MATIAS
Não escuto nada do que me falam, na minha mente só aparecem planos para que eu suma dali o mais rápido possível. Não era assim que planejei que ela visse o que carrego em meu peito além, do amor que sinto por ela.
Um plano, eu tinha tudo arquitetado, reconquistá-la era o primeiro deles. Quando fiz essa tatuagem talvez tenha sido por impulso, mas foi a forma que encontrei de mantê-la sempre comigo. Foi um presente de formatura, o presente para ela, onde, com isso, mostraria todo o meu amor.
O casamento do meu irmão foi a melhor forma de esclarecer as coisas para mim e depois que o Lucas pediu uma chance para a Rose, tive a certeza de que eles realmente não estavam juntos, claro, apesar de viverem grudados um no outro, o que o meu irmão e amigos falavam era real, somente amizade.
A intenção era chegar de mansinho, aos poucos indo me aproximando, resgatando a confiança dela e assim pedi-la em namoro, imaginem a cena, todos os nossos familiares reunidos e, eu pedindo permissão para o meu padrinho para namorá-la. Ela seria a minha Peste eu o seu Marrento.
E com o tempo, que eu esperava não ser muito longo as coisas iriam acontecendo e aquela reação dela não seria como foi.
Mais, como tudo em minha vida é uma loucura, eu nunca tenho escolha e o destino foi lá e passou por cima de mim como uma carroça desgovernada, mas não será a primeira e muito menos a última vez que isso acontecera, então, só preciso colocar tudo no lugar para estar pronto para reconquistar o grande amor da minha vida.
Minhas malas já estavam arrumadas, eu corri como um menino escada acima, tomei um banho rápido, me arrumei, chamei um táxi e segui para o aeroporto, dessa vez não estou fugindo apenas estou com presa de deixar tudo organizado em minha vida para depois somente me preocupar com ela e nada mais. Assim que me despedi dos meus pais, não os deixando falar nada, pois meu pai não estava com cara de bons amigos. Enviei uma mensagem para Daiane ir direto para o aeroporto.
*****
— Você está bem, Aragon? – Estou com a mente tão longe olhando pela imensa janela quando sou tirada dos meus devaneios.
— Ela viu a tatuagem. – Desabafo.
— Puta que pariu, e o que você faz aqui? – Eu a olho e inspiro um pouco de ar.
— Ela foi pega desprevenida, paralisou, então, resolvi voltar para casa e organizar tudo, sei que posso contar com você e o Carlos para cuidarem das coisas por uns dias para que eu possa ter um tempo somente para ela. – Ela sorri e segura minha mão.
— Sempre! Você sabe que tem totalmente o meu apoio, Aragon? – Eu sorrio confirmando com um meneio de cabeça, beijo seu rosto e volto a olhar para os aviões que chegam e saem do imenso pátio, até que nosso voo é chamado.
Chego em casa e tudo é tão frio, nem a linda paisagem do mar me anima, deixo minha mala em um quanto e coloco meu celular para carregar assim que envio uma mensagem para minha mãe avisando que cheguei bem e ignorando todas as outras mensagens e ligações. Caio na cama e tento dormir, a única coisa que quero é colocar minha cabeça no lugar para não errar novamente, não me permitirei agir com imaturidade desta vez.
*****
Acordo cedo, bem antes do horário que costumo acordar, visto meu corpo com um moletom, passo pela cozinha, coloco a cafeteira para trabalhar e vou correr e fazer meus exercícios matinal, não consigo ficar sem esse momento no meu dia.
Após uma hora volto para minha casa, faço minha barba deixando meu rosto limpo e sério, pois hoje tenho algumas reuniões com novos investidores, que faram com que as corridas que promovo cresça ainda mais. Um meio das pessoas usarem o dinheiro deles de uma forma beneficente. Todo o dinheiro arrecadado é para ajudar instituições que fazem o bem para pessoas carentes, pessoas que realmente precisam. E cada corrida, não é somente diversão para os que amam a velocidade em quatro rodas, mas para os que querem fazer o bem.
Outros que fazem parte do nosso grupo de empresários, fazem festas, leilões e jantares de luxo para arrecadação. Durante esses sete anos, fiz novas amizades, um amigo fez uma festa onde leiloou alguns homens para fazer companhia e dançar com os ganhadores no jantar. Nesta noite eu fui comprado por uma senhora da alta sociedade que me ensinou muito sobre o amor ao próximo, uma mãe solteira que adotou sete crianças e as criou para um mundo louco onde vivemos. Existem pessoas boas no mundo meu jovem – ela me disse entre um passo e outro na dança – Mas existem as pessoas que nasceram para fazer o bem. – Isso me tocou profundamente, de alguma forma eu era uma dessas pessoas que nasceram para fazer o que faço.
