Dois Mundos Imortais ✓

Por K_M_R_Leda

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{The Wattys 2019 - Vencedor na categoria Ficção Histórica} - HISTÓRIA DE MINHA AUTORIA [Completa] Qua... Más

❁|Apresentação e Elenco|❁
❁|Prólogo|❁
❁|Capítulo 1|❁
❁|Capítulo 2|❁
❁|Capítulo 3|❁
❁|Capítulo 4|❁
❁|Capítulo 5|❁
❁|Capítulo 6|❁
❁|Capítulo 7|❁
❁|Capítulo 8|❁
❁|Capítulo 9|❁
❁|Capítulo 10|❁
❁|Capítulo 11|❁
❁|Capítulo 12|❁
❁|Capítulo 13|❁
❁|Capítulo 14|❁
❁|Capítulo 15|❁
❁|Capítulo 16|❁
❁|Capítulo 17|❁
❁|Capítulo 18|❁
❁|Capítulo 19|❁
❁|Capítulo 21|❁
❁|Capítulo 22|❁
❁|Capítulo 23|❁
❁|Capítulo 24|❁
❁|Capítulo 25|❁
❁|Capítulo 26|❁
❁|Capítulo 27|❁
❁|Agradecimentos|❁

❁|Capítulo 20|❁

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Por K_M_R_Leda

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Boa Leitura

Na manhã seguinte à morte do Primeiro Ministro Gao, o palácio se encontrava um tanto caótico. O rei de Qin ordenou que fosse conferido um dia de luto nacional entre as comemorações, em homenagem ao velho homem que morrera e para consolar a família da rainha Gao Feiyan; devido a isso, todos os membros do palácio usavam roupas simples e claras como sinal de respeito.

Os membros do governo e generais foram convocados para expressar suas condolências à rainha e ao segundo príncipe de Qin, Sheng aproveitou a aparição do general Wuqi para tratar com ele alguns assuntos. Os dois fingiam estar tendo uma conversa casual em meio ao jardim da parte norte do palácio, apreciando os brotos das flores que ainda não desabrocharam.

- A morte súbita do primeiro ministro é coincidentemente bastante favorável aos nossos planos, primeiro príncipe - Wuqi comentou depois de verificar bem se realmente estavam sozinhos - É como se os céus estivessem ao nosso favor.

- Sim, foi uma coincidência vantajosa demais... - Sheng mal conseguiu controlar a ironia na voz. Ele sabia muito bem que aquilo não era exatamente uma coincidência, que a morte não havia sido por causas naturais, como todos imaginavam. O príncipe se lembrava claramente de ter visto o momento em que o ministro foi sutilmente atacado com golpes certeiros em seu tórax.

E a grande culpada daquilo com certeza era Liyu. Afinal, esse era o desejo dela, afetar a família real de Qin. Mas até que ponto ela pretende nos prejudicar? Os pensamentos de Sheng pareciam uma grande tormenta.

- Não podemos relaxar... Com certeza a família Gao foi bastante afetada com a morte do primeiro ministro. Eles perderam uma grande força dentro do tribunal, isso vai deixá-los na defensiva - disse Sheng, passando a mão num broto de flor de ameixa. Ele se lembrou que aquela flor era uma das poucas que resistia às baixas temperaturas do inverno, e de repente a comparou com Liyu. Uma flor que se mostra ao mundo num momento de turbulência.

Sheng balançou a cabeça para espantar tais pensamentos. Ele não queria imaginar Liyu daquela forma tão... Doce.

- Vossa Alteza tem razão. Em breve o rei será pressionado novamente para escolher um príncipe herdeiro. Devido a essas turbulências, a rainha e o príncipe Xufeng farão grandes investidas para alcançarem o trono - Wuqi falou de modo analítico, até que exibiu um sorriso de satisfação - Contudo, o desleixo de Xufeng na batalha em Wei o fez perder certos apoios no tribunal e, o mais importante, fez o rei diminuir as expectativas que tinha para o segundo príncipe. Certamente devemos aproveitar este momento, Alteza.

Sheng soltou o ar que havia em seus pulmões e balançou a cabeça em afirmativa, concordando com o general. De fato, aquele momento era crucial. O primeiro príncipe tinha que fazer a balança pesar mais para o seu lado.

