PSICOMAL

By SettCampos

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Em Teran, os magruxeiros e seus totens vivem uma vida que beira a perfeição. As pessoas são movidas por sua e... More

Selo de Resgistro da Obra
Aviso
Premiações
Book-trailer
Parte 1 - Infestação
O Desesperançado Chorão
Sr. Monóculo Quebrado
O Investigador Ambicioso
A Catadora de Raízes
Parte 2 - Opressão
A Madame Inveja
A Noiva Apaixonada
Parte 3 - Possessão
A Suicida Adorada
A Manipuladora de Mentes
A Exilada Azul
Epílogo
Aesthetics
Capa Xtra
SETTMENTÁRIOS

O Borralheiro Anão

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By SettCampos

Eu trabalhava na Espiral desde meus cinco anos. Meu pai era faxineiro, e eu herdei a mesma profissão. Era um serviço digno e invisível, as pessoas não me viam ou fingiam não ver, principalmente na Espiral aonde se encontravam as pessoas mais importantes de Ligencia. Eu gostava muito disso, já que sempre fui muito vergonhoso.

Eu estava no penúltimo andar, limpando o banheiro do Alto Magistrado, quando ouvi a risada alta e alegre do Alto Policial seguido do próprio Alto Magistrado.

— Eu pensava que esse dia nunca chegaria. — Gritou o Alto Magistrado chutando seu kappa que caiu de cara no chão de pedra, eu me encolhi de medo, já senti a bota dele nas minhas costas. — Conseguimos prender aquele merda do Cristóvão e de quebra resolvemos o mistério sem aquele arrogante do Conrado.

Eu olhei pela fresta da porta do banheiro para ver se havia alguma saída. Mas o Alto Policial bloqueava a porta. Lesmir estava tão pomposo que não fez esforço em fingir simpatia ao Alto Magistrado.

— Você teve muita sorte. — Disse o Alto Policial se servindo de uma taça de rum amargo, eu havia acabado de limpar os cristais. — Agora não tem ninguém para te chantagear pelo que você fez e com isso é bem provável que você volte a ser um dos Doze. — Ele sorriu diabolicamente para Meguera. — Eu quero a minha promoção para Alto Juiz de Teran e quero controle total sobre os internatos de Tecnomagia.

Sir Nicolaj Vargo azedou o rosto e alisou a barba, enquanto Ismir seu totem esquentava a fogueira com o rosto todo vermelho e inchado.

— Só espero que você seja cauteloso com suas atividades. — Sorriu arreganhando os dentes. — Separe alguns garotos para mim, já enjoei dos moleques da escola daqui.

Eu pensei em pedir licença e sair correndo dali fingindo que não ouvi nada, mas sabia que aqueles dois não aceitariam e me matariam rapidamente, não seria a primeira vez que alguém morria misteriosamente. Minha garganta se fechou e eu senti minhas pernas amolecerem de medo. Nada que eu dissesse seria acreditado, eu era um nada e um deformado.

Meu totem, um ajuba-aburé pequeno, limpava delicadamente o vaso sanitário, ele era minha única família, então resolvi ficar quieto e tentar fazer um feitiço de invisibilidade, que era minha especialidade.

— Transparência. Reflexo. Camuflagem. — Sussurrei bem perto do meu anel mágico de coração de Caipora. — Oculto.

Era para uma pequena camada líquida mercurial cobrir meu corpo e do Dodolo, mas não aconteceu nada, o que me deixou com mais medo. Eu só desejava uma oportunidade de poder sair correndo, só que eu já estava condenado. Eu ia morrer e pior, Dodolo também.

Um rugido grave reverberou abaixo do escritório onde ficavam as masmorras. Lesmir e Sir Nicolaj derrubaram suas bebidas.

— Não tem como ele fugir, não é? — Perguntou o Alto Policial visivelmente abalado.

— Fique tranquilo pançudo, estamos nos últimos andares da Espiral, a magia às vezes não funciona aqui. — Se recompôs o Alto Magistrado relaxando na cadeira. — Nem os Doze têm poderes aqui, eu reforcei os encantamentos de anulação de magia arcana e enchi de runas criadas por mim, e depois do cassete que demos no Noar, ele vai ficar apagado por dias, é só o dragão dele gritando.

Ismir, o kappa, puxava o terno de Sir Nicolaj como se quisesse avisá-lo de algo, mas o Alto Magistrado bateu a cabeça do totem na mesa desmaiando-o.

— Bicho irritante, não serve para nada. — Gritou chutando o corpo mole do kappa. — Eu sou o único que pode fazer magia aqui.

