Stockholm ⇋ h.s

Door mrslucena

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- Mas você só faz o que eu quiser, Amanda. Se eu não quiser que você coma, você não vai comer. Se eu não quis... Meer

STOCKHOLM (repost)
CAPA NOVA

Capítulo 1 | Astúcia

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Door mrslucena

- Perdão, senhora Sanderson!

Acabo de esbarrar na bolsa de compras da senhora Sanderson; minha vizinha.

- Não se preocupe, minha querida. - dá um sorriso meigo e simpático. - Pode apanhá-las para mim, Mandie?

Alice Sanderson é uma senhora incrivelmente sábia, a idade nunca pareceu mexer com sua inteligência, aliás, a senhora é cega e faz um brownie de chocolate com banana delicioso. Ela sabe exatamente onde fica tudo, é uma mulher muito impressionante.

- Claro! - me apoio de joelhos no chão para apanhar as coisas que acabei derrubando. - Senhora Sanderson?

- Sim, querida?

- A senhora ainda faz brownie?

- Deliciosamente fofos e amanteigados?

- Isso! - dou uma risada.

- Claro, minha linda. Vou à preparo deles em breve. Gostaria de prová-los?

- Nada melhor! Talvez a senh...

Assim que levanto com a bolsa, sinto minhas costas colidirem com algo grande e firme. No mesmo instante, viro para encarar em o quê eu bati.
Camisa branca, jeans skinny escuro, botas sociais e uma jaqueta de couro pesada era o que cobria seu corpo, aparentemente forte. Olhos verdes me encaravam rudemente, uma expressão não muito boa.

- Eu sinto mui...

- Mandie?

A senhora Sanderson estranhava os longos segundos de silêncio que tomavam o pequeno corredor da lojinha de variedades em que nos encontrávamos naquele momento.

Quando eu vi, era um pouco atrasado para perceber que eu havia derrubado suas coisas, de certa forma, também. Ao me abaixar novamente pra juntar tudo, sinto sua mão em meu ombro, me impedindo de fazê-lo.

- Não.

Responde friamente.

- Quem está conosco, Mandie? - a senhora vira o rosto, desnorteada pela cegueira, e estende sua mão para tentar achar o homem e tocá-lo.

Sua mão encosta no braço do rapaz, que vira o rosto de forma agressiva para encarar a mão dela tocando parte de seu corpo.

- Vamos embora, garota. - fala, assim que solta o braço do rapaz.

O tom de voz da senhora Sanderson tinha mudado naquele momento. Boa coisa não era.
Alice Sanderson me contou que as mulheres primogênitas de sua família sofriam de uma cegueira crônica mas que ela, por algum motivo, ganhou um dom que fazia ela enxergar coisas que ninguém vê com os olhos normais. E quando seu tom de voz mudava... ela tinha visto algo. Deu a isto o nome de Astúcia.

- Perdão.

Digo em voz baixa para o rapaz ouvir e vou em direção ao caixa, próximo a porta de entrada com a senhora Sanderson.

- Boa Tarde!

Marya, a balconista e atendente da lojinha, nos cumprimenta como sempre.

- Boa Tarde, Marya. Pontual como sempre! - diz a senhora Sanderson.

- Esta lojinha é o coração do meu pai. Devo tudo a ele, inclusive a pontualidade. - dá um sorriso. - Como estão, garotas? - pergunta enquanto faz a leitura das compras com o leitor de códigos de barra.

- Bem. - digo, simpática. - Ah, Marya?

- Sim?

- Quem é o rapaz alto que acaba de entrar na loja? - aceno levemente com a cabeça. - Olhos verdes, bem vestido...

- Um garanhão, não é? - sussurra em um sorriso, piscando o olho. - Ele deve ser novo no bairro. Nunca o vi por aqui antes e olhe lá que trabalho aqui todos os dias, sem faltar um dia sequer.

- Não me parece um bom garoto.

- Como não, senhora Sanderson? - responde, frustrada. - Aparenta ter grana! É um homem bem sério, ao meu ver.

- Certo, Marya! - digo sorrindo, vendo a paixonite que ela criou no rapaz. - Dê-me as compras. Já sei que está caidinha por ele!

