Teen Mermaids

By _EuVitoria_

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Pertencente a dois mundos, Lydia, Rebeka e Luce precisam encontrar suas verdadeiras identidades. Seus c... More

Mudança
Festa na praia
Pulando na água
Poderes
Salva vidas
Uma nova sereia
Uma dança
Sentimentos expostos
Doce chamado
Emboscada
Carta reveladora
Respostas
Hipnose
Visitando a vovó
Doador anônimo
O plano
Executando o plano
Livro de porções
capitulo especial - Morgana
Enfrentando tubarões
Capítulo especial - Morgana e Shelby
Evento de talentos
Malévolas
Festa na piscina
Banho de lua
Desafio
Para sempre, meu amor.
Perda de humanidade
Cupcake encantado
Recuperando a humanidade
Expostas
Uma novidade em Magic city
Concha prisão
Capítulo especial - Morgana
Encontro desagradável
Capítulo especial - Morgana
Indo as compras
Capítulo especial - Morgana
Oferta
capítulo especial - Morgana
Resgate
Capítulo especial - Morgana
Primeiro beijo
Capítulo especial - Morgana
Baile de natal
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Novidades

Cardume

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By _EuVitoria_

   Lydia despertou as seis da manhã.  Pretendia acordar seis e meia, mas na madrugada anterior, Rebeka havia telefonado pelo celular de Meredith as quatro da manhã e lhe implorado para ir encontra-la no caminho. Meio grogue, a jovem se ergueu para vestir-se, mau podendo acreditar que finalmente tinham uma pista sobre o que exatamente havia acontecido naquele sábado a noite. Ansiosa andou rapidamente com a tarefa de se aprontar. Vestiu a primeira roupa que encontrou, prendeu seus cabelos em um coque desajeitado e calçou seus sapatos. Sua higiene pessoal foi a única coisa que fez corretamente, pois estava em um misto de ansiedade e nervosismo para encerrar o mistério que lhe envolvia. Se esforçou muito para não fazer barulho enquanto deixava sua casa. Se qualquer membro de sua família lhe encontrasse em pé tão cedo e vestida de um jeito tão desleixado, provavelmente iriam estranhar.  Pois Lydia costumava ser muito vaidosa.

   Começou a caminhar rumo a casa de Rebeka, com um pouco de sono e muita esperança. Toda aquela situação de cauda e poderes, estavam lhe dando nos nervos. Não muito longe de sua casa, avistou o belo corpo de sua amiga, vindo em sua direção com as roupas tão mal escolhidos quanto as suas próprias. Rebeka se arrastava pelas ruas, quase tão lenta quanto uma tartaruga.

    - Qual o problema?  - perguntou assim que se aproximou o suficiente, a outra trazia puro desânimo em suas feições.

     - Não dormi direito. Cheguei super tarde em casa. - suspirou, parecendo realmente cansada.  - Precisamos mesmo estar lá tão cedo?

    - Precisamos. E eu teria mais meia hora para dormir se não tivesse que vir busca-la.  - reclamou em tom de brincadeira, revirando seus olhos esverdeados. Ela acabou por perceber que sua observação não havia soado engraçada para a outra, por algum motivo que ela desconhecia, Rebeka parecia desconfortável enquanto andava de cabeça baixa.

   - O que foi, Beka? - Lydia questionou, estranhando o comportamento da amiga. - Aconteceu alguma coisa?

    Mais um suspiro escapou dos lábios de Rebeka, ela assentiu com sua cabeça e com os olhos cheios de lágrimas narrou os acontecimentos traumáticos que ocorreram no evento ao qual havia acompanhado sua mãe. Lydia escutou atentamente pelos horrores que sua amiga havia passado, a dor que se manifestou em seu peito ao imagina-la naquela situação, fora quase insuportável.

    - Eu sinto muito.  - murmurou agarrando-se a ela, dando-lhe um abraço amoroso e apertado. - Você está bem?  Se quiser não precisa ir conosco... Luce e eu damos conta.

    - Não, tudo bem. Já passou. - murmurou, voltando a andar. - Eu posso fazer isso.

     Lydia e Rebeka continuavam a caminhar, quando ouviram a voz conhecida de James Alves dizer em alto e bom som:

    - Eu já lhe disse que a culpa não foi minha! Não pode me culpar....

   Ambas não sabiam ao certo o que estava acontecendo, mas com uma troca de olhares cúmplices, se aproximaram ainda mais do rapaz, deixando seus corpos escondidos por um carro vermelho que estava no lado da rua oposto ao qual o playboy se encontrava. Ele também estava próximo a um carro e junto dele estava um homem alto e bem vestido, pelas feições semelhantes, podia claramente se ver, que tratava-se do pai dele.

    - Não importa de quem foi a culpa, James! - o homem gritou, batendo com seu punho no veículo e fazendo seu filho dar um pulo. - Você não pode fazer serviços comunitários, ouviu bem?  Meu filho não trabalha para os outros!

   - Eu já lhe disse que foi aquela garota. Luce... - apesar de ter a voz bem firme, para Lydia ele parecia estar com medo. O valentão da escola tinha medo de seu pai...

   - Então vingue-se dela. Faça com que essa menina perceba que não se entra no caminho dos melhores. - exigiu com cara de poucos amigos. - Porque é pra isso que eu lhe criei! Para ser o melhor... Nada além. Me entendeu bem?

    Lydia engoliu em seco, o homem era terrivelmente cruel e rigoroso. Entendia e sentia pena de James, ele era um tremendo babaca mas grande parte de suas ações, devia no mínimo ser pela falta de um pai amoroso e compreensivo.

   - Você sabe que eu sou o melhor. - o rapaz tentou soar confiante, pelo jeito, queria que seu pai o admirasse, talvez por isso fosse tão idiota, achava que assim, o homem lhe amaria mais. Ele por sua vez, lhe deu as costas e entrou no veículo, dizendo que estava cansado de ter que limpar as bagunças de seu filho problema. Sendo deixado para trás, James suspirou aliviado, tomou alguns segundos de coragem e também adentrou no carro. O automóvel cantou pneu na rua praticamente vazia, do outro lado as meninas se encararam chocadas com o que haviam ouvido.

    - Acha que ele vai se vingar de Luce? - Lydia questionou, uma voz baixa e claramente preocupada. Mesmo sem a presença dos Alves, elas continuavam escondidas, para o caso deles ainda não terem partido.  - Digo, o James... Acha que ele vai fazer alguma coisa contra ela?

   - Não. - respondeu prontamente, como se a ideia da outra fosse absurda. - Ele é só um moleque babaca, assim como o pai... Filho de peixe, peixinho é.

   Lydia assentiu com relutância, não tinha tanta certeza de que o garoto popular iria aceitar ter sido punido. Não com a pressão que seu pai havia lhe dado.

   Rebeka ergueu o seu corpo, recomeçando a andar rumo a praia aonde Luce as esperava. A segunda menina lhe acompanhou, ainda muito pensativa sobre a discussão que havia presenciado. Alguns minutos mais tarde elas chegaram ao ponto combinado, o mesmo lugar de sempre, escondido atrás das rochas...

    O coração de Lydia estava dividido entre o medo e a esperança, não sabia o que iria encontrar naquela manhã, mas esperava profundamente que fosse a verdade, e o ponto final para todos os estranhos acontecimentos.

    Avistaram Luce, a jovem sereia estava em pé próxima da água, de longe podia-se ver somente seus cabelos longos e negros que batiam alguns palmos abaixo de sua bunda. Suas amigas combinaram que não tocariam na conversa de James e seu pai, não havia motivos para dar mais preocupações para a garota. Os passos das meninas correndo em sua direção, chamaram sua atenção e ela logo se virou para ver a fonte do barulho.

   - Vocês demoraram.  - reclamou com uma expressão aliviada, parecia tão ansiosa quanto Lydia.

     - Sentimos muito.  - murmurou Rebeka,  e foram as últimas palavras que trocaram antes de darem as mãos e juntas pularem na água fria.