- Eu sou imensamente grato às suas ações, General Wuqi. Sem você, eu não teria conseguido tamanha vantagem... Não pense que me esqueci de minha promessa - disse o príncipe, exibindo um sorriso cordial - Faça o seu pedido, eu o realizarei se ele estiver ao meu alcance.

Wuqi se apressou para se ajoelhar diante do príncipe em gratidão. O general se remexeu e pôs as mãos juntas na frente do corpo para falar o pedido, uma maneira respeitosa de se dirigir a palavra a um membro da realeza.

- Quero demonstrar minha total devoção e lealdade à Vossa Alteza, então o meu pedido é para estreitar ainda mais os nossos laços e a confiança - Wuqi estava visivelmente nervoso, ele respirou fundo para então fazer o pedido - Por favor, case-se com a minha primogênita, Wu Jiali, e a transforme em sua princesa herdeira, Alteza.

Sheng paralisou diante daquelas palavras, ele piscou várias vezes enquanto processava o peso do pedido do General.

De repente o peito do príncipe se contorceu, como se a ideia de se casar com Jiali fosse estranha e estivesse sendo rejeitada pelo seu espírito. Sheng sentia que estava traindo.

Mas traindo quem? Ele questionou a si mesmo.

Traindo... Liyu? Sheng quase soltou uma risada de escárnio por causa da própria ingenuidade. Eu estou mesmo hesitando por causa de uma mulher tão traiçoeira que ameaçou minha própria mãe?

Sheng cerrou os punhos e depois ajudou Wuqi a se erguer do chão. O príncipe limpou o suor que surgia em suas mãos tensas enquanto reprimia tais sentimentos inúteis que já deveriam ter sido destruídos na noite em que se encontrou com Liyu.

Ele não deveria mais pensar nisso, seus planos teriam que ser executados, sua razão deveria se manter imaculada. Sheng sabia que aquela união lhe daria ótimos frutos no futuro, ter como sogro o maior general de Qin era praticamente igual a ter em suas mãos o controle das tropas do rei e uma grandessíssima influência militar no tribunal.

- Essa é uma decisão muito importante, General... Eu gostaria de refletir sobre isso durante alguns dias, ainda mais porque estamos no meio de uma situação turbulenta, e uma união imediata entre nossas famílias poderia chamar a atenção de nossos inimigos cedo demais - o príncipe falou com a voz calma e clara. Ele realmente pensaria naquela proposta... Num outro momento, quando seus pensamentos e sentimentos não estiverem tão caóticos.

- Vossa Alteza tem razão. Eu serei paciente em aguardar pela sua resposta - Wuqi falou com uma reverência.

- Agora quero tratar sobre aquele outro assunto... Onde está Moran? Aquele soldado que me ajudou a fugir em Wei... - Sheng inquiriu, virando o rosto para uma flor que começava a brotar.

- Moran já se encontra em ação, ele está infiltrado entre os servos da família Gao, assim como Vossa Alteza ordenou - o general explicou com um sorriso nos lábios - Em breve ele trará informações a nós.

- Ótimo. Me informe no mesmo instante - um sentimento de satisfação cresceu no peito do príncipe de Qin. Sheng havia notado algo de suspeito em sua viagem de volta a Qin, sua intuição e seus conhecimentos gritavam para que ele investigasse um pouco mais acerca disso.

- Sim, alteza. Agora irei me retirar - o general se curvou uma última vez antes de dar as costas para Sheng e sair rapidamente do jardim.

Sheng continuou a contemplar o desabrochar daquela flor de antes até que todas as suas pétalas estivessem completamente abertas. Os tons violetas e brancos que tingiam a superfície da flor pareciam ficar cada vez mais vívidos à medida em que eram mais expostos sob a luz do sol.

Assim que o espetáculo natural cessou, a mão direita de Sheng atirou uma adaga na direção do telhado ao seu lado, a arma voou com uma rapidez e uma precisão surpreendentes até acertar o alvo: um intruso encapuzado de preto.

O indivíduo caiu de cima das telhas e foi em direção ao chão, mas acabou sendo ágil o bastante para saltar e parar em pé no solo do jardim.

No momento seguinte, Sheng partiu para cima dele com sua espada e desferiu golpes rápidos, com a intensão de desarmá-lo e, por fim, imobilizá-lo, pressionando a ponta da lâmina em sua garganta. Um mísero movimento poderia romper a artéria principal que havia no pescoço do homem encapuzado.