- Vou pedí-lo que me passe seu número de telefone. - sussurra.

- Vá à merda! - digo, ainda rindo.

Depois de pagarmos pelas compras, aceno de despedida para Marya e vejo o rapaz misterioso indo até o caixa.

- Tome cuidado! - sussurro, quase inaudível, para só ela entender e, de volta, ela me responde com uma piscada.

Saio da lojinha e vou acompanhando a senhora Sanderson pelas ruas de Liverpool.

- Menina?

Caminho ao lado da senhora, enquanto sua mão está apoiada no meu ombro.

- Sim?

- Quem era o rapaz dos olhos verdes, menina? - fala inocente.

No mesmo instante, paro de andar. Viro o meu olhar para encarar o rosto da senhora completamente normal.

- Olhos verdes, senhora Sanderson? - digo, ainda confusa.

Como ela sabe?

- Sim, menina! - ela franze a testa. - Ele tinha olhos verdes. - dá uma pausa, ela parece tentar imaginar alguma coisa. - Olhos verdes tão profundos e misteriosos quanto o que há dentro dele. - respondia calma.

- A astúcia lhe mostrou isso? - pergunto.

- Sim, menina. - vira o rosto para a direção da lojinha. - Não é um rapaz do bem.

Fico em silêncio e continuo caminhando ao lado da minha vizinha. Desta vez, mudo de assunto. Conversar sobre qualquer coisa com a Alice sempre rende algum assunto, ela sempre diz coisas sábias.

Dez minutos era o suficiente para encontrar a minha casa e a casa da senhora Sanderson, logo ao lado da minha.
De longe, vejo o meu pai cuidando de Viúvas Negras no jardim de casa. O balanço na varanda fazia um barulho enquanto o vento agia, balançando-o.

- Boa Tarde, pai! - ele sorri ao me ver.

- Anjinho! - sorri de volta. - Você demorou. - vira o pescoço para ver a nossa vizinha. - Boa Tarde, senhora Sanderson.

- Boa Tarde, Robert. - responde carismática. - Encontrei a Amanda na lojinha da Marya e ela me ajudou com as compras.

- Ela é um anjo. - dou um sorriso ao ouvir. - Você trouxe as cordas, Mandie?

- Sim! Vou só levar as coisas da senhora Sand...

- Vá para casa, minha linda. Eu me cuido por hoje. - pega a bolsa. - Muito obrigada! - dá um sorriso e vai com cuidado para sua casa.

Parada no jardim de casa, olho em volta, é um bairro tranquilo. Os vizinhos nunca incomodaram, cada um deles vive uma vida privada e a maioria vive sempre fora.
Depois de passar alguns segundos observando o quanto estava tudo calmo hoje, volto a realidade e vejo um carro, que nunca tinha visto antes, passando devagar em frente a casa. Ao passar, acelera.

- Entre, Amanda. - ouço a voz do meu pai.

Sem questionar, vou em direção a porta de entrada que já estava aberta e quando passo por ela, fecho calmamente e caminho em direção a mesinha de centro e coloco a caixa com um kit de cordas que o pai me mandou buscar na lojinha da Marya.

Subo as escadas e antes de sumir do andar de baixo da casa, encaro o relógio. São 5:47p.m.

[...]

- VÁ À MERDA, ROBERT!

- Eu não posso deixar a Mandie aqui, Christine! Você é a mãe dela também! Acha que ela não vai sentir nossa falta?

- Não podemos ficar! Você sabe disso. VOCÊ SABE DISSO!

O barulho podia ser ouvido do meu quarto. Meu cérebro não conseguia processar direito qual era a conversa, eram apenas gritos.

- Christine, nós podemos levá-la embora!

- Não, Robert! NÃO PODEMOS!

Ainda sem entender, me apoio sobre os cotovelos na cama e olho em volta. Está escuro. O relógio digital no criado-mudo ao lado da minha cama mostra 2:17a.m.
Não consigo lembrar direito como dormi. Tenho fones de ouvido enrolados na bagunça dos lençóis e Dangerous Woman ainda tocando em uma plalist do spotify no meu iPod.

