Stranger

By MaduKoby

189K 18.2K 4.6K

(+18) Gael é um alfa albino e autista, mas nada o impede de ser o cara mais inteligente que Alan já conheceu... More

AVISOS
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítul0 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49

Capítulo 35

3.3K 335 48
By MaduKoby




Gael chegou em casa e fez todos os seus rituais, só que com uma obsessão maior. Ele tirou todos seus livros das estantes e gavetas e os organizou por cor e tamanho. E todos os detalhes em vermelho das capas faziam-no recordar dos cabelos de Alan.

Separou alguns livros que tinham um tema relacionado a filosofia, porque sabia que Alan adorava livros de filosofia. Separou também num canto poesias que apreciava e que imaginava que Alan iria gostar. Selecionou várias balas de alcaçuz que tinha em casa, porque elas eram suas favoritas e sabia que poderia agradar Alan.

Gael colocou tudo que achava suave e agradável dentro de uma caixa e marcou nela, com sua caneta favorita, que ali tinha coisas que daria para Alan quando ele acordasse.

Ele tentou deixar tudo organizado, mas as coisas nunca pareciam estar do jeito que ele queria, então, Gael entrou em crise.

Não eram só rituais: era Alan. Ele só conseguia pensar nele: na poça de sangue, na respiração falha, na paralisação de todos os músculos de seu corpo, suas alucinações e em quanto alfas tocaram nele. E quando Gael era muito estimulado a sentir emoções violentas, ele desmoronava.

Ele sabia o que iria acontecer quando as coisas começavam a ficar embaçadas como hálito contra a vidraça. A dor de cabeça era o segundo passo, antes de seu fôlego se perder e ele começar a rosnar baixinho; tentando se equilibrar nos móveis até chegar em seu quarto. Ele só precisava chegar lá e tudo ficaria bem. Mas quando olhou para frente, sentiu os poucos metros que faltavam se tornarem quilômetros.

Sua casa parecia um labirinto. Mal notou quando seus dedos apertaram um copo recém quebrado e sangraram, e muito menos nos seus pés pisaram nos fragmentos da louça. Aquilo não importava quando os corredores de sua casa pareciam assombrados.

Gael sempre ouvia murmúrios perto de seu ouvido e cochichos atrás do espelho quando estava fora de controle. E desta vez não foi diferente: foi só passar por perto da enorme moldura no corredor que sua imagem foi refletida, mostrando atrás de si aranhas se arrastando pelas paredes; as pequenas pernas fazendo o som agonizante que tinha o mesmo efeito que unhas ao quadro.

Ele berrou, mas antes de tentar mover-se, seus olhos pararam no espelho: oscilando seu pavor paralisante quando uma mão tocou seu ombro. Uma mão delicada sem braço ou outros membros enredados. Ela saia da escuridão. Sempre da escuridão.

– Por que você não se mata? – Sussurrou, com uma voz adocicada e feminina.

Eva.

Era sua mãe, com aqueles dedos que sempre tamborilavam em seu ombro, como se estivesse acompanhando um ritmo misterioso.

Um... dois... três... Ele estava tentando contar quantas vezes aquilo batia em si, até que chegou no oito. Seus cortes de lâmina. Eram a quantidade de cicatrizes que rasgavam sua pele clara e faziam-no parecer com um bordado mal feito. Faziam-no parecer com um suicida.

– Você já tentou isso antes. Por não tenta de novo?

Mais próximo de seu ouvido.

Cada vez mais perto.

Cada vez mais sufocante: o ar a sua volta parecendo rarefeito como numa montanha. Uma montanha gélida, porque quando Eva estava ao seu lado era como estar num lago congelado; com a sensação dos ossos encolhendo sob a pele.

– N-não... chegue... Não chegue perto de mim – Sentiu algo estranho lhe subir pela garganta, antes de um puxão em seu cabelo o fazer virar para trás; mas não tão inclinado para que pudesse vez seu rosto assustado no espelho. E ver Eva.

– Está com medo? – Aquilo era um murmúrio. Mas na calada da madrugada soava como um grito. – Está com medo por aquele ômega patético? Ou da solidão dolorosa que você vai voltar a sentir quando ele se for?