    Assim que suas pernas viraram caudas, Lydia teve a sensação de ficar mais leve, era como se somente ali estivesse inteira. Estava conectada com o mar de uma maneira inexplicável.

    Não precisaram nadar muito para avistarem os cabelos avermelhados flutuando, os lábios carnudos e rosados, olhos verdes e uma expressão tensa: Dessa forma Morgana lhes aguardava. A sereia não perdeu muito tempo, assim que avistou as outras três, foi logo na direção delas, despejando palavras aflitas sobre as garotas:

    - Vocês demoraram...

    - Acredite, é o mais cedo que eu consigo acordar. - Rebeka avisou, sua voz mostrava um mal humor notório, ela não confiava em Morgana, mas ela era a única chance que tinham.

     - Demoramos, mas já estamos aqui.  - Luce cortou uma possível discussão, como sempre a mais racional do grupo formado por três meninas sereias.  - Precisamos que nos ajude a descobrir o que aconteceu naquela noite de lua cheia. Temos que ser rápidas.

    Morgana as encarou profundamente, seu queixo estava levemente caído, ela as avaliavam como se estivesse diante de algo extraordinário.

    - Isso nunca aconteceu antes... - murmurou, entretida em vislumbrar cada detalhe das outras três. Lydia ergueu suas sobrancelhas, tentando entender a sereia, que parecia uma cientista descobrindo uma espécie nova de animais. - Como aconteceu?  - quis saber a ruiva.  - Como vocês... Três humanas, ganharam cauda?

   - É por isso que estamos aqui.  - disse Lydia, revirando seus olhos verdes, era a coisa mais óbvia.  - Só sabemos que foi em uma noite de lua cheia, nem sequer sabíamos que havia outras como nós...

   - Descobriremos isso da forma mais discreta possível.  - Morgana tinha a delicadeza de uma criança, mas sua voz e determinação soavam firmes como as de uma mulher.  No primeiro dia em que se encontraram, ela estava amedrontada, temia as garotas, mas já não havia mais traços daquele medo em seus atos e em suas feições. - Ninguém pode saber quem ou o que vocês realmente são. Nossa rainha é muito rígida e poderia não aceitar muito bem a situação.

    - Vocês tem uma rainha? - a voz de Luce se alterou um pouco, mostrando o quão estava surpresa. Todas estavam, as coisas estavam indo cada vez mais além do que elas haviam imaginado. 

   - Shelby, a rainha do cardume laranja. - ela pronunciou as palavras como se estivesse descontente e somente o nome da líder das sereias fez a pele das garotas arrepiarem. - Vamos indo, no caminho eu conto tudo o que precisam saber.

    Elas aceitaram a oferta com naturalidade, pois a curiosidade para saber mais sobre aquele outro mundo, lhes corroía por dentro. Seguiram a sereia, prontas para saberem pelo menos uma parte da verdade. Morgana nadava pouco mais a frente dos outros três corpos, que iam logo a suas costas, lado a lado.

   - Como é as coisas no cardume? - Lydia ousou perguntar enquanto era guiada. Aliás, até aonde sabia, aquelas outras sereias, podiam ser parte de todo aquele mistério.

  - São rigorosas. Cheias de regras... - Morgana suspirou, não olhou para trás, seus olhos sempre fixos no caminho que as levaria até o cardume.  - Shelby é uma rainha arrogante, eu diria que um pouco cruel. Acho que as coisas costumavam ser melhores quando eu era pequena, a primeira rainha devia ser uma sereia melhor.

   - O que aconteceu com ela?  - perguntou Rebeka, já deduzindo a resposta. 

    - Ela morreu. - murmurou a ruiva, pela primeira vez olhando para as garotas. Sua voz apesar de baixa, estava claramente chateada. - Eu não a conheci, tinha apenas  um ano quando aconteceu... Chegamos.  - avisou de repente, mudando o rumo da conversa, parou de nadar, causando nas garotas muitas emoções distorcidas. Elas estavam a poucos minutos de finalmente desvendarem tudo, não sabiam o que esperar. - Lembrem-se, para elas, vocês são como nós... Ajam discretamente.

    Morgana se calou, mas antes disso, as jovens já não ouviam uma mísera palavra do que ela  dizia. Pois estavam boquiabertas com a imagem na qual estavam presenciando. Era como uma cidade, uma cidade debaixo do oceano. Quando descobriam sobre o cardume, muitas coisas passaram por suas cabeças, mas jamais imaginaram que as sereias tinham vida semelhantes as suas. Lojas, praças, casas em formato de conchas, tudo... Igual e ao mesmo tempo diferente da vida mundana, era uma cidade adaptada para elas, uma outra versão de Magic City, debaixo das águas, oculta dos olhares humanos.

    - Uau.  - Lydia murmurou, sabendo que suas palavras eram pouco para expressar seu encantamento. Tanto ela quanto suas amigas, estavam fascinadas. Era tudo tão lindo e mágico, cheio de luzes e cor... Uma cidade tirada dos livros infantis.

    - Bem vindas ao meu mundo.  - Morgana riu das expressões, percebendo que as garotas realmente não haviam sido criadas como sereias. Seus braços se abriram, como uma apresentadora apresentando algum tipo de espetáculo. Sim. Aquela palavra definiria bem o que estava bem diante dos olhos das meninas sereias.  Uma cidade de espetáculos... Elas continuavam a fitar o lugar sem sequer piscar, quando de repente levaram um susto ao perceberem um corpo se jogando sobre o de Morgana e envolvendo-a em um abraço desesperado.

  - Ai meu Deus! Morg, ai meu Deus... Aonde você estava?  Eu estava tão preocupada...

   - Não comece, Maila. Eu sai por menos de duas horinhas. - sua voz saiu abafada enquanto ela era claramente sufocada pela outra sereia, sua face também assumia caretas mostrando que aquele aperto era exagerado e desconfortável.

   - Eu já falei que não quero que se afaste muito das fronteiras. - murmurou ela, depois se afastou da garota que tinhas muitos traços parecidos com os seus. Finalmente se dando conta da presença de mais três sereias.  - E essas, quem são?

    - São... Minhas novas amigas.  - Morgana esclareceu, mais nervosa do que gostaria de ter aparentado.  - Rebeka, Lydia e Luce.

   Ainda com desconfiança, a mulher super protetora encarou as outras com uma expressão de puro choque, e o susto predominou em sua face pálida e cheia de sardas avermelhadas, como seus cabelos.

    - São elas... - murmurou, parecia estar em estado de transe. Sua face antes branca, agora pálida. - As princesas desaparecidas. - seus olhos cor de mel vagavam pelas faces das garotas, que não sabiam um "ai" do que estava acontecendo. Enquanto a maluca continuava a lhes olhar perdida em pensamentos.

   - Ah, não me venha com essa história de novo, Maila.  - Morgana a repreendeu, claramente desconfortável com as atitudes da outra. - Quer que elas pensem que você é louca? Assim como todas as outras do cardume?

   - Não, Morg... - a mulher não parecia desconfortável em parecer e ser acusada de maluca, ela simplesmente continuou a encarar as jovens sereias com seus olhos arregalados. - Elas são idênticas a elas! São exatamente como as princesas desaparecidas...

    Morgana suspirou, por fim colocou as mãos nos ombros de sua irmã e falou docemente, como se tentasse convencer a uma criança:

   - Mai... Não existe princesas desaparecidas. Ninguém além de você lembra delas. Todos acham que você está maluca, mas eu sei que foi a forma que encontrou de lidar com a morte da mamãe, então, pare de assustar minhas amigas.

    A mulher que aparentemente devia estar em torno de seus trinta anos, encarava a outra com feições decepcionadas. Devia ser horrível ter algo para dizer e não ser ouvida porque todos acreditavam que você tinha enlouquecido. Depois de observar a cena e juntar as peças, Rebeka pensou que aquilo poderia ter algo a ver com a verdade que tanto procurava, então questionou:

    - Quem são essas princesas desaparecidas?

