Quando em Vegas

By MariaFernandaRibeir2

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Julia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos cl... More

Alerta de gatilho+ aviso aos leitores
Dedicatória
Prólogo
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Epílogo
Brianna e Harvey contam sua história
Contato

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By MariaFernandaRibeir2

E mais cedo ou mais tarde se acaba,
Eu só não quero ficar sem você essa noite.
(Iris - Goo Goo Dolls)

Dustin

Washington é a típica localidade de zona temperada. Tendo vindo aqui antes apenas no verão, ter um gosto do inverno de congelar a bunda é uma grande surpresa.

— Você vai carregar só isso? — pergunto a Julia, que está parada ao lado do carro com um travesseiro em uma mão e o celular na outra.

— Pareço estar entrando em um hotel, com um carregador para as minhas malas? — parece. — Estou falando com um juiz, para o habeas corpus de um cliente. Não gosto de deixar inocentes congelando a bunda em prisões do Nebraska.

— Ah? E o que você tem a dizer sobre um inocente congelando a bunda na sua frente?

Ela guarda o celular depois de mais um par de minutos e olha a casa com raiva.

— Se eu pudesse nunca mais voltar aqui. — resmunga.

— Foi você quem quis vir.

Ela bufa e levanta a mala mais pesada. Com medo de que a mala caia em cima dela, seguro a alça no momento que coloca no chão. Ela franze a testa pra minha mão.

— Cadê o seu esmalte prateado?

— Achei melhor tirar para lidar com a sua família.

— Você não tinha que fazer isso, Dustin. Seja quem quiser, a obrigação deles é ficar em silêncio, se não gostarem. É o seu corpo, são as suas regras.

— Não queria sobrecarregar o clima ainda mais pra você.

— Não é o meu corpo, o que eles dissessem seria irrelevante. E eu sou a sobrecarga do clima da família Olligan, você pode andar pelado, serei eu o eterno problema. Fica tranquilo.

Paro no topo da escada e olho para ela.

— Como eu fico tranquilo se você continua dizendo coisas assim? Me preocupo com você. Não gosto da ideia de ter que ficar vários dias com pessoas que te odeiam, o ódio é uma máquina de ferir. Não quero que você se machuque.

— Estou acostumada.

— Isso não é melhor, Julia. Você é... — a porta abre antes que eu possa completar a frase. Um homem aparece no portal.

— Senhorita Olligan. Acompanhante da senhorita Olligan. — ele faz uma mesura.

— É Rutherford, Clinton. E senhora agora. Este é o meu marido, Dustin. Dustin, este é o Clinton.

Sou observado da cabeça aos pés.

— Sua mãe não recebeu os convites do casamento.

— É uma longa história. Não é como se eu fosse convidar alguém da família, tampouco.

— Me sinto ofendido, senhora.

— Você, felizmente, não é da família. Todas essas almas são corrompidas por ela.

Ele dá um sorriso sombrio, e sinaliza o corredor.

— Entrem, vão congelar aí fora. O seu quarto está pronto, Julia, e felizmente há espaço para dois! Só precisarei pedir uma nova toalha e novas pantufas.

Pantufas?

— Para quê precisarei de pantufas? — murmuro para a Julia.

— A casa é toda em mármore, quartos incluídos.

Subimos uma escada de muitos degraus, toda ornada para chegar ao andar superior. O homem abre a porta do quarto e me surpreendo mais. Uau, é para cá que os meus impostos vem, então. Deixo a mala em um canto e o homem aponta onde está cada coisa, aí vira para mim.

— Quanto você calça?

— Quarenta e sete.

Os dois olham para os meus pés.

— Sou um homem alto, preciso de equilíbrio.

— Vou ver se temos pantufas no seu tamanho. Com licença. — o homem sai, e a minha mulher coloca as mãos na cintura.

— Mais uns dois centímetros e você poderia me levantar com os pés.

— Você calça trinta e três, não fale de mim.

— Trinta e quatro, obrigada por checar. Bem, este é o inferno. Bem-vindo. Aparentemente calmo, um lugar pacífico, mas você não está apto a ouvir os gritos ainda.

