Um amor fora do comum

By nnamand

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Ser o filho mais novo sempre fez com que Zander se sentisse deslocado na família. Seus pais esperam que ele s... More

Introdução
Capítulo 01 - Zander
Capítulo 02 - Barbara
Capítulo 03 - Zander
Capítulo 04 - Barbara
Capítulo 05 - Zander
Capítulo 06 - Barbara
Capítulo 07 - Zander
Capítulo 08 - Barbara
Capítulo 09 - Barbara
Capítulo 10 - Zander
Capítulo 11 - Zander
Capítulo 13 - Zander
Capítulo 14 - Barbara
Capítulo 15 - Zander
Capítulo 16 - Barbara
Capítulo 17 - Barbara
Capítulo 18 - Zander
AGRADECIMENTOS, CONTINUAÇÃO E PUBLICAÇÃO

Capítulo 12 - Barbara

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By nnamand

Pela décima vez, encaro a entrada do Contatini's e me pergunto se devo entrar logo. Posso ver minhas duas amigas através das janelas, mas elas ainda não viraram a cabeça em minha direção. Faz mais de um mês que não nos falamos, e eu não havia reparado até agora quanto tempo se passou desde que terminamos a escola. As memórias do baile de formatura parecem ser de anos atrás, e não apenas algumas semanas. Ainda posso ver Valentina dentro do incrível vestido roxo, acompanhada de Valentin, e Abby sorrindo enquanto desfilava com seu namorado mais velho no meio dos alunos. Elas estavam lindas naquela noite, e pareciam tão alegres com seus pares que pouco depois que cheguei inventei uma dor de cabeça e voltei para casa. Eu estava sobrando e não queria atrapalhar seus encontros.

Por mais estranho que seja, sinto o mesmo agora. Estudo minhas duas amigas rindo, alheias aos olhares de reprovação que recebem das mesas vizinhas. Elas parecem tão despreocupadas dentro de seus vestidos florais, somente aproveitando suas férias de verão antes de irem para a faculdade. Eu, pelo contrário, estou suando em meu novo uniforme, cuja saia branca é bem mais curta do que eu gostaria e a camiseta tem uma gola que incomoda. Não foi assim que planejei nosso reencontro. Em todos os meus pensamentos eu estava rindo com elas simplesmente porque eu podia; porque nós três iríamos juntas para a faculdade e retornaríamos para cá nos feriados, onde poderíamos sentar para conversar sobre o quanto as aulas seriam puxadas e lembraríamos da época da escola com saudades.

— Elas só podem te ver se você entrar.

Alguém diz atrás de mim e assim que viro reconheço a mulher que me atendeu na noite em que jantei aqui com Zander. Ela sorri gentilmente, criando pequenas rugas ao redor dos olhos, e sinto minhas bochechas queimarem por eu não lembrar de seu nome. Sei que ela lembra de mim por causa de Zander, o que faz com que eu me sinta duplamente envergonhada. Eu me pergunto se ela sabe quem ele realmente é ou se aqui Zander também é só mais um garoto comum com nenhuma ligação à família que comanda a cidade.

— Você é a terceira menina, não? A que Valentina avisou que chegaria mais tarde? — Ela pergunta ao notar que continuo imóvel. Faço que sim e ela aponta para dentro do restaurante. — Aqui fora está bem quente, por que você não entra logo e eu trago um chá gelado para você?

Forço um sorriso que não convence nem a mim, porém a moça finge não notar ao me guiar através do restaurante até minhas amigas. Quando elas notam minha presença suas risadas morrem e Valentina dá um pulo de sua cadeira, quase a derrubando no chão. Seus braços me envolvem em um abraço apertado e logo em seguida Abby se junta à nós.

— Enfim estamos juntas de novo! — Val me aperta mais um pouco antes de me soltar. — Como estão suas férias?

— Como vocês podem ver, não está indo conforme o planejado... — Aponto para o emblema do clube de golfe bordado no bolso de minha camisa.

— O que aconteceu com seu emprego na livraria? — Abby empurra seus óculos para cima, mesmo que não estivessem escorregando, e estuda meu uniforme.

— Precisei sair. De qualquer jeito, o salário é melhor agora.

