-Katherine? Podemos conversar ?
Me virei, encontrando Erin parada sob a porta. Meus olhos foram direto para o distintivo ainda estava preso sob o seu cinto. Quem diria, a garota rebelde se tornou policial.
-Claro - assenti, deixando um beijo na - te vejo depois, Jay.
-Juízo, ein - ele murmurou, me fazendo sorrir.
Erin me guiou até a cafeteria do hospital. Depois de pegarmos um café, nos sentamos na mesa do canto.
-Já faz bastante tempo - ela disse, me fitando.
-Sim.
-Você o salvou - Erin foi direto ao ponto, algo em seu olhar me dizia que ela não queria apenas relembrar os velhos tempos.
-Não foi nada demais- dei de ombros.
-Eu só estou curiosa - ela me encarou desconfiada - como você sabia exatamente onde encontra-lo ou que ele estava com problemas ?
-Isso realmente importa agora?
-Você desapareceu por anos - seu tom se tornou acusatório - então de repente aparece e salva Justin, como se soubesse tudo que estava acontecendo.
Erin era esperta demais pra cair em qualquer mentira que eu inventasse. E pra falar a verdade, eu já estava cansada de mentir.
-Eu estava vigiando ele - admiti, ela não pareceu surpresa - todo esse tempo eu sempre soube o que estava acontecendo na vida dele.
-Você o abandonou , fugiu quando ele mais precisava de você - ela disse zangada - Camille morreu e você não estava lá para ele, agora me diz que sempre...
-Partir foi o único jeito que eu encontrei - fitei, esperando que ela entendesse - eu não tinha outro jeito.
-Você poderia ter ficado.
Pelo modo que ela falou ficar parecia algo tão simples. Mas ela não sabia nem da metade da história, e continuava me julgando.
-É tão fácil me julgar, não é? Você mais do que ninguém deveria entender, Erin.
-Entender o que? - ela se inclinou sobre a mesa, seu olhar duro fixo em mim - Que você é uma covarde que foge no primeiro sinal de problemas, que esta usando seu cargo no FBI pra espionar a vida do seu ex namorado...
-Ele é meu irmão! - praticamente gritei, atraindo atenção de todos .
-O que?- Erin me encarou surpresa, sua boca se abriu algumas vezes, enquanto ela tentava dizer algo.
Não pensei que revelaria isso dessa forma, muito menos para Erin. Mas era um um bom teste, talvez no futuro, se eu contasse para Justin, já saberia o que esperar.
Puxei a blusa para o lado, revelando a maldita marca de nascença presa na minha pele. Ela compreendeu no mesmo segundo, afinal ela tinha uma também.
-Você namorou Justin... o seu irmão - ela repetiu, compreendendo aos poucos - namorou o seu irmão.
-Você entendeu - olhei em volta, desconfortável- pare de repetir isso em voz alta por favor.
-Vocês chegaram a...?
-Não, eu descobri antes - neguei rapidamente, só de imaginar ficava horrorizada- quando eu o vi sem camisa tudo se encaixou, entendi na hora.
-Bem...tudo faz sentido agora.
-Fugir foi a única coisa que consegui fazer -expliquei, de alguma forma me sentindo mais leve - não fui capaz de contar a verdade pra ele.
-Se vale de alguma coisa, nós nos beijamos uma vez - ela riu divertida - isso foi antes de descobrir que Voight era o meu pai.
-Tem algo errado com a gente - constatei, sem deixar de sorrir.
-Definitivamente- ela riu.
Sua expressão se tornou séria, quase podia ver as engrenagens do seu cérebro.
-Você deveria contar a ele - ela disse - Justin merece saber a verdade, precisa saber porque você partiu.
-Ele não precisa saber, não é como se algo fosse mudar mesmo.
-Você ainda o ama?- suas sobrancelhas se arquearam, enquanto ela me analisava.
-Não desse jeito. No começo foi bem estranho - disse, estranho nem de longe era a palavra certa - por um tempo eu fiquei bem confusa, mas depois as coisas mudaram e eu comecei a ama-lo como....
-Uma irmã ama seu irmão - ela completou - acredite, eu entendo mais do que ninguém.