— Não é tão ruim assim. Além do mais, a cama é gigante, eu vou poder dormir tranquilo.

— As molas não fazem barulho também, são novas. Eu dormi por um mês nessa cama antes de ir para a casa do Pierre.

Sinto um formigamento na barriga.

— Por que importa se fazem barulho ou não?

— Porque não vou conseguir dormir facilmente, então vou levantar da cama com frequência. Não estranhe. Provavelmente estarei lendo ali no canto.

É óbvio que é isso. Preciso lembrar a mim mesmo com quem estou casado.

— Vou tomar um banho, não me deixe sozinho neste lugar. Fique aí.

Ela se joga na cama, que quase joga ela pra fora, e coloca as mãos atrás da cabeça.

— Nunca pensei que seria babá de um adulto. A hora é em libras esterlinas, a gente acerta depois.

— Que mulherzinha cara essa minha.

— Posso dar um desconto se você se comportar.

Mal sabe ela que tudo que quero é não me comportar nem um pouco.

~~~

Saio do banho e a Julia não está na cama. O que eu poderia esperar dela se não desobediência? Não é como se fosse alguém muito confi...

— Finalmente você saiu. Achei que a minha bexiga ia explodir, então tive que usar o banheiro comum. Tem camisinhas usadas no lixo de lá, por isso precisei ser cuidadosa para não encostar no vaso, e isso dá um pouco de trabalho. Acho que preciso malhar as pernas.

Ela fecha a porta atrás dela. Eu grunho de alívio e jogo a toalha nela pra vestir a cueca. Ela me olha com irritação.

— Eu não vou olhar nada aí. — resmunga.

— Mesmo?

— Se você por um segundo acreditou que sim, não tem um julgamento muito bom.

Meu sorriso mostra todos os dentes.

— Se você quiser que eu mostre, é só...

— Não. — ela me interrompe — Obrigada, eu acho. Estou com muita fome, preciso comer algo bem gorduroso e que me deixe satisfeita em poucos minutos, antes que eu morra.

— Hm, e vamos ver sua família quando? Porque eu duvido que tenha algo assim aqui.

Ela suspira.

— Infelizmente tem, e é o jantar hoje. Você não viu o quadro na cozinha? Pizza hoje. Todo mundo come pizza aqui. Você está preparado para conhecer a terrível família Olligan?

— Eles não podem ser tão terríveis, então sim. Vamos lá.

~~~

Eles são mais que terríveis. Marnie Olligan é uma mulher elegante e muito bonita, além de ter uma oratória impecável e de ser perspicaz, mas isso é tudo que posso dizer de bom dela. Ela finge que a Julia não existe, mas conversa comigo como um grande convidado. É irritante.

— A Coreia é mesmo um local exemplar. — ela diz, depois de perguntar o lugar que mais gostei de visitar no mundo — Eu gostaria de conhecer um dia, talvez se um filho meu se tornasse embaixador eu poderia visitar.

— Eu posso pagar uma viagem pra você... — a Julia começa a falar, mas logo é interrompida pelo irmão.

— Envolveria muita logística, mãe. E imagine só deixar este lindo país por tanto tempo?

As narinas da minha mulher se expandem, mas é todo o sinal de irritação que ela deixa transparecer. Aperto a mão dela abaixo da mesa, querendo saber se está bem e ela só me lança um olhar cansado. Afago a mão, antes que a Marnie pergunte algo a Amy, a esposa do Michael, que responde de forma breve e sucinta. Parece gostar de estar aqui tanto quanto a Julia. Quando a refeição finalmente termina, seguro os ombros da Julia pra ela parar de correr, no meio da escada.

— Você está bem?

— Melhor impossível.

— Seja honesta comigo, Julia.

Ela olha pra baixo, e, ao ver que ninguém está vindo, deixa os ombros caírem.

— Eu odeio este lugar. Não dá pra ficar bem aqui. Mas estou bem quanto a Marnie, não se preocupe. É assim desde sempre, tive tempo para me acostumar.

Balanço a cabeça, irritado.

— Pare de dizer que se acostumou a isso.