Meus pés tocam o chão gelado e, tonta de sono, vou em direção ao banheiro. Me olho no espelho e vejo meu rosto pálido e cheio de olheiras.

- Precisamos avisá-la, Christine

- E vamos. Mas não quando estivermos na cidade.

Lerda, ainda do sono, volto para a cama e só escuto um silêncio contínuo. Devia ser coisa da minha cabeça. Ao encostar a cabeça no travesseiro, me sinto como se estivesse dopada, então pego no sono novamente.

[...]

Um estouro.

Dessa vez, dou um pulo da cama. Imediatamente fico sentada, encosto na cabeceira da cama e esfrego a pálpebra dos olhos com o ossinho do meu indicador.

Um segundo estouro.

Me sinto curiosa em saber o que está acontecendo. Penso que deve ser o Snoopy, nosso Golden, mexendo nos sacos de ração de novo. Decido levantar da cama. De acordo com o relógio, não dormi muito tempo; a telinha marca 2:57a.m..
Caminhando pelo quarto, tento achar o interruptor para clarear o ambiente mas desisto quando ouço mais um barulho seguido de algo sendo quebrado.

Já esperta e sem sono, corro pelo extenso corredor da casa e desço as escadas, quase atropelando os pés, e tomo um enorme susto ao ver cacos de o que era pra ser um vaso no chão e a porta de entrada aberta.

- Mandie.

Dou um pulo de susto e viro as costas para encontrar a senhora Sanderson. Sua camisola era azul bebê e longa; nos seus pés tinham pantufas extremamente fofas, e seu rosto era uma expressão desnorteada.

- Alice! Quer dizer... Senhora Sanderson! - pouso a mão sobre o peito e dou um suspiro de alívio. - Meu deus, que susto que a senhora me deu!

- Sinto muito, Mandie. - diz calma. - Seus pais saíram para trabalhar?

- Não, senhora Sandy. Ainda nem são três da madrugada.

- Oh! - suplica, confusa. - Eu ouvi o barulho do carro deles e...

- Do carro? - interrompo.

- Sim. Achei que já era cedo. - vira o rosto e fecha os olhos por alguns segundos e depois volta a falar. - Ouvi barulhos.

- Eu também os ouvi. Achei que tinha sido o Snoopy, então desci correndo. - penso. - Senhora Sandy, a senhora acabou esbarrando em algo na sala?

- Não, menina. Eu acabei de entrar, a porta estava aberta quando a toquei.

- Não faz muito tempo que está aqui? - pergunto assustada e mais confusa do que ela.

- Não, Mandie.

- Está tudo bem, senhora Sandy. Volte para casa, a senhora precisa descansar, é tarde. Consegue ir sozinha?

- Consigo me cuidar, Mandie. Tenha uma boa noite. - responde simpática e sai pela porta.

O quê!?

Sem rumo ou ideia de o que fazer, vou em direção a janela que dá vista para a garagem e não vejo o carro dos meus pais lá fora. Imagino que eles devem ter emprestado o carro para o nosso outro vizinho e deixo de me perguntar muito sobre as coisas.

Merda, Snoopy. Só pode ter sido você que derrubou todas essas coisas dentro de casa!

Caminho até a dispensa a procura de vassoura, pá e uma bolsa de lixo para juntar os cacos. Só imagino que a mãe vai ficar furiosa quando ver que o Snoopy derrubou o vaso que a vovó deu para ela antes de falecer.

Depois de apanhar todos os cacos, volto à sala e sento no sofá. Sem sono, ligo a tv e observo um envelope amarelo na mesinha de centro com a chave da casa em cima do envelope. E o mais curioso: "Querida Mandie" escrito nele.

"Olá, meu amor.
É a mamãe que está escrevendo para você. Peço que não fique preocupada, a mãe te ama muito, o pai também.
Tive imprevistos do trabalho e precisei viajar esta madrugada. A casa é sua, cuida direitinho de tudo e tome cuidado. Temos muito dinheiro, você já sabe onde. Se precisar de algo, é só ir pegar na Marya.
Não abra a porta para estranhos, deixe tudo trancado quando for dormir. Você tem o Snoopy como companhia.

