Teen Mermaids

De _EuVitoria_

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Pertencente a dois mundos, Lydia, Rebeka e Luce precisam encontrar suas verdadeiras identidades. Seus c... Mais

Mudança
Festa na praia
Pulando na água
Poderes
Salva vidas
Uma nova sereia
Cardume
Uma dança
Sentimentos expostos
Doce chamado
Emboscada
Respostas
Hipnose
Visitando a vovó
Doador anônimo
O plano
Executando o plano
Livro de porções
capitulo especial - Morgana
Enfrentando tubarões
Capítulo especial - Morgana e Shelby
Evento de talentos
Malévolas
Festa na piscina
Banho de lua
Desafio
Para sempre, meu amor.
Perda de humanidade
Cupcake encantado
Recuperando a humanidade
Expostas
Uma novidade em Magic city
Concha prisão
Capítulo especial - Morgana
Encontro desagradável
Capítulo especial - Morgana
Indo as compras
Capítulo especial - Morgana
Oferta
capítulo especial - Morgana
Resgate
Capítulo especial - Morgana
Primeiro beijo
Capítulo especial - Morgana
Baile de natal
Agradecimentos
Novidades

Carta reveladora

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De _EuVitoria_

Sentiu quando seu corpo fora colocado dentro da limusine, de forma cuidadosa. Sua cabeça estava no colo do rapaz e suas pernas esticadas no banco macio. Seus olhos se abriram quando o ouviu dar o comando para o motorista:

- Leve-nos agora mesmo para o hospital.

- Não... - conseguiu dizer baixinho por conta da dor que percorria por todo o seu corpo. - Não gosto de hospitais. 

Ao ouvir sua voz, James olhou para baixo e lhe encarou, Lydia sentiu um calafrio passar por sua espinha quando seus olhos entraram em contato.

- Não me importo se gosta ou não, você precisa ir e vai. - sua voz rouca acelerou o coração da jovem deitada sobre suas pernas, ela se surpreendeu 
com o fato dele ficar ainda mais lindo visto daquele ângulo.

Lydia reconhecia que precisava ser examinada, mas hospitais lhe davam nos nervos. Para sua sorte ela sabia como convencer alguém, vestiu sua melhor expressão angelical e implorou fazendo beicinho:

- Por favor...

Fora difícil para ela não sorrir quando viu os lábios convidativos de James se ergueram em um sorriso de canto.

- Para uma garota de gênio forte, você sabe parecer simpática quando quer. - ele finalmente sorriu abertamente, revelando uma covinha meiga em sua bochecha, Lydia ficou fascinada o observando, era errado dizer que não existia perfeição com um garoto como aquele andando por ai.

   - E para um riquinho metido, esnobe e malvado, você até que consegue ser gentil quando quer. - a garota revirou seus olhos, e tentou soprar uma mecha de seu cabelo castanho que havia ido para o centro de sua face com o mover do automóvel.

- Eu não sou gentil, pequena. - ele lhe deu um sorriso sacana e retirou para ela o cabelo, colocando-o atrás da orelha da mesma, seu toque fez Lydia se arrepiar. - Com a maioria das pessoas não.

- Então por que está sendo gentil comigo? - Quis saber, seu tom debochado mudando para um sério, deixando o clima um pouco tenso. - Quer dizer, eu enfrentei você e...

- Se não parar de fazer perguntas difíceis eu vou leva-la direto para o hospital. - avisou com suas iris azuis fitando as esmeraldas verdes de Lydia.

- Insuportável. - resmungou ela, fechando sua cara como uma criança mimada, ouvindo a risada baixa de James que logo ordenou ao seu motorista que os levassem para sua casa.

Quando chegaram em seu destino, o popular a pegou em seu colo para tira-la do carro, ela sentiu todo seu corpo se acender com o toque dele que apesar de delicado, era firme. Quando finalmente teve visão da enorme casa do capitão, a sereia ficou encantada com a beleza do lugar, era incrivelmente grande e luxuosa, digna de ser considerada uma casa da realeza, pois sua aparência era semelhante a de um castelo.

