Meu amigo não tão imaginário...

By nicolypachecos

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Clínicas, psicólogos e sessões com os orientadores do colégio resumiam grande parte da infância de Jeon Jeong... More

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By nicolypachecos

Lembrem-se... mente aberta e coração aberto!

Boa leitura ♡

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Às vezes, o tempo e os momentos passam pela nossa cabeça como se fossem um borrão.

Normalmente isso acontece quando nossa cabeça fica tão cheia que não sobra espaço para mais nada. Ou quando alguma coisa grande acontece. Pior do que ter essa sensação, é reconhecê-la por ela ter se tornado familiar. Pior... é acontecer de novo e de novo.

Como nesse momento. Exatamente agora, esse sentimento está voltando com tudo, as duas situações estão acontecendo de uma vez e eu estou... é claro, em pânico.

Minha mente continua trabalhando sem parar. Desde que saí de casa estou assim, e não consigo parar. Fico checando o celular a cada cinco, dez, quinze segundos; me sentindo perdido enquanto corro contra o tempo. Andando pelas ruas, atravessando quadra por quadra, subindo em cada calçada com os ossos tremendo, eu continuo pensando sem parar. Tremendo de nervoso e frio também...

Droga... no desespero daquela ligação, eu não me lembrei de colocar minhas luvas, muito menos meu cachecol e touca. Eu estava só de calça, sapatos e um moletom que mal me esquentava naquele frio intenso de janeiro... mas não consegui voltar para casa quando notei esses erros. Eu não podia me atrasar mais, eu precisava chegar logo.

Precisava ver Jimin.

Apesar de ter chorado o tempo todo nos últimos dias, sentindo medo da sua possível reação, eu ainda não me sinto preparado pra isso. Porque, quando li as cartas do meu irmão mais velho, a minha mente se abriu tanto... eu percebi, com força, que queria Jimin. Percebi que tínhamos uma história problemática, mas isso não mudava nada, eu continuava o amando com todo meu coração...

Essa era a minha verdade, só essa. Ficamos juntos apesar de toda aquela merda e eu quero continuar com ele... pra sempre.

Mas... caramba, eu não sei o que está acontecendo dentro dele e isso me desespera. Principalmente porque sinto muito mais medo de perder ele agora do que antes.

Eu sinto medo de Jimin desistir de nós dois por causa de tudo que fizeram com a gente...

Sabe, existiam tantas coisas que poderiam levá-lo à isso. Jimin sempre dizia que queria esquecer seu passado e seguir em frente, e eu amava tanto isso, porque era algo que tínhamos em comum. Eu queria me esquecer do meu também, mas agora, sabemos que somos parte do passado um do outro. Do passado conturbado um do outro...

Então... por que Jimin não desistiria?

Eu não vou culpá-lo se ele precisar disso, se for melhor pra ele, eu vou apoiá-lo... porque eu o amo tanto. Eu só quero vê-lo bem... Mas só de pensar que ele precisa ficar longe de mim acaba comigo... eu me sinto arrasado e só consigo pensar no pior.

Por ter visto tão intimamente como seu passado lhe machucou, o que mais me dói é isso. É machucá-lo também. Mesmo sem querer, mesmo sem nenhuma intenção, não quero fazer mal à Jimin. Não quero fazer mal a alguém que amo tanto, tanto. Apesar de todos os males, eu ainda quero passar o resto da minha vida com o Jimin... mas e se ele não quiser?

Porra.

Eu quase tropecei quando, subitamente, parei no lugar. Mal percebi quando passei direto pelo prédio do Park, distraído por causa dos meus pensamentos. No entanto, sem enrolação, voltei correndo, passando pelo portão, e abrindo a porta do prédio assim que percebi que ela estava aberta.

Meu coração continuava batendo violento, soando dentro da minha cabeça como uma música exageradamente alta. Minha respiração exaltada, meus passos pesados, meu coração aflito... tudo soa absurdamente alto e eu fico cada vez mais tonto.

Assim que cheguei em seu andar, precisei parar um pouco pra me recuperar. Minhas mãos estavam pulsando de frio e meu nariz praticamente congelado. Mas, caramba, não é como se eu conseguisse me preocupar comigo agora... à esse ponto, só consigo pensar no que vai acontecer agora. Agora. Agora.

O que vai acontecer agora?

O que vai acontecer comigo e com você, Jimin?

Explodindo em ansiedade, não me permiti pensar mais. Ergui minha mão com tudo e choquei ela contra a porta, batendo constantemente, mais forte do que o necessário por conta desse desespero incessante.

E quando parei, percebi.

É agora.

Estava feito.

Eu estava na porta dele.

E ele sabia que eu estava ali.

Estava feito.

O meu coração pesou. Meu estômago ficou gelado quando eu ouvi os passos fortes do lado de dentro do apartamento, como se ele corresse para abrir. Quando a porta foi puxada, a minha mente se silenciou... porque caramba, era ele. Ele.

Jimin.

— Jimin... — Perdi o fôlego.

Jimin estava bem ali.

Quando meus olhos encontraram os seus, a realidade evaporou. Tudo ficou surreal e estranho de repente...

Fazia tanto tempo que eu não o via, era estranho encontrá-lo novamente... olhar nos seus olhos, agora, era diferente. Eu tinha me tornado outra pessoa depois de saber de tudo, me sentia outro alguém, sentia que nossa relação estava diferente. E vê-lo, depois de tanta coisa mudar... me fez sentir medo.

— Jimin... — eu sussurrei, novamente, sem conseguir me segurar... sentindo o medo se alastrar pelo meu peito novamente.

Eu estava paralisado... Merda. Merda, eu não consigo...

Jimin ficou parado, assim como eu. Ele estava ofegante, com uma calça e uma blusa de pijama. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, seus olhos estavam inchados e vermelhos e, porra... eu odeio conhecer os olhos do meu hyung tão bem à ponto de saber que ele chorou.

Jimin chorou, ele estava chorando...

Um arrepio ruim subiu pelo meu corpo. Meus olhos arderam e eu senti as lágrimas chegarem mais rápido do que pensei ser possível... minha boca seguiu essa dor que está tomando conta de mim pela culpa, e eu comecei a tremer. Tudo em mim está tremendo e eu só quero gritar e implorar para Jimin me perdoar por tudo...

Meu coração acelerado e o meu peito pedem por isso. Por alívio, por perdão... mas tudo de negativo voltou em um segundo e eu não estou conseguindo pensar direito. Só consigo sentir que ele me odeia, que sua família o abandonou... e que sou só outra pessoa que o machucou.

É negativo e ilógico, mas eu não consigo evitar, não posso evitar.

Esses pensamentos me derrubam de uma só vez e a sensação é horrenda. Parece que estou me afogando nessa culpa, nesse sentimento ruim e, por fora, perco totalmente o controle. As lágrimas começam a descer pelos meus olhos por vê-lo, pela culpa... só por estar com Jimin.

Pior do que tudo isso é ver a mesma coisa acontecendo com ele bem na minha frente. Jimin começou a ficar trêmulo e ofegante, e seus olhos transbordam como se não houvesse amanhã. E nós choramos, choramos, e choramos... apenas nos encarando enquanto sofremos sozinhos.

Por nos vermos, pelo que aconteceu, por tudo, nós sofremos.

Jimin dá um passo a frente.

— N-não... — Ele chora audivelmente...

Senti que ia desmoronar quando Jimin se empurrou contra o meu corpo, me abraçando, surpreendentemente me abraçando, e eu o abraço de volta com todo o desespero que já não cabe dentro de mim. O abraço de volta fortemente, como se ele pudesse sumir a qualquer momento e não voltar nunca mais...

De toda forma, esse continua sendo meu maior medo.

Jimin acabou cambaleando um pouco, como se estivesse sentindo tudo na mesma intensidade que eu, e provavelmente está. Quando o toquei, sentindo seu corpo quente e macio nos meus braços, pensei no quanto isso deve estar sendo difícil pra ele. Eu estava sofrendo tanto, completamente tonto por conta da ansiedade, mas... caramba, isso não muda nada.

Porque, com ele em meus braços, só consigo sentir seu doloroso sofrimento.

Eu sinto. Sinto porque conhecia sua dor. Lá no fundo, eu guardava essas lembranças dolorosas... nunca me esqueci dos detalhes daquele dia ruim que tivemos juntos. Quando Jimin tremeu e chorou nos meus braços, me contando sobre todas as coisas ruins que, um dia, ele já escondeu de mim e do mundo.

Por isso eu sei. Sei que Jimin está sofrendo agora porque sei como ele sofre, e isso faz com que eu retome o controle de uma forma... surreal.

Eu me recomponho para abraçar ele, então, com muita força, porque sei como ele está se sentindo agora. Só eu sei.

— Tudo bem... — sussurro, mas saiu tão baixinho que ele provavelmente não escutou.

Sem querer, acabo soluçando um pouco, fazendo Jimin fazer o mesmo... talvez machuque tanto nele me ver sofrendo quanto machuca em mim, por o ver do mesmo jeito.

Seguro seu corpo. Minhas orelhas começam a doer por causa do frio enquanto eu lhe abraço. Percebi que Jimin está descalço e eu estou quase doente por causa desse frio... precisamos entrar.

O ar quente está saindo pelo seu apartamento por causa do aquecedor reforçado, então o puxo para entrarmos juntos e nos aquecermos. Assim que fechei a porta, forte até demais, conosco dentro, Jimin se afastou de mim, num ato quase automático.

O vi dar dois passos para trás, ainda instável. Ele secou o próprio rosto com as mãos e as deixou paradas no ar logo depois, como se estivesse pronto para dizer um monte de coisas...

Mas ele para, assim que olha para meu rosto.

— No... no que você estava pensando?

— Eu... — ele me interrompe.

— No que você estava pensando, Jeongguk? — ele indaga, e eu mal sei o que dizer. — Olhe pra você. Sua boca está roxa. Você está sem cor. No que você estava pensando?!

Sua voz está rouca e forte, e é como se ele estivesse brigando comigo.

Só depois de ouvi-lo, eu percebi que ele não estava falando da merda que aconteceu com a gente. E sim do fato de eu estar praticamente descoberto em um frio violento, e isso claramente o deixou ainda mais chateado...

Eu abaixei a cabeça diante dos seus olhos, porque ele parece tão indignado e frustrado... mas a forma como me encolhi não lhe fez parar.

Jimin segurou minha mão com força, tocando meus dedos marcados de frio, então franziu ainda mais o cenho. Agora eu mal sei o que está passando pela minha cabeça, eu não sei dizer e nem fazer nada... até perceber que as lágrimas estão escorrendo pela sua pele. De novo.

Não, não, não...

— M-me desculpa, hyung... — Pedi, apertando sua mão de volta. — Eu não pensei direito, eu só queria chegar aqui logo... me desculpa.

Jimin negou com a cabeça. Seus lábios estão curvados para baixo, tremendo, e sinto que ele vai despencar novamente. E ver isso me faz sentir que também vou, de novo, a qualquer momento.

Porque, sempre que Jimin chora, eu me vejo sem chão novamente.