    - As irmãs desaparecidas da rainha! - Maila desembuchou de supetão, a animação renovada para contar a história, feliz por alguém querer ouvi-la. Morgana por sua vez, tinha a expressão das mais aborrecidas e impaciente, cansada de ouvir sempre as mesmas maluquice, e nem um pouco feliz pela garota ter alarmado sua irmã para tornar a conta-la. - Eu me lembro... Não sei como as outras esqueceram delas, mas eu não. Quando eu era pequena, havia mais três princesas. A rainha Margareth havia tido quatro filhas. Mas em uma noite de tempestade, três delas desapareceram. E ninguém mais lembra delas, exceto por mim.

  - Por que acha que somos elas? - Luce questionou apavorada, interessada no conto e muito curiosa.

    - Vocês são idênticas a elas.  - falou realmente parecendo convicta de suas palavras, as sereias estranharam ainda mais aquela observação. Seria verdade essa história ou Maila era apenas surtada?

    - Já chega! - Morgana surtou, explodindo com a outra ruiva. - Eu não aguento mais isso. Você está cada vez pior.

    - Pense o que quiser, irmãzinha. - Maila olhou profundamente nos olhos de sua irmã caçula, sua voz soou poderosa como se estivesse ditando uma maldição: - Em todo caso, a lua cheia sempre revela a verdade...

   "A lua cheia sempre revela a verdade" a frase ecoou na mente de Luce, as cenas começaram a se desenrolar desde a noite em que ganhará cauda até ali, era como se a última peça houvesse encaixado no quebra-cabeça. As vozes das irmãs discutindo foram ficando cada vez mais distantes, como se ela houvesse se enfurnado dentro de seus próprios pensamentos e a menina sereia finalmente entendeu tudo:

   - Temos que ir.  - avisou em voz alta, fazendo todas se calarem e lhe encararem. - Eu já sei a resposta...

   Lydia e Rebeka se entreolharam mas não disseram nada, apenas esperaram para que Luce tomasse a frente, e a mesma a fez, dizendo para a irmã de Morgana:

   - Foi um prazer conhece-la. Mas agora, temos que ir. - em seguida ela fez um movimento com sua cabeça, indicando que suas amigas deveriam nadar. E logo sua cauda bateu rapidamente, se afastando sem esperar por uma resposta e sabendo que era seguida por outras três sereias com caudas igualmente alaranjadas.

   Nadaram em fileira, uma atrás da outra. Até chegarem no ponto aonde encontraram Morgana, somente lá, Luce parou de guia-las. Ela deu meia volta até ficar de frente para as demais, que pararam cheias de expectativas.  Por um instante ela fitou as garotas, com medo de que sua teoria lhes desse falsas esperanças, mas no momento, aquilo era a única resposta que tinham, então teve que dividi-la com Lydia, Rebeka e Morgana:

    - Quando ganhamos a cauda, era noite de lua cheia. Maila disse que a lua sempre revela a verdade, ou seja, talvez sempre tivéssemos sido sereias. Mas e se esse nosso... Outro lado, estivesse de alguma forma escondido e quando caímos na água na noite de lua cheia, nós o revelamos?

    As garotas deixaram a teoria invadir suas mentes e após refletirem melhor sobre o assunto, perceberam que fazia certo sentindo. Mas ainda haviam perguntas que não queriam calar e Lydia fez uma delas em voz alta:

  - Faz sentindo. Mas e as outras questões? Ainda não sabemos porque somos o que somos. E se somos mesmo sereias desde que nascemos, por que fomos criada na terra, por que nossos pais são terrestres?

   Luce tentou não expressar nenhuma expressão significativa, mas lá no fundo ela já tinha uma mera noção da resposta para uma daquelas perguntas. No entanto, não podia dize-la para suas amigas, precisava ter certeza de que aquela era a verdade antes de fazer toda a vida delas parecer uma mentira, antes de lhes tirar o chão. A jovem ficou pensativa por alguns minutos, enquanto Rebeka, Lydia e Morgana lhe encaravam com enormes pontos de interrogação em suas belas faces.

    - A lua cheia sempre revela a verdade... - tornou a murmurar a metáfora, utilizando ela para um melhor raciocínio. - É isso! - se sobressaltou estralando seus dedos.  - Talvez devêssemos esperar pela próxima lua cheia, talvez ela nos traga uma nova pista...

    Por suas palavras, as garotas conseguiram acompanhar sua linha de raciocínio e perceberam que fazia certo sentindo, já que adquiriram suas caudas quando entraram em contato com o mar em uma noite que só ocorria uma vez por mês. Talvez suas vidas houvessem realmente se tornado um quebra- cabeça, e uma por uma a lua lhes entregaria as peças.

   - Bom... - Rebeka olhou de uma para outra, o clima estava tenso. - Então devemos esperar pela próxima lua cheia?

    - Sim.  - Lydia resmungou, claramente descontente. - Teremos que esperar... Não temos outra escolha.

    - Então acho melhor a gente ir, não temos mais nada para fazer aqui.  - Luce murmurou, apesar de não terem encontrado nada claro, sabia que já não estavam mais em uma completa tela em branco, tinham uma pista, tinham pelo que esperar.

   Com essas palavras, as garotas estavam prontas para atravessarem o mar e voltarem para suas vidas rotineiras de mundanas, com uma pequena expectativa de que a próxima noite de lua cheia lhes trouxesse respostas. No entanto, antes que as mesmas partissem, Morgana avisou:

   - Se precisarem de mim, peguem uma concha da areia e chamem por meu nome. Eu virei ajuda-las.

   - Obrigada, Morg. Você já fez demais por nós. -  Luce que estava com a mente com um trilhão de pensamentos e dúvidas, agradeceu, dando um abraço de despedida na sereia ruiva.

  Ambas as outras duas se despediram dela com abraços apertados, e partiram sabendo que aquela pequena descoberta não era nada concreto, nada além de um tiro no escuro. Chegaram a superfície sem terem trocado uma única palavra enquanto nadavam, quanto antes estivessem em terra firme, melhor...

   - Não acredito que isso não nos levou a nada. - Lydia resmungou, secando sua cauda com raiva. Do trio, era ela a mais temperamental...

   - Nos levou sim. - Luce protestou, também trazendo suas pernas de voltas. Ela estava do lado direito da amiga, e Rebeka do esquerdo. - Você viu aquela... Cidade? Até pouco tempo não sabíamos sobre ela, ou sobre as outras... E agora pelo menos, temos uma direção.

     - Não é bizarro tudo isso que está acontecendo? Quer dizer, existe literalmente um outro mundo, um mundo de sereias... E nós fazemos parte dele. - Rebeka que sempre fora a mais ousada e destemida, perecia assustada, embora também houvesse encantamento em suas palavras. Mas não dava para culpa-la, tudo aquilo era tão irreal e assustador. Elas não só descobriram que mitos existiam, como passaram a ser parte deles.

   - Acho que estão colocando expectativas demais em uma teoria. - Lydia suspirou exausta, erguendo seu corpo já humano e batendo em suas roupas para afastar a terra. - Não acredito que estejamos no caminho certo.

   - Bom... Por enquanto, é o único caminho que temos. - Disse Luce, começando a se levantar. Ela parou ao lado da outra, esperando que a última sereia virasse humana. - Acho que podemos esperar e depois vemos o que fazemos. Certo?

    - Certo. - a garota concordou a contragosto, não concordava muito com os métodos que estavam abordando, mas a situação já era complicada o bastante, não precisavam brigar naquele instante.

   Quando Rebeka retornou suas pernas, elas começaram a se mover para longe de seu lugar especial atrás das rochas, caminhando pela praia que estava praticamente deserta. Andaram por pouco tempo até que um corpo masculino as fez parar, um belo corpo masculino, diga-se de passagem. Quando James apareceu todo cheio de musculoso e sorrisos a suas frentes, era como se para Lydia lhe faltasse o ar, ela estava realmente sem fôlego.

   - O que você quer?  - engoliu em seco e conseguiu com muito esforço encontrar sua voz, não precisando de muito para que a mesma saísse fria.

   - Calma, amor. - James deixou sua voz soar ofendida, mas seu sorriso irritantemente lindo continuava impregnado em seus lábios. Suas mãos erguidas em frente ao peitoral nu em alto-defesa. - Eu só vim devolver isso para vocês. - ele retirou dois aparelhos celulares do bolso de sua bermuda de surfe.