Era estranho estar nos braços dele depois do debate que tiveram no corredor da escola. Enquanto era guiada ela se perguntava quantas garotas não dariam tudo para estar no seu lugar. Com os músculos do capitão de Lacrosse popular ao redor de seu corpo, sentindo o perfume masculino dele, e o melhor: sendo levada para o seu quarto.

- Sua casa é linda. - se viu confessando enquanto contemplava o interior da mansão Alves, seus braços estavam em volta do pescoço dele e o jovem não parecia ter dificuldades em lhe carregar ao mesmo tempo em que subia os degraus da escada de vidro.

- Que nem o dono. - a garota encarou seus lábios bem a tempo de ver um sorriso convencido brotar neles e em seguida sua língua os umedecerem de forma sexy.

- Você é inacreditável. - ela riu e revirou seu globo ocular.

- Você também. - o comentário dele saiu sério, como se houvesse um significado oculto.

Desde que entrará na escola, Lydia via as garotas babando e se derretendo com a presença do capitão de Lacrosse, e naquele momento enquanto era levada por ele, ela sentiu na pele o que era cair na teia de charme do popular. Apesar de saber da fama dele e de muitas vezes o detestar, naquele dia ela o olhou diferente e pode jurar que o rapaz era muito mais do que um completo imbecil. Ainda agarrada a ele, a sereia olhou cada detalhe do quarto do garoto, o quarto diz muito sobre os donos e mesmo que ainda não tivesse se dado conta, Lydia queria sabe mais sobre ele. O lugar era incrivelmente bonito, mas não  trazia tanto luxo como os outros cômodos da casa. Era mais simples e até mesmo acolhedor, nada do que a garota havia imaginado.

No instante em que seu corpo foi depositado sobre a cama macia, a jovem sentiu uma pontada de dor aonde havia sido ferida e soltou um pequeno gemido. Quando abriu seus olhos que havia fechado por conta do desconforto, ela encontrou as pupilas azuis de James lhe avaliando com uma estranha preocupação brilhando nelas.

- Você está bem? - ele havia congelado aonde estava, sem afastar seu corpo quente.

- Sim. - sua resposta saiu baixa enquanto a sereia tentava decifrar de onde vinha todo aquele cuidado que o rei da escola estava tendo com ela, que tanto havia lhe afrontado. James não fazia o tipo de cara empático e solidário.

  - Não se mecha muito, eu vou ligar para o meu médico e já volto. - o garoto dizia com seu rosto próximo ao seu, enquanto fitava suas íris. Lydia estava nervosa não só com aquela aproximadamente, mas com a chance de começar a nutrir mais do que desprezo pelo popular, apesar de muitas vezes ele ser uma pessoa horrenda, tinha seu jeito apaixonante. Ela assentiu, tentando controlar sua respiração acelerada.  Respirou fundo quando James lhe deu as costas, oferecendo-lhe a visão de seus passos confiantes e presunçosos.

Do lado de fora do quarto, ele falava ao celular, dava para ver que estava nervoso somente pela forma dele andar de um lado para o outro, bagunçando com suas mãos o cabelo impecável. Seria possível que ele estivesse nervoso daquela forma por pura preocupação com a novata? Seria possível que ele se importasse com alguém além dele mesmo? Sem ver nele aquele semblante habitual de arrogância, superioridade e frieza, Lydia conseguiu olha-lo de uma forma diferente, vendo beleza além de sua aparência.

   Apreciando a cena do rapaz desfilando de um lado para o outro, um sorriso bobo se iniciou nos lábios da sereia, antes mesmo que ela tivesse se dado conta. O capitão encerrou sua ligação bem a tempo de se virar e ver que ela lhe encarava, com os lábios sorrindo e os olhos também. Com toda sua elegância e masculinidade, James se encaminhou novamente para o quarto, com seus famosos passos confiantes.