- Você está lá em cima há tempos. É muito mais discreto que os espiões de Xufeng, então logo me dei conta de que você faz parte dos subordinados da princesa de Wei. Tive a minha confirmação quando você não saiu correndo para relatar sobre o que ouvira na minha conversa com o general Wuqi - Sheng falou de maneira inexpressiva, sem afrouxar o aperto da espada contra o pescoço do homem. O príncipe analisou a face do espião por baixo do enorme capuz e logo o reconheceu. Era o senhor Yimu.

Yimu exibiu um sorriso sarcástico antes de falar - E se eu tivesse saído correndo para relatar os seus planos contra a família da rainha Gao Feiyan? Isso causaria uma matança enorme entre a família real e pouparia a minha princesa de trabalhos cansativos.

Sheng respondeu com o mesmo sorriso nos lábios - Aí então a adaga que lancei não teria apenas te derrubado do telhado. Ela estaria enfiada no centro da sua cabeça - os olhos do primeiro príncipe foram tomados por chamas - Por acaso agora Liyu decidiu me vigiar, mandando os subordinados dela me seguirem pelas sombras?

O guarda real Yimu parou de sorrir e se livrou da espada de Sheng com um movimento de kung fu. Sua expressão no rosto agora era séria.

- Estou fazendo isso pela minha própria conta. A princesa herdeira acredita bastante que você foi controlado pela ameaça que ela lhe fez, talvez ela ainda tenha algum tipo de confiança em você por causa dos momentos que tiveram juntos. Mas eu não confio - a voz de Yimu soava cortante como navalha.

Sheng baixou a espada e encarou Yimu com sobrancelhas franzidas.

- Então está desobedecendo aos comandos de sua princesa? Como espera que eu acredite nisso? Eu sei bem que você é inteiramente fiel à Liyu.

- Da última vez eu errei em permitir que ela se envolvesse tanto com um estranho. Eu errei também por não ter reconhecido um dos príncipes de Qin. Minha missão falhou no momento em que perdi a oportunidade de cravar uma espada em seu peito e poupá-la desse sofrimento desnecessário - o maxilar de Yimu estava flexionado, seus olhos eram cobertos pela sombra do ódio - Vou vigiá-lo de perto, Qin Sheng. Se você der um passo em falso e trair a confiança e a chance que minha princesa lhe deu, eu não deixarei isso passar batido.

Yimu então saltou para longe e subiu de volta ao telhado, desaparecendo logo em seguida com a agilidade e o silêncio semelhantes aos de um felino. Sheng observou aquela sombra encapuzada até só haver o puro céu azul sobre as telhas do palácio, suas mãos começavam a ficar pálidas enquanto ele apertava a bainha da espada com toda a fúria que lhe acometia.

O primeiro príncipe de Qin analisou a posição do Sol e viu que estava na hora de se movimentar. Por ser um dos filhos do rei, Sheng tinha o dever filial de visitar a rainha Feiyan e dar-lhe suas condolências pela morte do Primeiro Ministro. Já estava na hora de pôr sua máscara de volta.


❁❁❁


De dentro do palácio da rainha ecoou o som de uma xícara de chá sendo quebrada. O pequeno objeto havia sido arremessado por Gao Feiyan num momento de fúria, e se encontrava agora fragmentado em centenas de pedacinhos pelo piso de madeira escura. A dama de companhia pessoal da rainha se apressou para limpar o local, já que todas as demais servas haviam sido dispensadas anteriormente.

- Mãe real, por favor, se acalme... A senhora deveria aparentar estar de luto - o segundo príncipe de Qin, Xufeng, jazia de joelhos na entrada do quarto da rainha.

- A morte de seu tio com certeza deveria deixar todos nós de luto, Xufeng! E não apenas de luto, como também em completo desespero! - Feiyan esbravejou, erguendo os braços, o que fez as longas mangas de seu hanfu de seda branca flutuarem como se fossem asas.

- Nosso apoio no tribunal não foi inteiramente afetado, mãe real... - Xufeng cerrou os punhos - Além disso, há também a força de nossa família Gao, que é um pilar crucial para o nosso reino. O rei não pode se esquecer disso!