     Lydia acreditou que nunca mais o veria, mas ali estava ele, tão lindo quanto ela lembrava. Seu objeto preferido, o dono de seus maiores passatempos, seu iPhone rosinha nas mãos de seu atual inimigo. Em um ato aleatório, ela esticou sua mão pronta para pegar o que era seu por direito. Mas James Alves o afastou de seu alcance, erguendo-o um pouco mais acima de sua cabeça, ciente de que a garota com menos de um metro e sessenta, teria que dar pulinhos se quisesse recupera-lo.

    - Por que a pressa, pequena? - o popular lhe perguntou com um sorriso sacana em seus lábios convidativos. O que tinha de lindo, tinha de babaca.

     - Estou louca para me livrar de você. - disparou zangada, toda cheia de marra, mas no fundo não acreditava em suas próprias palavras.

    - Aé? - James arqueou uma de suas sobrancelhas, se divertindo com a pequena garota que ficava cada vez mais brava. - Então eu só vou lhe entregar se você pega-lo.

  Com o sangue fervendo de raiva, a jovem sereia deu pequenos pulos para alcançar o celular preso na mão dele, que havia se erguido mais alguns centímetros. O rapaz gargalhou de suas tentativas, levando-a ao seu extremo. Enfurecida ela lhe chutou bem no centro de suas pernas, fazendo-o se encolher de dor e descer seu corpo com um olhar extremamente irritado.

   - Acredite em mim, amor... - Lydia o provocou imitando seu tom de voz enquanto arrancava o celular das mãos do mesmo. - Você nunca mais vai querer desafiar uma Parker.

   - Você me paga, garota! - ele conseguiu ameaçar em meio a sua dor. Enquanto ela se afastava com suas amigas. Devolvendo para Luce o celular que ela também havia esquecido no Iate de James Alves. 
  

   Sentada em seu sofá, Luce esperava por Belamy, que em poucos minutos passaria ali para lhe buscar e leva-la para a escola. Enquanto esperava, ela se pegava pensando no dia anterior, e na teoria assustadora que havia criado em sua mente. No fundo, Luce não queria acreditar naquela teoria que sua mente criava, mas era uma boa teoria. Fazia sentido e esclarecia muitas perguntas. Até tentou se conter, mas estava curiosa demais para manter-se neutra, sem investigar e tentar descobrir a verdade sozinha. Ouviu o barulho da água caindo, demonstrando que Agatha estava ocupada com o banho, e que ela teria alguns minutos liberados para poder buscar por qualquer coisa que esclarecesse suas dúvidas. Recriminando a si mesma pela invasão de privacidade e falta de ética, a sereia se arrastou pé por pé para o quarto de sua mãe. Tomando cuidado para não fazer nenhum barulho e atrair a atenção da mesma.

   O  aposento estava completamente limpo, Agatha costumava ser muito bagunceira, mas mantinha tudo em ordem. Não como sua filha que sempre gostará de perfeição, mais ainda assim, as coisas estavam organizadas.

    Na velocidade mais rápida que ela poderia obter, Luce vasculhou todo o lugar, olhando dentro de cada gaveta ou canto minúsculo, sem saber pelo o que exatamente procurava. Foi mantendo-se atenta em tudo o que encontrava pela frente, que  acabou por encontrar uma pequena caixa dourada, a mesma possuía um forte cadeado em formato de coração e a garota não lembrava de já tê-la visto em algum lugar antes, talvez porque nunca houvesse procurado por ela, pois a mesma estava bem camuflada dentro do guarda-roupa.

   - Preciso encontrar a chave... - murmurou para si mesma, sabendo que seja lá o que estivesse dentro daquilo, Agatha não queria que fosse encontrado. 

    Sua curiosidade gritava em alto e bom som, mas Luce sabia que aquele que tinha pressa, acabava caindo no meio do caminho. Por tanto, decidiu devolver a caixa e o segredo de sua mãe para o seu lugar pertencente. Não queria ser pega agindo de uma forma tão inadequada. Sendo assim, decidiu sair do quarto antes que a dona dele entrasse. Da mesma forma que havia tirado tudo do lugar, guardou, tentando não deixar seus rastros. Uma vez que tudo estava exatamente como Agatha havia deixado, Luce abandonou o quarto da mãe e fechou a porta do mesmo.  Assim que se virou e soltou a maçaneta para ir embora, deu de cara com Agatha que enrolada na toalha lhe encarava com uma expressão indecifrável, uma de suas sobrancelhas arqueadas ao questionar:

    - O que faz aqui?

    Luce gelou.

    - Eu... Eu... - tentou forçar um sorriso enquanto buscava uma falsa resposta, a encontrado e soltando-na de prontidão: - Vim ver se meu biquíni azul estava com você.

   - Seu biquíni? - perguntou levemente desconfiada. - Vai ir a praia depois da aula?

    - Sim... Sim. - concordou tentando soar confiante, mas acabou por mexer em seus cabelos, mostrando que estava desconfortável. Para tentar esconder esse deslize, acrescentou: - Belamy quer ir e você sabe como ele pode ser insistente.

    - Belamy sendo Belamy. - Agatha gargalhou e sua risada fez a outra respirar aliviada, como se um peso tivesse sido tirado de cima de seus ombros. Como em uma salvação divina, uma buzina venho em seu socorro. Fazendo-a tornar a respirar novamente, pois estava livre de ter que prolongar aquela mentira.

    - Eu preciso ir, mãe. - depositou um beijo rápido nas bochechas da mulher sem nem ao menos fita-la. - Vejo você em algumas horas.

   - Amo você. - ouviu Agatha gritar, como em todos os outros dias. Fazendo-a devolver suas palavras e tentar ignorar a sensação ruim que estava sentindo desde que encontrará Maila.

   - Oi. - Luce cumprimentou seu melhor amigo assim que entrou no veículo, nos seus lábios estendia-se o sorriso mais falso que já conseguirá estampar. Não que estivesse triste, mas estava aflita demais e apavorada com seus últimos pensamentos.

    - Oi, gata... - Belamy pois o automóvel em movimento e já ia falar sem parar como seu costume, mas em uma olhadela de relance, pode perceber que as coisas não iam bem. - Tudo bem? - questionou para a garota que encarava suas mãos apoiadas sobre suas pernas expostas.

   - Claro. - murmurou ela, encostando sua cabeça no vidro da janela, seu tom denunciava sua mentira.
  
    - Mesmo? - o outro ergueu uma de suas grossas sobrancelhas, desviando novamente o olhar da estrada, por breves segundos, tempo mais que suficiente para examina-la.
   
    Frustrada, a sereia enfiou sua face no meio de suas mãos e suspirou. Estava tão cheia de dúvidas e incertezas. Mas não poderia dividir seus problemas com mais ninguém, nem mesmo com Lydia e Rebeka, pois assim teria que contar sobre suas desconfianças e não podia, pelo menos, não por enquanto.

    - O que está acontecendo, Luce? - o rapaz sempre tão bem humorado estava daquela vez, sério. Se pelo menos soubesse o caos que estava a vida de sua melhor amiga... Como se não fosse o suficiente ela descobrir que era uma sereia e que existia um mundo inteirinho de sereias, agora em seu íntimo a jovem duvidava de sua maternidade. Duvidava se realmente era uma Forbes.

    - Nada. - disse novamente, tentando expulsar os pensamentos que rodeavam sua mente. - Eu estou bem. Só estou cansada.

   Assim que ela terminou de falar, o carro encostou em frente a escola. Belamy o travou e encarou sua melhor amiga, sabendo que ela mentia, era impossível se esconder algo de Belamy Martin. O rapaz colocou sua mão sobre a da garota, acariciando-a enquanto dizia com ternura:

    - Você sabe que pode contar sempre comigo, não sabe?