   - Se quiser eu posso fazer umas poses para você tirar algumas fotos. - ele se posicionou no centro do quarto, como um modelo. Mudando de posição em frações de segundos, como se realmente estivesse sendo fotografado.

   - Não cansa de ser um idiota? - perguntou a garota, sorrindo e revirando seus olhos ao mesmo tempo.

   - E você, pequena, não consegue parar de ser tão marrentinha e teimosa? - ele se aproximou e a cercou com seus braços de veias expostas, sorrindo e olhando para os lábios dela de forma provocativa. Era demais para ela, qualquer garota em seu lugar enlouqueceria e com razão. Pois apesar de ser um tremendo babaca, James era bonito, charmoso, cheiroso e possuía noção do seu poder. Estava agindo daquela forma de propósito, ele queria vê-la nervosa e estava conseguindo.

   - Na-não. - a jovem gaguejou, arrancado do mesmo uma gargalhada gostosa. Ele jogou sua cabeça para trás para rir, se divertindo com seu constrangimento. Uma gargalhada. Foi o que bastou para ela entender o motivo pelo qual todas o queriam, uma gargalhada que lhe deu borboletas no estômago, James Alves era o fogo e Lydia Paker temia estar prestes a se queimar

  - Do que está rindo, idiota? - engoliu o nó que se formou em sua garganta e tentou não demonstrar nervosismo.

   - Dessa sua falsa marra. - o capitão abriu um sorriso sacana, que arrepiou até a alma da jovem deitada em sua cama. - Você finge ser toda durona, mas foi só eu me aproximar alguns centímetros que ficou toda nervosinha.

   - Deixa de ser convencido. - ela riu, tentando fugir da verdade óbvia. Ele acabava com a sua marra.

   O capitão lhe prendeu na teia de seu olhar azul, um olhar capaz de desarmar qualquer um. Para a sorte de Lydia, alguém bateu levemente na porta entreaberta, anunciando sua chegada. O homem que entrou a seguir, possuía uma aparência tão jovem que soava estranho ele estar dentro de um jaleco incrivelmente branco. No mesmo a sereia vislumbrou o nome do médico gravado nele: David, David possuía um sorriso lindo de dentes perfeitamente brancos.

   - Oi, parceiro. - ele cumprimentou James com um abraço de camaradagem, dando dois tapinhas em suas costas. Denunciando que se conheciam a longa data.

   - É ela. - O capitão apontou com sua cabeça após se virar novamente para Lydia.

   - É um prazer conhece-la. - O médico abriu um sorriso enorme para sua mais nova paciente, depois se aproximou e lhe estendeu a mão, oferecendo um cumprimento formal.

  - Igualmente. - A sereia devolveu, sorrindo levemente enquanto apertava a mão do jovem homem parado a sua frente.

   - Você vai ter que se livrar disso aí para que eu possa examina-la. - Em um tom profissional David apontou para a blusa da garota, o pano escondia o hematoma que se espalhava por grandes regiões de sua barriga. Lydia sentiu o rubor preencher suas bochechas, entendia que o rapaz era um médico, mas o fato de James lhe ver seminua deixou-a um pouco nervosa, até mesmo constrangida. E David havia percebido isso. - Você tem que esperar lá fora, cara. - ele disse para seu amigo, sem demonstrar que era ela quem queria aquilo, o que foi muito legal de sua parte.

  - Eu vou estar aqui fora. - James disse com seus olhos fixos nos da jovem, e ela sentiu que ele queria lhe assegurar de algo, como se fosse uma promessa de que não a deixaria sozinha.

   Quando o garoto saiu, Lydia ergueu sua blusa, tirando-a e revelando o enorme hematoma, o rosto de David se tornou de pavor e sua voz demonstrou a mesma coisa quando questionou:

  - Como isso aconteceu? Está bem feio...

  - Me envolvi em uma briga. - confessou, fazendo uma careta de dor quando o médico começou a examinar sua pele, dando leves apertadas na mesma, como se estivesse testando algo.

  - Vai precisar se meter fora de brigas até isso voltar ao normal. - ele tinha uma expressão séria, mas sua voz saiu brincalhona.

