Como não se apaixonar

By Kamisbsantos

108K 13.2K 21.7K

"Se persistirem os sintomas o livro deverá ser consultado." Luisa Lemez se apaixonou perdidamente aos quinze... More

Epígrafe
1° capítulo
2° capítulo
3° capítulo
4° capítulo
5° capítulo
6° capítulo
7° capítulo
8° Capítulo
9° capítulo
10° capítulo
11° Capítulo
12° Capítulo
13° Capítulo
14° Capítulo
15° Capítulo
16° Capítulo
17° Capítulo
18° Capítulo
19° Capítulo
20° capítulo
21° Capítulo
22° Capítulo
23° Capítulo
24° capítulo
25° capítulo
27° capítulo
28° capítulo
29° capítulo
30° capítulo
31° capítulo
32° capítulo
33° capítulo
Bônus 25k
KAMIS: A FLOPADA

26° capítulo

1.6K 201 398
By Kamisbsantos

"Se eu te beijar eu vou gostar
E se eu gostar
É meio caminho andado pra amar"
Enzo Rabelo – Meio caminho andado

Marcos estaciona o carro de seus pais em frente ao prédio de quatro andares mais sofisticado de Macarena. O hotel onde Igor e meus avós estão. Sinto um calafrio subir por minha espinha enquanto encaro pela janela do passageiro o segundo andar onde é o quarto de Igor. A ideia de Mag em aparecer de surpresa no quarto dele me parecia perfeita enquanto ainda estávamos no Flop's, mas agora que estou aqui, me pergunto se é realmente uma boa ideia. Eu não sei ser nem um pouco espontânea e Igor parece que também não. Já prevejo um clima constrangedor rolando entre nós.

— Essa é a última vez que tento te convencer — Marcos se pronúncia tirando o cinto e se virando no banco para ficar de frente para mim. Faço o mesmo. — Desiste dessa ideia maluca e eu te levo para casa.

Desde que saímos do Flop's e Marcos finalmente descobriu que o tal boy que falávamos era Igor, ele tem tentado me convencer que esse meu desejo de ficar com ele é absurdo e que é mais absurdo ainda eu querer me enfiar em um quarto de hotel com ele.

Estou quase chorando de nervoso e se Marcos continuar pressionando pra eu desistir, é exatamente isso que vou acabar fazendo, apesar de eu estar querendo muito provar para mim mesma que sou corajosa e subir lá e agarrar o Igor assim que ele abrir a porta, como Mag me aconselhou.

Mas Marcos entende das coisas, ele me conhece bem e se está dizendo que esta é uma ideia ruim, é porque ele sabe que alguma coisa vai dar errado. O que eu não entendo é ele ser contra eu ficar com alguém sendo que foi ele mesmo que me aconselhou fazer isto todo esse tempo em que estive na seca.

— Marcos, não foi você quem disse que eu deveria me relacionar com outras pessoas? — o questiono. — Quando eu te contei que Igor tentou me beijar e eu sai correndo, você disse que eu deveria dar uma chance.

— Isso foi antes, tá legal? Eu não acho que esse cara seja bom pra você; e eu disse pra você se relacionar e não se envolver — ele esclarece. — Você está se envolvendo!

— Você nunca nem trocou sequer uma frase com ele, Marcos! — o defendo. — A única vez que saímos juntos você ficou ameaçando ele com o garfo que ele me contou!

— É, e ele ficou com sua melhor amiga! Vocês garotas não tem um código ou sei lá o que de não pegar o mesmo cara que a outra?

— A gente não tinha combinado que você ia ficar caladinho e não ia dar mais palpite? — Mag enfia a cabeça no vão entre os dois bancos da frente. — Luisa, me escuta: — Ela segura meu rosto pelo queixo, me fazendo encara-la. — Você tem sim que subir lá e pegar o Igor de jeito e só sai daquele quarto quando tiver recuperado os cinco anos perdidos que você ficou sem beijar. Não pensa muito, não fala muito, só chega e beija!

