Quando em Vegas

By MariaFernandaRibeir2

165K 16.2K 2K

Julia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos cl... More

Alerta de gatilho+ aviso aos leitores
Dedicatória
Prólogo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
Epílogo
Brianna e Harvey contam sua história
Contato

11

3.9K 544 51
By MariaFernandaRibeir2

Julia

— Você é viciada em café, já percebeu?

Finjo nem escutar o Dustin. Nem era para ele estar aqui hoje, mas ele conseguiu adiar a reunião com o chefe da gravadora para poder ficar e encher meu saco.

— Não sou viciada em café.

— Eu coloquei uma imagem assustadora no fundo do seu copo, mas você nem viu ela porque o copo mal esvazia e você já enche de novo. Cerca de dez vezes por dia. Considerando que o seu copo tem trezentos mililitros, são três mil mililitros só aqui no trabalho. A recomendação por dia, você sabe quanto é? Duzentos e vinte e cinco. E só.

Resmungo para fingir que entendi alguma coisa, porque agora finalmente consegui focar no trabalho. Faço anotações sobre o que leio, destacando os pontos a pesquisar mais. Viro a página do caderno, sem nem querer pensar na pilha de cadernos que preciso levar para a reciclagem. Isso é algo a pensar, não café. Estendo a mão para o copo, e levo à boca marcando uma informação importante de verde... e cuspo no chão.

— O que você fez com o meu café? — olho como a advogada de acusação que sou para o Dustin.

— É chá preto. Já que você quer morrer com o coração não aguentando doses e doses de cafeína, achei que seria interessante mudar pelo menos o sabor do seu assassino.

Encho a boca de balas de café, que fazem ele revirar os olhos. Preciso mudá-las de lugar antes que ele desapareça com elas como fez com as cápsulas de expresso da máquina da sala de espera mais cedo.

— Eu preciso ficar acordada, Dustin. Sabe quantas horas durmo por noite? Quatro. Se eu quiser fazer todo o trabalho, preciso de algo que me mantenha acordada.

Ele se inclina pra frente na cadeira, o que, considerando a altura dele, quase o traz para o lado de cá da mesa.

— Você não consegue dormir mais porque está entupida de cafeína. É um ciclo. Quanto mais você consome cafeína, menos você dorme; quanto menos você dorme, mais consome cafeína.

— Você não deveria se importar. — digo, esperando que isso o deixe calado por alguns minutos.

— Mas me importo. Ainda não entendo a sua motivação para se meter no mundo do crime, só que você mesma me fez ver que é importante para você. Não sei a razão, mas é. E morta, Julia, — ele pega o pote das balas, e leva para perto do corpo — você não pode fazer o que é importante. Isso vai comigo.

Não digo nada, deslizando a mão vagarosamente para o meu bolso do casaco, em busca das balas que levo para os julgamentos. Ele chega antes, porém, e guarda estas no bolso.

— Não, Julia. Não. Tenho que fazer a janta, não precisa levar o vinho. Não é comida para vinho.