Jimin me puxou pelo pulso. Por um momento, pensei que ele fosse voltar a me abraçar, mas ele não fez isso. Apenas me puxou até o corredor do apartamento, perto dos quartos e, assim que chegamos ali, ele parou junto comigo.

— Desculpa... — eu sussurrei, olhando para ele.

Jimin soltou minhas mãos, puxando as suas para si e dizendo:

— Fica aqui, Jeongguk.

Antes que eu pedisse desculpas novamente, Jimin me fez ficar quieto. Ele pressionou os dedos nos meus ombros e, com certa força, me pôs de joelhos... Fiquei lhe olhando, confuso, mas ele não se importou, só me empurrou mais, fazendo com que eu me sentasse no chão, escorado na parede perto da porta. Depois disso, ele parou por um segundo, deu a volta, e só entrou em seu quarto.

Apesar de estar tentando não pensar demais, não posso evitar me sentir mal por causa dessa atitude sua. Nos cinco segundos que Jimin ficou lá, minha mente se encheu de questionamentos e pensamentos negativos. Afinal, ele precisa ficar sozinho? Ele quer que eu fique aqui?

Jimin precisa que eu fique longe?

A possibilidade me deixou melancólico de novo, mas eu não fiz nada sobre isso, até porquê eu nem sabia o que fazer. Só fiquei ali, pensando e me culpando e...

— Jeongguk... — Suspiro surpreso quando lhe percebo voltar, se movendo rapidamente, como se estivesse... desesperado?

Fiquei tão distraído com seu tom de voz que não percebi o que Jimin estava fazendo. Até que ele se aproximou do meu corpo, com um cobertor grosso e pesado nas mãos, me olhando com o cenho franzido de preocupação.

Preocupação...

Só então, me dei conta de onde estava.

Do lado do aquecedor.

Ergui meus olhos pro seu rosto e sua silhueta, praticamente fixado em si. Senti-o me tocar nos ombros, e depois me envolver com o tecido quente, esfregando-o em mim algumas vezes enquanto sussurrava baixinho coisas desconexas. Caramba. Caramba. Jimin estava me aquecendo porque eu estava com frio...

Jimin estava cuidando de mim.

Esse fato fez minha pele vibrar porque... caramba. Caramba. Eu não sei como lidar com isso... não sei como lidar com o fato de que Jimin está cuidando de mim apesar de tudo.

O meu coração se apertou e, enquanto ele ficava de joelhos, bem na minha frente, eu perguntei algo completamente irresponsável e inusitado:

— Você ainda me ama?

Eu precisava saber.

Jimin estava cuidado de mim. Ele me amava?

Ele me ama?

Jimin parou por um segundo. Suas mãos estavam inquietas, esfregando o cobertor nas minhas mãos dormentes, mas ele parou assim que eu fiz a pergunta.

O olhei nos olhos, sem desviar, querendo ver sua reação. Querendo ver se ele mentiria...

No entanto, a única coisa que vi, fora Jimin piscar os olhos um par de vezes e, repentinamente, começar a lacrimejar. Seus lábios tremeram e se curvaram pra baixo, novamente, e ele choramingou a resposta:

— É claro que eu te amo... — diz, olhando nos meus olhos.

— D-depois de tudo? — pergunto de novo, porque não tenho certeza de nada agora.

As pernas de Jimin deslizam pelo chão. Ele, que antes estava de joelhos, se sentou em seus calcanhares, mexendo a cabeça de um lado para o outro enquanto olha pra mim.

— É claro que sim... — murmura, olhando bem fundo nos meus olhos, perfeitamente sincero.

Continuei com o olhar fixo em seus olhos... céus. Como ele...?

Porra.

É surreal ele ter tanta certeza. Me sinto perdido com isso, tentando entendê-lo, pois fiquei tão confuso e perturbado quando soube. Ainda estou assim depois de dias. Mas Jimin, logo depois de saber... parece tão mais no controle do que eu. E eu odeio chegar nessa conclusão, mas... é como se ele estivesse acostumado com isso.

Meu nariz começou a arder de novo, mas dessa vez foi por pura melancolia. Tentar entender nós dois me fez chegar nas conclusões mais negativas que existem e isso me deixou melancólico e fraco. Como se a revelação de mais cedo nunca tivesse existido...

Eu me sinto fraco, sem chão, e nem entendo ao certo o porquê.

Eu ainda não sei de tudo, então minha cabeça simplesmente criou um monte de suposições amargas. Afinal, como Jimin se sentia sobre mim e o nosso passado? Eu não sei e isso dói muito...

Mas... ele ainda me ama.

Ele me ama.

E eu não consigo entender o porquê.

Toquei meu rosto, me sentindo tonto e amuado. Quis me esconder dele... quis me esconder do fato de que eu não consigo ser forte por quem eu amo...  e quando lhe fitei, por cima das minhas mãos, vi que Jimin não estava olhado pra mim ao dizer...

— Foi tudo pra merda... — resmungou, choroso. — De novo... de novo.

Ao escutá-lo, as coisas aconteceram rápido demais. Eu me escondi de vez nas minhas mãos e minha garganta apertou; a vontade de chorar acumulada tomando forma... Foi inevitável como minha mente começou a trabalhar, me fazendo pensar em toda merda pela qual Jimin passou. Aquele sentimento de que sou só mais uma família que lhe machucou voltou, voltou com tudo e eu odeio isso... principalmente porque não consigo me controlar por dentro, muito menos por fora... e a maior prova disso é a forma que os meus lábios voltaram a tremer só por ouvir aquelas palavras.

Tudo foi pra merda, de novo.

Eu franzi as sobrancelhas, tentando segurar o choro, fazendo força para engolir o bolo na garganta. Mas não deu certo. Eu apenas solucei alto, perdendo o ar por alguns segundos. E, em um piscar de olhos, eu estou chorando, com as lágrimas deslizando compulsivamente pelas minhas bochechas.

E, no mesmo segundo, Jimin demonstrou que ele ainda está aqui. Porque ele veio para perto apesar de eu sentir que não mereço nada disso.

Jimin diz algumas coisas que não entendo, porque estou fungando muito e sua voz está tremendo, como sussurros bem baixinhos. Mas eu posso sentir quando ele fica de joelhos, bem na minha frente, me puxando de imediato. Abraçando minha cabeça e me abrigando em seu peito quente e vivo, Jimin só me abraçou.

Me abraçou carinhosamente.

— Me desculpa, me desculpa... — ele pediu e eu nem sei por que ele está se desculpando. — Eu não estou assim por causa de você, não pense assim, n-não pense assim...

Apertei suas costas com minha destra, afundando meu rosto em seu peito com mais intensidade, extremamente sensível.

— Hyung... — sussurro, mas minha voz mal sai.

Jimin me apertou mais. É surreal sentir seu cheiro... seu calor.

Pressionei minhas mãos contra ele com mais força, me lembrando de quem ele realmente é, dos dias que ele não se lembra, e o trago para mais perto; muito mais do que antes. Porque preciso sentir que ele está aqui... Jimin hyung, Chim...

Jimin acaba caindo com a força do meu abraço. Ele cai sobre mim, mas eu não paro, continuo o apertando. Aperto Jimin com a mesma força que estou sentindo as coisas. E Jimin não me negou... ele me abraçou, me abraçou, me abraçou...

Ele me disse, indiretamente: eu estou aqui.

Ele está aqui, eu estou aqui. Estamos aqui.

Estamos aqui.

Ficamos em silêncio, daquele jeitinho, apertando um ao outro e respirando contra a pele alheia por um longo tempo. Não sei o que estou sentindo agora, mas... é como se eu precisasse disso. Desse abraço agoniado, mais agoniado do que todos os abraços que já compartilhamos... preciso sentir seu peito ofegante se acalmar junto com o meu. Preciso perceber que é ele, é ele que está aqui. É ele que sofreu por não saber de nada...

Somos nós as vítimas e estamos juntos nisso...

Fechei meus olhos. Jimin parece fazer o mesmo quando esconde o rosto nos meus cabelos, respirando fundo, esfregando a bochecha contra meus fios. Já eu, acariciei suas costas com força. Estamos juntos nessa. Estamos juntos nisso.

É tudo que nossos toques querem dizer...

Ficamos fazendo esse carinho um no outro por mais tempo que sou capaz de contar. Parece que o tempo passou mais rápido, até que seus fungados vão lentamente sumindo e minha tremedeira diminuindo, até parar. Meu corpo ficou quente, minha mente se esvaziou e nós enfim começamos a nos acalmar...

E então... paramos. Paramos de mexer as mãos, deixando-as um no outro. Firmes, silenciosos e pensativos...

— Jeongguk... — Ele sussurrou depois de um tempo. — Eu...

Jimin suspirou. Pude sentir quando ele se afastou um pouco, até estar do meu lado. Sentado, e com as costas contra a parede. Eu virei meu rosto para ele no mesmo segundo, olhando-o com atenção e esperando...

— Jeongguk... — chamou, levantando os olhos para mim. — Eu preciso muito... conversar. — Sua mão tocou meu rosto, mantendo contato visual. — A minha cabeça tá explodindo, entende?

Estamos ambos no chão, inchados, com as costas encostadas na parede e um cobertor embrulhado em nossos corpos.

Eu sinto um impulso e, sem pensar duas vezes, seguro suas mãos. Seguro-as, querendo deixar claro que eu estou aqui, o ouvindo com todo meu ser.

— Eu entendo, Jimin...

Jimin apertou as minhas mãos de volta.

— Quando? — É a primeira coisa que vem na minha cabeça. — Quando você soube?

Jimin se balançou levemente.

— Não sei.... talvez, meia hora? Não sei, eu te liguei e pedi pra eles descerem...

— Eles...?

— Seu irmão e Namjoon hyung — respondeu, tocando seu próprio rosto e, consequentemente, soltando meus dedos. — Vieram aqui cedo... ficamos o dia inteiro falando disso. Quando o choque passou, eu te liguei e eles desceram, porque eu pedi. Porque precisava de você, só você... porque você é a maior parte disso, Jeongguk... — ele sussurra. — Você e eu somos a maior parte disso.

Eu sinto meu corpo gelar, porque sei que é verdade. E isso dói.

— O que você tá sentindo? — perguntei, cuidadoso.

Jimin me encarou de volta, deixando de esconder seu rosto. Quando suas mãos desceram, eu as segurei automaticamente e seus olhos, já tão magoados e perdidos, analisaram meu rosto. Depois, despencaram...

Ele olhou nossas mãos unidas.

— Frustração.

Me apertou mais.

— Hyung...

— Raiva, frustração. Muita raiva — ele completou, amargurado. — Eu odeio tudo isso, odeio essa merda, odeio esse mundo... eu não entendo por que tudo tem que ser tão ruim sempre. Nada nunca tá bem, Jeongguk. Tudo piora, as coisas só... só pioram pra mim. Parece que... — Ele abaixou a cabeça. — Parece que, quanto mais eu vivo, mais merda acontece. Quanto mais eu sei sobre mim... Droga. Que inferno. — Sua voz tremeu. — Eu não sei como viver com isso, Jeongguk... eu não consigo aceitar que a vida é só sofrimento, J-Jeongguk, eu... — Ele levou suas mãos para seu rosto, precisando chorar novamente.