  Ela involuntariamente olhou em direção a porta, graças a pequena frecha aberta na mesma, pode ver que James andava aflito pelo corredor, até mesmo um pouco impaciente.

   - Eu nunca vi ele tão preocupado com alguém antes. - informou David, notando para onde o olhar da jovem havia sido atraído. A sereia ainda estava tentando compreender o que exatamente ele quis dizer, quando o mesmo apertou em uma área dolorosa, a fazendo soltar um grito de dor. Como o flash, o capitão adentrou no quarto.

   - James... - David o repreendeu com autoridade, assim que o mesmo entrou no cômodo, fazendo-a cobrir seu corpo de forma desajeitada.

   - Ela está com dor. - o outro se justificou, olhando para Lydia de uma forma diferente, por uma fração de segundos, parecia que ele realmente se importava.

   - Claro que sim. - Era como se o médico visse algo que eles não viam, pois revezando o olhar de um para outro, seus lábios encurvaram-se em um pequeno sorriso. Mas logo o mesmo voltou a sua postura profissional e acrescentou: - Mas ela está bem. Nenhum ferimento interno, apenas um ferimento na superfície. Vou deixar uma pomada, uma bolsa com gel e alguns comprimidos. Em breve estará novinha em folha. Não se preocupe tanto, James. Sua garota vai ficar bem. - David continuava com suas palavras e sorrisos significativos. Ele já havia se erguido e guardava seus materiais médicos dentro de uma maleta.

   No exato momento em que as palavras "escaparam para fora" a novata e o capitão trocaram um olhar intenso, com sentimentos ocultos, mas logo ela desviou o seu. O assunto logo foi esquecido, James ajudou seu amigo a guardar as coisas e conversou com ele por um pequeno tempo, cujo momento Lydia aproveitou para olha-lo. O rapaz percebeu que era observado, sorriu e mordeu o lábio, para somente depois encara-la intensamente e sair acompanhando o médico até a porta. Nesse meio tempo, a jovem se sentou com dificuldades, estava grata pela ajuda mas queria ir embora o mais rápido possível. Era ingenuidade demais estar perto do fogo e não esperar se queimar. Pois era isso o que o popular era, ele era a chama, a brasa, e se deixar encantar por ele, era pedir para virar cinzas

   - Voltei... - ele vinha vindo com um sorriso típico nos lábios, enorme, perfeito. Mas murchou assim que a viu se erguer. - O que está fazendo? - Correu até a garota e envolveu a cintura dela. - Não pode fazer muitos esforços.

   - Eu preciso ir. - murmurou, o aperto em seu quadril era tão forte, tão protetor e quente. Ela queria tanto morar dentro daqueles braços. Mas não era os braços de um cara gentil e bondoso. Era de James. O maior babaca de Magic City. - Meus pais devem estar preocupados.

  - Tudo bem. - concordou, ajudando ela a andar rumo a escadaria. - Eu ajudo você.

   - Deveria ter dito que eu não sou a sua garota. - brincou, apoiando todo seu peso sobre o ombro dele, com a estranha certeza de que ele não lhe deixaria cair.

   - É, você não é. - James lhe encarou com olhos brilhantes e mordeu seu lábio novamente. - Ainda.


                                          ☀️

  Aos poucos fora despertando, estava com dores no corpo e sabia ter dormido de uma forma um tanto desconfortável. A vida fora de seus sonhos foi tomando foco, Luce abriu seus olhos e quando seus sentidos normalizaram, logo percebeu que havia caído no sono e deixado o seriado tocando. Que horas eram? Ela não sabia, havia estado assistindo The Vampire diares a tanto tempo que provavelmente em algum determinado momento, o sono lhe venceu.

  Bocejando se levantou e abandonou o sofá da sala, no outro móvel sua mãe ainda jazia deitada, os olhos fechados e os lábios entreabertos, liberando um respiração regulada e suave. Luce se aproximou da mulher, pronta para lhe deixar um beijo de bom dia na testa. Mas quando estava perto o suficiente, algo se destacou em seus olhos. Sobre a blusa de Agatha havia um cordão, o mesmo estava grudado ao seu pescoço e o intrigante era que o pingente era uma chave.