- Beijo da mamãe e do Papai.
Não temos previsão para voltar rápido, nós te amamos imensamente!"

Termino de ler e vou correndo até o quarto dos meus pais. Chegando lá, nada deles. Abro as portas do closet e não acho nenhum vestígio de roupas. Não tem mais nada.
Sem entender absolutamente nada, vou até o quarto e pego meu celular, procuro o contato da mãe e do pai e disco para chamar.

"Grave seu recado."

Disco para chamar mais uma vez.

"Grave seu recado."

Mais uma vez, quase desistindo, disco para chamar.

"Este número não pode ser acionado ou não existe."

Tento não entrar em desespero, a letra que está na carta é mesmo a da minha mãe, mas não entendo porque viajou assim, e sem se despedir.
Sento na cama e penso. Minha cabeça agora é um emaranhado de todos os pensamentos, dos mais lúcidos até os mais conturbados e sem sentidos que eu poderia pensar. Logo me vejo com os olhos pesados de sono, mas sou interrompida.

Mais um estouro.

O estouro foi forte, parecia uma força surrreal, e vinha do andar de baixo, na sala. Optei por ficar calada, aliás, não podia ser o Snoopy.

- ONDE ESTÁ O FILHO DA PUTA!?

Gritos de uma voz rouca podiam ser ouvidos nitidamente de onde eu estava, mas não era a voz do meu pai. Esta voz parecia familiar, não consigo dizer que nunca a ouvi antes.

- ONDE ESTÁ A MERDA DO QUE ELE ME DEVE!?

Me movimento rápido pelo quarto, quando ouço a voz mais próxima de onde eu estava. Entro no closet e tento discar algum número no celular, que dá o aviso de bateria fraca e descarrega totalmente em seguida. Merda!

- Ele só pode ter saído da cidade, tenha calma! - a voz de outra pessoa ecoava no corredor.

- CALMA É UMA MERDA! EU AVISEI QUE IA ATRÁS DELE, NÃO ADIANTA ME ENGANAR! EU VOU ACHAR ELE E A MULHER PROSTITUTA!

Pelas brechas da porta do Closet, vejo a porta do meu quarto sendo empurrada com certa força e vejo sapatos sociais caminhando pelo quarto, em direção a cama.

- Fones de ouvido, Malik! - o homem com a voz mais rouca fala.

- O que tem os fones?

- Estão ligados ainda! - fala irritado.

Merda, Amanda!

- E o que tem haver com o que estamos procurando?

- Se todos tivessem ido embora, teriam levado tudo de importante. - fala duvidoso. - A TV está ligada na sala, luzes estão ligadas na casa e tem um iPod ligado com música aqui.

- A não ser que...

- A não ser que o casal tenha tido uma filha! - volta a falar duvidoso.

Que merda. Que merda!!!

- Não tem como! Se eles tivesse, os chefões iam saber. Você iria saber!

- Não se esconde algo de mim por muito tempo Malik. - diz calmo e começa a caminhar devagar em direção ao closet.

Tento conter minha respiração, que estava ofegante, e pra o meu alívio, vejo suas botas tomando outra direção do quarto.
Já relaxada, dou um passo pra trás, quando um cabide cai e faz um pequeno barulho.

- E quando eu digo que não se esconde alguma coisa de mim por muito tempo, eu falei de qualquer coisa.

A porta do closet foi aberta bruscamente. Tentei recuar, mas meu cabelo foi puxado e meu corpo jogado para fora do closet e caio de boca no chão.

- Uau... Parabéns, Styles.

Meio tonta, viro a cabeça devagar para ver meu agressor.

- Você...

- Prazer em te ver de novo, gatinha. - dá um sorriso malicioso.

- De novo, Styles? - surpreso, o outro rapaz pergunta.

Continuo largada no chão e assustada em perceber que era o homem que vi na lojinha da Marya mais cedo.

- Sim. - sorri. - Deixe-me apresentar para você, Mandie. - se abaixa e apoia os dois antebraços nos joelhos. - Eu lembro seu nome, e imagino quem é você.

- Eu...

- Meu nome é Harry Styles.







***

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