Louis e Noémie - Um (a)caso d...

By GiuMancini

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A ideia era simples: um cadeado com as iniciais dos apaixonados, uma ponte na cidade mais romântica do mundo... More

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Louis e Noémie já disponível gratuitamente!

Parte I - Prólogo

290 20 15
By GiuMancini

Louis e Noémie acordaram naquela quente e perfumada manhã do fim do mês de Abril com sorrisos estampados no rosto. Imagine um churro com o doce de leite vazando e você tomando o cuidado de não desperdiçar nada, ou o primeiro dia das férias do colégio, ah, ou ainda aquela sensação de acordar sabendo que o hoje será mais feliz do que o ontem. Então, naquela manhã era tudo isso e muito mais.

***

Louis virou para o lado e viu sua amada Blanche ainda dormindo. Os cabelos claros e brilhantes espalhados pelo travesseiro e a boca se abrindo em sorrisos esporádicos e perfeitos, como se ela estivesse sonhando com um dia de verão na casa de praia da família dele ou com a primeira vez deles, quando tinham 15 anos, ou ainda com os cinco filhos que eles sempre conversavam que teriam: dois meninos e três meninas.

- É meio louco você ficar me olhando enquanto eu durmo, Louis - Blanche bocejou pela provável 3.650ª vez, os olhos ainda fechados, pois não foi necessário abri-los para adivinhar o que ele estava fazendo. 10 anos juntos e todas as manhãs, sem falta, ele acordava primeiro e ficava na cama olhando para ela.

- Se um dia você decidir não acordar tão linda quanto hoje, talvez eu não fique te observando - ele sussurrou pela 3.650ª vez, baixando a voz para não tirá-la bruscamente do sono.

Blanche abriu os olhos e sentou-se na cama o mais depressa que pôde.

- Sabia que hoje você não vai trabalhar? - ela lhe disse.

- É mesmo? E o meu chefe sabe disso? - Louis brincou.

- Você vai ligar para ele e vai dar uma desculpa qualquer - Blanche prendeu os cabelos e virou o rosto para ele - não vai?

- E porque eu faria isso? - ele fingiu pensar, pois é claro que ele faria.

- Eu tenho uma surpresa pra gente! - ela exclamou feliz da vida, pegando na mão dele e dando um beijo em cada dedo.

 Louis vidrou os olhos nela e nos lábios em formato de coração, nas maçãs do rosto levemente avermelhadas e sem qualquer maquiagem; e nos olhos grandes, que pareciam sempre assustados, como se ela esperasse uma surpresa do destino a qualquer momento.

- Amor, e se um dia eu não acordar? - Blanche indagou, enquanto passava a perna por cima da dele. O short curtinho subindo de uma maneira que os olhos de Louis não deixaram de perceber.

Ele alisou as costas dela bem devagar e disse do fundo do coração:

- Eu volto a dormir também. Para sempre.

Eles ficaram na cama até a hora em que precisaram encarar o mundo.

Já no destino da surpresa, Louis teve que correr para alcançar Blanche.

Assim que desceram do táxi, ela o deixou pagando a corrida e andou apressada até a metade da Pont des Arts. Abriu os braços, levantou a cabeça e fechou os olhos; o vento soprando em seu vestido branco e nos cabelos loiros completamente soltos.

Louis teve que se apaixonar novamente por ela.

- Um cadeado pra gente? - ele perguntou, a abraçando por trás.

Blanche colocou os dois braços por cima dos dele e fez que sim com a cabeça.

- Estamos atrasados - ela começou - 10 anos juntos e ainda não eternizamos o nosso amor.

Louis riu.

- Nenhum objeto vai ser capaz de eternizar o que eu sinto, amor. Ainda não inventaram um grande o suficiente - ele brincou.

- Então você não quer fazer? - Blanche se afastou dele, parecendo realmente chateada.

Louis ficou alarmado. Ele sabia que às vezes ela não entendia as brincadeiras dele e, em alguns momentos, até ficava triste por dias e dias. Blanche era assim: completamente emotiva e movida pelas palavras que lhe eram dirigidas. Bastava uma sílaba de carinho e o dia dela ficava perfeito. Mas também bastava uma letra mal interpretada e ela ficaria na cama pelos próximos dois dias.

- Amor, eu estava brincando - ele se corrigiu, entrelaçando seus dedos nos dela - é claro que eu quero fazer isso. Será mais um dos nossos lugares em Paris.

Ela lhe deu um sorriso tímido e tirou um cadeado branco da bolsa. As iniciais deles, "L e B", estavam pintadas em vermelho e corações da mesma cor decoravam o restante do objeto.

Blanche se aproximou da grade e pediu a mão direta de Louis.

- Devemos fechá-lo juntos e, ainda com as nossas mãos grudadas, devemos jogar a chave no Sena - ela o informou.

E assim o fizeram.

Para Louis, foi apenas um ato simbólico para agradar o amor de sua vida.

Para Blanche, foi uma certeza de que eles ficariam juntos para sempre.

Ele encostou-se à grade e ela o abraçou forte, jogando todo o seu peso contra o corpo dele.

Louis teria aproveitado cada segundo daquele abraço se os seus olhos não tivessem parado em um sorriso do outro lado da ponte. Era simples, sincero e provocante, tudo ao mesmo tempo. Como se ela quisesse ter certeza que ele não olharia para mais ninguém.

Ele não sabia explicar o porquê, mas não conseguiu desviar o olhar.

Nem mesmo quando Blanche o chamou pela terceira vez.