   Luce sorriu e concordou com a cabeça, colocando seus braços femininos em torno do pescoço dele e o abraçando em agradecimento por seu apoio. Ao terminarem sua demonstração de afeto, os melhores amigos abandonaram o veículo, exibindo belos sorrisos em seus lábios. Seguiram de mãos dadas pela escola. Se um deles não fosse gay, provavelmente seriam confundidos com um casal. Quando adentraram no corredor dos armários, perceberam que ali se aglomerava uma multidão de alunos, ainda mais do que o normal, todos focados em apenas um ponto. Enquanto ambos os dois amigos desfivelavam abrindo caminho, rostos nadas amistosos se viravam em suas direções, gargalhando de algo que nenhum dos dois sabia o que era. Mas quando descobriram, perceberam que os adolescentes podiam ser cruéis, desumanos e desprezíveis.

   A sensação de ter todos a sua volta gargalhando de você, apontando-lhe o dedo e palavras horríveis, doía muito. Era  triste pensar que existiam pessoas tão más a ponto de deixar uma pessoa sentindo-se terrível. Luce sentia vergonha, estava sentindo-se humilhada e exposta, daria o mundo para poder abrir um buraco no chão e enfiar-se dentro dele. Suas mãos se apertaram, cravando suas unhas em sua pele. Seu corpo congelou e as vozes ficaram distantes. Podia ouvir a voz de Belamy e Lydia expulsando os curiosos. Como som de fundo, as vozes dos insolentes ecoavam como violência contra sua alto-estima e dignidade. Uma lágrima escorreu diante da pichação escrita em letras vermelhas e cursivas. "Ladra de namorados" dizia com injustiça o vandalismo feito por alguém que lhe odiava, alguém que Luce sabia quem era.

   Com raiva, ela secou a lágrima que escorreu e saiu pisando firme pelo corredor, Betty Denver  iria lhe ouvir em alto e bom som. Seus amigos chamavam por seu nome, apressando os passos para lhe acompanhar. Mas ela não iria parar até que encontrasse a patricinha desprezível, manipuladora e fútil.

   Grupos de adolescentes disparavam palavras ofensivas enquanto ela passava, garotas cochichavam umas com as outras e muitas puxavam seus namorados para mais perto, como se eles estivessem expostos a algum tipo de ameaça. E para elas, estavam, Luce era a ameaça. "Que nojenta" "ela é vulgar" "ladra de namorados" "tem carinha de santa mas eu sempre soube que não prestava" Essas eram algumas das ofensas maldosas que Luce ouvia ao seu respeito, seus olhos encheram-se de lágrimas mas ela não deixou mais nenhuma delas cair. Enfrentando com peito erguido a situação, ignorando todos enquanto andava de cabeça erguida, com Belamy e Lydia ao sem encalço lhe defendendo com dedos do meio, apontando língua e devolvendo a todos insultos.

   - Betty! -  gritou pela loura quando viu a mesma desfilando com suas amigas tão escrotas quanto ela própria. A popular parou e girou em seus calcanhares, o sorriso que trazia em seu rosto era de puro contentamento.

    - Escutem todos! - Luce deixou sua raiva sair com um grito muito exigente, chamando os outros alunos para o ringue de luta que estava prestes a travar com a abelha rainha. - ESSA GAROTA É ABOMINÁVEL E DESPREZÍVEL! EU NÃO SOU SUA PRIMEIRA E NEM SEREI SUA ÚLTIMA VÍTIMA. AGORA TODOS VOCÊS ACHAM ESSA MERDA ENGRAÇADA, MAS ISSO PORQUE AINDA NÃO SÃO O ALVO. QUANTO TEMPO LEVA ATÉ VOCÊ... - apontou seu dedo em direção a uma jovem nerd. E foi o passando por muitos outros rostos que assistiam tudo. Sem seguir nenhum padrão específico. - VOCÊ, OU VOCÊ... SEREM AS PRÓXIMAS VÍTIMAS? NINGUÉM ESTÁ LIVRE DE TROMBAR COM UMA TARÂNTULA COMO BETTY DENVER! E CADA UM QUE SEGUE SEUS PASSOS E ACHAM GRAÇA DE SEUS ATOS HORRENDOS, SÃO TÃO DESPREZÍVEIS QUANTO ELA. PARA MIM, VOCÊS NÃO DEVERIAM NEM SEREM CHAMADOS DE GENTE... - Betty ouviu o discurso da garota com dignidade, sua calmaria permanecia porque ela sabia a verdade... Era ela a rainha da colmeia inteira, Luce era só mais uma abelha que seria jogada no fogo ardente assim que possível.- Toda ação trás uma reação, Bettyzinha... - a sereia cortou a distância que lhes separava, fitou sua rival olho no olho e sua ameaça também saiu em tom mais baixo, estaria satisfeita se pelo menos ela ouvisse. - Uma hora alguém vai lhe cobrar, talvez eu mesma faça isso. E não é novidade para ninguém que sua conta está BEM, BEM alta.

    Somente aquelas palavras não fizeram Luce se sentir aliviada, na verdade ela queria mesmo era dizer muito mais. Quem sabe até mesmo espancar Betty, mas violência não era de seu feitio e deixaria que a vida viria cobrar da garota. Ou como dissera: ela mesma cobraria.

    A sereia a empurrou a abelha rainha para o lado, abrindo espaço para passar. Seguiu em frente de cabeça erguida, os murmúrios haviam se calados, mesmo que em mente, todos aqueles adolescentes continuassem a lhe agredir verbalmente. No entanto, respeitaram sua saída.

    Belamy e Lydia seguiram ao seu lado, percorrendo o que restava do corredor. Até que finalmente atravessaram as portas da escola, saindo para o ar livre. Poucos segundos depois, o sino ecoou, mandando cada indivíduo para sua respectiva sala. Luce não sabia o que era melhor, ir para casa ou simplesmente engolir em seco e adentrar na sala. Sabia que estaria desconfortável, em uma situação constrangedora. Os olhares iriam lhe perseguir ainda mais depois daquele discurso patético que havia dido em cinco insanos segundos de coragem.

   - QUE RAIVA! - ela gritou enquanto jogava seu corpo sobre um dos bancos. Contendo sua frustração para não surtar e arrancar seus próprios cabelos.

   - Quer que eu leve você para casa? - Belamy lhe sugeriu em tom solidário, sentando ao seu lado e envolvendo a mão dela sobre o banco, com seus enormes dedos esguios - Não me importo de faltar hoje.

    Dois rapazes passaram gargalhando, obviamente riam do novo alvo do ensino médio. Entre eles se encontrava James Alves, e quando sua amiga Lydia o viu, ela arregalou um pouco seus olhos, como se um lampejo tivesse passado por eles. Logo em seguida, suas pupilas esverdeadas faiscavam de raiva.

   - James. - ela concluiu em voz baixa, logo em seguida molhou seus lábios.

    - O que? - Luce ouviu, porém não entendeu suas palavras. A outra estava presa em um tipo de concentração bizarro. Seus olhos acompanhavam o garoto se afastar

    - Foi ele... - tornou a dizer, virando-se para encara-la. - E não Betty. Eu ouvi ele dizer para o pai que iria se vingar de ter ficado em detenção por sua causa.

    O sangue de Luce ferveu. Fazia sentindo o que Lydia acusava. A intenção do garoto havia sido lhe humilhar, mas ele não sabia com quem estava se metendo. Ela até poderia parecer calma, mas era um vulcão adormecido. Sua mente estava a todo vapor, ela estava sim, morrendo de vergonha de seus colegas de turma. Mas jamais deixaria James Alves pensar que havia lhe atingido. Com isso compreendido, a sereia andou a passos firmes e disparou para seus dois amigos:

   - Vamos para a aula.

   Os três seguiram em silêncio para dentro da estrutura escolar, tudo estava silencioso e vazio, já que todos os alunos já estavam dentro das salas. O trio estava pelo menos três minutos atrasado, se não mais. Quando a porta se abriu, revelando o rosto mais mal falado do momento, Luce teve de engolir em seco quando todos aqueles olhares predadores caíram sobre ela. O ensino médio era mesmo uma droga. A sereia encarou rosto por rosto com um sangue fervente em suas veias. Sabia que sua face não estava amigável enquanto adentrava pisando firme, mas não se importava, pois aqueles adolescentes lhe trataram como lixo, mereciam tudo de ruim a que eram submetidos pelo "reinado" de Betty Denver. Adentrou confiante, sendo seguida por Lydia e Belamy. Pode ver a expressão surpresa de James e Betty ao lhe encontrarem ali. Eles realmente pensaram que ela iria abaixar a cabeça e sair correndo? Ingênuos.