Eu o observei com cuidado e vê-lo tão agoniado me fez chorar também. Estou silencioso, com as lágrimas caindo sem que eu precise pressionar as pálpebras para isso. Apenas não soluço, mas continuo chorando. Chorando de verdade.

— Jiminnie... — Chamei atencioso, porque... precisamos continuar.

Eu estou chorando, mas... eu não posso, eu não devo.

Precisamos continuar...

Precisamos continuar.

Com esse pensamento, voltei a puxar as mãos de Jimin. As trago pra mim, de novo, e Jimin parece confuso com isso, por ter sido tão repentino e rápido. Mas a gente precisa disso.

Jimin precisa disso.

Eu pensei nos meus últimos dias, em Taehyung, e em como consegui me encontrar. E a primeira coisa que me vem é essa.

Vamos tirar tudo — murmurei. — Vamos tirar tudo isso de dentro de você.

Ele ergueu ambas as sobrancelhas.

— Jeongguk, eu... — O interrompo.

— O que mais te machuca? — perguntei. — Qual é a pior parte?

Jimin soluçou um pouco. Seus lábios estão vermelhos e inchados, assim como seus olhos e nariz.

Você. — Ele me olha nos olhos. — Jeongguk... você sabe que eu já sabia da maioria das coisas, não é? Eu já sabia que minha mãe tinha tentado me matar — ele afirma, fungando. — Eu nem sei como, mas aprendi a conviver com isso...

— Eu sinto muito... — murmurei, o apertando.

— Eu também sinto — ele diz, amuado. — Mas... aí... gente começa a namorar... e eu sinto algo tão bom. Sabe? Eu sinto família — ele me conta, olhando pra mim. Posso ver o exato momento que seus olhos se enchem de lágrimas. — Eu não tive família, entende? Eu tenho amigos, mas não tenho família, ninguém mora comigo, e isso fode a minha cabeça, porque eu quero morar com alguém, quero saber como é... você e-entende?

— Eu entendo, eu entendo... — choraminguei.

Estamos chorando juntos.

— Eu só sei que... tudo estava tão bem, com você. Mas agora parece que o mundo tá me avisando que não importa o que eu faça... — Seus dedos estão esmagando minhas mãos. — Eu tô sozinho em um mundo fodido! — ele ralha, com raiva. — E agora eu sei que você estava lá. Porra, você estava lá quando tudo aconteceu. — Ele abaixa a cabeça, perdendo-se. Jimin soluça e suas lágrimas caem sobre minhas mãos. — Poxa, Jeongguk... i-isso dói pra caramba, que... que inferno. Você estava lá... — Sua testa toca nossas mãos. Ele está completamente inclinado e trêmulo. — Eu não queria te perder. Não queria perder alguém que eu amo tanto... eu pensei que a gente ia ficar junto pra sempre... — Sua voz sai mais alta, mais sofrida e quebrada.

Jimin está chorando tanto que sua voz está chiando.

Isso me fere tanto que eu me sinto desolado.

— Hyung, não pense assim... — eu sussurrei, o tocando com mais firmeza. Deitei minha cabeça na sua, fazendo-lhe carinho com meu rosto. — Você não me perdeu, eu juro que não...

— Eu não quero que você fique comigo se isso for te machucar... — sussurrou. — Eu sinto tanto, tanto...

— Jimin, você não me machucou — eu disse, agarrando seu rosto. O fiz olhar para mim. — Jimin, você estava lá, mas não me machucou... não foi você, não fui eu, não foi a gente. A gente só estava lá.

— Jeongguk... — Continuo segurando suas bochechas. — Eu te deixei deprimido.

Prendi a respiração, afastando meu rosto do seu pela surpresa.

O quê?

— Jimin... — Juntei as sobrancelhas. — Do que você tá falando?

Jimin fechou seus olhos, fazendo as lágrimas escorrerem.

— Eu sumi... — ele falou. — Eu arruinei sua vida...

— Jimin... não... — eu murmurei, querendo que fosse mentira. Jimin não merecia se culpar. — Não foi você! Foi sua mãe... meu pais... foram eles! — O apertei mais, puxando seu rosto com mais força, até nossas testas se encostarem. — Não foi você... — choraminguei.

— Se a gente não tivesse se encontrado, você não precisaria passar por tudo isso — ele sussurrou. — Você não precisaria culpar seus pais se não fosse por minha causa! — Ele se afastou subitamente, desprendendo as mãos de mim.

Meu rosto ficou quente.

— Então, a culpa é minha... — sussurrei, levantando a voz lentamente. — Fui eu que comecei com tudo isso, não foi?

— Jeongguk...

— Não. Não foi você, fui eu! — Eu exclamei, sentindo minhas pálpebras tremerem. — Fui eu que falei com você no corredor, fui eu que fui pedir desculpas... tudo isso...

Me silenciei, me atrapalhando. Porra. Eu não queria que nossa conversa tomasse esse rumo... se for assim, a culpa é minha, só minha...

E... se for assim, o nosso amor não vale a pena, também.

É isso que Jimin quis dizer?

Que seria melhor se não tivéssemos nos encontrado?

É isso que ele sente?

Olhando para sua expressão, processando suas palavras, eu sem querer me enchi disso. Me enchi do pensamento que dizia que Jimin queria dizer que, caso não estivéssemos juntos, nada disso estaria acontecendo... nada de ruim aconteceria se não estivéssemos apaixonados.

Não, não, não...

Foi isso que ele quis dizer?

Meus lábios se curvaram para baixo pela sabe-se lá qual vez...

Nada valeu a pena, então?

— Gguk... — ele sussurrou, me fitando. — Você não entende? Não deveríamos nos encontrar... eu trouxe seu maior pesadelo de volta quando deixei você entrar na minha vida — sussurrou. — Se naquela crise eu dissesse que não podíamos ficar juntos, nada disso teria acontecido! A culpa é minha, eu deveria saber que te machucaria.

Aquela crise. Quando Jimin parou de responder minhas ligações e me mandou ficar longe...

Ah, não, hyung...

— Isso viria à tona de qualquer forma, hyung... — eu disse, me perdendo. — Será que você não entende? Você não me machucou.

— Por minha causa você odeia seus pais — ele afirmou. — Seu irmão me disse que vocês não se falam mais! Você era apaixonado pelos seus pais, você tinha um família feliz e eu tirei isso de você!

— Não foi você! — gritei, sem querer. — Foram eles! Foram eles que fizeram isso, você só foi uma vítima, que nem eu! — Eu toquei meus cabelos. — Não acredito... não acredito que você está se culpando por eles terem te abandonado! — O olhei intensamente. Jimin olhou para o lado, como se não quisesse deixar minhas palavras entrarem em seu coração. — Você acha que a culpa foi sua? A culpa foi deles!

— A sua família...

Você também é minha família!

Jimin se surpreendeu.

Ele voltou seu olhar para mim em uma velocidade extremamente inusitada. Como se não esperasse que eu dissesse isso tão de repente, ou agora...

Eu resfolegava... é verdade, é claro que é verdade. Ele é minha família. 

Jimin é minha família.

— Eu te disse... — sussurrei, levantando minha mão. — Eu... — Toquei meu peito. — Eu não sei de quase nada agora... não sei como me sinto sobre meus pais, se dá para perdoá-los... não sei como vou me sentir na presença do meu irmão e não sei como eu e você vamos seguir de agora em diante — falei, sinceramente, do fundo do meu coração. — Mas eu sei que eu te amo, hyung... — afirmo, firmemente. — Eu te amo muito, e eu não consigo parar de pensar em como você não merece nada disso. — Toquei seu peito também. — Eu sei que eles são meus pais, mas você... você é... — Fitei minha mão em seu corpo. — Você é a família que eu... que eu... — Me senti confuso com minhas próprias palavras. — Que eu... ganhei. Entende?

Jimin não respondeu-me de prontidão, mas... ele tocou minha mão, sobre seu coração, e a firmou ali.

— Eu... entendo... — diz ele, e seu nariz está vermelho. — Jeongguk... eu... — Abaixou a cabeça, parecendo um pouco mais lúcido. Ele tinha parado de chorar, mas continuava vermelho. — Eu não sinto que foi um erro te conhecer... eu não sinto isso de verdade, mas o que eu sinto por você é tão forte que eu... eu...! — Apertou minha mão. — Eu não quero que você se machuque. Eu quero que você fique livre de toda a dor... você não merece isso... — Pressionou meus dedos. Estou sentindo seu coração, acelerado e forte. — Você não merece...

As lágrimas voltam a descer. É como se não fôssemos parar nunca...

— Jimin hyung... — chamei, baixinho. — Jimin... você não me machucou. Você não fez isso comigo. Foram as... — Me lembrei do meu irmão. Jin... — Foram as circunstâncias. — Suspirei. — Não se culpe, não me culpe, não culpe ninguém. — Eu apertei sua mão. — Eu não estou nem aí... você não merece isso também, Jimin, você é a pessoa mais amorosa que eu já conheci, você é tão bom... — Levei minha outra mão para seu rosto, o acariciando. De repente, me sinto apto para lhe dizer todas as coisas que sinto. — Você é tão bom...

— Jeongguk... — Meu nome sai trêmulo pelos seus lábios.

— Jimin... eu estou sofrendo porque eu te amo — digo. — Eu te amo tanto, Jimin... eu te amo tanto, tanto. É por isso que dói... — eu disse. — Você não pode se culpar por isso... não pode se culpar por eu te amar tanto.

— Eu... e-eu não... — choramingou.

— Jimin, eu te amo muito — digo. — Você não é só meu namorado, você é mais do que isso... — sussurrei. — Eu te amo tanto... que eu faria qualquer coisa pra te ver bem, porque eu te conheço, eu... eu prezo tanto pelo seu bem estar... — sussurrei. — Eu não sabia que isso poderia ter te feito mal... não pensei que você se arrependesse por termos nos encontrado de novo e...

Ele me interrompeu.

— Eu não me arrependo — ele disse, simples e direto. — Jeongguk, eu não me arrependo. Eu amei cada segundo que passei ao seu lado, você... você sempre me fez tão bem — ele disse, balançando a cabeça. — Eu só... só culpei o nosso amor porque não te queria machucado, pensei que suas dores fossem culpa minha, do nosso reencontro, do nosso amor...

— Não são... — eu disse, segurando ambas as suas mãos. — Eu também pensei assim. Que tudo fosse culpa minha... às vezes esse sentimento volta com tanta força que eu tenho crises de choro, mas, hyung... eu... — Apertei suas mãos. — Quer dizer... eu não tenho certeza... — Abaixei a cabeça. — De alguma forma... eu... eu sou mais uma família que te machucou?

Eu perguntei. E continuei cabisbaixo.

Meus dedos estavam tremendo em suas mãos, mas eu não pararia agora. Precisava saber o que meu hyung sentia, se eu o fazia mal de alguma forma... porque apesar de querê-lo, eu me afastaria. Se Jimin precisar que eu vá, eu vou mesmo sem querer ir. Mesmo querendo ficar...

Eu vou.

Eu respirei fundo, com isso em mente, me preparando para o que viria... principalmente quando Jimin afastou suas mãos das minhas. Logo eu me atentei e, sem querer... acabei pensando no pior.