Sorrio, concordando com a cabeça, sentindo todo meu corpo vibrar. É realmente uma ideia tentadora.

— Não faz nada disso! — Marcos protesta, tomando meu rosto das mãos de Mag. Ele segura minha cabeça com suas mãos. — Você sabe que eu só quero seu bem, não sabe?

— Tá querendo dizer que eu não quero o bem dela, Marcos?

— Não Magda, eu só tô dizendo que conheço a Luisa a mais tempo que você pra saber que ela está se envolvendo demais com esse cara e tá esquecendo que daqui a alguns dias ele vai embora e você sabe e eu sei que se ela subir lá e ficar com ele, só vai piorar tudo! Ela vai se iludir, vai se apaixonar e depois vai ficar triste.

Marcos está errado em apenas um ponto, eu não paro de pensar em tudo isso desde que Igor chegou.

— O Marcos tem razão, Mag. Eu sou uma idiota, vou me apaixonar e depois vou ficar sofrendo de novo — concordo a contragosto, prendendo novamente o cinto. — Me leva pra casa.

Ele sorri num sopro aliviado, se virando pra frente, pronto para ligar o carro.

— NEM PENSA EM LIGAR ESTE CARRO! — Mag grita, puxando os cabelos de Marcos com força, fazendo sua cabeça tombar para trás.

— Você ficou maluca, porra? — ele xinga num grito.

Arregalo os olhos, assustada. Nunca ouvi Marcos dizer um palavrão em todos nossos anos de amizade.

— Qual é o seu problema? Você quer ou não ver nossa amiga feliz? — ela questiona alterada.

— É óbvio que quero ver ela feliz, Magda! O que eu não quero é ver ela feliz momentaneamente pra depois ver ela infeliz por meses! — ele rebate no mesmo tom. — A Luisa se ilude muito fácil, a pessoa não pode dar bom dia que ela já está apaixonada!

— Ei, também não exagera! — protesto.

— Olha, o que quero dizer é que — Ele suspira, em busca de palavras. — Eu conheço você e eu só não quero ver você sofrer de novo e sei que se você ficar com esse cara e se apaixonar, vai acontecer a mesma coisa que aconteceu da última vez...

Ele aperta minha mão, seu olhar exalando preocupação. O meu coração se aquece por perceber o quanto ele se importa comigo e me conhece tão bem.

— Mag, ele tem razão... — tento apaziguar.

— Não tem, Luisa! — ela discorda, histérica. Mag puxa meu rosto, quase quebrando meu pescoço para que eu preste atenção só nela. — Sei que você morre de medo de se relacionar com outras pessoas por tudo o que o Rafael te fez. Ele foi a última pessoa que você beijou há cinco anos, eu entendo! Mas você precisa entender que não é só porque as coisas não deram certo com ele que não vai dar certo com mais ninguém e tenho a certeza que todo esse medo vai passar quando você se der uma chance e ficar com outras pessoas! — ela suspira derrotada. — Olha pra mim, Luisa. Olha quantas vezes fui quebrada. Olha quantas vezes me magoaram. Se eu fosse olhar tudo que já me aconteceu e se ficasse sempre lembrando do que o último me fez, eu estaria deprimida, mas eu não deixo que um cara me faça perder o gosto do que a vida tem de melhor só porque ele foi um escroto-filho-da-mãe comigo. — Os seus olhos se enchem de lágrimas. — Por favor, não deixe que o que aconteceu entre você e o Rafael te faça desistir de ser feliz. Você já perdeu cinco anos da sua vida por causa dele, não acha que está na hora de começar a viver?

Um meio sorriso começa a brotar em meus lábios depois de suas palavras inspiradoras. Eu nunca vi Mag falar tão séria assim.

A puxo para um abraço desajeitado por conta do banco.

Mag pode parecer a pessoa mais sem juízo do mundo e só me dar ideias loucas, mas quando ela está focada em levantar minha auto-estima, ela faz isso com êxito.