Outro rugido ecoou mais perto e mais grave. Eu me agachei junto do Dodolo e fiquei olhando para o escritório. Uma névoa preencheu o ambiente e sons de galhos quebrando, e de choramingos se aproximavam do elevador de entrada.

— Não temos o que temer, só entra aqui quem você deixar, não é? — Perguntou Lesmir não conseguindo manter a pose ereta.

— Sim, sim só pode entrar quem eu quiser. — Disse firmemente o Alto Magistrado. — Eu sou praticamente um deus aqui dentro.

Isso era uma meia verdade. Se alguém tivesse as chaves mestras, como eu, poderia entrar em qualquer lugar. E meu finado pai dizia que qualquer um que fosse mais forte que o Alto-Magistrado poderia entrar, mas poucas pessoas sabiam disso.

As portas do elevador, que eram de cor negra ficaram em tons alaranjados e por fim derreteram permitindo entrar a névoa mais densa e espessa que eu já havia visto, o som de madeira sendo rachada era alto e arrepiante, labaredas de fogo dançavam no ar e ao fundo um choramingo de dor que fazia todos os meus pelos se arrepiarem.

— Qu... Qu... Que? — Tentou dizer o Alto Magistrado enquanto se mijava e procurava sua bengala mágica.

O Alto Policial Lesmir sacou seu sabre e apontou para algo no meio da névoa. Um dragão-serpente saiu cuspindo uma rajada alaranjada fazendo-o derrubar a arma e cair de traseiro no chão.

— Como isso é possível. — Gemeu Lesmir se agarrando em Meguera.

— Eu... Sou... — Disse algo atrás do dragão-serpente, era uma voz masculina e familiar. — Muito mais poderosa que toda Espiral.

A névoa estava na cintura dos dois homens, e raízes grossas e negras saiam de dentro do elevador preenchendo o chão do escritório levantando sulco e derrubando móveis. Daria muito trabalho limpar tudo aquilo.

Eu agarrei Dodolo com todas as minhas forças e tampei sua boca.

— Eu ordeno que pare com isso imediatamente. — Berrou Sir Nicolaj Vargo com a calça molhada, seu kappa permanecia desmaiado ao lado da mesa. — EU SOU O ALTO MAGISTRADO E LÍDER DE LIGENCIA, VOCÊ...

Uma raiz puxou a perna esquerda do Alto Magistrado deixando-o de ponta cabeça.

Te... Tenha piedade. — Gemeu Vargo.

— Você não teve quando pedi. — Disse uma voz doce e meiga.

Uma mão em forma de galho rasgou o rosto dele fazendo o berrar e uma raiz grossa penetrou pelo traseiro do Alto Magistrado saindo em seu coração. O dragão-serpente se aproximou do corpo e lançou uma flâmula de fogo tão poderosa que carbonizou Sir Nicolaj em um segundo.

Lesmir caiu de joelhos sobre Meguera chorando e berrando.

— Eu não fiz nada. — Ranho e lágrimas escorriam pelos bigodes altos do Alto Policial. — Eu juro que não fiz nada.

— Eu sei. — A voz estava mais aguda mesmo sendo masculina. — E fazer nada, já é fazer algo.

A mão de galho perfurou os olhos de Lesmir que gritava e se debatia. Uma raiz entrou na boca do Alto Policial arrancando a língua dele.

Dodolo saiu do meu aperto correndo e derrubando todas as coisas de limpeza. O dragão-serpente rastejou parando na minha frente sibilando e soltando fumaça das narinas. Não consegui segurar os meus intestinos e me caguei nas calças. As minhas pernas tortas viraram gelatinas.

Dodolo. — Murmurei para o nada fechando os olhos.

Não sei bem quanto tempo fiquei com os olhos fechados, mas quando abri Dodolo estava do meu lado choramingando e limpando a sujeira da minha calça.

***

— Não sei como sobrevivi nhor, só sei que aquela coisa estava se vingando. — O Nhor Conrado me olhava sério, e ele me dava muito medo. — Espero que acredite em mim.

— Obrigado senhor Lotto, seu depoimento só confirmou o que eu já tinha plena certeza. — Ele me deu as costas olhando para a garotinha que o seguia. — Senhorita Quillua mande todos os depoimentos para os Doze enquanto eu vou visitar o Senhor Noar.

— Desculpe-me nhor Investigador, mas você não pode fazer isso. — Eu disse com medo.

— Quem é você para dizer o que posso fazer? — As veias saltavam de seu pescoço.

— Eu sou o faxineiro, — Respondi erguendo os ombros sem entender a pergunta. — mas você não pode fazer isso, por que ele tá morto.

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