Porque, sem querer, eu sempre espero pelo pior. E talvez por isso tenha sido tão surpreendente, para mim, o fato de que Jimin tocou meu rosto depois de se afastar.

Prendi a respiração. Ele subiu os dedos pelas minhas bochechas da forma mais sincera possível... minha única reação fora erguer meu rosto e olhar em seus olhos, procurando a verdade em seu olhar; procurando entender seus sentimentos dessa forma.

Jimin não disse nada, mas ele se aproximou, se arrastando pelo chão. E meus sentidos parecem o conhecer tão profundamente que, automaticamente, fechei os meus olhos...

Porque, lentamente, Jimin me beija.

E é surpreendente.

Eu sinto sua boca macia e úmida tocar a minha e simplesmente fico maravilhado com isso. A textura quente e familiar dos seus lábios imediatamente me dá sensações boas, suspiros bons e o sentimento de que tudo vai ficar bem surge. De alguma forma, esse beijo significa tantas coisas boas...

A sensação calma, a doçura, sua respiração... é tudo tão bom e calmo.

Sentindo seu nariz em contato com o meu e seu corpo tão perto, tão íntimo e amoroso, eu... me acalmei.

E percebi o quanto isso faz falta para mim.

— Você nunca me machucou... — ele responde, depois de se afastar levemente. — Você não deve se culpar, nunca, nada disso foi culpa sua...

— Hyung... — Levo minhas mãos para suas costas, o tocando com carinho.

— Você nunca me causou dor alguma... eu sei disso, Gguk, eu sei... — disse ele. Ele estava se apoiando em seus joelhos, mas se aproximou o máximo que pôde. E como nosso abraço estava tão apertado, ele sentou no meu colo, com seus pés unidos atrás do meu corpo. — E você? Você tem certeza que eu nunca te-

Antes que ele terminasse, eu o beijei.

O beijei duas vezes, deixando claro.

— Você nunca me machucou, Jimin hyung... — sussurro. — Você só me trouxe coisas boas... até quando a gente era...

Parei por alguns segundos. Ele não se lembra. Ele não sabe...

Nossos rostos continuavam unidos. Jimin respirou pertinho de mim, deslizando as bochechas até a lateral do meu rosto, continuando até chegar na curvatura do meu pescoço...

Ele deitou o rosto em meu ombro.

— Tudo bem... — ele sussurrou. — Eu sei. Eu não lembro. Mas agora eu sei.

Desci minhas mãos até seu quadril. O abracei, tocando seus cabelos com meu rosto, sentindo alívio por estarmos mais calmos e livres da culpa.

Eu me sentia livre. E Jimin parecia tão leve em meu abraço, tão quente, com a respiração tão calma...

Eu sinto que ele está livre também.

— Era isso que eu ia te contar... — eu disse. — Quando falamos por telefone, quando eu ainda estava em Busan, antes de ficarmos sabendo de toda essa confusão... era isso que eu queria te dizer. — Finalmente admiti. — Eu iria te contar tudo, como isso me afetou, como isso me deprimiu... não você. Mas o que aconteceu. Me machucou tanto ficar sem você quando eu era mais novo, Jimin...

— Jeonggukie... — ele sussurrou. — Eu... eu não sou mais aquele garoto. Agora eu tenho ideia do que você tá falando, mas não me lembro de nada disso... — disse ele, cuidadoso e medroso. — Eu me esqueci de verdade. E eu não vou me lembrar nunca mais... eu... e-eu... — Me apertou. — A primeira vez que eu te vi foi na nossa escola.

Respirei fundo. O segurei com mais firmeza, fechando meus olhos.

— Eu sei... — eu disse. — Tudo bem. Tudo bem... hyung, não tem problema. Eu também não sou mais aquele garoto... — eu disse, macio, porque as coisas parecem tão claras agora. — Eu te amo. Eu te amo.

Jimin hyung me apertou de volta. Ele choramingou um pouco, sussurrando:

— Jeongguk... — Suspirou. — A minha tia me levava pro hospital, tentando me fazer lembrar de quem eu era antes de sofrer o acidente. Ela queria saber da minha mãe, ela só me trouxe pra casa dela por isso, mas nenhum médico conseguiu me fazer lembrar... já foram mais de dois anos, todos os médicos que encontrei me afirmaram que era impossível, não vou me lembrar de nada, de nada.... — Jimin contava, com rapidez e agilidade. — Eu vivi com medo de sumir. Ela sempre dizia que eu ia sumir, que ia me lembrar daqueles dias e virar outra pessoa... que a pessoa que sumiu, quando minha mãe me agrediu, um dia seria a única que restaria. E que eu sumiria, e todos iriam embora... — Ele puxou minha camiseta. — E-eu não acredito nela, mas eu continuo com medo de sumir... eu não quero que você sinta isso... eu não quero que você sinta medo de eu sumir...

— Eu não tenho medo, eu sei que não vai acontecer, eu sei disso — eu falei, ofegante, levando minha palma até sua cabeça. Acariciei seu couro cabeludo carinhosamente. — Eu sei, hyung. Aqueles dias são seu passado, você não vai se lembrar, eu sei de tudo isso, eu sei que você não vai sumir...

— Você promete? — Se escondeu mais em meu pescoço. — Você promete que não espera isso de mim? Promete que não espera que eu lembre dos dias que passamos juntos quando éramos crianças? Promete que não quer isso de mim?

— Prometo, prometo, prometo, prometo... — sussurrei. — Eu não quero isso de você, hyung, eu não me importo que você não se lembre, eu sei que você não vai se lembrar, e tudo bem... — digo, sincero e cuidadoso. — Tudo bem, tudo bem...

— Eu não sou mais aquela criança.

"Eu não sou mais o ChimChim".

— Eu não me importo, eu prometo... — O apertei. — Eu prometo, eu prometo, eu prometo... — eu reafirmei. — Hyung... essas lembranças estão se tornando importantes para mim porque eu sei que não foi tudo de ruim. Que você realmente estava lá. Que você era real... — O acariciei, o sentindo, o tocando. — Mas isso são lembranças... eu não quero viver dessas lembranças, eu não espero isso de você. Eu me apaixonei por você do jeito que você é. Me apaixonei por você, pelo Jimin... e isso não vai mudar... eu não quero que você mude — digo. — Eu sei que você não vai sumir, você não vai sumir...

Jimin me apertou. Suas pernas, em volta de mim, se apertaram, como se ele quisesse se fundir comigo e minhas palavras.

— E se eu sumir? — perguntou.

— Você não vai...

— Eu sei que não, mas... e se eu sumisse? — Ele insistiu.

Eu suspirei, mas me mantive firme.

E se Jimin sumisse?

E se um dia ele acordasse e não restasse nada, nenhuma lembrança...? Eu...

Ah.

— Jimin... — chamei. — Eu ainda te amaria.

Eu disse, com toda a sinceridade que existia dentro de mim. Porque eu o amaria, claro que amaria... não consigo me ver não amando Jimin. Posso nos imaginar de diversas formas diferentes: juntos, separados, mas sem amá-lo jamais.

E minha verdade foi a deixa para Jimin, em meu enlaço, suspirar pesadamente e não dizer mais nada. Jimin sabe que eu nunca quebraria uma promessa...

E, de verdade? Depois de todas as nossas palavras e promessas, era como se nada mais precisasse ser dito. Seu corpo amoleceu e ele respirou bem fundo e, céus, eu mal percebi como ele estava trêmulo antes. Somente senti quando seus braços relaxaram cada vez mais, demonstrando o quanto ele estava calmo agora...

No meio de toda aquela calmaria, após chorarmos tanto, Jimin se afastou lentamente. Ele tirou a cabeça do meu ombro com muita calma, passando as mãos pelo rosto, secando as lágrimas que não pude acompanhar pelo nosso abraço apertado... fez isso até estar completamente seco, deixando o rastro do seu choro visível nos olhos inchados e o rosto vermelho, apenas.

Ele fungou forte, esfregando os olhos. Fiquei o observando de pertinho, esperando alguma palavra sua, e... tudo que ele fez depois disso foi...

Ah. Jimin.

— Tudo bem... — ele sussurrou e me deu tudo, tudo que eu precisava. — Eu confio em você...

Eu pisquei um par de vezes...

O que eu tanto precisava. O que tanto me acalma e aquece...

Seu sorriso.

Jimin sorriu.

Depois de tremermos e chorarmos, de confessarmos, de nos culparmos e sermos tomados por tantos sentimentos ruins... sorrimos. Porque, quando eu o vi sorrindo, eu sorri também. Sem dizer mais nada, nós sorrimos. Porque podíamos ver o tanto de coisas que haviam sido resolvidas dentro da gente naquele momento. Não foram todas, mas foram muitas...

Muitas mesmo.

— Jiminnie... — eu sussurrei, ajeitando seu cabelo loiro.

— Meu bem... — Me tocou de volta, nas bochechas. — Eu... eu quero que você saiba que depois disso, nós ainda precisamos conversar sobre uma coisa — ele disse. — Esse tempo que a gente ficou separado e essa notícia me fizeram pensar em algumas coisas... — Ele desviou o olhar. — Eu...

— Tudo bem — eu falei, balançando a cabeça em afirmativa. — Tudo bem.

Jimin me encarou. Eu podia ver que ele estava tentando se explicar e... honestamente? Jimin não precisa fazer isso. Eu vou entender ele, não importa o quê.

— Tudo bem... — ele repetiu. — Ok, é... precisamos conversar de uma forma mais adequada. — Deu um sorriso que, diferente do último, pareceu melancólico e pensativo. — Vamos levantar?

Eu confirmei com a cabeça, me sentindo um pouco tímido.

— Vamos...

E então, nós o fizemos.

Jimin primeiramente saiu do meu colo, ficando de pé e alisando suas roupas. Eu fiz o mesmo alguns segundos depois, me sentindo um pouco constrangido, até...

Depois, Jimin e eu fomos até o banheiro. Ele lavou o rosto cuidadosamente e depois eu fiz o mesmo, com a água quente. Nós não conversamos, mas é como se muitas coisas não houvessem sido ditas, mas parecíamos felizes em relação à muitas coisas.

Nós. Culpa. O que nós sentimos, como queremos nos sentir, e como não queremos nos sentir. Eu sabia que isso estava bem.

E após nos recompormos, Jimin e eu fomos caminhando até a sala. Nos sentamos no sofá. Ali estava mais quente e aconchegante...

— Ah, espere... — Jimin voltou a se levantar de repente.

Virei meu rosto, observando-lhe. Jimin foi até a cozinha e encheu um copo de água. Ele o bebeu, depois encheu novamente, vindo com ele até o sofá.

Ele se sentou ao meu lado, e me ofereceu o copo. Aceitei rapidamente...

— Obrigado, hyung... — eu disse. Jimin apenas balançou a cabeça, com um sorriso miúdo nos lábios.

— Tudo bem... — ele disse.

Ele tocou meus ombros. Jimin me acariciou por algum tempo, até eu terminar de beber minha água e, enfim, respirar bem fundo.

É como se eu finalmente pudesse sentir o ar.