— Ela está certa.

Escutamos Marcos dizer e nos separamos depressa.

— Quê? — falamos em uníssono.

— Você pode repetir? Acho que não entendi direito. — Mag se inclina mais para frente, ficando cara a cara com Marcos.

— Você está certa, Magda, satisfeita? — ele diz em alto e bom som.

Mag volta a se sentar em seu lugar de antes com um sorriso gigantesco tomando conta de todo seu rosto.

— É, acho que tô! — Ela se gaba.

— Vai logo Luisa, antes que eu mude de ideia — Marcos diz, se curvando em cima de mim para abrir a porta.

Rio de sua expressão.

Eu não poderia ter amigos melhores.

Dou mais um abraço em Mag que me sacode de um lado para o outro, toda empolgada por ter ganhado uma discussão com Marcos. Assim que termina nosso abraço, dou um beijo estalado na bochecha de meu amigo.

— Eu amo vocês — digo, já do lado de fora.

— Tchau, Luisa — Marcos responde carrancudo. Ele nem me olha, mas sei que não está bravo de verdade.

Assim que fecho a porta, Mag pula para o banco da frente de forma desajeitada, sendo xingada mais um pouco por Marcos.

— É isso aí garota, eu acredito em você! — grita empolgada da janela, com o corpo quase todo para fora. — Sobe lá e pega esse macho de jeito!

Escondo meu rosto, fingindo que não é comigo quando algumas mulheres passam por mim e me olham de cara feia.

— VOCÊ VAI ME MACHUCAR, SEU IDIOTAAAA! — Mag reclama quando Marcos dá partida e sobe a janela do carro, prendendo a metade do seu corpo pro lado de fora. — EU VOU DAR NA SUA CARA SEU FILHO DA MÃE! — Ela se debate na janela, me fazendo gargalhar.

Espero o carro sumir de minha vista para poder entrar no hotel.

Suzi está atrás do balcão falando ao telefone, ao seu lado há um homem engravatado, com cara de quem chupou limão, digitando sem parar no computador.

Ela sorri simpática quando me vê, logo desligando o telefone.

— Veio visitar seus avós? — questiona, depois de me fazer inúmeras perguntas sobre o novo negócio de minha mãe. 

As notícias correm bem rápidas aqui em Macarena, Jesus.

E eu achando que ainda era segredo...

— Eles saíram já faz um tempo e ainda não voltaram — diz, sem me dar a chance de sequer dizer uma palavra. 

— Hã, na verdade... eu... Vim ver o Igor... O garoto que veio com eles... — Solto um pigarreio quando um sorriso sugestivo começa a tomar seu rosto. Seus lábios formam um perfeito O e ela concorda sem parar com a cabeça.

— Ah, claro, claro — repete empolgada, me dando uma piscadela.

— Hã Suzi, não vai acontecer nada disso que você está... — Ela faz um sinal com as mãos para que eu pare de falar.

— A minha boca é um túmulo! — Ela finge trancar a boca e joga a chave invisível longe. — Como de praxe, eu preciso interfonar para o quarto dele e saber se ele pode te receber, ok?

Eu concordo com a cabeça, sabendo que amanhã toda Macarena vai estar falando de mim e especulando quando minha barriga começará a crescer. 

Péssima ideia Magda, péssima ideia. 

Ela volta depois de interfonar para Igor, com um sorriso maior ainda.

— Ele vai recebê-la, você certamente sabe qual é o quarto, não é?

— Sei Suzi, obrigada — agradeço, me afastando do balcão. — Será que isto pode ficar entre nós? — tento, parando no meio do caminho.

— A minha boca é um túmulo — repete. 

Concordo, andando para trás, sabendo que a cova é rasa e que o caixão não foi pregado com bons pregos. 

Aperto o botão e o elevador não demora nem dez segundos para abrir as portas. Escuto Suzi me gritar quando já estou dentro dele e já apertei o botão que me levará até Igor. 