Feiyan soltou uma risada sarcástica e andou até ficar parada bem diante do filho. Ela o observou em silêncio durante dois curtos segundos, antes de lhe desferir um tapa na lateral do rosto de Xufeng.

- Não ouse ser ingênuo num momento como este, Xufeng! Você está colocando todas as suas apostas na boa vontade de seu pai, sendo que sabe muito bem do que ele é capaz. Se Qizheng decidir que a família Gao não merece mais ser o apoio do reino, ele fará de tudo para que assim seja - a rainha mostrou os dentes e aspirou o ar, depois afundou numa almofada que havia por perto - Manter o controle neste momento é necessário, mas para mim você está aparentando uma calma tola. Se esqueceu de que a nossa família Gao tem uma parcela muito grande de culpa na revolta ocorrida em Han? Por causa de nossas ações, Han se viu inspirado a nos invadir! E isso é apenas o pequeno ponto de um imenso buraco! Se qualquer um dentro daquele tribunal souber do que a família Gao fez, Qizheng não nos poupará nem mesmo após a morte.

Xufeng abaixou a cabeça e trincou os dentes, reconhecendo a veracidade e o peso das palavras de sua mãe.

Lembrar-se dessas coisas fez Xufeng cerrar os punhos para que as mãos não tremessem. O segundo príncipe não era muito bom em controlar seu temperamento explosivo, a agitação e a tensão inflamavam em suas veias como brasa. Esse foi o pior momento escolhido por uma serva, que adentrou os aposentos da rainha para notificar a presença da princesa Liyang - ou Liyu -, pois assim que a criada pôs os pés dentro do recinto, Xufeng agarrou a mulher pelo pescoço e a arremessou contra o chão, matando-a com o impacto.

- Eu ordenei que ninguém entrasse sem permissão - Xufeng falou entredentes e com o cenho franzido. Ele chutou o corpo da serva e limpou a mão num lenço dado pela dama de companhia da rainha.

- Sinto muito, Alteza, eu vejo que este não é um bom momento para prestar minhas condolências... - Liyu falou após entrar no local. Ela tinha visto o assassinato da serva e agora sentia um frio no estômago, do tipo que surge quando se está numa situação de perigo.

- Princesa Liyang...? Oh, isso é... - Xufeng tentou se recompor ao ver a princesa na entrada, mas para Liyu isso não ajudou em nada. Mesmo se o segundo príncipe estivesse banhado em ouro, ela não conseguiria sentir nada além de repulsa por ele, principalmente depois daquela cena cruel.

A serva era uma pessoa completamente inocente e só estava fazendo o trabalho dela, afinal de contas.

- Princesa Liyang, por favor, desconsidere o ocorrido. Os nervos do príncipe Xufeng estão horrivelmente abalados por causa da morte de seu tio, o primeiro ministro - a dama de companhia da rainha tomou a palavra, ela carregava um sorriso cínico no rosto enquanto se curvava graciosamente para Liyu.

Desconsiderar? Liyu reprimiu uma careta que ia se formando em seu rosto. Ao invés disso, ela demonstrou compreensão e tristeza.

- Realmente, perder o membro da família é uma das piores sensações existentes - Liyu falou, ela não precisou mentir sobre o assunto.

A princesa de Wei então passou ao lado do corpo da criada, tentando ao máximo controlar o bolo que se revirava em seu estômago ao olhar para o sangue que escorria pela fratura da cabeça da serva, e se curvou diante de Gao Feiyan.

- Sinto muitíssimo pela sua perda, Majestade - Liyu falou cabisbaixa, sua voz carregada de falsa melancolia e solidariedade.

Feiyan soltou o ar e gesticulou para que a jovem se erguesse.

- É filial da sua parte vir prestar suas condolências, mas minha cabeça está doendo e não estou disposta a manter uma conversa - Feiyan falou e gesticulou para que Liyu se retirasse.

- Sim, Majestade. Descansar fará bem à sua saúde - Liyu fez bem o papel de menina adorável. Ela reverenciou a rainha mais uma vez e depois se virou para despedir-se de Xufeng respeitosamente.

- Minha mãe não está disposta no momento, mas eu estou bastante disposto a abrandar o meu luto com uma xícara de chá e uma boa conversa. Gostaria de me acompanhar, princesa Liyang? - Xufeng exibiu os dentes com um sorriso felino.