Me inclinei levemente, colocando o copo sobre a mesinha de centro, me sentando devidamente e dando atenção a ele. Olhei em seus olhos receosos e esperei o que ele precisava me dizer...

Eu não estou bem.

Isso é tudo que ele diz.

Eu me mexi um pouco. Minhas mãos tremelicam porque, de imediato, minha mente me levou para um "bem" físico e eu me desesperei.

— Como assim? Você não... — Ele me interrompeu.

— Não, não... Ggukie, eu estou bem, não estou doente... — ele reformulou, me acalmando.

Eu parei. Respirei fundo, o fitando com carinho...

— Puxa, hyung... — digo baixinho, assustado. — Você me assustou...

Jimin deu um sorrisinho que, apesar de lindo, era... melancólico.

Exatamente como o que ele deu no corredor, quando disse que precisávamos resolver outras coisas. Outras coisas.

— Jeongguk — ele chamou, prendendo minha atenção mais uma vez. — Eu não estou bem.

O encarei, e não entendi. Ele disse que não estava doente, então...

— O que você quer dizer com isso? — Indaguei.

— Quero dizer que não estou bem, aqui... — Jimin levou a mão até seu peito. — Eu descobri que meu nariz não sangra só por causa dos espirros. Ele sangra muito mais intensamente quando estou mal... por causa do meu emocional, do meu estresse... é por isso que eu faço uma poça de sangue sempre que tenho uma crise...  — ele lamentou. — Eu não estou bem. Eu tento esconder isso de todo mundo e de mim mesmo, mas... eu tive uma experiência e fiquei assustado — disse ele. — Eu sempre tenho crises, em momentos aleatórios, eu só... — Levou sua mão ao alto, no ar. E então a desceu até mais embaixo. — Eu só vou do melhor ao pior em horas, minutos, segundos... e quando chego lá embaixo, no pior... fico lá por dias... — ele me conta. — Eu não estou bem... eu sempre achei vergonhoso, sempre senti que poderia resolver sozinho, mas acho que não posso...

— Jimin...

— Jeongguk — ele chamou. — Eu abri meus olhos quando fui pra França — ele disse. — Uma das dançarinas, da outra equipe... — Ele juntou as mãos em frente ao corpo. — Eu... eu fiquei sabendo. Sabe, as equipes, nós nos aproximamos. Sentamos juntos no último dia, comemos, e o coreógrafo nos contou sobre a dançarina. Ela era tão querida, Jeongguk... ela estava bem quando estava com os outros, mas tinha crises constantes. Ele dizia que queria viver, ela se sentia como eu... ela queria viver. — Tocou o próprio peito. — Mas durante uma das crises, ela... ela cometeu suicídio — murmurou, fazendo meu coração apertar. — Jeongguk... eu já fiquei por um triz. Eu quase fiz isso várias vezes. Eu até tentei fazer isso indiretamente, parando de comer, atravessando a rua sem olhar... eu só esperava, eu esperava acontecer... e a cada crise, eu pioro... — Me conta, amargamente. — Eu não estou bem. E se eu não fizer nada, isso vai acabar me matando.

Eu fiquei... sem palavras.

Minhas mãos estavam geladas, porque... eu nunca pensei que ele pudesse estar assim. Eu só convivi com Jimin durante uma crise sua. Taemin me contou como era, que ele tinha de tempo em tempo, mas quando Jimin melhorou, eu não pensei mais nisso... não pensei em como suas crises poderiam estar seguindo um padrão. E que Jimin poderia estar deprimido.

Jimin está deprimido.

Ele está bem agora, mas amanhã ele pode ter uma crise. Se deprimir, e... tentar... algo...

Porra, eu...

— Jeongguk... — ele sussurrou, de repente. Olhei para seu rosto, mal percebendo que havia desviado o olhar anteriormente. — Você está bem?

Eu engoli em seco.

— Eu...

— Me fale a verdade... — ele pede, cuidadoso, apesar de ainda parecer assustado. — Você está bem?

Eu fiquei em um silêncio curto e amargurado pelos próximos segundos. Porque, apesar de saber a resposta, apesar de ela estar clara como água para mim... era difícil admitir.

Eu não estou bem.

— Eu... — Apertei meus dedos. — Eu não estou bem... — eu disse. — Eu estava bem, hyung... mas depois que eu descobri essas coisas, eu comecei a ter hábitos ruins, hábitos que me levam pra merda. São os mesmos hábitos de antes, que me fizeram ficar por um triz também. E eu choro muito... — eu disse. — Eu me sinto feliz agora, porque sei que não perdi algo que é importante pra mim... — Eu levei minhas mãos até as suas. — Eu sei que não perdi isso... — Olhei para nossas mãos, unidas.

Jimin deu um suspiro.

— Mas isso não é tudo, certo? — ele afirma, baixo. — Isso não é tudo.

Eu respirei fundo... não, isso não é tudo.

Meu relacionamento com Jimin é uma das coisas que eu mais prezo. Mas não é só isso que acabou quando eu descobri as coisas infelizes sobre o meu passado. Minha relação com meus pais e meu irmão ficaram deformadas e negativas para mim. Eu me vi sentindo uma tristeza gigante por tudo que aconteceu, me amargurei com as mentiras porque fui forçado a esquecer Jimin. Fui forçado a acreditar que ele era só um amigo imaginário, e sofri por anos...

Estar bem com meu Jimin hyung é muito bom, mas está longe de ser tudo que eu preciso agora.

— Não é.

E eu admito isso.

— Pra mim também não é — ele disse. — Jeongguk... eu não quero que isso seja ruim para nós dois. — Ele me toca o rosto. E eu fico fixado em seu olhar. — Eu te amo muito. E é justamente por isso que eu não posso me apoiar em você.

Ele diz...

E eu me surpreendo.

— O quê...

— Eu te amo muito, mas eu não estou bem. E agora, com isso que aconteceu, eu piorei. — Ele dá um sorriso triste, e seus olhos se enchem de lágrimas. — Eu quero ficar com você. Eu quero ficar com você. Mas eu não posso ficar com você agora.

Eu...

O quê?

— Jimin... — murmurei. — O que você quer dizer com isso?

— Jeongguk-ah... — Apoiou as mãos no meu rosto. — Assim como isso não é tudo pra você, não é tudo pra mim também. — Seus dedos deslizaram pelas minhas bochechas. — Eu não estou bem. Eu preciso ficar bem para ficar com você — ele disse. — Eu preciso me amar mais, me culpar menos por todas as coisas ruins que aconteceram na minha vida... — ele disse. — Preciso me sentir bem sendo eu, preciso me livrar das coisas ruins, sozinho. Preciso disso, eu preciso muito disso... — Ele me acariciou. — Você não sabe, mas... quando estamos juntos, tudo isso some, Jeongguk... Quando você me abraça, tudo de ruim vai embora, mas eu não posso esconder esses traumas dentro de mim, não posso fingir que eles não existem... e eu automaticamente faço isso quando estamos juntos, porque não consigo sentir nada de ruim quando você está aqui. E quando você tá longe, eu me afogo de novo... — ele diz. — Eu preciso aprender a lidar com essas coisas ruins, antes que tudo piore, porque eu te amo muito mais do que eu preciso de você. E eu quero que continue assim antes que seja tarde demais...

Eu olhei em seus olhos. Meus lábios estavam entreabertos até o momento.

No entanto, eu os pressionei.

O compreendendo, eu me silenciei... porque sabia que ele estava certo, sabia que ele estava fazendo tudo certo...

Ouvi-lo falar tudo me fez sentir um pouco idiota, até... porque eu nunca pensei nisso.

Talvez esse seja o tipo de coisa que Jimin precisava descobrir sozinho.

— Eu... — Suspirei baixinho. — Eu entendo. Eu concordo com você... — eu sussurrei. — Eu também me sinto assim... agora está tudo bem, mas uma hora eu vou ter que voltar para casa. E eu acho que, se você não tivesse dito isso, eu nem pensaria... continuaria me trancando no quarto, chorando sempre que me lembrasse do que aconteceu, mas sempre voltando pra você, pra perto de você, porque você me deixaria bem...

— Gguk... — Ele me acariciou o pescoço. — É exatamente isso... eu não quero que seja assim. Eu quero ficar você pra sempre, meu bem, eu te disse isso... eu nunca vou me cansar de te dizer isso — ele sussurrou. — Mas eu quero fazer isso direito. Eu quero viver bem. Eu preciso lidar com todas essas coisas... — ele disse. — Eu não sabia que minha mãe tinha morrido de overdose... — ele murmurou, de repente. — O marido da minha tia disse que ela se matou, que tinha delirado... parte de mim gostava de pensar que ela era doente mental, e que fez mal à mim sem perceber que estava fazendo algo ruim, entende?... — Seus olhos despencam novamente. É nítido como sua expressão esfriou e sua postura mudou. — Mas agora eu sei que ela fez por querer. Eu acho que Namjoon hyung até se arrependeu de me contar... — ele disse, baixinho.

— Eu sinto muito, Jimin... eu soube hoje também, que ela morreu de overdose — digo, me lembrando da carta...

— Tudo bem. — Fungou. — De qualquer forma... eu também descobri que não fiquei completamente sozinho naqueles dias. Foi surreal rever eles... eu acho que me lembro um pouco dos dias que passei no hospital, mas nem tanto. Acho que esqueci com o tempo, principalmente do rosto dos dois. — Jimin ofegou. — Sabe, Namjoon me disse que eu deveria procurar ajuda profissional, e eu sinto que ele tem razão. Ele prometeu me ajudar com isso... — Jimin sorriu. — Foi surpreendente ver como eles realmente se importam comigo... estavam apreensivos, pedindo perdão... — Jimin se perdeu um pouco no assunto, mas eu apenas lhe deixei falar. — Seu irmão... Seokjin hyung, quando chegou aqui... estava quase chorando — ele murmurou. — Eles me contaram tudo, porque eu quis saber de tudo. E Seokjin sofreu tanto também... — ele sussurrou. — Ele não reconhece isso. Ele acha que é tudo culpa dele.     

— Eu culpei ele. — Admiti, triste. — Culpei ele... e não sabia que ele estava sofrendo tanto também... — lamentei, respirando com dificuldade.

Jimin balançou levemente a cabeça.

— Mas... Jeongguk — ele me chamou. — Eu continuo sentindo isso. Eu ainda sinto que... que eu preciso de ajuda — disse. — Eu não quero que você se culpe. Mas... saber de tudo isso foi, foi o fim... — ele sussurrou. — Eu chorei compulsivamente quando fiquei sozinho. Quando eles desceram e eu te liguei, os poucos minutos que fiquei aqui, sem ninguém, só com o silêncio... eu... e-eu me assustei com meus pensamentos. Não sei se eu me amo. Me assustei com o que eu estava sentindo, e eu preciso parar de pensar nessas coisas, preciso parar de pensar em me machucar sempre que as coisas ficam ruins, eu preciso ficar bem.

— Sim... — Eu balancei a cabeça, pesadamente. — Sim, hyung, sim...

— Jeongguk... — ele sussurrou. — Vamos passar por isso... sozinhos. — Ele afagou meu rosto. — E depois, vamos ficar juntos.