    Ultimamente havia andado distraída e com sua mente distante, mas a sereia não havia se esquecido da teoria que havia criado desde que conhecera Morgana e sua irmã maluca. Tão pouco da caixa misteriosa que havia encontrado no quarto de sua mãe, e ao encontrar a chave que abria aquele cadeado, sua curiosidade aumentou o triplo.

   A garota suspirou, sabendo que o que estava prestes a fazer era errado, mas precisava ser feito. Com mais culpa do que pensou ser capaz de sentir, retirou delicadamente o colar de sua mãe adormecida, o mais cautelosa que podia, para não desperta-la. Respirou fundo e foi em direção ao quarto da mulher, pronta para revelar o segredo que a mesma guardava. Mal sabendo que não estava pronta para o que iria encontrar.

    Chegando lá, não se demorou para encontrar a caixa misteriosa e abri-la. Até tentará se preparar para o que estaria no interior, mas nada lhe prepararia o bastante para o que encontrou. Haviam cartas, muitas delas e todas traziam a mesma assinatura: Cristopher. Todas elas possuíam também o mesmo envelope, a mesma letra e a grande maioria era muito linda, mas não tinha nada incriminador. A não ser pela última que a garota encontrou, era a data mais próxima, enviada a sete meses atrás.

   "Amar você foi uma dádiva, mesmo que o destino tenha nos escrito em caminhos distintos. Eu sinto sua falta, mesmo depois de ter se passado dezessete anos. Eu queria saber como anda por aí, se já superou o que um dia fomos. Eu sinto muito, meu amor, pois apesar de ter me abandonado no altar, quem te abandonou de verdade fui eu, que não lhe apoiei na decisão de ficar com a linda menina que encontraste na praia aonde o nosso amor nasceu.
   Com amor, seu Cristopher"

Luce leu o papel mais de uma vez, dezenas, para ser franca. Nas últimas vezes, seus olhos nadavam em lágrimas. Pois havia compreendido tudo, sua intuição estivera certa o tempo todo, não era apenas uma teoria e aquela frase final, "a menina que encontraste na praia aonde o nosso amor nasceu" era a confirmação que tanto precisava. Não havia como ser coincidência ou engano, pois até mesmo as datas batiam, a dezessete anos atrás ela era um bebê recém nascido, um bebê que não pertencia a Agatha, mas que ela criará como sua.

   A sereia engoliu em seco e tentou engolir toda sua tristeza e angústia. Tinha que ser racional e pensar com clareza, sabia que o fato de ser adotada podia ser uma grande pista sobre sua verdadeira identidade. A sensação que se a ponderou sobre ela, foi horrível, o sofrimento era muito ao perceber que toda a sua vida fora uma mentira. Ela não era Lucinda Forbes, era alguém que tão pouco conhecia. Uma garota cuja pernas escondiam uma cauda, uma garota que possuía origens místicas.

   A revelação foi um golpe tão certeiro que ela tombou um pouco para trás, tendo certa dificuldade para digerir tudo, sua mente rodava com tantas informações. Não poderia desabar, não ali, tinha de ser forte e desvendar o mistério que era sua vida. Precisava encontrar suas amigas e compartilhar com as outras sereias sua descoberta. Antes era apenas uma teoria, mas agora havia as provas que ela tanto queria.

   Mesmo estando em frangalhos, Luce respirou lentamente, dobrou a carta e guardou-a em seu bolso. Se erguendo em seguida. Demorou um tempo para que ficasse mais calma e se arrumasse, colocando um jeans surrado, uma blusa branca com estampas floridas no estilo ciganinha. Seu longo cabelo prendido em um alto rabo de cavalo.