Paro as portas com a mão quando vejo ela correr em minha direção, balançando um papel entre seus dedos. 

— O hotel está apoiando uma campanha e creio que ela vai servir para você. — Ela me entrega o panfleto e sorrio em agradecimento.

O meu sorriso morre no mesmo instante em que leio a primeiro frase destacada em negrito:

"A importância do uso do preservativo"

As portas começam a se fechar enquanto eu a olho de boca aberta e ela me dá um tchauzinho.

Talvez Suzi devesse ter jogado aquela chave mais longe.

Quase entro em pânico enquanto encaro o passo a passo ilustrativo de um pênis sendo encapado com uma camisinha. Não sei porque isto é tão constrangedor para mim ao ponto de minhas bochechas pegarem fogo, sendo que esta é a coisa mais normal do mundo. Minhas mãos suam, amasso o papel e o jogo no canto do elevador quando ele para no andar de Igor. 

Ótimo, agora estou mais nervosa ainda.

Ajeito meu cabelo preso em um rabo de cavalo e a blusa florida em meu corpo, encarando meu reflexo no espelho e tento fazer a cara mais serena possível. Ela dura por alguns segundos, até eu sair do elevador e encontrar Igor encostado na porta de seu quarto me esperando. 

— Oi — dizemos em uníssono quando estamos a centímetros de distância. 

Rimos, constrangidos.

— Oi — ele repete. 

— Oi — repito.

Ele sorri para mim daquele jeito fofo e tímido que faz seus olhos se fecharem quase por completo e é impossível que eu não retribua da mesma forma.

Vamos lá Luisa, sem pensar, sem falar muito, só chegar e beijar. 

Dou um passo à frente encurtando nossa distância. 

Mas quem é que chega e beija alguém assim tão de repente, gente? 

Dou um passo para trás.

Ele bem que gostou quando Mag o beijou de repente.

— Tá tudo bem? — pergunta, com as sobrancelhas franzidas.

Encaro sua boca convidativa e tão... beijável. 

Passei tanto tempo sem beijar e seu eu não souber mais como faz?

— Luisa, você tá bem? — Igor volta a questionar, pousando sua mão cuidadosamente em minha cintura. O meu corpo se arrepia com seu simples toque.

Igor está tão perto. Um movimento e minha boca pode estar finalmente colada na sua. 

Sem pensar muito Luisa, você consegue, vamos lá!

Eu me inclino, possessa para saborear seus lábios, sentindo sua mão mais firme em minha cintura. Olho uma última vez em seus olhos, me certificando que ele quer isso tanto quanto eu. 

Ele quer.

Os nossos lábios se encontram por um mísero segundo.

— Luisa? — A voz de meu avô ecoa por todo o corredor, me fazendo pular com o susto.

Me viro, encontrando meus avós parados nos encarando. 

Drogaaaaaa!

Um sorriso quase brota nos lábios de minha avó, se não fosse pelo que aconteceu ontem no almoço e ela ter declarado guerra contra mim e meu pai por termos escolhido a comida de minha mãe e não a dela. 

— O que vocês estão fazendo? — ele questiona, uma ruguinha saltando em sua testa.

— Eu... É... A gente... — Igor gagueja. 

— Eu tava soprando um negócio que estava no olho dele — respondo rápido, saindo da frente de Igor. 

— É, ela tava... Um negócio no meu olho...

— Ah, por favor, essa desculpa é mais velha do que eu! — minha avó desdenha, equilibrando as sacolas em um só mão para abrir a porta do quarto com a outra. 

— Vó, você ainda está chateada? — eu mudo de assunto. 

Ela me olha, empinando o nariz e entra para o quarto sem me responder. 

— Vai lá falar com ela. Você sabe como sua avó é dramática — Vovô Antônio sugere, revirando os olhos e concordo em um aceno. 

— Hum, a gente se vê depois — digo para Igor, antes de correr para dentro do quarto. 