Suas palavras ficaram na minha cabeça naquele momento. E provavelmente, para sempre.

Sozinhos e então juntos.

Eu continuei olhando para seu rosto depois de aceitar isso. Eu não estava me sentindo triste, mas... precisava aceitar que Jimin estava falando a verdade.

Porque, se nos amamos mesmo, devemos prezar pela saúde do nosso relacionamento... certo? Isso até me fez pensar no que Seokjin me disse na cafeteria, sobre dependermos emocionalmente um do outro... eu não acho que eu e Jimin somos assim. Mas eu acho que nos damos tão bem que preferimos não pensar em coisas ruins que precisamos pensar, para resolvermos, quando estamos juntos. E talvez isso até seja uma forma de depender de alguém... mas afinal, tem como viver sem depender de alguma coisa nessa vida?

Eu acho que não. Mas não é isso que eu quero, agora... não é isso que meu relacionamento com ele tem que se tornar. Eu quero resolver tudo. Quero encontrar a luz no fim do túnel sozinho, de novo, como fiz há anos atrás. E depois de escutá-lo, eu sei que eu posso, sei que devo isso a mim mesmo. E Jimin com certeza deve isso a ele mesmo também...

Eu nunca o disse o quanto ele é forte, mas... nesses momentos, esse fato fica claro como água. Jimin é um homem forte. Porque ele passou por toda essa merda sozinho até aqui, e se reergueu sozinho como sempre. Ele não depende de mim. Ele não depende de ninguém, eu sei disso porque eu só estive com ele durante uma crise que ele teve. Por dezenove anos, Jimin passou por suas crises completamente sozinho. Ele está aqui de alguma forma, e não é por minha causa...  Jimin é independente e forte e é por isso que ele quer me afastar agora, porque precisa se manter forte por ele mesmo e eu entendo isso tão bem...

Eu admiro isso.

Eu sempre admirei Jimin por diversos motivos diferentes. Pela sua arte, pelas suas palavras, sua positividade, sua bondade, sua maturidade e amor... e pela sua capacidade de aceitar um pedido de perdão. Jimin é livre de rancor, ele só quer viver bem e de amor...

Pensando sobre isso, eu... eu acabei subindo minhas mãos até seu rosto, para tocá-lo com carinho. Pois, apesar de tudo, chorar com ele foi tão humano e real para mim... foi tão verdadeiro e esclarecedor. Eu percebi que precisava fazer isso por mim também. Porque eu amo estar aqui, amo estar com Jimin e definitivamente sou apaixonado pela sensação de coração leve ao estar em seus braços, então, porra... por que eu não deveria trabalhar nas minhas mágoas também?

É até um pouco engraçado... enquanto afagava suas bochechas com carinho, pensei nisso. Pensei em como Jimin estava errado ao pensar que não se amava nem um pouco. Porque ele querer o melhor para si mesmo e estar fazendo algo sobre isso é a maior prova de amor que ele pode ter por si mesmo...

Se indignar por si mesmo, é amor. E eu com certeza vou dizer isso para ele um dia... mas não agora.

Porque não sei ao certo o que decidimos aqui. E por mais que eu queria muito descobrir, agora eu só quero fazer carinho na sua pele e olhar bem fundo nos seus olhos, porque nunca me senti tão íntimo do meu namorado quanto nesse momento.

Afinal... todas as cartas estão na mesa. As minhas, e as dele. E ainda estamos aqui... e Jimin está olhando nos meus olhos como se eu fosse a pessoa mais linda que ele já viu.

Na verdade... eu fico até um pouco tímido por notar que ele está me olhando desse jeito, tão de repente.

Isso até me faz desviar os olhos por um segundo, e depois voltá-los a ele, porque... fala sério! Eu não consigo não olhar para ele. Ainda mais quando me parece tão natural, tão bom, tão familiar e amoroso...

Suspirei melodioso. Minhas mãos ainda estavam em seu rosto, meus polegares inquietos acariciando sua pele macia, tão gostosa... tão conhecida por mim, ao mesmo tempo que tão surpreendentemente linda.

Eu dei um sorriso pequeno. Porque estou feliz...

Todas as cartas estão na mesa, e eu ainda me sinto do mesmo jeito. Eu ainda o amo tanto...

Jimin deu um sorriso pequeno. Seu nariz, antes avermelhado, estava voltando a cor normal, demonstrando que ele não estava mais com tanta vontade de chorar. Isso me fez sentir tão feliz que eu acabei me arrastando levemente pelo sofá, até estar bem pertinho dele... e então, subindo minhas mãos até a sua nuca quentinha.

Quando o toquei com meus dedos ali, ele deu um sorriso miúdo com os lábios cheinhos. E sorriu com os olhos.

Isso me fez dar mais um suspiro melodioso, aproximando meu rosto do seu para beijar sua bochecha carinhosamente. O beijei novamente no cantinho do seu rosto, perto do queixo, e isso fez Jimin dar um pequeno suspiro e mover-se, virando-se para mim e, imediatamente, beijando minha boca.

Não foi um beijo sexy. Mas foi um beijo intenso. Muito intenso... ainda mais quando ele fechou cuidadosamente as mãos em torno dos meus pulsos, como se me pedisse para continuar o tocando. E eu continuei.

Nós viramos a cabeça algumas vezes, dando beijos sutis e calmos na boca um do outro, exatamente como na primeira vez que nos beijamos. Só tocando os lábios, provocando aqueles estalinhos melodiosos, nos afastando e fazendo novamente. Era tão, tão bom beijá-lo...

Jimin, então, desviou os lábios para minha bochecha, pressionando-a lentamente, com todo amor apaixonado que eu já tive na minha vida. O seu. Cheguei a fechar os olhos, aproveitando esse chamego que tanto me faz falta. Ainda mais quando Jimin deu um suspiro pesado, me puxando para perto ao envolver meu corpo com seus braços, levando as mãos quentinhas até minha cintura para nos aproximar... poxa, que saudades. Que saudades...

Dei um sorrisinho de nervoso quando sua boca me tocou de novo. Jimin me deu um beijinho embaixo da minha orelha e um no meu pescoço... beijos tão lentos e tão cuidadosos. Eu sentia tanto amor quando ele me beijava, e nada havia mudado... isso fica claro quando eu sinto sua testa tocando meu ombro, deixando-me quentinho ali.

— Ficar longe de você vai ser tão difícil... — Jimin sussurrou baixinho, me fazendo dar um sorriso que, apesar de engraçado, era levemente amuado.

Qual é? É claro que já estou com saudades.

— Hyung... como isso vai funcionar? — perguntei, abraçando seu pescoço.

— Hum... — murmurou. — Não sei. Talvez seja melhor não sairmos juntos como antes, tão frequentemente... e você não pode dormir aqui. E não podemos fazer ligações todos os dias e toda hora.

— E nem sair depois da escola. — acrescentei.

— É... isso também — ele sussurrou, fazendo cosquinha na minha pele. — Mas, ei... — Jimin levantou a cabeça, me fazendo fitá-lo novamente. — Você... por você, tudo bem?

Confirmei com a cabeça de imediato.

— Com certeza tudo bem. Eu acho que essa é a melhor escolha.

— E a mais responsável.

— Sim.

— Tenho certeza que vamos ficar melhores depois disso...

— Exatamente... — eu concordei, dando uma risada baixa, porque percebi uma coisa. — Mas, ei. Jiminnie... de alguma forma, agora que sabemos como vai ser, você ficou um pouco... arrependido?

Jimin pressionou os olhos, tentando segurar um sorriso.

— O que te faz pensar assim? — Ergueu uma das sobrancelhas.

Ri baixinho, passando a acariciar seu corpo, do início do quadril até os ombros, continuamente, subindo e descendo...

— Porque você começou a responder rápido demais... e falar rápido demais também — eu disse, sorrindo.

— Caramba... — Ele parecia surpreso. — Você me pegou.

Dei mais uma risadinha. Sim, peguei... na verdade, sempre percebo essas coisas sem querer, ainda mais quando é com Jimin.

— É... — Eu ri de novo. — Tudo bem, é engraçado...

— É... é que eu estava com saudades de você, então fico meio... confuso — ele diz, rindo um pouco. — Mas, é... eu já estava pensando nisso, tanto que quando eu voltei, só conseguia pensar nisso... — ele murmurou. — Acho que essa situação entre sua família e eu foi um empurrão. Acho que vai me ajudar, e com certeza vai te ajudar muito também.

— Sim — eu disse, beijando-o de novo. — Nós... então, nós vamos nos afastar?

— Isso...

— Por quanto tempo?

— Eu... eu não sei? — Suspirou. — Acho que até nos sentirmos melhores, só por um tempo... só para respirar um pouco — ele disse. — Eu pensei "por que não podemos fazer isso juntos?", mas percebi que não é disso que preciso. Preciso fazer isso sozinho... entende? — Ele indagou e eu confirmei, porque realmente entendia. — E você?

Eu mexi a cabeça de novo, meio que confirmando.

— Eu também — falei. — Eu acho... porque eu não pensei nisso por muito tempo. Na verdade, eu nem pensei. Mas aqui com você, eu percebo que é a melhor escolha, com certeza... — eu disse.

Jimin confirmou com a cabeça. Com ele olhando para mim, uma coisa se passou pela minha cabeça e eu me senti um pouco... constrangido.

Espera.

— É... Jimin? — Chamei, baixinho. É que... será que ele...? — Você quer que eu vá embora?

Sim, isso passou pela minha cabeça. Porque falamos sobre ficarmos afastados, e talvez isso seja um sinal para eu ir embora, certo?

Ou pelo menos foi o que eu pensei, já que Jimin, olhando para mim, negou com a cabeça rapidamente.

— Não, não. Não quero. Na verdade, eu... e-eu ia te convidar para dormir aqui hoje... talvez pela última vez por um tempo...

Eu dei um sorriso, porque definitivamente quero isso.

— Sim... — eu disse. — Tipo uma despedida?

— Acho que sim — falou baixinho, formando um biquinho. — Só pra matar a saudade...

Eu dei mais um sorriso e balancei a cabeça, confirmando, me sentindo confortável em fazer isso. Na verdade, até estou me sentindo de novo... e isso é tão bom, porque sinto saudades de mim mesmo. Por mais estranho que isso possa soar....

No entanto, antes que Jimin terminasse de se aproximar para me beijar outra vez, seu celular tocou. Nós dois escutamos e olhamos juntos para o outro lado do sofá, onde o aparelho estava, como se tivesse sido esquecido ali com as outras almofadas.

Logo Jimin se moveu, o pegando. Quando leu a tela, ele deu um suspiro baixinho e um sorrisinho meio triste.

— É o Namjoon hyung — ele disse, me deixando um pouco surpreso. — É, eu... eu passei meu telefone pra ele quando ele estava aqui. Na verdade, foi ele que pediu... — Jimin disse. — Vou atender.

Eu confirmei com a cabeça, em silêncio. Com isso, Jimin tocou a tela do seu celular, deslizando e então colocando o celular no ouvido.

— Oi... uhum, está tudo bem. Nós conversamos, está tudo bem. Vocês ainda estão aí embaixo? — Ele perguntou. — Ah... você vai levar o Seokjin hyung pro aeroporto agora? — Jimin me olhou..