  Devolveu  a chave para o pescoço de Ágata, que ainda dormia, quando abandonou a casa, estava atrasada. Em um misto de desespero, angústia e ansiedade. Levou mais tempo do que o necessário para que Luce finalmente chegasse até a escola, seus olhos seguravam as lágrimas e seu coração uma montanha de sentimentos. Suas pupilas brilhavam com o choro que queria sair.

   Assim que parou em frente ao portão, viu o guarda parado em sua posição. As mãos para trás de suas costas, batendo o pé e assoviando. Ele não lhe deixaria entrar, era um fato, mas mesmo assim ela iria tentar.

   - Eu preciso entrar. - murmurou para ele, tentando segurar as lágrimas que vinha contendo a horas, simplesmente por estar em público.

  - Mas você não irá. - o homem negou, alheio aos sentimentos da jovem garota.

   - Você me deve um favor, Éder. - a voz impossível de não reconhecer, soou atrás dela. Luce virou sua cabeça e encarou Luca, que mantinha as mãos atrás das costas, ele parecia um príncipe.- Pode paga-lo deixando ela entrar.

   - Tem certeza disso, Luca? - a voz do guarda ficou mais suave ao falar com o rapaz, deixando a menina curiosa do motivo pelo qual ele lhe devia um favor.

   - Sim, senhor. - respondeu simplesmente, sem perder sua educação. O outro apenas assentiu com sua cabeça, encarou a sereia e deu dois passos para o lado, liberando sua passagem.

   Ambos os dois adolescentes começaram a andar lado a lado, calados. O jovem não havia deixado nenhuma brecha para trás, era óbvio que ainda estava chateado com o que ela fizera com Betty, mas o que não sabia era que havia sido punida por aquilo. A abelha rainha havia jogado baixo, havia encurralando-as e Lydia havia pago as consequências.

  - Ei? - quando chegaram em frente a sala, ele iria adentrar mas antes disso ela criou coragem e segurou levemente em seu braço, impedindo-o. - Obrigada.

   - Sem problemas. - os olhos dele alcançaram os dela, cheios de decepção e amargura. Em seguida o rapaz encarou sua mão em seu braço e a jovem o soltou, entendendo o recado.
   

   ☀️
    Era quase dez horas da manhã, o que indicava que Rebeka estava tremendamente atrasada. Ainda se sentia exausta, por ela, dormiria as próximas oito horas seguidas. Culpa é claro, da série nova que havia maratonado com sua prima. Gossip Girl era viciante.

   Sua primeira ação após se espreguiçar foi pegar o celular sobre o criado mudo. Desde o episódio da briga com os amigos covardes de Betty, ela vinha tentando entrar em contato com Lydia, a única a sofrer golpes que poderiam ser considerados graves. Graças aos céus, havia mensagens da garota, aonde ela afirmava estar bem, mas alegava que ficaria de repouso pelo menos por um dia. Dizia também ter consultado um médico e eram apenas hematomas dolorosos, nada de alarmante.

   Apesar de ter perdido quase todos os períodos, ainda assim iria para os últimos dois. Então tratou logo de por a primeira roupa que encontrou, após um banho rápido. Assim que abandonou seu quarto, Rebeka encontrou Clark abandonando o banheiro, pretendendo rapidamente seus cabelos crespos. O que denunciava que assim como sua prima, a jovem havia perdido a hora. Enquanto elas andavam atrapalhadas arrumando os últimos detalhes para sair, Glória adentrou na sala com dois copos térmicos e embalagens de biscoitos.

   - Imaginei que vocês iam perder a hora. - a mulher atenciosa foi logo dizendo, estendendo o que trazia para ambas.

   - Obrigada, você é um máximo! - as garotas disseram em uníssono, depositando juntas um beijo em cada bochecha dela. Rebeka e Clark empurram juntas a porta, apressadas e no automático.

   - Meninas, meninas... - Glória as repreendeu, mas sorria como uma mãe orgulhosa. Balançando levemente a cabeça, como se estivesse desaprovado o comportamento acelerado das duas.