Liyu intimamente queria recusar aquele convite, mas ela não iria perder uma oportunidade de se aproximar do filho da rainha. Talvez no futuro a princesa poderia tirar proveito disso.

- Fico feliz em lhe fazer companhia num momento como este - a princesa curvou os lábios num sorriso de mel, tão doce que fez Xufeng ficar momentaneamente hipnotizado por Liyu.

Os dois se dirigiram até a área de descanso do jardim, onde havia uma mesa de madeira, decorada com entalhes de flores da primavera nos mais sofisticados tons, e, ao redor, algumas almofadas de seda bordada, onde Xufeng e Liyu se sentaram. Nos instantes seguintes, o príncipe e a princesa foram servidos pelos servos com docinhos e chás.

- Me perdoe pela cena de mais cedo, eu devo tê-la assustado, alteza - Xufeng foi quem quebrou o silêncio.

Liyu bebericou o líquido doce da xícara antes de voltar seus olhos na direção do segundo príncipe.

- Confesso que meu coração parou por um segundo, mas imagino que a sua alma esteja instável pela sua perda. Aquela serva deveria ter entrado nos aposentos da rainha de maneira mais silenciosa e sutil - Liyu desejou morder a própria língua ao dizer essas palavras.

Mas, pela expressão satisfeita no rosto de Xufeng, Liyu concluiu que valera a pena falar tamanha barbaridade. Ela o havia fisgado.

- Não vamos mais falar disso, príncipe Xufeng. Vamos apreciar a brisa desta tarde e este chá tão saboroso... Oh - Liyu estava prestes a servir mais chá para Xufeng, mas o rapaz segurou sua mão antes que ela pudesse fazê-lo.

Xufeng curvou os lábios num sorriso malicioso e passou os dedos sobre a pele da mão de Liyu. A princesa reprimiu o ímpeto de saltar para longe.

- Alteza... Isso não é muito apropriado - Liyu gaguejou como uma pobre mocinha tímida, ela desviou os olhos para o chão e sorriu como se aquela situação fosse um sonho romântico.

Xufeng acreditou naquela atuação como um rato que cai na armadilha cheia de queijo. O segundo príncipe sentiu o corpo inteiro ficar atraído pela princesa, e Liyu tinha total consciência disso.


❁❁❁


Sheng não gostava de sentir o ar daquele lado do palácio, no qual se localizava a morada da rainha, pois lhe trazia péssimas recordações de sua infância.

Durante muito tempo, quando ainda era uma criança, Sheng teve que conviver com Gao Feiyan como se ela fosse sua mãe biológica, assim como as tradições ordenavam.

Ainda que aquela ala fosse uma das mais luxuosas do palácio, o primeiro príncipe sentia como se estivesse adentrando uma prisão mofada e cheia de insetos, pois seu corpo inteiro comprimia-se em repulsa por culpa dos anos em que passou morando ali.

Esse sentimento aflorou ainda mais em seu íntimo quando Sheng, ao virar a esquina do corredor para chegar às portas de entrada dos aposentos da rainha, visualizou duas figuras sentadas entre as flores do jardim real e conversando como se formassem um casal destinado pelos céus.

O brilho do Sol parecia se refletir nos dentes brancos de Liyu enquanto a jovem sorria elegantemente para Xufeng. Eles trocavam palavras e pareciam estar tendo um agradável momento romântico.

Inconscientemente as mãos de Sheng se fecharam em punhos cerrados. De repente o seu objetivo de ir prestar condolências à rainha havia se esvaído de seus pensamentos, e sua mente agora só conseguia focar em Liyu.

Aquilo é uma atuação... Não é mesmo? Sheng pensou consigo mesmo e depois se recordou do banquete do dia anterior.

Liyu havia chamado a atenção dos membros da família Gao em sua apresentação de dança para ninguém perceber o assassinato do Primeiro Ministro. Sheng se lembrava bastante dos olhos incendiados do irmão enquanto ele observava as curvas de Liyu, que se remexiam com a batida da música. O primeiro príncipe havia entendido as pretensões da princesa de Wei naquele instante, mas, ainda sim, Sheng sentia seu sangue ficar muito agitado quando via Xufeng tocando-a e olhando para ela daquela maneira.

E Sheng tinha ainda mais raiva por Liyu fazê-lo se sentir assim.