Sinto meu estômago pesar, mas me esforço para permanecer calma. Talvez se eu fingir que não me incomodo com isso elas acreditem. Abby me empurra para a cadeira livre e logo muda de assunto. Depois de ouvir todas as novidades sobre sua família — seus pais continuam brigando, mas o pai voltou para casa depois de passar quase um ano morando fora, e a mãe teve a ideia de adotar um cachorrinho para que o irmão mais novo dela não se sentisse solitário por ela estar indo embora — Abby inicia uma conversa que eu estava torcendo para que não acontecesse tão cedo.

— Como são seus dormitórios? O meu é bem tranquilo, apesar de ser misto. A única coisa que ainda não aceitei foi meu colega de quarto. Ele é um saco e não respeita minha privacidade.

— Espera, ele?— Valentina dá voz à minha pergunta. Abby mencionou várias vezes que iria morar em um dormitório misto perto de sua faculdade, mas disse que não havia a menor possibilidade de ser combinada com um garoto porque tinha marcado apenas a opção de ter uma colega de quarto mulher.

— Sim. — Ela esfrega as têmporas, como se estivesse exausta apenas em falar sobre isso.

— Um garoto? Tipo, do sexo masculino? — Val continua, sem perceber o desconforto nos olhos de Abby. — Pensei que você tivesse falado que isso era impossível de acontecer.

— Aconteceu alguma coisa na hora que eles estavam analisando meu pedido e eu acabei sendo emparelhada com um cara. Um idiota, por sinal.

— E por que você não pede para trocar? As aulas ainda não começaram, acho que você consegue outro quarto se pedir.

— Ah, Val, você acha que eu já não tentei isso milhares de vezes? Sério, eu até chorei na frente de todo mundo na secretária e só consegui um pedido de desculpas... Eles disseram que não tem nenhuma outra vaga e eu preciso esperar por alguma desistência ou outro pedido de troca, mas com a minha sorte isso não vai acontecer. — Ela suspira e Val me lança um olhar cúmplice. Nós duas sabemos que Abby está falando sério sobre sua falta de sorte, porque desde que a conhecemos ela não conseguiu passar muito tempo sem sofrer algum mico ou desastre. Val sempre brincava dizendo que o universo devia estar punindo-a por alguma coisa que ela fez no passado.

— Ele não deve ser tão ruim assim... — Eu digo ao perceber que Abby está realmente irritada com a situação.

— É porque você não conhece ele! Eu juro que ele é insuportável. Todo mundo o chama por Rock. Quem tem um nome desses? Só alguém muito exibido e egocêntrico. Pior que isso é o fato de que Andrew está morrendo de ciúmes dele. Eu juro que vou matar alguém se ele reclamar mais uma vez sobre o modo como Rock me olha. — Abby exclama, atraindo mais uma vez olhares para nossa mesa. — Vocês duas têm sorte por estarem em dormitórios femininos.

— Eu não acho... Eu ia preferir ficar com o Valentin, mas ninguém achou que seria uma boa ideia. — Ao falar do namorado os olhos de Val ganham um brilho extra. — E você, Babs, tem alguma reclamação sobre seu dormitório?

— Não exatamente. — Mordo meu lábio inferior com tanta força que sinto gosto de sangue. Sei que preciso contar para elas a verdade, mas não consigo. Será que é assim que Zander se sente toda vez que olha para mim? É complicado saber que algo que você vai dizer provavelmente mudará a forma como uma pessoa te olha. Para mim chega a ser humilhante.

— Pelo menos uma de nós está satisfeita. — Abby comenta com sarcasmo e toma um longo gole de sua bebida, que ao julgar pela aparência, não é o chá gelado que a garçonete me prometeu.

— Mas sua vida não pode estar tão ruim assim... — Valentina continua e eu me sinto aliviada por minhas amigas não terem percebido minha falta de palavras. Terei mais algum tempo para me preparar antes de contar para elas que não vou à lugar nenhum.

— Se você está falando do Andrew, então está certa. Minha vida está ótima neste setor. — O sorriso em seu rosto é tão largo que nos contagia. Abby se inclina sobre a mesa e abaixa a voz para o que fala a seguir: — Ele me pediu em casamento!