Inevitavelmente, ao ouvir sua pergunta, meus ombros tremeram.

Levar o Seokjin hyung para o aeroporto. Ele vai embora...

Eu me senti agitado de repente. Porque, apesar de eu ter escutado tudo desde o começo, por um segundo eu me esqueci que Jimin mandou eles descerem. Eles... Namjoon e Seokjin. Meu irmão.

Porra, meu irmão vai embora...

Eu preciso falar com ele.

Me levantei do sofá, tão rápido e determinado que Jimin se surpreendeu.

— Jeongguk...? — Me fitou, confuso, deixando a ligação de lado por um momento.

— Jimin, eu... — Toquei seus ombros, tentando acalmá-lo. — Eu preciso falar com o meu irmão. Eu volto, mas não posso deixar ele ir embora, eu preciso falar com ele.

Jimin continuou tocando seu celular e olhando para mim. Antes que eu pensasse em continuar meu caminho, ele segurou minha mão firmemente, falando:

— Não sem se vestir direito — disse. — Pega algumas roupas no meu armário.

— Certo!

— Rápido... — ele sussurrou. — Boa sorte.

Eu balancei a cabeça duas vezes. Jimin curvou os lábios para o lado, bem levemente, e então beijou as costas da minha mão, deixando-me ir.

Sem mais delongas, eu fui até o quarto do meu hyung e vesti o primeiro sobretudo que achei. Coloquei sua touca na cabeça e escondi as mãos nos bolsos, correndo até a porta da sala, a abrindo após alguns segundos.

Quando já estava fora, eu olhei para Jimin mais uma vez. Ele pressionou os lábios e, gentilmente, confirmou com a cabeça, como se me desejasse boa sorte de novo.

Então, dessa forma... eu fui.

Desci as escadas com rapidez, sentindo que poderia perder Jin a qualquer momento. Senti que ele poderia ir sem que eu o visse, que poderia voltar para seu país sentindo a culpa, que não era dele, em seu peito. Eu... eu não podia deixar. Eu precisava dizer para ele que tudo ficaria bem agora, que eu sabia que ele não tinha feito nada de errado... e o compreendia completamente.

Então, quando passei pelas portas, eu quase me perdi inicialmente. Olhei em volta, mais especificamente, para o carro parado na frente do portão do prédio do Jimin.

Bastaram alguns segundos encarando a janela do veículo para a porta dele se abrir, rapidamente, como se estivesse esperando minha aparição para fazer isso. Eu desacelerei meus passos, até parar, vendo quase em câmera lenta por causa das infinitas emoções... o meu irmão mais velho, saindo de dentro do carro.

Eu o olhei com atenção quando ele fechou a porta atrás de si, e meu coração... doeu.

Meu coração ficou aos pedaços em segundos. Porque Jin não parecia bem. Ele estava infeliz, angustiado e mal cuidado. Tinha olheiras profundas, os ombros curvados e a cabeça inclinada...

Sua postura, sua aparência... Seokjin exalava o que eu sabia o que ele estava sentindo.

Seokjin exalava culpa.

E isso me fez tremer. Meus lábios tremeram e eu dei passadas fortes, indo até ele e de imediato o abraçando com fúria.

Ele se surpreendeu.

Pude ouvir sua voz quando ele ofegou. Como se não esperasse meu abraço, Jin não me retribuiu de primeira, mas eu continuei lhe abraçando, sentindo quando, segundos depois, ele me apertou. Jin me abraçou de volta no segundo seguinte... como se essa fosse a última vez. Como se eu pudesse ir a qualquer momento, mas eu não vou, não vou...

Não vou.

— Me desculpa... — eu disse, rouco, com o coração batendo forte. — Eu não sabia que você tinha passado por tudo aquilo, hyung, você também foi uma vítima...

Seokjin balançou a cabeça, negando. Eu o apertei mais.

— Não, Jeongguk, não se desculpe...

— Hyung, eu não te culpo. Se eu te culpei, foi porque não sabia, não sabia pelo o que você estava passando, eu sinto muito, eu nunca mais vou te empurrar, nem gritar com você, me desculpa... — Mal pude sentir quando as lágrimas brotaram em meus olhos. Minha voz começou a tremer, porque eu estava me sentindo emotivo. Sentindo o cheiro do meu irmão, a voz dele, sentindo ele.

Sentindo Seokjin. Sentindo meu irmão mesmo, sem culpá-lo, sem sentir que ele é um estranho...

Nada estava perdido porque Seokjin ainda estava ali, e eu estava o sentindo novamente.

Eu estava me sentindo novamente.

E isso me deixou tão feliz que eu... chorei.

Pude sentir que Seokjin percebeu isso, porque ele também chorou. Ele soluçou um pouco, me apertando cuidadosamente em seus braços, acariciando minha cabeça como sempre acariciou.

— Você vai ficar bem, não é? — Ele perguntou, se afastando subitamente. Seus olhos estavam molhados e seu rosto vermelho.

— Vou... — Passei a mão pelos olhos, secando-os. Seokjin apertou meus ombros. — Vou ficar bem. Vou pedir ajuda, vou melhorar — disse, olhando para ele.

— Eu sei que você vai... — Ele acariciou minha cabeça, tentando sorrir, mas sua boca voltava a tremer sempre que ele tentava. — Você parece estar melhor.

— Eu estou, por sua causa. A sua carta e você ter falado com o Jimin hoje, isso me fez vê-lo e nós conversamos tanto e resolvemos tudo... — eu disse, sentindo seus dedos pressionando meus ombros. — Tudo parece tão claro agora, Jin hyung...

Ele finalmente conseguiu dar um sorriso. E então, disse:

— Eu fico feliz, Jeongguk.

Eu suspirei. Olhando para meu irmão, me lembrando do passado e no que ele possivelmente estava sentindo, eu disse convicto:

— Você não pode ir embora achando que a culpa é sua — eu falei. — Hyung... você não se culpa por nada disso, não é?

Meu irmão... parou um pouco. Ele ficou me encarando e, como uma criança, abaixou a cabeça.

— Me culpo por não ter feito nada...

— Mas você não podia, não é? — Eu disse, me lembrando das cartas. — Nossos pais não deixariam. Você fez tudo que pôde, não precisa se culpar...

— Jeongguk, você não precisa ser tão bom comigo, eu não mereço-

— Você merece, hyung... — eu o interrompi. — Eu... eu sei que merece. — Eu engoli em seco. — Eu te amo, hyung.

Seokjin ergueu as sobrancelhas, como se não esperasse por isso.

Eu... eu acho que dificilmente falo que amo meus irmãos olhando nos olhos deles. É algo que sabemos sem dizer, nos amamos, somos família... mas dizer assim, tão diretamente, com tanta convicção... é novo.

E surpreende ele.

— Você...

— Eu te amo, Seokjin... — eu digo. — E eu... e-eu te agradeço por contar tudo. Mesmo que tarde, você fez o que pôde. E você não estragou algo que eu prezo, porque eu e Jimin nos resolvemos agora... nós percebemos que não é tão estranho, que não nos sentimos estranhos. E vai ficar tudo bem. Porque você me explicou e porque explicou para ele. — Eu funguei, abaixando o olhar. — Se não fosse você, nós nunca saberíamos disso... e eu acho que você fez a escolha certa várias vezes, e eu não te culpo pelo que deu errado — eu falei, o fitando. — Você é meu irmão, e eu te amo... e quero que você vá para casa sabendo disso.

Seokjin, primeiramente, ficou sem reação.

Mas depois... ele sorriu.

Foi um sorriso cheio de lágrimas e tremedeiras. Ele tentou dizer algo, mas não conseguiu... só balançou a cabeça contínuas vezes, confirmando, como se finalmente entendesse isso.

E pela última vez em algum tempo... nós nos abraçamos.

Demos um abraço forte e o homem no volante, que deve ser Namjoon hyung, disse que o voo já iria sair. Eu o cumprimentei de uma forma atrapalhada e, depois disso, eu me despedi do meu irmão.

Jin entrou dentro do carro e depois de fechar a porta, ele abaixou o vidro.

— Eu sei... — ele disse, secando o rosto molhado. — Agora eu sei disso.

Eu dei um meio sorriso, fungando um pouco.

— Você não vai demorar dois anos para voltar dessa vez, certo? — eu perguntei, fungando um pouco.

Seokjin deu uma risada embargada, negando com a cabeça.

— Não vou.... eu prometo.

— É melhor estar falando a verdade...

— Acredite, se eu demorar mais de um ano, vai ser ruim pra mim! Porque da forma que você é precoce, vai acabar virando um super-homem nesse meio-tempo — ele disse, risonho. — E eu não quero perder isso... e nem mais nada do seu crescimento. Por isso, volto logo.

Isso me fez rir baixo. Abaixei a cabeça e, coçando meus cabelos, eu disse:

— Bom... então, eu te desejo uma boa viagem, Jin hyung.

Seokjin, me olhando nos olhos, sorriu.

— Fique bem... e me ligue — disse ele, estendendo a mão.

Eu a apertei de imediato e confirmei com a cabeça.

— Vou ligar. — Namjoon estava ligando o carro. — Liga também...

— Certo... — Ele sorriu. — Tchau, Jeongguk.

Engoli em seco, mantendo meu sorriso. Tudo bem. Agora está tudo bem...

— Tchau, hyung — sussurrei, sentindo algo ruim. Eu não quero que ele vá. — V-vou sentir saudades...

— Eu também — ele disse, percebendo minha tristeza. — Não fique assim. Não fique assim. Eu vou voltar mais rápido do que você pensa.

Confirmei com a cabeça, engolindo o bolo na minha garganta.

— Podemos ir...? — Ouvi Namjoon perguntar para ele.

E, ao invés de lhe responder diretamente, Jin me olhou.

— Podemos? — Ele me perguntou.

Eu pisquei um par de vezes. Soltei sua mão e respirei fundo, sabendo que sim... tudo bem. Tudo bem...

Sim, eles podem ir.

— Sim... podem ir — eu confirmei, forte e firme. — Até mais, hyung.

Seokjin sorriu.

— Até mais, irmão — ele disse. E antes que Namjoon saísse, ele completou: — Eu também te amo.

Eu sorri com os olhos. E essa foi a deixa do meu hyung... ele somente foi embora.

Fiquei na calçada, acenando para ele e o carro até saírem do meu campo de visão. Precisei de algum tempo sozinho ali, processando tudo que aconteceu hoje...

Olhei para o céu, escondendo as mãos no casaco. E eu... ri.

Ri com as lágrimas nos olhos, porque estava triste, mas também estava aliviado e feliz.

Logo, eu não demorei mais nem um segundo para voltar para dentro. Para Jimin.

Eu subi as escadas com pressa e abri a porta assim que cheguei. Jimin estava no sofá ainda, e a primeira coisa que fiz quando entrei em seu apartamento foi abraçá-lo.

— Ei... — ele chamou, me abraçando de volta. — Está tudo bem?

O apertei. Puxei o ar, com pesar, e disse:

— Sim... está tudo bem.

E, de fato... está tudo bem.

E se não estiver, vai ficar.