Naquele momento os olhos da princesa de Wei perceberam a presença de alguém no outro lado do jardim. Ela captou Sheng sob a sombra das telhas do corredor e teve sua visão capturada por ele.

No mesmo instante, como se tivesse sido flagrada cometendo um crime, Liyu tirou suas mãos das de Xufeng e mordeu o lábio inferior. Ela sentiu suas bochechas ficarem vermelhas, mas rapidamente tentou controlar tal reação impulsiva de seu corpo.

- Alteza, me sinto agraciada pela conversa e pelo... Momento que tivemos. Mas já está ficando tarde, eu terei que me retirar, pois tenho que organizar minhas coisas para as festividades de amanhã - disse Liyu, se levantando graciosamente e reverenciando Xufeng em seguida.

Xufeng deu um salto para ficar de pé e segurou o pulso de Liyu, impedindo-a de se afastar dele.

- Princesa Liyang... Então Vossa Alteza participará da caça de amanhã? - o segundo príncipe perguntou. Liyu notou certa agitação e preocupação em Xufeng, por isso decidiu alongar um pouco mais aquela conversa.

- Sim, Alteza. Ainda que eu não saiba nada sobre usar armas e caçar, quero tentar andar a cavalo pela floresta real - Liyu inventou a desculpa. Na verdade, ela queria aproveitar a caçada para se livrar de mais um ente da realeza de Qin.

Xufeng ficou calado por um segundo, ele parecia refletir sobre algo, seus olhos desfocados mostravam isso.

- Princesa... Tome cuidado, o local onde caçaremos é repleto de animais selvagens e seres venenosos. Você é tão delicada, pode acabar se machucando - o segundo príncipe falou.

- Oh! Agora estou com medo... E se algum animal me ferir? Vossa Alteza poderá me ajudar? - Liyu pôs as mãos no braço de Xufeng, quebrando momentaneamente o limite de intimidade que uma mulher e um homem descompromissados poderiam ter. Além disso, ela encarou o príncipe com seus enormes olhos brilhantes, de maneira doce e carinhosa.

Essa atitude de Liyu afetou bastante as estruturas de Xufeng.

O segundo príncipe rapidamente retirou de dentro de sua roupa um frasco de remédio e o entregou à princesa.

- Isso é um antídoto para picada de escorpiões venenosos. Caso algo aconteça com a senhorita, tome-o rapidamente - Xufeng falou, hesitante, como se não devesse estar fazendo isso.

Liyu notou a hesitação do príncipe e suspeitou daquilo. Ela guardou o frasco e lançou um sorriso agradecido e admirado para Xufeng.

- Obrigada pela sua preocupação, príncipe Xufeng, eu guardarei esse presente com muito carinho - Liyu se curvou para o rapaz e então se afastou - Com a sua licença...

A princesa de Wei saiu do jardim e se deslocou pelos corredores, afastando-se rapidamente da ala da rainha. Ela dobrou várias esquinas do palácio até chegar à parte norte, onde havia aposentos abandonados e pouquíssima vigilância e movimentação de pessoas.

Ela ficou observando as peônias desabrocharem enquanto aguardava o silêncio ser quebrado pelos passos de uma certa pessoa.

Não demorou muito até Sheng se aproximar por trás dela, sua respiração pesada atingiu a nuca de Liyu e fez todos os seus pelos se eriçarem. Ela sentiu um calor repercutir pelas suas veias, inflamando-a em pontos que até pouco tempo atrás jamais haviam sido acesos.

- Eu vi o que você fez ontem - Sheng murmurou. Ainda que estivessem sozinhos, era muito arriscado conversar sobre tal assunto.

- Veio tirar satisfações? - os lábios de Liyu se inclinaram num sorriso - Não... Eu sei muito bem que o que fiz apenas lhe ajudou.

Sheng trincou os dentes e avançou um passo, Liyu se viu obrigada a recuar outros dois passos, o que a colocou na ponta do limite entre o piso elevado de madeira do palácio e o solo baixo do jardim. Uma queda daquele lugar seria dolorosa.

- Não fale como se estivesse fazendo um favor para mim. Eu já entendi quais são seus objetivos aqui... - Sheng falou com o cenho franzido. Ele evitava encarar diretamente os olhos de Liyu, pois temia perder a linha de raciocínio - Você está começando com a parte mais problemática da família real, vai mata-los aos poucos, e quando terminar, virá até mim.