E foi aí que decidi expandir as propostas à outras empresas de grande porte para nos ajudarem a fazer o bem.
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E pensando nisso elaborei um bom plano para mostrar a ela que não a deixei em esquecimento nem por um momento. Depois que me vesti para o trabalho, enquanto estava tomando me café da manhã, decidi colocar meu plano em prática, então chamei meus amigos no grupo de bate papo.
Inicio Mensagens
EU – Oi, preciso de vocês.
Íca - Espero que seja para resolver o que aconteceu ontem.
Mano - O que aconteceu?
Nagão - Enquanto você fodia sua mulher seu irmão fodia a mente da Mariazinha kkkk. – Tenta relaxar a conversa.
Íca - Como você está cara?
Eu - A pergunta é, como ela está? – Espero a resposta relaxando na cadeira.
Negão - Ela vai ficar bem, todos estão ao seu redor.
Mano - Estou perdido, mas estou arrumando tudo aqui e voltando para casa.
Eu - Não precisa mano, eu só preciso de um favor de vocês, na verdade preciso de vários.
Íca - Pode falar cara.
Eu - Hoje as oito da noite preciso que vocês estejam com ela, deem um jeito, sei que farão algo para surpreendê-la, vou ligar para ela e não a quero sozinha.
Negão – Podemos contar com nossas esposas?
Eu- Sim...
Negão – Pode contar conosco, sabe que estaremos aqui por você. Assim como sempre esteve por nós.
Eu - eu sei... Íca, quero que depois da nossa conversa você mostre tudo que tem escondido dela até hoje por mim, vou te falando como durante o dia. – Fica um silencio no grupo, isso me faz ficar impaciente, mas me contenho.
Íca- Tudo bem, mas não a faça sofrer eu me tornei um irmão muito fodão, e posso arrebentar a sua cara linda rapidinho. – Todos riem de uma forma diferente e eu encerro a conversa.
Eu – Agradeço imensamente a ajuda de vocês.
Fim Mensagens
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O dia passa entre reuniões e organização da minha agenda, tenho uma semana para deixar tudo ajeitado, porque após a corrida de domingo estarei de férias. Uma batida na porta me faz tirar os olhos da tela do meu computador e vejo Carlos e Daiane entrarem.
— Tudo organizado, Senhor? – Carlos é um cara muito profissional e sempre muito reservado.
— Caminhando, Carlos. E vocês, estão preparados para ficar sem a minha presença por uns bons dias?
— Matias, eu acho que deveria colocar outra pessoa para correr no seu lugar no domingo.
— De jeito nenhum, tem novos investidores e quero estar com eles, será uma corrida boa. – Daiane expressa sua preocupação.
— Ok, se as pessoas acatassem os conselhos, começaríamos a vendê-los.
— Vai dar tudo certo, Daiane. – Carlos apoia a mão em seu ombro.
— Sim, vai dar tudo certo. – Ela concorda.
— Agora me diz como estão os preparativos e não se esqueça de avisar meus pais, minha mãe não a perdoaria. – Ela vem até minha mesa e Carlos se senta na cadeira de frente para mim.
— Queremos agradecer por confiar em nós, Matias. – Ele fala.
– Vocês são meus dois braços, um o direito e outro o esquerdo, sei que irão trabalhar juntos e eu vou descansar sem ser interrompido. – Dou um sorriso para ele enquanto Daiane massageia os meus ombros.
— Eu queria correr em seu lugar, o que acha? – Conheço muito bem esse jeito dela, quando quer algo vem toda mansinha para o meu lado, por muitas vezes a deixei correr, mas domingo é um dia especial.
— Nem sonhando. Você tem outras responsabilidades durante a corria, quero você arrecadando e conquistando mais pessoas para participarem do nosso projeto.
— Eu vou voltar aos meus afazeres. — Carlos se despede saindo da sala. Giro a cadeira e fico de frente para Daiane.
— Agora me diga o que está acontecendo?
— Estou com um mal pressentimento, só isso.
— Dai, você sempre fica assim antes das corridas, já deveria ter se acostumado. – Uma lágrima escapa dos seus olhos.
— Só me prometa que será responsável naquela pista.
— E quando eu não fui? – Sorrio tirando dos seus lábios um sorriso. — Agora chega de lágrimas e vamos trabalhar, saiba que a tenho como uma pessoa da família.
— É claro que sei, você é como um irmão mais novo, por isso puxo suas orelhas de vez em sempre.
Voltamos ao trabalho e as horas voam.