O meu coração está acelerado quando me escoro na porta recém fechada.

Eu nem acredito que a minha boca esteve encostada na boca de outro alguém depois de tanto tempo.

Tudo bem que foi menos de um segundo, mas foi.

Faltou pouco, faltou tão pouquinho pra eu finalmente sentir o sabor do beijo de Igor.

— Se foi o ingrato do seu pai quem te mandou, nem perca seu tempo! — minha avó diz, me fazendo voltar à órbita.

 Sacudo a cabeça, tentando esquecer Igor por um instante. 

Ela se senta na ponta da cama, de pernas cruzadas, olhando para todos os cantos do quarto perfeitamente arrumado menos para mim.

— Vó, me desculpa se eu e o meu pai te chateamos, mas você tem que parar com isso de querer fazer a gente escolher entre vocês duas a todo momento. — Me sento ao seu lado na cama. — Eu amo você, mas também amo muito a minha mãe.

Ela balança a cabeça de um lado para o outro, limpando a sujeira inexistente em seu vestido de cor turquesa. 

— Eu e o meu pai queríamos tanto que vocês se dessem bem nem que seja só por um dia — bufo, derrotada. — Nunca vou entender esse seu ódio gratuito em cima dela. Eu me lembro desde pequenininha que ela sempre tentou te tratar bem todas às vezes que você veio nos visitar, mas você nunca deu abertura a ela e é por isso que ela parou de tentar. Eu entendo que a senhora tenha ciúme do meu pai, isso é normal. Mas minha mãe ama ele e cuida dele muito bem! Ela é uma boa pessoa, vó.

Ela explode em uma gargalhada debochada assim que termino de falar.

— Ah Luisa, se você soubesse da missa metade do que sei... — ela insinua. — Se você soubesse, não acharia ela uma boa pessoa.

— Então me diz, vó. — Cruzo os braços e as pernas, encarando seu olhar desdenhoso. — Me dá um motivo pra você odiar tanto assim minha mãe?

— Você quer um motivo, Luisa? — Ela me desafia com os olhos. — A sua mãe é uma vadia!

— Vó! — a repreendo num grito.

— A sua mãe sempre foi uma periguete assanha! — continua, levantando seu tom de voz. — Ela ficava com um e com outro até no mesmo dia! E até aí tudo bem, eu não me importava, porque não tinha nada a ver com isso, mas isso foi até ela se meter na vida do meu filho!

— Eu não admito que a senhora fale assim da minha mãe!

— Ué, mas você não queria um motivo? Eu estou te dando um motivo! — Ela ri. — Você quer ouvir o que tenho a dizer ou não? Se não quiser é só ir embora.

— O que eu não quero vó, é que você fique insultando minha mãe — digo, emburrada. — Ela é minha mãe!

— Me desculpe, querida, mas não tenho outras palavras pra descrever essa mulher. — Ela dá de ombros, me fazendo bufar. — Essa mulher acabou com a vida do meu filho, o fez sofrer, o traiu, fez meu filho de capacho e Miguel continuou insistindo nela feito um bobo. — Bufa, batendo forte em suas pernas.  — Ela o fez sofrer tanto, Luisa, tanto que você nem pode imaginar.

O meu corpo se intenciona sob o colchão. Suas palavras soam com uma mistura de ódio e mágoa.

— Ela o traía em todas as oportunidades que tinha. Imagina o que é pra uma mãe que acabou de enterrar um filho ver o outro de cama por conta de uma adolescentezinha inconsequente que não o dava valor? 

Engulo em seco, sentindo a dor em cima de suas palavras.

— Você acredita que ela beijava outros na frente dele? — Ela ri com escárnio. — O Miguel me contava tudo Luisa, ele me contava tudo porque não tinha muitos amigos naquela época. Talvez seja por isso que eu a odeie tanto, porque sei tudo sobre o passado dela e sei que ela não foi, não é e nunca vai ser mulher para o meu filho. — Minha avó nega incessantemente com a cabeça. — E aí adivinha o que sua mãe fez com o único amigo que seu pai tinha?