   Assim que a garota se sentou, James virou seu pescoço para poder encara-la. Os lábios dele sorriam de forma maldosa, pois ele achava que havia ganho aquela guerra. Luce estava a ponto de explodir, ódio borbulhava em seu coração e quando o popular tornou a se virar para frente, ela viu o mesmo abrir uma garrafa de água mineral. Acabou cedendo ao seu lado obscuro, aquele buraco negro que todos nós temos. A menina doce e meiga, também tinha seu lado cruel e maligno. Ela queria que doesse nele como doía nela, que queimasse, assim como a humilhação havia feito com ela. Se concentrou como pode e utilizou de seus poderes para fazê-lo pagar, fez justiça com suas próprias mãos, sem entender que o que fazia, chamava-se vingança.

   Por um comando feito por sua mente e seus olhos em chamas, a água que o rapaz ingeria ferveu. Queimando-o por inteiro. James colocou suas mãos desesperadamente em sua garganta e cuspiu o líquido, se afogando um pouco enquanto soltava gemidos de dor. A essa altura todos já prestavam atenção ao que acontecia, o garoto havia molhado toda sua camiseta e também a classe. Enquanto o via se contorcer de dor, Luce gostou da sensação do poder correndo em suas veias, e não parou, não estava satisfeita. Ele merecia muito mais, por todos os atos cruéis que havia aplicado contra adolescentes que não agiam igual a ele. Adolescente que não sabiam se defender ou pelo menos evitar suas torturas. Espremendo suas mãos, a garota fez a água contida no organismo dele, ferver.  O queimando de dentro para fora e o fazendo se jogar no chão, se debatendo e batendo em suas próprias vestimentas. 

   - Quente... Está quente... - gritava, enquanto sem entender nada, todos os outros soltavam gargalhadas. O popular estava desesperado. A sereia sabia que o estava machucando, talvez até mesmo o estivesse matando. Mas não conseguia parar, era como se seu lado obscuro tivesse tomado as rédeas, e esse, amava o poder. E amava vê-lo passando por uma situação tão constrangedora quanto a sua. Pois todos riam, exceto pelo professor, ninguém parecia levar a sério os gritos agoniados do rapaz.

   - Pare... - uma voz surgiu em sua cabeça, lhe suplicando, lhe era familiar, mas ela não queria ouvi-la. - Já chega, Luce! - a dona da voz entrou em seu campo de visão. - Pare agora.

  Inútil. A menina já não ouvia mais, estava tão concentrada em sua dor e raiva, tão anestesiado pelo doce sabor da vingança, que não pensava claramente. Rebeka havia imediatamente se dado conta de que aquela "sabotagem" com a água e o corpo do rapaz havia partido de uma sereia enfurecida. Quando percebeu que não podia impedir sua amiga com palavras, partiu para ação. Suspirando com força, a segunda sereia também tratou de usar seus dons, no entanto, tentando esfriar o que sua amiga aquecia. Elas ficaram ambas em um duelo, sem que nenhum dos humanos notasse o que acontecia. Tanto uma quanto a outra, espremiam suas palmas. Permaneceram assim, até que uma voz suave invadiu os ouvidos de Luce:

   - Você está bem? - a mão de Luca estava apoiada em seu ombro enquanto ele lhe encarava com preocupação.

   A jovem franziu as sobrancelhas, chocada com o poder que aquele humano tinha sobre ela. Somente sua voz, havia feito-a retomar o seu controle. Meio confusa, se afastou do toque dele, e percebeu que um filete de sangue escorria por seu nariz. O seu amor platônico havia sido o único a notar, e mesmo em meio a toda aquela confusão com James, a preocupação dele estava centrada nela. Eram detalhes importantes para se criar muita expectativa, mas não podia, por sua causa, ela estava na boca da escola inteira. Lutando contra seus sentimentos, a sereia o ignorou, passou as costas de sua mão sobre o sangue e saiu pisando firme.

Rebeka

       Era um sábado e mesmo que não fosse de seu gosto acordar cedo em finais de semana, Rebeka se obrigou a despertar nove horas da manhã. Pois aquele dia, era um dia especial. Antes de descer, tomou um banho revigorante e vestiu roupas casuais. A casa inteira estava em completo silêncio, o que lhe era estranho, pois seus tios costumavam acordar cedo para tomar sol e beber chimarrão.

    Assim que chegou na cozinha, abriu a geladeira cheia de comidas gostosas, mas não foi nenhuma delas que ela retirou do móvel e sim um dos muitos ovos que lá se encontrava. Tinha duas opções de onde encontraria Clark: Sentada em alguma poltrona lendo um bom livro, ou regando as flores no jardim.  Na primeira opção, a jovem não se encontrava, isso obrigou a outra a caminhar para fora da casa, sendo recebida por um sol brilhando lindamente no céu, afastando qualquer ideia de que poderia haver chuva.

   Quando Rebeka foi checar o segundo lugar, encontrou sua prima regando as flores e cantarolando baixinho, como em todas as outras manhãs. A passos cautelosos ela se aproximou da garota e acertou o ovo bem no centro de seus cabelos encaracolados, jogando algumas partes por sobre a lambança para que se espalhasse ainda mais. 

    - Feliz aniversário! - gritou animada. Como o esperado, a aniversariante lhe encarou de cara feia, descontente com seu ato. Em todos os anos Rebeka lhe trolava da mesma forma, ela nunca conseguia evitar.

    - Que nojo! - Clark resmungou de cara fechada, mas no fundo não estava realmente zangada. Só fazia aquilo para manter sua fama de rabugenta e mal humorada.  - Eu já tinha tomado banho.

    - Tome de novo. - sua prima deu de ombros, orgulhosa de seu feito. - Já pensou o que vai fazer? Quem sabe dessa vez queira....

    Já ia sugerindo, mas sabendo do que se tratAva, Clark lhe cortou enquanto lhe dava as costas e seguia para dentro da casa:

   - Sem festa! Você sabe que eu odeio festas de aniversário...

    Rebeka abriu-lhe um sorriso falso e assentiu com sua cabeça. Esperando tempo suficiente para ter certeza de que a garota havia se afastado. Deu uma espiada e quando não a encontrou, retirou o celular de seu bolso e discou um número.

   - Aonde vocês estão? - questionou, assim que sua tia atendeu no quarto toque. 

   - Comprando o presente dela.  - respondeu como se fosse óbvio, de fato, não era tão difícil de se imaginar.

    - Eu preciso lhe pedir algo, tia. - avisou assim que lhe venho a coragem necessária, sabia que Glória poderia fazer um tremendo auê para o que estava prestes a dizer, mas iria arriscar mesmo assim. - Será que eu poderia.. Huum... Dar uma festa para a Clark aqui em casa?

   - Você sabe muito bem que sua prima não gosta de comemorar seus aniversários dessa maneira, Rebeka. - respondeu de imediato, seu tom deixava nítido que ela estava repreendendo sua sobrinha. - Sabe o que aconteceu da última vez...

   - Mas dessa vez seria diferente. - explicou, ouvindo seu próprio tom de súplica. - Eu prometo que tudo iria ocorrer bem. E não seria nada muito extravagante, só quero que ela aproveite o dia dela da melhor forma possível.

   Do outro lado da linha a mulher suspirou, analisando sua proposta. O som de uma segunda conversa sendo travada surgiu, e a jovem supôs que seus tios analisavam os prós e os contras. Em determinado momento, Glória voltou a falar com a sereia:
   
    - Você sabe que ela pode não gostar, não sabe? Está disposta a arriscar?

