comer, levantaram-se juntos e seguiram a multidão, guiada por guardas até uma outra sala. Quando entraram, viram um grande telão a frente com o logo da União das Nações da Terra. Um globo e as siglas UNT em frente. Embaixo lia-se "Aguardem". Notaram também 2 varandas no segundo andar onde guardas andavam de um lado para o outro, de olho na multidão.

O conforme mais e mais pessoas se juntavam, o ambiente ia ficando apertado e os dois se viram pressionando seus ombros um contra o outro e o murmurar baixinho de perguntas e desentendimento. Um sujeito grande e mal-encarado passou empurrando os dois, tentando abrir caminho até chegar na frente do telão. Quando já estava mais afrente, viram que ele derrubou um idoso e gerou tumulto. Um dos guardas na varanda colocou a mão na cintura, pronto para sacar a ama e disse algo no rádio em seu colarinho. Um holofote vindo do teto ao fundo do salão iluminou o círculo de confusão e os envolvidos levantaram as mãos em sinal de que, o que quer que tenha acontecido, já estava resolvido.

Quando ninguém mais entrou pelas portas, as mesmas se fecharam, deixando todos trancados no salão com os guardas, o telão e a espera de novas informações. Alguns minutos se passaram e nada aconteceu. Mais atrás uma mulher gritou palavras de ordem exigindo explicações, mas foi ignorada por todos.

- Podiam ao menos nos oferecer um banco, não acha? Disse Daryl com um tom irônico.

- Pois é, não deveria demorar tanto assim para um pronunciamento.

Os dois ficaram especulando sobre o que poderia estar causando tal atraso até que a sala se escureceu e um homem de macacão azul escuro com faixas amarelas nos ombros, apareceu no telão. Atrás dele, painéis cheios de números e desenhos de trajetórias e uma janela gigante com o planeta bem em frente. O homem que iria começar a falar tinha uma barbicha negra e usava uma boina militar da mesma cor de seu uniforme. Do lado do peito uma placa de identificação metálica com as iniciais de seu nome e sua patente de capitão.

- Olá a todos os colonos. Sou o Capitão Robertson da UNT Gemini dois. Estamos entrando na orbita da Nova Terra neste exato momento, nosso novo lar. Infelizmente ainda não conseguimos estabelecer comunicação com a equipe de solo, acreditamos que algum efeito nativo do planeta seja o causador. Enquanto verificamos e preparamos a decida, gostaria de informa-los dos procedimentos e a parte de vocês para garantir a segurança de toda a equipe.

A expressão do homem era séria e calma, mas o objetivo de passar confiança era constantemente quebrado por alguns tripulantes ao fundo, andando confusos de um lado para o outro ou tentando novamente estabelecer comunicação com a superfície. O capitão Robertson prosseguiu seu discurso:

- Todos os seus pertences serão entregues a vocês em solo, é importante levar apenas bagagens de mão para as cabines de descida. Após se acomodarem nas cadeiras e abaixarem os cintos, verifiquem se o mesmo está travado e seguro...

As instruções duraram cerca de 10 minutos e após o encerramento, o telão se retraiu em direção ao teto e deu lugar a uma nova porta. Ela se abriu e todos seguiram em frente. O corredor em que chegaram dava acesso as cabines de descida. Daniel e Daryl, como estavam próximos, acabaram entrando na mesma. Junto com eles, mais 4 pessoas se acomodaram ocupando todos os acentos. A grossa porta se fechou e emitiu uma luz verde. Eles se sentaram próximos, esticaram as mãos ao alto para puxar a trava de segurança e a desceram até a barriga. Quando um estalo informou que estava tudo em seu devido lugar, Daniel, só para garantir, forçou-a para cima, mas nada aconteceu. Relaxou então, e com a mão direita, agarrou uma corda presa ao teto para apoio dos passageiros. Daryl que estava bem em frente, tirou dos bolsos uma foto da mulher com a filha.

- Ei, vai ficar tudo bem. Elas provavelmente já estão prontas, como nós. Disse Daniel, tentado animar o companheiro de modulo.

- Sim, eu sei. É só preocupação de pai. Você tem filhos?

Mas antes que pudesse responder, Daniel sentiu uma sensação de zonzeira, os pés começaram a levantar involuntariamente e a trava forçou contra seu peito. Não havia mais gravidade. A foto que o pai segurava instantes antes, agora dava cambalhotas no ar em direção ao teto. Rapidamente ele estica o braço e a pega no ar, guardando-a no bolso.

- Começou. Ele diz baixinho.

Além do forte barulho de um motor em potência máxima, tudo começa a vibrar. Primeiro fraco depois mais forte... E mais forte. De repente um som alto, como uma explosão e o modulo começa a girar loucamente. Uma mulher começa a gritar e um outro homem diz que algo não está certo. Claramente algo não está certo.

- Você aí perto da porta, consegue enxergar do outro lado? Diz Daryl para um dos tripulantes.

A janela de vidro é pequena e por isso é necessário que ele se incline um pouco, usando as mãos para se mexer na pequena folga entre a trava e a cadeira. A forte rotação e a falta de gravidade, tornam a tarefa mais difícil do que deveria, mas ele finalmente consegue uma breve olhada e apenas diz:

- Meu Deus! Não estamos mais presos a nave.

- O que? 

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