Os meus olhos se arregalam quando minha imaginação começa a trabalhar.

— Não — nego.

— Ela se deitou com ele — ela diz o que eu já imaginava.

— Não. — Rio, descrente. — Essa pessoa que você está descrevendo não é minha mãe. Ela... Ela ama meu pai, nunca que iria fazer essas coisas com ele!

— Você é muito ingênua, minha querida. — Ela alisa meu rosto, como se sentisse pena de mim. — Ela pode estar mudada agora, mas nada vai apagar o que ela fez. Nada vai me fazer parar de odiá-la. Mas eu ainda não terminei de te contar toda a história. — Ela engole em seco se ajeitando. — Quase três meses depois de Miguel ter ficado acabado, de cama e não ter ido mais procurá-la, ela apareceu lá em casa dizendo que estava grávida... — Minha avó suspira fundo, desviando o olhar do meu. — A pergunta que eu me faço é: como ela pode ter tanta certeza que Miguel é seu pai? Como, se ela ficava com um e com outro?

Sinto meu coração parar de bater por um segundo com sua insinuação. Encaro seu olhar perdido, engolindo em seco mais uma vez.

— Você tá dizendo que...?

— Essa dúvida nunca saiu da minha cabeça e tenho certeza de que dá do Miguel também não.

Eu nego, rindo de nervoso.

— Você está mentindo. Nada disso é verdade.

— Eu não estou.

Os meus olhos lacrimejam e meu peito doe.

— Você... Você.... — As palavras ficam presas junto com o nó entalado em minha garganta. — Você é um monstro — digo com ódio. — Como... Como você pode inventar uma história dessas pra mim? Tudo isso porque escolhi o macarrão da minha mãe ao invés do seu? — acuso, sentindo meus olhos arderem.

— Luisa...

— Como você tem coragem de dizer uma coisa dessas para mim? — grito, exasperada. — Você é minha avó!

— Será que sou mesmo? — A sua pergunta parte meu coração.

A minha visão se embaça pelo acúmulo de lágrimas. O meu corpo treme quando elas escorrem pelo meu rosto em grande quantidade.

Isso não é verdade.

Minha mãe nunca faria meu pai sofrer.

Ela nunca o trairia.

Ele é meu pai, é claro que ele é meu pai!

Esta mulher quer destruir a minha família, é isso! Ela quer que eu questione meus pais. Quer que eu faça eles brigarem. Ela é um monstro!

— Você é um monstro — repito. — Eu tenho nojo de você!

Ela evita olhar em meus olhos, mas eu a encaro sem acreditar que uma mulher que eu tanto amei e admirei é capaz de fazer isto comigo e tudo por causa de uma birrinha com minha mãe.

Me levanto, saindo do quarto, batendo a porta com força.

Vou direto ao elevador e aperto o botão repetidas vezes com força.

As palavras da minha... Dela ecoam na minha cabeça, me fazendo soluçar.

— Isso não é verdade, isso não é verdade, não é! — Cubro meu rosto com as mãos no mesmo momento em que escuto o apito das portas se abrindo.

Eu não olho quando o adentro e acabo batendo no tronco de alguém que logo constato que é Igor.

Ele me olha preocupado quando vê o estado em que estou. Os meus olhos ardem por conta do rímel e tenho certeza que neste momento estou um caos na frente dele, mas nem isso consegue me deixar mais abalada do que tudo que acabei de ouvir.

— Tá tudo bem? — pergunta, segurando meus ombros. Eu apenas enfio o rosto em seu peito quando sinto meu corpo fraquejar.

As portas do elevador se fecham e Igor estica a mão para apertar algum botão.

Ele acaricia meus cabelos e nos mantemos nesta posição até que o elevador chegue ao térreo. A primeira coisa que vejo quando saio, é o olhar intrigado de Suzi sobre mim e me apresso em sair do hotel.