  Preferiram seguir pelo caminho da praia que era mais rápido, mas o que para Clark havia sido apenas um atalho, para sua prima havia sido um convite para relembrar um momento estranho de sua vida anormal. Não havia contado para suas amigas do canto que havia escutado, sabia que elas deveriam saber, mas ainda não tinha certeza se não havia tido alucinações. Portanto, decidiu tirar a conclusão. Então a sereia olhou para a garota ao seu lado e disse fingindo indiferença:

   - Sabe, acho que não vou ir hoje. - deu de ombros enquanto sentia o vento jogar seus cachos para trás, a praia estava deserta e não fazia muito calor. - Já perdi quase todos os períodos mesmo. Além do mais, tenho alguns assuntos pendentes.

  Ao julgar pela expressão de sua prima, a outra teve certeza de que ela não achava aquilo uma boa ideia, mas já era de se esperar, pois Clark costumava ser muito centrada em suas prioridades.

   - Que coisas pendentes, Beka? Você sabe que a mamãe não vai gostar disso.

   - Coisas pessoais. E ela só vai saber se você contar. - Rebeka sabia que a garota de cachos dourados não suportava mentiras, ou segredos, então não pediu para que ela cometesse algo contra seus ideais, apenas que omitisse. - E você só vai contar se ela perguntar alguma coisa, o que não vai acontecer.

   - Devo me preocupar com esses assuntos pessoais? - a jovem parou de andar, seu semblante já estava preocupado.

   - Não, não é nada demais. Apenas algumas coisas que eu quero fazer. - assegurou, fazendo a posição da outra deixar de ser tão tensa e relaxar um pouco. - Agora vá para aula, vejo você mais tarde.

   Clark conhecia a teimosia de sua prima o suficiente para saber que não era uma boa tentar argumentar, ia apenas se complicar ainda mais com o atraso. Então cedeu, pedindo para que ela se cuidasse e despedindo-se com um abraço amigável.

   Rebeka esperou minutos para ter certeza de que a outra havia partido, então se livrou de seus sapatos e correu pela areia, indo em busca de respostas. Mas o que ela não sabia era que o caminho que estava seguindo, podia ser perigoso. Só descobriria isso quando chegasse lá. A sereia queria respostas e as obteria, mas isso não quer dizer que encontraria o que procurava.

   Nada superava a sensação maravilhosa que a jovem sentia toda vez que entrava na água, toda vez que suas pernas se tornavam caudas, toda vez que ela se libertava e revelava sua natureza.

  Lembrando-se do caminho que fizera sobre a possível hipnose, Rebeka se viu exatamente no mesmo lugar para onde a voz havia lhe guiado. E mesmo estando claro, o lugar parecia escuro e sombrio, havia dentro das profundezas do oceano, uma construção feita de pedras, cercada por tubarões assustadores que arrepiaram cada membro de seu corpo e ela compreendeu que havia ultrapassado a bolha mágica mais uma vez. O que via, fazia parte da cidade das sereias, visível ao seus olhos, mas oculta para mundanos.

   Logo a garota percebeu que aquilo, era o lado ruim daquela cidade marinha, assim como em sua própria cidade, não havia apenas só beleza, havia um lugar que cheirava a tortura e dor. Escondida atrás de uma enorme rocha fixa no areia, ela via os tubarões guardas vigiando cada canto daquele submundo.

  - Quem é você e o que faz em minha masmorra? - a voz a suas costas era alta e poderosa, demonstrando o quão ferrada a menina estava.

   - Uma sereia do cardume laranja. - a jovem engoliu em seco e se virou, encarando a outra sereia. - Como você.

   Seu queixo caiu quando fitou a criatura mística a sua frente. Ela possuía longos cabelos negros e uma coroa cheia de pedras brilhantes sobre sua cabeça. Sua cauda era a mais brilhosa, assim como sua pele. Ela era linda. Uma obra de arte, seus olhos tão azuis quanto as águas que lhe cercavam. Mas o que deixará a menina boquiaberta, com toda certeza fora a coroa que trazia sobre seus cabelos.