Ele sai vitorioso, e eu fico ali, derrotada.

~~~

Sem café, minha cabeça dói muito, enquanto a última cliente me explica o que a ex-mulher fez contra ela. Mal consigo lembrar dos artigos da lei que foram infringidos pela criminosa enquanto faço as anotações. A moça bem afeiçoada me olha com preocupação.

— Está tudo bem, Julia?

— Não muito, mas vou ficar. Você disse que ela usou uma faca?

Termino com a cliente, e mal consigo chegar no sofá da sala, tamanha dor de cabeça. Meu celular está na bolsa, que está pendurada ao lado da porta, que está muito longe. Por isso não me culpo por nem tentar levantar antes de fechar os olhos.

— Julia? — é a voz do Pierre. Sei que estou sendo acordada, por isso o pânico se instala em mim e levanto num pulo, assustando ele pra caramba.

Olho em volta, para as minhas roupas e as dele, e quase rio de alívio.

— Nós não dormimos juntos.

Ele faz careta.

— É claro que não, por que você pensou isso?

— Porque você me acordou. Acho que meu coração parou por alguns segundos, preciso me recuperar.

Deito no sofá novamente. Ele senta perto do meu quadril, deixando minhas pernas desconfortáveis, mas posso dormir assim.

— Você não foi para casa ontem, o que aconteceu?

Ontem?

— Hm, eu dormi, acho.

Ele estreita os olhos para mim, mas desvio o olhar disso para dar uma olhadela no relógio, e... pulo do sofá mais uma vez. Meu primeiro cliente é em menos de meia-hora.

— Eu tenho aquele cliente da ponte daqui vinte e cinco minutos. Preciso fazer muita coisa ainda. — arrumar o meu cabelo, dar um jeito de trocar a camisa, comprar café e escovar os dentes. E lavar o rosto. E me maquiar.

— Você brigou com o Dustin de novo?

— Não não, eu só dormi. Ninguém bateu na minha cabeça ou nada.

— Você não "só dorme", está sempre tão cheia de cafeína que me pergunto se o seu quarto tem uma mesa de trabalho ao invés de uma cama.

Penso nessa ideia. Isso faz ele bufar, então sei que nunca deixará a Lauren planejar isso por mim.

— Pierre, eu realmente não tenho tempo. E você tem um cliente em três minutos. Acho que nós dois sabemos que não é hora de conversar.

Não consigo comprar o café antes que o cliente chegue, então eu peço ao secretário que o faça. Ele me traz um latte com mais leite que qualquer coisa, mas sou forçada a aceitar por causa do cliente. Provavelmente só confundiu o meu com o dele. Quando o cliente sai, o Dustin quase arranca a porta das dobradiças.

— Você tem noção do quanto me assustou?

— Hm, não? O que eu fiz? Te mandei aquele vídeo assustador do Pierre em uma tumba na França?

— Eu fiquei te esperando a noite toda. Fui dormir no meio da madrugada, depois de ligar para a delegacia de cada condado perguntando se havia algo com o seu nome. Você vive dizendo o risco que sofre na sua carreira, e aí não aparece em casa. Está querendo me matar?

Olho para ele, um tanto quanto assustada por ver o quanto o assustei. Meu pai nunca esteve em casa, mas se é assim que ele reagiria às vezes que fiquei fora durante a noite, acho até melhor que não estivesse. Ele provavelmente teria um derrame cerebral.

— Eu estava cansada, não ia conseguir chegar em casa. — Então, faço algo que raramente faço. — Me desculpa.

Não lembro da última vez que pedi desculpas a alguém. Viver sozinha tem dessas.

— Não precisa se desculpar, Julia. Só me avisa da próxima vez, dependendo eu até te busco para você dormir no conforto da sua cama.

Faço que sim, e checo a minha agenda. O menino que o meu pai indicou é uma visita marcada para o final da tarde, e o meu secretário já comprou até a passagem. Encosto a testa na mesa.

— O que foi?

— Um cliente no Nebraska hoje. Eu queria dormir a tarde toda.

— Ué, cancela. É tão urgente assim?

Empurro os papéis do caso do garoto alemão para ele.

— Vinte anos, acusado por crimes cometidos pela ex-namorada e pela meia-irmã. Cinquenta anos de prisão, uma filha de quatro que depende dele. O julgamento aconteceu com testemunhas que não testemunharam nada, tive que contatar pessoas quase impossíveis de fazê-lo, incluindo uma mulher da NASA. Sabe como é complicado ter acesso aos federais?

— Muito complicado, sei. Já assisti muitos filmes sobre.

Dou um sorrisinho, porque isso não é nada como um filme.

— E o pior, o advogado de defesa anterior é o Reagan. Eu odeio o cara. Se pudesse escolher uma pessoa para mandar ao inferno, seria ele. É a pessoa mais desonesta e manipuladora que conheço.

— Que bonitinho você falando como se eu soubesse o que está falando. — ele me devolve os papéis — Você volta à noite, então?