***

Noémie virou para o lado e encontrou-se sozinha na cama. Ainda de olhos fechados, ela sorriu, pois sabia que o viria a seguir. Esticou os braços acima da cabeça e, pela 2.555ª vez, recostou-se no travesseiro de Gael e afundou o nariz nele, tentando absorver o máximo que pôde; o cabelo escuro contrastando com o branco da fronha. Sete anos juntos e todas as manhãs, sem falta, ela passava alguns minutos afogada no lado em que ele dormia.

- Bom dia, amor - Gael se aproximou, saindo do banheiro e voltando a deitar com ela na cama, passando a mão em sua perna.

Noémie mordeu o lábio. Ela era completamente louca pelas mãos dele, mais do que pelo corpo magro, pelo cabelo curto e meio Punk e mais até do que pela boca que ela tanto beijava. Não, não mesmo. As mãos ganhavam de qualquer parte, pois com elas Noémie se sentia protegida e amada.

- Bom dia - ela se recostou no peito forte dele, enquanto colocava uma mecha atrás da orelha.

- Quer ir comigo pro ensaio? - Gael perguntou, fazendo carinho nela.

Eles estavam em Paris há dois dias e ela só havia conhecido o bar no qual Gael faria três shows pelos próximos dias. Noémie queria sair e conhecer Paris. Era a primeira vez dela ali e era um sonho antigo. Um sonho e uma lista de lugares que ela compartilhava com a mãe, que agora não estava mais nesse mundo.

- Não podemos conhecer a cidade? - rebateu - Eu tinha uma ideia para hoje - acrescentou, cautelosa. Ela não queria que Gael pensasse que o trabalho dele não era importante.

- Eu estou te devendo, né? - ele foi sincero - Eu só trabalhei desde que chegamos.

- É só que... - ela buscou as palavras - Paris é a cidade mais romântica do mundo.

- Faremos do seu jeito, então. Eu topo - concordou.

Noémie deu um gritinho.

 - Ah, acabei de te cheirar de novo - confessou manhosa.

Gael riu e afagou a cabeça dela, dando-lhe um beijo curto, mas cheio de carinho.

- E se um dia você não acordar mais com o meu cheiro?

Ela não precisou de muito tempo para responder e seu coração doeu só de pensar na possibilidade.

- Eu prefiro não voltar a dormir - fez uma breve pausa e completou - ou talvez jamais acordar.

Noémie fechou os olhos e sentiu-se a mulher mais sortuda do mundo. Ela tinha um amor e um dia inteirinho com ele em Paris. Talvez eles até pudessem seguir alguns itens da listinha de "coisas para fazer em Paris" que ela e mãe escreveram com tanto carinho. Seria, de fato, o melhor dia de todos.

Eles ficaram na cama até a hora em que precisaram encarar o mundo.

Já no destino que ela tinha em mente, Noémie deixou Gael pagando o táxi e correu para a metade da Pont des Arts, desde o dia em que descobriu a história daquele lugar, ela decidiu que teria um cadeado ali. Um símbolo para eternizar o amor que eles sentiam.

- Você não está pensando em agredir essa ponte, está? - ele perguntou, rindo.

- Como assim agredir? - ela ficou na defensiva.

- Colocar mais um cadeado aqui - Gael se explicou - eles só prejudicam a sustentação e a beleza da ponte.

Noémie ficou extremamente chateada.

Ele sabia que era da personalidade dela ser uma romântica incorrigível e, naquele momento, ela não estava dando a mínima para a estrutura da ponte ou para a beleza que os cadeados tiravam dela.

- Tudo bem - afastou-se com a cara emburrada.

Gael a tocou de leve no braço.

- Amor, desculpa, - falou, ainda mantendo o tom de riso - mas você sabe que eu não acredito nessas besteiras de eternizar nada. O que basta é o que estamos vivendo. Você não acha?

Noémie puxou o braço com violência.

- O que estamos vivendo? - ela franziu o rosto - Você quer dizer dois dias em Paris e nenhum passeio? - soltou com raiva, cruzando os braços.

Ele forçou um abraço e Noémie cedeu aos poucos, ela não conseguia ficar longe das mãos dele por muito tempo.

- Eu disse que iria ser do seu jeito hoje e é assim que vai ser - Gael murmurou para ela, beijando seu pescoço - esquece tudo o que eu disse e vamos eternizar o nosso amor.

Noémie tirou um cadeado que ela trouxe do Canadá especialmente para aquele momento. Ele era roxo, com decalques de corações cor-de-rosa e as inicias dos dois, "G e N", escrita a mão por ela com esmalte e um palito.

- Só dá certo se a gente fechar o cadeado juntos e depois jogar a chave no Sena - ela disse animada.

Gael assentiu.

Assim que o ritual terminou, Noémie ficou de costas para o Sena e abraçou o namorado. Ela estava tão feliz naquele momento, o amor dos dois seria para sempre, como ela sempre quis e sonhou.

Ele se afastou bruscamente com a vibração do celular.

Quando Noémie virou a cabeça para pedir mais atenção ao homem que amava, ela encarou o olhar mais sincero que já tinha visto em toda a sua vida. Ele era um completo estranho e ela até se culpou por ter ficado um pouco nervosa com a intensidade que recebia dele.

Noémie não conseguiu evitar em mostrar o seu melhor sorriso. Não foi proposital, foi simplesmente natural. Para ela, aquele olhar profundo merecia um sorriso igualmente contagiante.

Ela não sabia o porquê, mas não conseguiu parar de sorrir.

Nem mesmo quando Gael a chamou pela terceira vez.

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