   - Meça suas palavras. - ordenou com uma voz tão intimidante que fez a outra desejar fugir naquele mesmo instante. - Eu não sou uma mera sereia, sua insolente. Sou sua rainha, tenha mais respeito!

  - Eu... - Rebeka respirou fundo, estava encurralada entre a rocha e a beldade. Não havia como fugir, então entraria no papel. - Eu não a reconheci, alteza. Sinto muito.

   - Sou eu quem não a reconheço. - a rainha estreitou seus olhos, desconfiada. Nadou mais para próximo da outra, querendo avalia-la mais de perto. - Como se chama?

   - Rebeka.- disse firme, não seria uma boa aparentar estar amedrontada. Não sabia do que aquela mulher era capaz, mas se a história maluca de Maila fosse real, a rainha havia apagado suas próprias irmãs da história. Imagine o que faria com uma intrusa metade humana.

  - Hum... Rebeka. - seus lábios testaram a palavra enquanto ela encarava a jovem por mais alguns segundos. - O que faz aqui nas masmorras, querida? Se é do meu cardume como diz, conhece as regras, sabe que é proibido. Planeja resgatar alguém?

   - Eu... É... - vacilou um pouco, pois na verdade não conhecia as regras, não conhecia aquele mundo, não conhecia a rainha e para ela masmorras existiam apenas em livros. Engoliu em seco e se concentrou, era boa mentirosa e seu papel ali era atuar como uma mera sereia, com sorte sairia viva. Com azar seria comida pelos tubarões mutantes. - Eu não seria idiota de tentar resgatar alguém, majestade. Não sem um bom plano antes e com certeza tentar fazer isso a luz do dia, não é uma ótima estratégia.

   A sereia a sua frente ficou em silêncio por um momento, e foi tão perturbador que a outra repensou o plano B, sair correndo dali e rezar para não ser engolida viva pelos guardas costas da masmorra.

   - Acredito em você. - disse por fim, sua voz era tão sombria quanto seu olhar. - Mas antes terei que comprovar que o que diz é verdade. - ela esticou sua mão até o manto negro que era seus cabelos, pegou de lá uma pedrinha brilhante que antes parecia apenas um enfeite e entregou na mão da jovem sereia: - Essa pedra está encantada para detectar mentiras. Quando as encontra, ela brilha. Farei algumas perguntas e se você dizer a verdade, eu a deixo ir.

  Hesitante a garota pegou o que lhe fora oferecido, sem mover um único músculo além de sua mão. Estava muito encrencada, porque dependendo da pergunta, teria que dizer quem realmente era.

   - Qual é o seu nome? - perguntou novamente a voz poderosa, aquela voz... Rebeka a reconheceu imediatamente, era a segunda da noite anterior, aquela que havia feito a voz doce e angelical se desesperar e lhe mandar correr.

  - Rebeka. - respondeu sentindo sua confiança ir pelo ralo, pois sabia que estava diante de um ser perigoso, apesar de sequer conhece-la. É claro que a pedra não brilhou.

   - Tem algum parente na masmorra?

   - Não.

   Novamente, sem brilhos...

   - O que há trouxe até essa área proibida?

   Para aquela pergunta, havia muitas respostas. Mas a única que lhe venho a sua mente foi uma a qual ela temeu dar, mas mesmo assim o fez, querendo sair daquele lugar apavorante o mais rapidamente possível:

   - Uma voz. Eu ouvi uma voz e ela me guiou até aqui.

   - Uma voz? - o semblante dela ficou pálido, a raiva passando perceptível por sua face. - Perdoe-me, Rebeka. Uma de minhas condenadas devem estar entediadas e fica brincando com outras sereias. Isso não vai acontecer novamente. Pode ir agora.

  A garota sereia não entendeu o ocorrido, não percebeu que havia algo de errado, estava tão desesperada para escapar daquilo que se agarrou a primeira oportunidade que teve, assentiu com sua cabeça e se pôs a nadar, finalmente voltando a respirar regularmente, o nervosismo se esvaindo a medida que se afastava.     
  
   

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