– Ele não está morto – Tentou rosnar, e o rosto de Eva se voltou para o espelho. Malícia. Ela tinha um sorriso divertido, que rasgava seus lábios como papel.

– Ele não precisa estar morto para partir – Desprezo queimava por trás de seus olhos, e aquilo era seu tormento. Suas pernas começaram a tremer, mas o aperto firme em seu queixo o deixava de pé. – Eu morri para deixá-lo sozinho?

– Ele não é como você – Tentou se desprender, mas a rudez que ela arrastou a superfície de suas unhas o fez gemer e olhar profundamente para seus olhos. Era aquilo que ela queria. Que ele olhasse para seus olhos escuros como à noite lá fora.

– Você está errado. Todos somos os mesmos. As mesmas peças com os encaixes perfeitos. Mas você não faz parte do jogo. Você é a peça que não completa nada num quebra-cabeça. E as pessoas não gostam daquilo que é inútil. Atrapalha.

– Eu estou tentando ser bom... para ele – O aperto em seu pescoço o fez sufocar, e o olhar divertido e suave de Eva se tornou algo afiado.

– Bom? Você não entende de sentimentos, Gael. Você só entende de fórmulas e letras. Mas ômegas como Alan não se impressionam com isso. Mas poderiam se impressionar em um assombro quando descobrissem que você fala com o próprio reflexo – Sorriu, olhando para trás antes de larga-lo, fazendo-o cair de joelhos. Eva sempre conseguia fazê-lo se curvar na mais profunda humilhação. – Olhe para o lado e observe o que sua doença faz com qualquer um tente se aproximar.


– GAEL! GAEL!

Alguém gritou, antes de um ofego irregular sair de sua garganta. Ele estava respirando.

– Caralho! Eu pensei que ele estivesse morto – Uma voz feminina suspirou, antes de um tapinha estalar em seu rosto.

Aquilo foi o suficiente para que pulasse. As garotas que estavam em círculo em torno de Gael se jogaram para trás, como se estivessem vendo um fantasma.

– Quem está morto? – Perguntou energicamente, antes mesmo que sua visão funcionasse.

Demorou para que tudo tomasse foco novamente: o olhar febril de Alba foi o primeiro que reconheceu, antes mesmo de Aline que estava com a boca aberta num perfeito "o". Mas foi ele que gritou quando sentiu um puxão em seu tornozelo, vendo uma garota de cabelos violetas o examinar.

– Ele pisou em vidro antes de desmaiar.

– QUEM ESTÁ MORTO? – Sua voz aumentou, fazendo-o tapar os próprios ouvidos pelo som.

Ele não estava costumado a falar alto, o que o fez acreditar que era alguém na sala berrando.

– Ninguém está morto, querido – Alba suspirou, olhando hesitante para sua testa.

Gael ergueu involuntariamente uma mão a têmpora, e percebeu que estava com vidro. O que foi o suficiente para que começasse a grunhir, tentando rastejar para longe das irmãs que não tinham reação; menos a de cabelos azuis que o arrastou pela panturrilha.

– Você está fazendo um escândalo ­– Rosnou, mas parou assim que a mão da garota violeta tocou seu braço.

– Está tudo bem, Alana. Ele só está com medo. Gael acabou de ter uma TEA.

– Quem são vocês? O que... O que estão fazendo na minha casa? – Perguntou trêmulo, e quando uma garota de cabelo cor-de-rosa tentou se aproximar, Gael se encolheu contra a parede com a cabeça entre os braços. De repente ele só era um amontoado de articulações que o deixavam sem rosto.

– Querido, sou eu. Alba. E minhas filhas. Olhe para elas. Elas estão preocupadas com você.

Alba tocou em seu cotovelo, inspirando-o a abrir os olhos.

E assim Gael fez: olhando hesitante para as mulheres a sua frente.

Todas estavam assustadas, com os olhos arregalados como se as pálpebras estivessem dormentes.

"Olhe para o lado e veja o que sua doença faz com você."

– Fixe seus olhos nelas como eu te ensinei. Demonstre que você está prestando atenção – Orientou, sabendo que isso o fazia organizar seus pensamentos. – A mais velha é Aline que você já conhece.

Aline melhorou sua postura, se tornando controlada como a última vez. Mas seus cabelos verdes estavam despenteados.