— Puta merda, já são sete da noite tenho que ir. – Levanto correndo pisco para Daiane que está concentrada com alguns contratos em mãos, ela me dá um aceno com a mão e saio.
Chego em casa tomo um banho, faço algo para comer já que nem almoçar eu consegui hoje, ligo uma música calma que dispersa pelo ambiente e depois de comer pego uma taça vinho e vou para varanda do meu quarto. Da porta de vidro observo o mar fazendo sua dança até meu coração se acalmar, então depois do vinho me relaxar um pouco eu faço a ligação que tanto temi e ao mesmo tempo esperei.
*****
Inicio Ligação
—Alô. – Escuto sua voz receosa e fecho meus olhos.
— Oi pestinha. – Respondo segurando a porra das lagrimas que teimam e escapar por meus olhos.
— Por quê? – Ela simplesmente pergunta com voz embargada, inspiro e respondo.
— Porque eu sou um fodido, porque meu medo foi maior, porque precisava sentir que tinha você comigo nem que fosse somente uma imagem com o reflexo no espelho logo pela manhã, porque mesmo longe o que eu sinto por você não mudou, porque eu sabia que no momento que eu a visse novamente não resistiria. – Solto tudo junto com as lagrimas que banham meu rosto.
— Eu pensei que você tinha seguido em frente. – Ela fala e eu balanço a cabeça negando como se ela pudesse ver.
— Nem por um fodido dia meu chaveirinho, só não fui corajoso para tentar novamente e ou talvez te machucar novamente. – Ela suspira alto.
— O que mudou, Matias? – Ela solta um soluço.
— Em sete anos muita coisa mudou, para começar é o máximo que eu consigo me manter longe, eu evitei me aproximar, deixei você seguir e eu também, mas agora, agora após te ver tão de perto, de sentir seu cheiro, seu toque, só concretizou ainda mais a minha vontade de estar com você. – Ela solta uma risadinha.
—E por que você não está aqui? – Sorrio também.
— Sempre impaciente não é, Luz Maria! Eu tenho responsabilidades assim com a senhorita tem, tenho que deixar tudo organizado na empresa, na minha nova vida, para que eu possa resgatar a pessoa mais importante da minha vida antiga. – Ela suspira novamente e eu sei que está mordendo os lábios.
— Eu sempre posso ir até você. – Ela sugere, mas não é assim que eu quero, não agora.
— Não, dessa vez serei eu que vou te reconquistar, só te peço mais essa semana. – Fica um silêncio mortal do outro lado da linha.
— Sinto sua falta marrento. – Sua voz de choro me faz chorar também.
— Eu não liguei para te fazer promessas nem te fazer chorar, meu chaveirinho, eu liguei para te informar que você tem uma semana para decidir se vale a pena ou não me dar mais uma chance, porque no final dessa semana eu estarei indo com tudo para ter você de volta em meus braços, de onde jamais deveria ter tirado o que me pertence. – Ela solta uma gargalhada.
— Você anda assistindo muito desenho animado. – Rimos juntos.
— Eu tenho uma coisinha linda que me tem em seu dedo mindinho, e as vezes olho para ela e penso... como pode se parecer tanto com a madrinha dela. – Ela ri mais ainda e o som da sua risada aquece o meu peito.
— Ela é incrível, não é mesmo? Se fosse minha filha não teria um terço do meu gênio.
— Sim, ela é sua cópia.
— Então tenho que esperar até domingo? – Sorrio do seu jeito ansioso.
— No mais tardar segunda, mas não pense que vou me manter só nesta ligação durante esse tempo, eu não entro em uma briga se não for para ganhar e durante a semana você saberá o porquê. – O som da sua risada é alto.
— Vou esperar ansiosa! – Eu solto o ar que nem percebi que segurava.
— E a única coisa que eu peço minha peste, é que você aceite que eu tente te reconquistar. – Fica em silencio do outro lado novamente, mas eu sei que é um silencio bom.
— Vamos ver do que você é capaz, meu marrento.
— Até logo peste, eu sempre te amei e sempre vou te amar. — Encerro a ligação não dando chances para o azar.
Fim Ligação
Pela primeira vez em muitos anos, olho da varando do meu quarto para o céu e não sinto que me falta algo.
Meu peito está calmo então, eu sorrio para o nada, porque dessa vez vou fazer de tudo para não cometer nenhum erro, vou amá-la, vou ser seu porto seguro.
Porque durante sete anos mesmo longe o que me manteve de pé foi a aquela pequena possibilidade de tê-la em meus braços novamente.
Porque quando o sentimento é verdadeiro, podemos tentar apagar, sufocar, esquecer, mas com certeza não podemos deixá-lo morrer.
Continua...
Beijos Lú e Sheila