O silêncio que se passa chega a ser constrangedor. Valentina engasga ao meu lado e eu não faço mais do que piscar os olhos. Imagino que eu esteja imitando um peixe, abrindo e fechando a boca várias vezes, enquanto procuro por algo para falar. Se minha amiga estiver falando sério, ela enlouqueceu. Mal saímos da escola, Abby ainda não tem nem dezoito anos e esse namoro dela com Andrew tem menos de cinco meses! Se fossem apenas esses os fatores, não teria problema, mas Andrew não é do tipo de cara para ser levado à sério. Eu e Val dissemos isso para Abby quando ela o conheceu. Nós estávamos com ela em um bar na cidade vizinha, onde entramos escondidas porque Val queria esperar Valentin. Andrew era o cara sentado sozinho no bar, estudando as possíveis conquistas da noite e por algum motivo ele resolveu perseguir Abby. Não que ela seja menos bonita que as outras garotas que estavam lá, mas Abby é tímida em excesso e costuma ser rude com pessoas que não conhece.

— Abigail, isso é sério? O que você respondeu? — Pergunto sem acreditar.

— Sim. Ele não me deu um anel ainda porque não tem muito dinheiro, mas prometeu que assim que juntar o bastante vai comprar um.

— Você não pode casar com ele! Você não tem nem vinte anos. E todos os planos para o seu futuro?

— Você sabe melhor do que ninguém que os planos mudam. E eu o amo. — Abby responde com raiva, seu rosto começa a ficar vermelho. Eu me pergunto sobre o que ela está falando, não é possível que ela saiba sobre a faculdade ou qualquer outra coisa que tenha acontecido comigo no último mês.

— Está tudo bem, Abby. Nós só ficamos surpresas com a notícia. O importante é que você o ama. — Val interrompe. 

Val balança a cabeça e vira para mim. Percebo pelo modo que aperta os olhos que ela não está satisfeita com o que eu disse.

— Você não sabe o que é estar apaixonada por alguém. — Ao ouvir o suspiro de Abby, Val percebe o que fez e seus ombros se encolhem. — Desculpe. Eu não quis dizer isso, mas é que amar alguém não é assim tão simples, nem faz sentido.

— Até mês passado você estava reclamando porque não tinha certeza se queria continuar vendo o Andrew. Vocês brigavam quase todo dia, isso mudou? — Continuo, ignorando o que Val acabou de dizer.

— Não, mas casais discutem o tempo todo. — Abby para abruptamente e eu percebo de onde veio o exemplo de amor; ela está comparando seu relacionamento com o de seus pais.

Eu queria ter coragem de dizer que ela está enganada, que casais que realmente se amam estão sempre juntos e tentam evitar as discussões. Queria dizer que os amantes são melhores amigos acima de qualquer coisa, porém fico quieta. Ela não entenderia porque não viu nada disso enquanto crescia. Eu, por outro lado, tive meus pais e a história de amor deles como exemplo.

— Desculpa, Barbara, eu não queria te falar aquilo. — Val vira para mim, fazendo com que eu deixe Abby de lado. — Eu espero que você encontre alguém logo, porque você é uma garota incrível e não merece ficar sozinha.

Do outro lado da mesa, Abby concorda com a cabeça. Penso em Zander e no jeito que ele me olha sempre que nos encontramos. Por mais que eu saiba que não há nada sério acontecendo entre nós, toda vez que eu o vejo sinto meu coração palpitar e por um breve momento parece que estou exatamente onde eu deveria. É bobeira minha, ainda mais sabendo que ele não confia em mim o suficiente para me revelar sua identidade. O que eu sinto por ele não é tão fácil de se explicar e me faz imaginar se era à isso que Val se referiu ao dizer que o amor não é simples. Eu não deveria amá-lo, mas foi exatamente o que aconteceu.

— Na verdade... — Começo a dizer, mas a garçonete escolhe esse momento para retornar à nossa mesa.

— Aqui está o seu chá, desculpe pela demora. — Ela deposita o copo gelado à minha frente e troca o refil de Val. — Estão precisando de mais alguma coisa?

— Obrigada, Anne. Você pode trazer aqueles biscoitos de travesseiros de queijo que eu adoro! Sei que você ajudou o Stefano a preparar alguns ontem à noite.

— Oh, você estava na casa dele ontem? — As bochechas da moça ficam coradas, porém ela tenta manter a pose casual.

Se eu não soubesse que Val está falando do dono do restaurante e sobre o que ele estava fazendo em casa na noite anterior, acharia engraçada a reação de nossa atendente, mas acabo ficando com pena dela. Parece que Anne fez algo que não queria que Val soubesse.