– A minha segunda filha é Alina, e foi ela que tirou os cacos de sua pele – Apontou para a garota de cabelos violeta. Ela sorriu docemente, sem olhar diretamente para seus olhos. Ele agradeceu. – A minha terceira filha é Alanis e peço desculpa pelo tapa que ela te deu – Olhou repreensiva para a filha de que deu de ombros, antes de levantar suas sobrancelhas tingidas de rosa para cima e para baixo, dando um ar amigável e divertido para seu rosto. – A minha quarta filha é Alana e... Querida, não faça esta cara.

A garota de cabelos azuis fez uma careta, olhando-o friamente.

– Ele quase enfartou todas nós.

– Não seja exagerada, maninha. Foi um AVC. No máximo – A garota rosa riu alto e Gael arregalou os olhos.

AVC fazia-o lembrar de coma. E coma o direcionava a Alan.

– Alan! Como ele está?

As garotas se entreolharam.

– Ele está estável. Não há o que se preocupar – Alina respondeu. Acho que este era o nome dela. Fez uma nota mental em segundos das características principais de cada uma para que não se esquecesse.

1-Aline: séria, a mais alta, cabelos verdes e curtos, olhos azuis claros, voz grave e a alfa de Judith (ela parecia ser muito sensata).

2-Alina: expressão açucarada, baixa, olhos azuis mais escuros que a mais velha, cabelos violeta, além de parecer ser boa com crianças. Era o que Gael julgava.

3-Alanis: agitada, enérgica, muito magra e ossuda, mas parecia assustadoramente forte (Gael já iria entender o porquê). Cabelos rosa, olhos azuis médio, e era barulhenta demais.

4-Alana: emburrada, fria e grosseira. Olhos azuis escuros, cabelos da mesma cor, acima do peso e Gael tinha que confessar que ela era a mais linda entre as irmãs. Mesmo que ele tenha se acuado sob a expressão carrancuda da mais nova.

– Por que a escolha capciosa de nomes e tons de coloração para cabelo? – Perguntou inocentemente, fazendo Alba sorrir. Pelo menos ele tinha voltado ao normal.

– Talvez seja uma escolha nossa que não lhe diz respeito.

Era a garota azul de novo. Sua língua parecia uma lixa seca que raspava a pele dolorosamente.

– Alana. Ele não foi grosseiro – Alina respondeu, parecendo exausta.

– Vocês só podem estar malucas! – Exclamou, fazendo Alanis revirar os olhos. – Gael é perigoso! Ele poderia ter machucado Alan numa dessas crises.

– Gael não machucou Alan nenhuma vez – Aline cortou, impaciente. – Não fique criando situações impossíveis.

– Eu não chamaria isso de impossível. Eu chamo isso de sorte que pode acabar logo se Alan se aproximar demais.

– E chamo isso de chatice aguda – Alanis jogou um olhar irônico para a irmã.

– Eu e todos com graduação em estudos da mente chamam de TEA. E a de Gael não é agressiva – Alina interferiu novamente. De alguma forma, ela era muito parecida com Alba, o que fez Gael simpatizar com aquela expressão maternal.

– Talvez eu deva recordá-la, Alanis, de quando Gael empurrou nosso irmão no chão quando ele tentou abraça-lo!

Ela bateu os braços ao lado do corpo como uma menina irritada faria, e a irmã de cabelos rosas a imitou, fazendo-a se tornar ainda mais feroz.

– Beijá-lo, se eu bem lembro – Alanis riu – E isso foi quando eles tinham seis anos. Se eu fosse Gael, eu teria socado Alan. Ele é evasivo demais. Mas se ele não fosse meu irmão, eu teria aceitado com satisfação – Aline balançou a cabeça negativamente e a mãe a encarou horrorizada. – O que foi? Gael deve achá-lo um gostoso. É por isso que você está com o meu irmão, não é? Eu sei que você tem tesão nele. A maior parte dos alfas têm.

– Garotas! – Alba rosnou, olhando preocupada para Gael que tinha a ilustração de um ponto de interrogação enorme no rosto – Desculpe, minhas filhas mais novas falam demais.

– O que aconteceu com a minha janela? – Perguntou horrorizado, interrompendo as alfas.