Liyu desviou os olhos.

- Eu prefiro me portar como o pescador que lucra com a briga entre o pássaro e o mexilhão - a princesa murmurou, sentindo uma dor pesar em seu peito - Vocês vão se matar por conta própria.

Sheng franziu o cenho e, num impulso de raiva, ele segurou as laterais dos ombros de Liyu, obrigando-a a encará-lo.

- "Vocês" Quem? Xufeng e eu? - Sheng soltou uma risada repleta de escárnio - Eu já sei qual o seu esquema e, acredite, não pretendo virar seu peão, ainda que esteja me mantendo em constante ameaça... Não pense que estou dependendo completamente da sua boa vontade em relação à minha mãe, pois as suas ações dentro deste palácio são arriscadas e perigosas, e a qualquer momento alguém pode pegá-la e executá-la. Não se iluda achando que vou permanecer como a peça de seu jogo até o fim, pois se há uma coisa que consigo fazer bem é me retirar de situações difíceis da melhor maneira possível, e eu juro que dessa situação eu vou encontrar uma saída.

Liyu mordeu a parte interna da bochecha e controlou o corpo que ameaçava tremer. Se Sheng descobrisse sobre o blefe, tudo estaria perdido.

- Eu não preciso montar um jogo, primeiro príncipe. Vocês irmãos já estão ocupados demais jogando suas próprias peças até que um finalmente destrua o outro - a princesa de Wei tentou mudar o caminho daquela conversa - Tudo que fiz até agora foi atiçar a disputa e eliminar uma das peças importantes do seu oponente. Deveria estar agradecido.

Sheng soltou os ombros de Liyu e arqueou as sobrancelhas, formando uma expressão cínica em seu rosto.

- Eu vi muito bem o que você andou "atiçando" - a voz de Sheng saiu inexpressiva, mas o primeiro príncipe não conseguiu disfarçar o olhar afiado e intenso para Liyu.

A princesa sentiu as bochechas ficarem quentes. Liyu não queria acreditar que estava sentindo vergonha e culpa por aquilo.

- Bem... Ter o filho da rainha na palma de minha mão me ajudaria de várias formas - a jovem desviou o olhar - Você... Você não tem que saber disso. Não é da sua conta e é melhor que não queira se intrometer. Não estou exigindo nada a você, quero apenas que fique em seu próprio caminho, sem me atrapalhar, e então darei o antídoto à sua mãe. É só! - Liyu tentou se afastar de Sheng, mas ele a encurralara na ponta do piso elevado de madeira

E como se tivesse total noção disso, Sheng se aproximou mais um passo de Liyu, prendendo-a completamente. A princesa tentou afastá-lo com uma mão, mas o rapaz imediatamente lhe segurou o pulso e a prendeu contra ele.

- Até que ponto você pretende ir para conseguir fazer Xufeng ficar na palma de sua mão? - o aperto de Sheng no pulso de Liyu era forte, mas não machucava. Ele realmente parecia querer saber sobre os meios de conquista da garota e intimamente temia que ela acabasse se entregando totalmente aos seus objetivos.

Se entregando de corpo e alma. De corpo... E alma.

- Isso não é da sua conta. Solte-me! - Liyu então usou suas habilidades para se soltar da mão de Sheng e afastá-lo. De início foi eficaz, o príncipe não conseguiu mantê-la sob seu controle, mas Sheng também era habilidoso, e os dois acabaram se chocando violentamente com seus movimentos corporais, levando-os a cair, juntos e abraçados, em direção ao solo do jardim, em meio aos arbustos e botões de flores recém brotadas.


❁❁❁❁


Me desculpem pelo sumiço e pela demora em postar, minhas aulas voltaram e a vida não está mais me permitindo ter um bom tempo ocioso... Devido a isso, acabei escrevendo essa Bíblia de mais de 4000 palavras para os meus leitores ficarem momentaneamente satisfeitos. Espero sinceramente e com todo o coração que tenha sido do agrado de todos

Voltarei em breve com mais capítulos! A coisa entre os nossos pombinhos Sheng e Liyu está ficando cada vez mais cabulosa, próximo cap ocorrerá na caçada real... E coisas muito intensas acontecem durante uma caçada e.e

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