— Ei — ele chama, entrando em minha frente, me fazendo parar. — Tá tudo bem?

Concordo entre soluços, tentando limpar o grande borrão que se formou debaixo de meus olhos.

— A gente se fala depois, eu preciso ir pra casa. — Tento passar por ele, mas mais uma vez ele me impede.

— Eu te levo — sugere, depressa. — Eu te levo, só preciso ir lá na área de lazer e pegar a chave do carro com seu avô, pode ser?

Meu avô. Eu nem sei se vovô Antônio é realmente meu avô.

Esta constatação me faz chorar mais.

— Eu vou rápido. — Igor não espera minha resposta e entra correndo no hotel.

Fico escorada na parede o esperando. Pra minha sorte, ele não demora, saindo com o carro pela garagem. Me apresso em entrar assim que Igor o para do meu lado.

— O que a sua vó fez? — Igor pergunta quando o carro já está em movimento, quebrando o silêncio. Me encolho no banco, cobrindo meu rosto. — Não quer contar? — Eu nego com a cabeça. — Tudo bem, não precisa então.

O agradeço mentalmente por não insistir mais e vamos o caminho todo em silêncio, a não ser pelo barulho de meus soluços que insistem em escapar por minha garganta. Encosto minha cabeça na janela e sigo absorta em meus pensamentos e nem vejo o tempo passar.

Como vou conseguir viver guardando mais esse segredo dos meus pais?

Logo agora que eu estava finalmente me sentindo bem.

— Tá entregue — Igor diz, quando para em frente a minha casa.

— Obrigada — agradeço num tom inaudível, me apressando em sair do carro.

Caminho pela calçada e chego na porta, mas a coragem de abri-la é zero. Só de pensar que minha família pode não ser completamente minha de verdade, o meu coração dói.

Droga, eu não devia nada que ter ido naquele hotel.

Minha mão treme quando a estico para girar a maçaneta e sem pensar muito, entro. Do lugar onde estou posso ouvir as risadas animadas de Jasmim e de minha mãe. Eu caminho até a sala, encontrando meus pais no sofá com minha irmã entre eles. Na TV passa Monstros S.A e as risadas da pequena cessam quando o Sullivan sai de dentro do armário e assusta uma criancinha.

O meu pai abraça Jasmim pelos ombros e diz que é tudo de mentirinha e que o monstro do filme é bonzinho. E ele tem toda razão, o único monstro de verdade e malvado desta história é a senhora sua mãe.

Minha mãe vira para trás,  me notando e um nó se instala em minha garganta, me fazendo chorar de novo.

Corro até o sofá, me jogando no colo de meu pai. Soluço contra seu peito e o sinto me apertar forte.

— Filha? — ele chama, tentando me afastar de si, mas eu não permito que isto aconteça. — O que aconteceu, meu amor?

— Luisa? — É a vez de minha mãe me chamar. Sinto suas mãos em meus cabelos e uma parte de mim sente raiva e vontade de gritar com ela quando penso que esta história pode ser verdade.

— Mamãe, por que a Isa tá chorando?

— Eu não sei, meu amor — minha mãe a responde. 

Me encolho no colo de meu pai, sentindo vontade de nunca mais o soltar.

Me perdoem pelo capítulo gigantesco, haviam muitas coisas a serem ditas.

Não se esqueçam de votar e comentar.  Seu apoio é imprescindível para mim.

Nos vemos em breve ❤️

Continue Reading

You'll Also Like

35.6K 2.3K 86
Reações de Girls Groups de Kpop. Essa fanfic não tem intenção de ofender nenhum idol e nem manchar sua imagem, livro de fã para fã! 🥇CLC 🥇 SOMI 🥇...
31.1K 3.3K 42
Harry é um adolescente impulsivo e cheio de segredos, que aprontará bastante com o coração e com o corpo dos dois maiores rivais do seu colégio.
55.2K 5.6K 57
Adolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia...
92.6K 8.2K 72
Graziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apega...