-Sim, e parece que ficou tudo mais estranho ainda.
-Ao que parece, nós nos damos bem com o que é estranho - ela brincou, o clima se tornando mais leve - você salvou a vida dele Kat, talvez seja um sinal pra recomeçar as coisas.
-Talvez...
-Você também precisa conversar com Hank...
-Não - bufei, isso nunca aconteceria - eu quero distancia dele. Voight sempre será o homem que arruinou a minha vida.
-Mas ele não sabe Katherine - ela disse, revelando uma certa devoção ao seu pai - nem mesmo faz ideia...
-Isso não muda nada, Erin.
-Por isso você tem tanta raiva dele?- ela adivinhou - por isso assumiu o caso sozinha ?
-Não conseguiria trabalhar ao lado dele.
-Eu te entendo, sei porque você se sente assim -ela disse cautelosa - mas não acha que Hank merece saber porque você o odeia tanto?
-Ainda não -suspirei cansada - não estou pronta para encarar isso. Primeiro preciso lidar com a bagunça que eu fiz.
-Agente Ackles ?
A voz de Morgan me fez encolher os ombros, não estava pronta pra ouvir a bronca do meu chefe, pelo menso não hoje.
-Pense sobre isso .Boa sorte, Kat - Erin murmurou, me lançando um olhar solidaria antes de sair.
Morgan se sentou no lugar de Erin, seu olhar revelando tudo que eu já sabia. Estava ferrada, nem mesmo o melhor pedidos de desculpas consertaria as coisas.
-Eu apostei todas as minhas fichas em você garota - sua voz soou como um trovão, me encolhi na cadeira - e então você apronta uma dessas...
-Morgan...
-Não, eu ainda estou falando -ele me cortou, me olhando como se eu fosse uma garotinha desobediente - eu sempre soube que você era impulsiva, agora irresponsável e inconsequente é algo novo. Você arriscou a vida da sua equipe, todo o caso, e as vidas de todos em Chicago por um capricho bobo.
Eu salvei uma vida, na verdade duas, isso nem de longe era um capricho bobo. Mas resolvi ficar calada, não era bom irrita-lo ainda mais.
-Todos nós estávamos esperando o seu próximo passo - seu desapontamento estava bem nítido - droga, eu acreditei mesmo que você era capaz. E agora temos um terrorista e seu irmão passeando por ai, com explosivos e as plantas da cidade, prontos para mandar todo mundo pelos ares!
-Senhor...
-E ainda por cima usou JJ para beneficio próprio - ele disse, me pegando desprevenida, não faço ideia de como ele descobriu - sim, eu sei de tudo. Francamente Katherine, eu esperava mais de você.
-Eu sei que eu errei feio - fitei ele- deveria ter pensado mais antes de deixa-los, devia ter feito as coisas de maneira mais responsável
-Você nem mesmo parece arrependida! - ele jogou as mãos pra cima irritado - eu deveria te demitir e garantir que nunca mais pise na agencia de novo.
-Tudo bem senhor -assenti calma, já imaginava que algo assim aconteceria - eu sempre soube que teria consequências, se demissão for a resposta, tudo bem.
-Como você está tão calma, Ackles ?
-Bem... - sorri de lado - o senhor já está zangado demais por nós dois.
-Você estragou tudo, sabe disso, não é ?- ele suspirou, apoiando as costas no encosto da cadeira.
-Sim, senhor.
-Eu não poderia demitir você, mesmo que você esteja merecendo muito - ele disse, sua raiva diminuindo aos poucos - mas você está suspensa, por tempo indeterminado. Não quero você perto de qualquer coisa relacionada a Darian ou ao caso. Um inquérito foi aberto, vou decidir o que fazer com você assim que conseguirmos capturar Darian.
-Obrigada, senhor.
-Não me agradeça ainda -ele disse, se levantando - e pelo amor de Deus, pare de me chamar de senhor, Katherine.
-Morgan?- chamei.
-O que ?- ele me olhou, dessa vez sem irritação.
-Me desculpe- disse, ele sorriu de lado.
-Se cuide, garota.