   - Sim.  - garantiu, mesmo sabendo do trauma de sua prima, que havia tido uma grande decepção em sua última festa de aniversário, aos seus doze anos de idade. Aonde uma boa festa havia lhe sido preparada, tudo incrivelmente perfeito, mas na qual ninguém, NINGUÉM mesmo havia aparecido. Clark nunca fora uma garota de muitos amigos, não esperava que fosse muita gente... Mas não ter ido ninguém, lhe destruiu, ela se sentiu invisível perante o restante das crianças.

   - Tudo bem. Você tem meu consentimento. Eu tiro ela de casa para que possa preparar tudo.

   Assim que a ligação foi encerrada, Rebeka percebeu que estaria ocupada pelo resto da tarde. Não queria fazer algo muito grande, convidaria apenas os mais próximos para comemorar aquela data com Clark, mas queria que fosse perfeito. Então achava melhor começar a resolver tudo o quanto antes. Subiu correndo para seu quarto e pegou uma boa quantia em dinheiro. Apenas o necessário para comprar comida, bebidas e itens decorativos. Com cautela abandonou sua casa, sua prima ainda devia estar tentando eliminar o cheiro de ovos de seus cabelos, mas todo cuidado era pouco.

     Ainda mesmo em sua rua, havia uma confeitaria maravilhosa e era de lá que ela pretendia encomendar o bolo de Clark. Chocolate com morango, o preferido da menina. Estava distraída digitando mensagens para Danna, quando alguém esbarrou com força em seu ombro, fazendo-a cambalear e quase cair, por pouco não tombou ao chão.

    - Ei! Olhe por onde anda.  - resmungou imediatamente, massageando o local aonde havia sido atingida. Quando finalmente ergueu seus olhos para encarar quem quer que fosse, percebeu que não era qualquer cidadão. Era um que ela já conhecia, alguém com quem tinha assuntos pendentes: Eduardo. Nunca imaginou que o veria de novo após ele ter lhe abandonado falando sozinha no salão do evento.

    O garçom vestia roupas esportivas, seus músculos estavam um pouco marcados na regata branca, molhada pelo suor. Havia um fone de ouvido prendido em suas orelhas e ele sequer lhe olhou. Ignorou sua presença completamente, fazendo menção de voltar a correr. A principio, Rebeka não fez nada. Apenas ficou ali parada, embasbacada com tamanha arrogância. Mas não conseguiu evitar segurar o braço de Eduardo antes que o mesmo se afastasse por completo.

   - Espere. - pediu quando o mesmo olhou para trás de cara fechada. Estava agindo por impulso, não conhecia ele, e não costumava deixar que as pessoas lhe tratassem daquela forma. Mas a sereia estava encantada com o rapaz, ele não era somente bonito como os outros garotos, era interessante, tinha presença e não se calava pelo poder dos que tinham mais que ele.  - Eu sei que lhe devemos um pedido de desculpas pelo o que a mamãe fez... Hoje a noite, eu vou dar uma festa surpresa para minha prima. Se quiser aparecer por lá, vai ser bem legal. - como viu que ele não lhe interrompia, tão pouco afastava seu toque, ela prosseguiu: - Moro naquela casa ali. - apontou para seu endereço, ainda sem desviar os olhos dele.

   O rapaz assentiu ainda de cara fechada e a menina deixou sua mão deslizar pelo braço dele, até solta-lo. Eduardo evitava lhe olhar e aquilo de certa forma lhe chateou. Quando ele foi embora, ela sentiu seu coração voltar a bater no ritmo certo, sequer havia se dado conta de que anteriormente, ele batia acelerado. Não fazia ideia do que estava sentindo, e temia ter que descobrir.  A partir dali, seguiu seu caminho. Terminando dentro de algumas horas tudo o que tinha que fazer. Logo estava retornando para sua casa de mãos vazias, pois havia deixado tudo camuflado na casa de Danna.

    Adentrando em sua casa, ouviu gritos de animação vindo de Clark. Quando encontrou a garota na sala, ela abraçava fortemente sua mãe, dando beijos por toda sua face. Sobre a mesa de centro havia coleções de livros, entre eles, estava Fallen. Rebeka riu com a cena, nada deixava sua prima mais feliz do que livros. Já ela, preferia roupas, maquiagens, viagens, baladas... Mas admirava a outra por ser tão instável e comportada.

    - Beca. - a menina se ergueu e foi ao seu encontro. - Aonde você estava? - era evidente que a pergunta viria, já que a mesma estava fora de casa desde de manhã.

   - Eu tive que resolver umas coisas com Danna.  - explicou, se sentando sobre o sofá. Havia gastado muita energia em suas compras.

    - Posso saber por que saiu sem nos avisar?  - perguntou, se sentando ao seu lado e parecendo zangada.

    - Eu não achei que fosse demorar. - se explicou percebendo que a garota estava magoada por ela ter passado a tarde inteira fora de casa, no dia de seu aniversário. Quando Glória surgiu, sua filha estava emburrada, sentada de braços cruzados. Sua sobrinha fingia indiferença para não deixar nenhuma brecha relacionada a festa surpresa.

    - Estão prontas, meninas? - a mulher questionou. Quando Clark confirmou e se ergueu, Rebeka arqueou suas sobrancelhas e questionou aonde iam. - Fiz uma reserva em um restaurante. - explicou Glória, aparentemente esquecendo-se de que a outra tinha coisas para fazer antes da festa iniciar. - Vamos jantar fora. 

    - Eu não posso. - disse de prontidão, tentando ganhar tempo para encontrar uma desculpa aceitável.

   - Por que não? - sua prima bateu seu pé com força no chão, enquanto seus braços tornavam a se cruzar sobre o peito. Quase saia fumaça de seu nariz.  - O que pode ser mais importante do que comemorar o meu aniversário?

   - Um encontro. - respondeu dando de ombros e esperando realmente que aquilo fosse no mínimo tolerável.

    - Um encontro? - Clark repetiu incrédula, contendo uma vontade insana de estapear sua prima. - Vai me trocar por um garoto?

    - É... - Rebeka queria ter algo para dizer, mas já não possuía mais argumentos. Em poucos segundos acabaria estragando tudo e revelando a verdade.

   - Quer saber? Esqueça! Bom encontro para você. - cuspiu nada feliz, completamente indignada.

    A sereia continuou sentada segurando o riso enquanto via a outra abandonar a casa como um furacão, sendo seguida por seus pais. Assim que ouviu o barulho da porta sendo fechada, Rebeka pegou seu celular e mandou uma mensagem para sua melhor amiga: "tudo limpo, pode vir. " Poucos minutos depois, Danna apareceu e juntas elas passaram o restante do tempo organizando tudo. Desde a decoração até ao guardar de alguns móveis e objetos que não podiam ficar expostos e correrem risco de serem quebrados. Liberaram a maior peça da casa e colocaram luzes de festas, fazendo uma pista de dança, aonde também incluía um rádio enorme que estava projetado para tocar os melhores lançamentos.

    Terminado todo o serviço, as duas estavam sentadas esperando pelos convidados que também não tardaram a chegar, pois minutos depois, a campainha ecoou, revelando a chegada dos primeiros. Rebeka se levantou e foi abrir a porta, encontrando quatro corpos parado nela.
Lydia estava linda, acompanhada de sua irmã que possuía a face perfeitamente maquiada. Luce era a terceira garota e para completar, Belamy Martin. Todas elas se cumprimentaram com beijos no rosto,  exceto pelo rapaz, esse passou reto por ela. Caminhando com seus passos elegantes e quadril rebolativo.

    - Não ligue para ele. Está com ciúmes. - Luce murmurou assim que passava pela amiga.

    Belamy se sentou no sofá, e Rebeka não se surpreendeu quando a outra lhe disse que o mesmo tinha ciúmes. Pois sempre que podia o garoto dava boas demonstrações infantis de que era ele o melhor amigo de Luce. A sereia até tolerava, mas não ali, não iria deixa-lo lhe tratar mal dentro de sua própria casa. Sendo assim também caminhou até o sofá e se sentou entre o rapaz e a melhor amiga do mesmo, quer queira, quer não, ele teria que lhe engolir. Belamy no entanto sem se importar em soar mal educado ou inoportuno, tornou a se erguer, e trocou de assento. Voltando a conversar com Meredith e Luce. Lydia também estava sendo ignorada.