— Eu não tive uma infância incrível na Espanha, comendo o que quer que você comia, sendo livre pra brincar e pra fazer quantas faculdades quisesse. Ou você se acostuma ao que é oferecido ou... nem sei. É deixado na porta da sua bisavó paterna, que morreu há duas semanas lá dentro? Ah é, isso aconteceu. Só... só entenda que eu sei com quem estou lidando aqui.

Os cacos do meu coração se partem com a imagem que ela pintou. Solto os ombros dela, que entra no quarto e me espera para trancar a porta. Nos encaramos de pé.

— Eu odeio que você tenha passado por isso.

— Não vai acontecer novamente, então está tudo bem.

— Só o fato de ter acontecido já é muito ruim, Julia. O que posso fazer por você? Há algo para te ajudar a esquecer isso?

— Álcool, só que o meu histórico com ele não permite que eu use novamente nessa vida.

— É, acho que não. Algo mais?

Ela não sabe, mas eu faria qualquer coisa pra tirar a dor dos olhos dela, porque não suporto saber que a pessoa inabalável que conheço foi abalada por algo ofensivo. Qualquer coisa.

— Só me distraia. Podemos jogar um jogo ou... não sei. Eu só queria poder fugir daqui novamente, acabar abrigada na casa de um homem muito bonito mais uma vez e começar a namorar com ele de novo.

— Ei! — meu som indignado faz ela olhar pra mim — Eu sou seu marido, lembra? Sou o homem bonito e o namorado em um só. Obrigado por lembrar de mim, esposa.

O revirar de olhos dela me faz rir.

— Força da expressão, Dustin.

— Então eu não sou o homem bonito e o namorado ou eu não sou um dos dois?

Nunca quis ser bonito, não é agora que isso mudou.

— Você é os dois, mas...

— Eu sou os dois?

— Pare de fazer tantas perguntas! — ela reclama, mas eu não paro.

— O que você quis dizer com eu sou os dois?

— Não sei, você não me deixa pensar.

Fico em silêncio por um tempo, deixando ela pensar. Abro a boca pra fazer a pergunta novamente, mas ela fala antes.

— Acho que... acho que quis dizer que gosto da sua companhia, quando você não está me irritando ou me enchendo de perguntas. Eu tive muitos namorados antes, mas nenhum deles me deixou tão perturbada. O que me fez pensar que você era meu namorado foi isso e talvez, mas só talvez, o fato de eu gostar um pouquinho do modo como você vive.

— O modo como eu vivo?

— É. Você é... — ela para de falar. Eu cutuco ela. — Não sei.

— É claro que sabe.

— Não, não sei, e isso me enlouquece. Estou acostumada a entender tudo que acontece e organizar em pastas, literalmente, aí você chega e eu não tenho como te colocar em uma pasta, porque é você!

— Porque sou eu.

— Pare de repetir o que digo. — resmunga.

— Estou tentando entender se isso é uma declaração de amor ou o quê. Sei só que sou seu namorado agora.

— Eu não disse isso.

Sorrio.

— Disse, dois minutos atrás.

— Por que eu diria? Não é a verdade.

Pronto para rebater, abro a boca, mas alguém fala antes de mim.

— O que não é verdade? Ele ser seu namorado? Você é bem, ardilosa, Julia. — o homem na porta ri — Só porque estava ficando vergonhoso ter a sua idade e ser solteira, arranjou um marido por algumas semanas. Aposto que saindo daqui vão seguir seus caminhos.

— É isso mesmo, Michael. Como você descobriu? — ela diz com um susto fingido.

— Fácil. Ninguém suporta ficar perto de você por mais de um mês, além daqueles dois advogados que ocupam a cabeça com coisas realmente importantes enquanto o fazem. Você é uma coisinha bem insuportável. Vou me surpreender se conseguir um marido de verdade, por um meio convencional.

Antes que eu possa dizer algo, ele sai. A raiva queima o meu peito, e vira fumaça quando vejo a Julia querendo chorar. Ela ergue a mão para eu não aproximar.

— Estou bem. O que vem de baixo não me atinge. Ou não deveria atingir, mas sei lidar com isso.

— Julia...

— Por favor, Dustin. São só alguns dias no ano, eu vou sobreviver.

Algo dentro de mim diz que não, não vai.

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