— Sim, se o voo não atrasar.

Ele pega o copo de café e bebe um pouco, fazendo careta em seguida.

— Você está tomando isso?

— Alguém intimou o meu secretário a comprar isso. — digo com ironia.

— Falei com menos cafeína, não puro leite.

Rá! Eu sabia que tinha sido ele!

— Ele não é maluco de comprar descafeinado. Me devolve isso aqui.

Tomo o copo da mão dele, e anoto algo na parte inferior do objeto com uma canetinha.

— O que você está fazendo? — ele tenta ver, mas giro a cadeira.

— Anotando um aviso ao barista. Se colocarem algo além de café nesse copo, eu vou processar o barista e o meu secretário. Espero que ele leia antes de ouvir você.

Ele sorri.

— Você dormiu aqui ontem por que ficou sem cafeína? Ownt, tadinha da minha esposa. É tão horrível ter hábitos saudáveis mesmo.

— É saudável dormir em um sofá?

— Considerando que o sofá cabe você e mais um pouco, sim. E considerando que você dormiu às oito ontem, e acordou às sete hoje, mais ainda.

Nem olho para ele. Há outras prioridades na minha vida agora, dormir está longe de chegar ao topo.

Bem longe.

Dustin

O voo da Julia atrasou, porque já são onze e meia e ela não chegou ainda. Mas, considerando que o céu está desabando lá fora, é o melhor que aconteceu. Fico preocupado de qualquer jeito, de olho na televisão por qualquer notícia sobre voos atrasados. Não aceito outro tipo de notícia. Não.

Quando começo a me perguntar se eu deveria aceitar e procurar saber sobre, ela escancara a porta, encharcada. Larga a maleta na entrada, tira o casaco muito cheio de água e joga em um cesto, e caminha com os sapatos nas mãos até a área de serviço.

— O que você está fazendo acordado? Dorme tão cedo que faz inveja em qualquer bebê.

— Estava te esperando.

— Quase não cheguei.

— Desenvolva. — peço, mas ela desaparece na área de serviço, reaparecendo na cozinha pouco depois.

— Primeiro, houve um incidente no Nebraska e todos os voos atrasaram. Depois, no voo, o piloto informou que havia uma tempestade tropical muito forte se aproximando, e poderia virar um tornado. Ele quis desviar a rota, mas adivinhe? O outro aeroporto estava interditado pela tempestade. Pousamos aqui, mesmo sob o risco, e a chuva chegou na hora que eu estava esperando o carro me buscar no aeroporto. E o motorista não quis me levar porque achou que eu era uma criança. Honestamente.

Ela mostra um dos saltos gigantes, como se fosse toda a explicação para a revolta.

— Não faça essa cara. Nenhum responsável em sã consciência deixa alguém de menos de doze anos chamar um carro em meio a uma tempestade e em um salto dezoito! Nunca. Tipo, nunca mesmo.

Ergo as mãos. Ela continua.

— Pelo menos o cliente é legal. Será pro bono, mas não preciso de todo o dinheiro do mundo. Não tem por que arrancar dinheiro de um garoto. E um inocente. Você tinha que ver ele.

— Por que eu tinha que ver ele? — pergunto, quando tenho certeza que ela não irá acrescentar mais nada, assim não podendo interromper.

— Força da expressão. Ele não quereria ver você, já tem problemas demais para ter um Dustin na vida.

Dou risada do fato do meu nome ter virado uma expressão para ela.

— Esse tal Dustin limpou todos os seus sapatos, menos este de agora, organizou suas roupas e fez muita comida.

Porque eu estava ansioso por ela não chegar e precisava me distrair. Ela cai no sofá, a camisa aberta revelando a regata por baixo.

— Obrigada, apesar de soar como atos nervosos. Você pode adicionar algo a sua lista? Uma massagem nos meus pés seria incrível. Passei oito horas em pé, sob saltos... oh. — ela emite este som fofinho quando aperto o pé dela.

E revira os olhos ao apertar um ponto específico. Isso me faz lembrar de quando vi ela fazer isso pela primeira vez, em Vegas, e... porra, eu lembrei.

Eu lembrei de tudo.

Continue Reading

You'll Also Like

94.8K 6.4K 75
𝑳𝒊𝒗𝒓𝒐 1 (𝑪𝒐𝒏𝒄𝒍𝒖𝒊́𝒅𝒐) Jade Hollister é uma garota de 22 anos que acaba de se mudar para Liberty City, uma cidade agitada e misteriosa. ...
244K 25K 97
Olivia Sartori e Sebastian Ferrante são o pesadelo um do outro. Nas palavras dela, ele é um irresponsável idiota. Nas palavras dele, ela é uma rainha...
80.6K 5K 44
Ele decide ajudar ela a investigar a morte de seu pai, porém ele quer algo em troca. -Nada é de graça meu bem. -O que quer?-Pergunto -Você. Ela só nã...
12.2K 1.5K 22
Greta Hildago iniciou recentemente seu trabalho na empresa M.O que tem como donos a família Marquenze, mas ela não contava que precisaria se casar pa...