— Eu e o Valentin fugimos pelo jardim um pouco antes de nove horas e ele acabou ficando na minha casa. — Val pisca e Anne sorri para ela do mesmo jeito que fez com Zander, como se Valentina fosse mais que uma simples cliente; como alguém que realmente importa para Anne. Seus olhos gentis se voltam para mim e noto que ela está me olhando desse jeito também. — Você veio aqui com o Zander, não foi? Fiquei muito feliz por ele ter finalmente trazido alguém. Eu não deveria dizer isso, mas vocês dois são uma graça juntos.

— Obrigada. — Respondo sem jeito e sinto meu rosto corar enquanto minhas amigas me encaram.

Anne sorri para mim uma última vez antes de deixar a mesa com o pedido de Val. As duas falam ao mesmo tempo assim que voltamos a ficar sozinhas.

— Zander?!

— Você está saindo com ele e não contou? — Val projeta os lábios para a frente, fingindo estar decepcionada.

— Aconteceu tem pouco tempo. — Dou de ombros.

— Você está mesmo saindo com o filho mais novo dos Morris? — Abby quase cospe sua bebida enquanto me encara. — Tipo, para valer?

— Acho que sim.

— Mas eu pensei que você não saísse com esse tipo de cara, ou foi algo assim que você falou para a gente na escola...

— Ele é diferente.

Eu percebo que é verdade. Por mais que Zander faça parte da elite da cidade, ele não é como os outros garotos. Ele ficou um pouco surpreso ao ver minha casa pela primeira vez, mas depois disso nunca mais me olhou de nenhum jeito que fosse ofensivo. Mesmo sabendo sobre minha situação, ele continuou me procurando. Sinto que o que estamos fazendo é mais do que apenas passar o tempo. Há algo verdadeiro em nossas conversas. Ele seria perfeito se não estivesse mentido.

— Tudo bem, eu gosto dele. — Val passa um braço por meus ombros e me puxa para perto dela. — Apesar de não parecer, ele até que é bem educado.

— Vocês estão falando da mesma pessoa que eu? Theodore Morris, aquele cara tatuado, cheio de piercings, e lentes de contato, que trabalha no café perto da escola? — Abby usa o primeiro nome dele, o que me faz sentir ciúmes e um pouco de raiva. Como é possível que todo mundo nessa cidade saiba quem ele é menos eu?

— Ele mesmo. — Val ri. — Mas ele só responde por Zander já tem um tempo.

— Você sabe por quê? — Não consigo evitar perguntar. Estou desesperada para compreender melhor o que ele está escondendo. Não é possível que ter o mesmo nome do avô seja o único motivo.

— Sim... — Ela abre a boca, mas seu celular vibra sobre a mesa. — Espera só um segundo.

Só que Val não demora só um segundo. Ela lê a mensagem que recebe e um sorriso surge em seus lábios. Não é preciso ser muito inteligente para saber que foi Valentin quem enviou. E ela passa o resto do nosso encontro com os olhos grudados na tela do celular. Cerca de meia hora passa enquanto eu e Abby jogamos conversa fora, nós duas desistimos de tentar incluir Val depois que ela esquece o que estava dizendo pela terceira vez.

— O Valentin está chegando. — Ela diz ao desgrudar os olhos do celular. — O que vocês vão fazer mais tarde?

— Não tenho nada planejado. — Abby balança seu biscoito de queijo no ar e dá de ombros. Algo em sua postura me faz acreditar que ela está se esforçando para parecer casual, mas antes que eu possa pensar muito sobre isso meu celular vibra e dessa vez sou eu quem se concentra em mandar mensagens ao invés de participar da conversa.

Leio o pedido de Zander algumas vezes, escolhendo com cuidado o que responder. Ele me pediu para o encontrar no mirante novamente hoje, como temos feito nos últimos cinco dias. O choque que tive ao vê-lo na segunda, logo depois de sair do escritório de sua mãe, me deixou um pouco desnorteada, mas consegui ignorar depois que ele me pediu para confiar nele.

— E você, Babs? Quer ir com a gente na casa da Sally Hastings? O irmão dela está de volta na cidade e vai dar uma festa hoje. — Val me cutuca, mas faço que não com a cabeça. — O que foi? Chama o Zander para ir junto com você, sei que ele e o Scott foram amigos.

Se fosse em outra noite eu aceitaria o convite de Val, mas a mensagem de Zander de hoje está mais curta que o normal. Releio a mensagem uma última vez:

Me encontra no mirante em 20 min. É urgente.

O que quer que Zander queira, eu estarei lá para descobrir.





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