De repente todas se silenciaram; olhando hesitantes para o vidro estilhaçado no chão com aquela expressão que criança mal-educada reproduzia quando queria amolecer os pais.

Gael congelou um grito de horror ao sentir suas veias parecendo ser repuxadas pela tensão. Aquilo não estava daquele jeito.

– Nem nos olhe com esta cara – Alanis era a única que estava despreocupada. – Aline voltou da casa de Judith porque você tinha esquecido seu casaco na pressa de deixa-las. Então ela chegou na sua porta e você estava gritando até que tudo de repente se silenciou.

– Eu deduzi que você estava desmaiado e eu tinha razão, no final das contas – A mais velha continuou, olhando cuidadosa para a expressão pesarosa de Gael. Aquilo seria complicado de limpar. – Eu gritei seu nome várias vezes, mas você não respondeu. Então tive que ligar para as garotas me ajudarem a entram na sua casa.

– Eu sinto muito, mas Alanis teve que quebrar a janela – Alina disse com a voz baixinha.

– Nós encontramos você desmaiado em frente ao espelho. E ele não fomos nós que quebramos – Alana apontou para os destroços do vidro refletor.

Aquilo era um pesadelo. O chão do corredor parecia a cena de um filme de ação: sangue e cacos. Ele possivelmente socou a superfície até que a pele de seus dedos descolasse e a imagem de Eva desaparecesse por completo. Seus dedos em carne viva era a prova disso.

– Gael, você pode contar para mim se você quiser – Alba se inclinou suavemente para seu lado, encarando os olhos vazios do alfa.

Ele tinha voltado com aquela expressão neutra que a magoava tanto. Nesse curto período de tempo, Gael tinha se recomposto enquanto suas conexões cerebrais se organizavam. Ele sabia se controlar, mas a frieza de seu rosto revelava que aquilo era forçado.

– Eu gostaria que as senhoritas saíssem da minha casa.

As garotas se entreolharam de novo, constrangidas.

– Nós podemos ajuda-lo a limpar – Alba ofereceu, insegura.

– Está tudo bem, eu mesmo tenho dotes domésticos – Suspirou, lamentando por sua janela destruída. – Vocês deveriam estar com Alan no hospital.

– O médico disse que ele está se recuperando – Aline disse, se levantando do chão.

Gael sentiu seus ombros relaxarem e uma onda de alivio passar pelos seus músculos. Aquilo não era uma promessa de que o ômega estaria bem como antes, mas trocar um sofrimento por outro mais leve era quase como a sensação de se livrá-lo por completo.

Ele tinha lido que isso se chamava esperança.

Era bom senti-la: seu coração dava saltos. Era como estar na areia depois de ter passado muito tempo no mar.

– Se ele acordar... Judith ainda vai ligar para mim? – Perguntou para Aline que tentou sorrir.

– Ela jamais se esqueceria disso.

Continue Reading

You'll Also Like

27.3K 2.4K 51
Em 2018, no Catar, duas estrelas do esporte se cruzam pela primeira vez: Simone Biles, a prodígio da ginástica americana, e Rebeca Andrade, a promiss...
94.1K 5.2K 77
Assim que colocou os olhos nela, sabia que ela era dele e não haveria nada que o faria mudar de ideia. Mas, ela era difícil e ele teria que ir a conq...
142K 8.6K 105
.. vem descrever essa história comigo. (Autora nota) Uma coisa mas não menos importante Essa história não haverá muito hot, eu quero ficar mais no f...
104K 6.3K 31
𝐎𝐍𝐃𝐄 ℳ𝘢𝘯𝘶𝘦𝘭𝘢 ℳ𝘢𝘳𝘵𝘪𝘯𝘦𝘻, 𝘢𝘱𝘰́𝘴 𝘥𝘦𝘴𝘤𝘰𝘣𝘳𝘪𝘳 𝘵𝘳𝘢𝘪𝘤̧𝘢̃𝘰 𝘥𝘦 𝘴𝘦𝘶 𝘦𝘹, 𝘴𝘦 𝘮𝘶𝘥𝘢 𝘱𝘳𝘢 ℐ𝘵𝘢́𝘭𝘪𝘢, 𝘱𝘦𝘳𝘮𝘢...