A ida de Seokjin acabou mexendo bastante comigo e eu fiquei melancólico pelo resto da noite. Mas eu conseguia esquecer isso quando Jimin e eu começávamos a falar sobre alguma coisa ou quando ele me tocava. Passamos um tempo juntos depois de muito tempo e isso me fez sentir tão leve e bem... como se nenhuma tristeza existisse quando estamos juntos.

Foi tão bom. Nós pedimos nosso jantar e, bem de noite, tomamos um banho juntos... ver o corpo nu de Jimin foi íntimo e, principalmente, familiar. E apesar de estarmos ambos pelados, embaixo de um chuveiro quente, nada aconteceu. Nós nos abraçamos embaixo da água, sentindo um ao outro com amor. Porque, no fim, era só isso que precisávamos naquele momento.

Ao nos deitarmos juntos em sua cama, Jimin demorou um tempo para apagar a luz do abajur ao lado da cama. Eu estava sentindo algo de ruim, provavelmente por causa do meu irmão mais velho e pela saudade que eu estava sentindo dele, então acabei me virando... porque percebi uma coisa...

Logo, eu sentiria falta de Jimin também.

E isso me deixou... extremamente triste.

Fechei meus olhos, me deitando. Jimin fez um barulhinho com a boca e se aproximou um pouco, perguntando com cuidado:

— Gguk... quer ouvir "Hey Jude"..? — sussurrou, me tocando por baixo do cobertor.

— Tudo bem, hyung... — murmurei, respirando fundo, tentando me livrar do pesar.

Jimin deu um beijinho na minha nuca, respirando bem perto de mim.

— Não tem problema... eu consigo sentir no jeito que você deitou — ele falou, mostrando como notou minhas mágoas. Apertei meus dedos. — Essa música me ajuda, meu bem... você quer?

Suspirei...

Me sentindo melancólico e nostálgico, confirmei com a cabeça. Jimin, então, pegou seu celular e colocou a música para tocar, bem baixinho...

Eu conhecia a letra de cabeça, então logo comecei a pensar nela e relaxar...

"Ei, Jude... não fique mal

Pegue uma canção triste e a deixe melhor

Lembre-se de permitir que ela entre em seu coração...

Então, você pode começar a melhorar as coisas"

Jimin me abraçou por trás, aconchegando o rosto em meu pescoço e eu não pude deixar de apertar seus braços em volta de mim, precisando da sua companhia. Por uma noite, seu amor me dará forças para melhorar. E antes de pegar no sono, é só nisso que penso... em como vou melhorar. Em como vou fazer algo sobre o rancor, sobre a angústia e sobre meus pais, para poder viver bem e superar isso agora... e não em um futuro distante.

Agora. Agora é a hora.

Eu adormeci com isso em mente. E ao acordar, eu percebi que Jimin não estava na cama. Depois de levantar, encontrei a porta do banheiro escorada e o barulho do secador de cabelo vindo de lá. Jimin já tinha se banhado e estava de saída, dizendo que separou umas roupas para mim e uma toalha seca.

Pensei que ele tinha algum compromisso, então me apressei. E quando estava pronto, ele me surpreendeu ao dizer que me deixaria em casa sem, não antes, tomarmos um café juntos. Na padaria que fomos da última vez, é claro...

Tivemos uma manhã feliz e romântica. E como na noite anterior, minha mente apenas se enchia das questões e situações que eu teria de enfrentar agora... e, sabe, foi até engraçado como, ao entrar na padaria, escutamos "Hey Jude" tocando no ambiente.

E a música me deu forças novamente.

Eu e Jimin tomamos café, conversando brevemente sobre coisas bobas, nos tocando a todo momento. Porque sabíamos que seria diferente daqui para frente. E quando fomos embora e Jimin me deu um último beijo na frente do condomínio, eu senti isso. E de certa forma, eu senti medo...

Eu não queria sentir medo. Então, depois de cumprimentar o porteiro, eu coloquei os fones de ouvido e escutei "Hey Jude" novamente. Porque, como deu força para Jimin, aquela música estava me dando força também... e eu precisava disso. De incentivo e força, porque estou quase lá, quase lá...

Portanto, dei cada passo com a letra da música em mente, me perguntando como uma melodia poderia me trazer tanto alívio e tanta coragem para o que eu iria fazer ao chegar em casa...

"Ei, Jude... não tenha medo

Você foi feito para ir lá e conquistar

No minuto que você deixar isso entrar debaixo da sua pele,

você poderá começar a melhorar as coisas"

Eu entrei no meu prédio silenciosamente. Subi as escadas com lentidão e respirei fundo quando fiquei em frente a porta da minha casa. Abaixei a música em meus fones, e fiquei parado.

Fechei meus olhos. E peguei na maçaneta.

"Então coloque para fora e deixe entrar

Ei, Jude... comece

Você está esperando alguém para fazer isso com você

E você não sabe que esse alguém é justamente você?!"

Esse alguém...

Sou eu.

Abri a porta de casa.

O meu coração começou a bater fortemente e eu senti meu corpo inteiro gelar, porque estavam todos ali, no sofá, bem na minha frente... no momento em que eu abri a porta do apartamento.

Eu parei no lugar. Minha mãe se ergueu e eu vi como seu peito estava ofegante por me ver. Eu... eu não sabia como começar aquela conversa. Porque, usualmente, só vou para meu quarto sem olhar para eles...

Mas naquela hora, foi diferente. Eu fiz contato visual com os três. Minha mãe, meu pai, e minha irmã.

Respirei fundo...

"Ei, Jude, você vai fazer!

O movimento que você precisa está nos seus ombros"

É...

É isso.

Abri os meus olhos e, apertando os dedos contra minha palma, eu disse de uma vez, dando o primeiro passo:

— Mãe... será que tem como eu voltar a rever a Doutora Ahn?

Eu perguntei. Essa era a minha antiga psicóloga.

Minha mãe ficou em pé, e apesar de inicialmente parecer querer fazer isso, ela não se aproximou.

— É... sim, sim, é claro — ela confirmou, olhando para meu pai. Era a primeira vez que nos falávamos em tempos.

Eu engoli em seco, abaixando a cabeça. Toquei meus braços, me encolhendo um pouco, dando o segundo passo e dizendo:

— Eu preciso de ajuda... — eu disse. — Você pode marcar isso para mim?

Minha mãe suspirou, agitada. Eu não podia vê-la por encarar apenas meus pés, mas podia sentir sua energia no ar.

— Com certeza, filho, eu vou ver isso imediatamente.

— Você pode contar com a gente para qualquer coisa, Jeongguk, qualquer coisa que precisar... — meu pai acrescentou.

Eu abaixei ainda mais minha cabeça e a balancei, confirmando, como se tivesse entendido isso e entendido que vou receber ajuda.

— Tá bom — sussurrei. — Obrigado.

Antes que eu começasse a me mover para o quarto, minha mãe interrompeu-me.

— Se você quiser, posso levar seu almoço no seu quarto, ou... ou podemos ficar na sala quando quiser almoçar! Só queremos que você fique confortável e... não queremos invadir o seu espaço! — Ela disse, firme e ofegante.

E olhei para ela por um segundo... depois, desviei.

— Tudo bem... — murmurei. — Obrigado.

O terceiro e último passo, por agora.

E, sem dizer mais nada, eu fui para o meu quarto. Dessa vez, sem trancar a porta.

Eu me senti completamente bem.

Quando deitei a cabeça no meu travesseiro, pensativo e balançado, acabei por dar um suspiro pesado. Pronto. Pronto... eu consegui, eu consegui.

Agora as coisas definitivamente vão mudar... vão andar. Eu vou melhorar, eu sei como Jimin se sente e está tudo bem. Está tudo bem... e vai ficar tudo bem.

Eu segurei meu celular, e dei um sorriso quando vi que Jimin deixou uma mensagem dizendo que me amava acompanhando de um "Fighting!". Eu respondi da mesma forma e, depois, me permiti respirar fundo, sozinho em meu quarto. Em muito tempo: aliviado, calmo, e feliz...

Vai ficar tudo bem. E apesar de Jimin e eu estarmos prestes a passar por tudo isso sem um ao outro, eu sinto que, de alguma forma, ainda estaremos juntos. Amando e apoiando.

Eu preciso me amar mais, e Jimin precisa superar as coisas que o machucam. E apesar de termos nos ajudado com isso, não podemos mais depender um do outro para esquecer e esconder nossos demônios.

E é exatamente por isso que nós vamos ficar bem. Não nos separamos, não demos um tempo, nós só... vamos cuidar de nós mesmos.

Por enquanto sozinhos, mas... em breve...

Juntos.

[...]


🌌




Então... como eu me saí?

KKKKKK AAAAAA é sério, eu não sei se isso foi inesperado ou ruim e não faço ideia se vocês gostaram ou não, mas esse é o desenvolvimento que eu queria para os meus meninos. Eu PRECISAVA fazer eles resolverem seus próprios problemas sozinhos!! Jimin e Jungkook não podiam esconder seus traumas, sabe? Eles podiam ficar cada vez maiores e isso é perigoso para o emocional deles. Eu quero que isso aqui seja saudável!!

E pra falar a verdade, eu já estava pensando nisso desde que fiz a narração do Jimin. Porque

percebi que meu personagem precisava de algo a mais, ele sentia isso também, e nessa viagem que ele fez, ele descobriu o que precisava... aceitar ajuda profissional e se apoiar em si mesmo, apenas. Sem se culpar... 💛

Não quero que meus Jikook dependam um do outro emocionalmente! E como a Liz disse: eles podem se apoiar, mas jamais serem a cura um do outro.

Ou seja, vivendo um amor ou não, todos nós somos nossas próprias curas e temos capacidade e força para superar nossos demônios sozinhos, por nós mesmos. Não se esqueçam disso!

E se alguém ficou de birra... por favor, leiam com atenção o que o Jimin e o Jungkook estão sentindo. Eles precisavam disso, então, sei lá, né... tinha que ser assim. ELES NÃO TERMINARAM! E vão ficar juntos. Jikook sempre fica junto <3

No próximo capítulo a gente dá um salto no tempo e não vai ter muita enrolação até as coisas voltarem ao normal... isso significa que a fanfic tá acabando 😭 vou sentir muitas saudades!!

E putsss!!! MANTI FEZ DOIS ANINHOS DIA 23! AAAAAAAAA 🤧

Ai, ai... minha primogênita tá tão velhinha!!! Fico toda bobinha e melancólica de saudades dela, porque sei que ela tá acabando agora... e nada melhor do que fechar uma fase importante da história no aniversário dela, não é mesmo? 💙

E antes que eu me esqueça: parabéns, Bia!!! Muitos anos de vida pra você, ok? Feliz aniversário 🥳🥳🥳

Ai ai gente... eu fico por aqui! Muito obrigada por lerem! E obrigada @Queridinho e @jerkjikook por betarem esse capítulo gigantesco!! Vocês são demais, eu só posso agradecer vocês pela paciência... muito muuito obrigada mesmo 💛

E não se esqueçam de usar a tag #ÉJiminOuChimChim se forem falar da fic no Twitter! Meu user lá é @ gatodacoraline 🤧

Até mais~

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