    - Qual o problema dele?  - a morena questionou sua amiga, com suas sobrancelhas franzidas.

   - Ciúmes. - Rebeka respondeu, revirando seus olhos.

    A campainha tocou novamente, fazendo com que a dona da casa abandonasse a conversa com sua amiga e fosse atender. Dessa vez, havia apenas um convidado. Ele estava lindo dentro de uma calça preta, uma regata um pouco larga da cor cinza, com um desenho de um ET no centro. Seus cabelos no entanto, continuavam bagunçados e o perfume que usava era atraente e muito viciante. O braço de Eduardo estava escorado no batente da porta, ele sorria.

   - Oi. Entre. - Rebeka também sorriu, mal acreditando que o rapaz havia aceitado o convite, algumas horas atrás ele não parecia muito amigável.

   - Aqui.  - o garçom lhe estendeu um presente com um embrulho vermelho e um top dourado em cima. Sua prima havia ganho aquilo, mas quando o mesmo entrou em sua residência, a sereia desconfiou de que quem havia ganhado o presente real, era ela.

   - A festa é sua ou de Clark?  - Belamy questionou com hostilidade. Encarando o garoto dos pés a cabeça.

    - Os amigos dela já devem estar a caminho.  - a garota respondeu, tentando não soar rude, todos eram convidados. Eduardo analisava a cena em silêncio, ele tinha um ar tranquilo. - Vem. Vamos buscar alguma coisa para você beber. - disse ela, voltando seus olhos para o garçom. Ele seguiu a sereia até a cozinha, aonde havia uma enorme geladeira com as mais variáveis bebidas. Eduardo se encostou no balcão que agia como divisória.

   - O que quer?  Cerveja? Kit? uísque?... - a cabeça dela estava enfiada dentro do móvel enquanto a mesma analisava as opções.

   - Cerveja está bom. - interrompeu sua lista.

    Quando ela foi lhe entregar seu pedido, seus dedos tocaram-se levemente e Rebeka sentiu um calafrio percorrer toda sua espinha. Parecia que ele tocava além de sua pele. O rapaz demorou um pouco para reagir. Imediatamente seus olhos buscaram pelos dela. A garota lhe encarou com a mesma intensidade, nunca fizera seu estilo ser tímida.

    - Eu preciso me desculpar por ter sido rude mais cedo. - a voz  dele saiu, mas seus olhos não desviaram de seu alvo. Ambos ainda tinham suas mãos grudadas sobre a lata. - Me desculpe.

   - Por que agiu daquela forma? - Quis saber, finalmente puxando sua mão e unindo seus braços sobre seu peito. Ele lhe encarou por um tempo, como se estivesse ponderando se devia ou não deixar a resposta sair. Mas depois de alguns segundos, suspirou e cruzou seus braços.

     - Somos de mundos completamente diferentes, Rebeka. Os pais de uma garota como você, geralmente não aceitam que faça amizade com caras como eu. Não quero problemas.

     A primeira reação da menina, foi arquear suas sobrancelhas. Eduardo não lhe conhecia, mas em breve saberia que ela não era o tipo de garota que seguia as regras. Sua segunda reação foi retirar a cerveja da mão dele e virar um bom gole em sua garganta.

   - Quem disse que eu ia pedir a permissão deles? - seus lábios sorriam de forma significativa. O rapaz gargalhou jogando a cabeça para trás.

    - Você é piradinha garota.

    - Você ainda não viu nada. -  ele conseguiu distinguir o tom de alerta em suas palavras. Logo em seguida a campainha tocou e ela pediu licença para receber aos próximos convidados.

    Quando abriu a porta mais uma vez naquela noite, descobriu todos os rostos que faltavam. Cada um que havia sido convidado, estava ali. Somando ao todo, havia umas trinta pessoas, todos eram adolescentes. Rebeka havia convidado poucos, somente os mais amigos de Clark e seus também. Todos ficaram em um momento de resenha, conversando aleatoriamente e bebendo boas bebidas, dando altas gargalhadas entre amigos. Era realmente uma noite agradável. Estavam comentando que a aniversariante estava demorando demais, quando por coincidência, uma mensagem de Gloria apitou no celular de sua sobrinha. "Estamos quase chegando. "

   - Ela está chegando. - Rebeka passou a informação aos outros. - Temos que nos esconder.

 Logo logo o agito começou, era gente para todos os lados. Procurando um móvel ou um canto desocupado aonde pudessem se esconder do campo de visão de Clark. No fim das contas, a casa parecia estar vazia.

    - SURPRESA!  - a recepção foi bem calorosa assim que a porta se abriu. O espanto dominou a expressão da jovem aniversariante, ela levou suas mãos aos lábios, completamente sem fala.

   - Parabéns, priminha! - Rebeka correu e envolveu ela em seus braços, dando-lhe um abraço apertado carregado de animação. Enquanto a mesma continuava paralisada, sem mover um único músculo. A expressão de Clark não era uma das mais agradáveis. Ao se dar conta disso, a animação de sua prima foi murchando, igualmente ao seu sorriso. - Você não gostou? - perguntou baixinho, cabisbaixa.

    - Eu... - sua voz começou tristinha, mas assumiu uma nota alegre assim que ela concluiu a brincadeira: - EU AMEI!  - até mesmo seus olhos sorriam. - muito obrigada. - Rebeka sentiu os braços de sua prima em seu pescoço, o que a fez abraça-la mais uma vez. Alguém limpou a garganta. As meninas se afastaram e encararam Riley, o rapaz continha as duas mãos dentro dos bolsos de sua calça e batia levemente com o pé no chão.

    - Será que eu posso? - ele indicou Clark com sua cabeça, e a mesma corou até se parecer com um pimentão.

    - Claro. - Rebeka concordou e deu dois passos para o lado, abrindo-lhe a vaga nos braços da aniversariante.

    Para os que observavam a cena, foi como assistir a um filme clichê, cujo a nerd se encantava pelo descolado. O corpo de Riley praticamente cobriu a pequena garota, ela deitou a cabeça em seu ombro, tirando proveito para inalar seu perfume. Era impossível negar que havia química entre os dois. De pé atrás do casal, os pais da moça também assistiam. Seu pai possuía a face fechada e emburrada, parecia se contorcer de vontade de separa-los.

   - Acho que vocês não vão querer ficar para a festa, vão? - Rebeka se aproximou de seus tios. Esperando realmente que a resposta fosse um não, pois seria um porre aquela noite se os dois adultos resolvessem permanecer.

    - Não, querida. Já estamos de saída. - Glória teve que fazer certo esforço para desgrudar seu marido do lugar. Arrastando-o pelo caminho que os levava para fora da casa. Sam era um pai bastante controlador e ciumento.

    Algumas horas mais tarde, a música já era emitida, os adolescentes já bebiam e dançavam alegremente, interagindo uns com os outros. De cima da mesa aonde estava, Rebeka viu o corpo de Clark se remexendo ao ritmo da música, as outras garotas lhe acompanhavam enquanto as luzes coloridas desfilavam por seus corpos. Ao seu lado, Danna havia ingerido a mesma quantidade de álcool que ela, se não mais. As duas melhores amigas mexiam seus braços e os quadris. Enquanto no chão, muitos outros adolescentes pulavam e lhes incentivavam a continuar.

    Rebeka dançava e se divertia, mas em determinado momento acabou por torcer seu pé e em meio ao seu estado bêbado, não se manteve equilibrada, caindo da mesa, rumo ao chão. Todos os que estavam em volta, gritaram, pressentindo sua queda, mas alguém foi rápido o suficiente para lhe capturar. Seus amigos suspiraram aliviados ao lhe ver nos braços de Eduardo. A festa voltou ao normal, e a garota abriu os olhos aos quais, involuntariamente, havia fechado. Suas pupilas encontraram as dele, e somente ao olhar para seu rosto, a sereia teve certeza de uma coisa: ela o queria, e o queria de uma forma que nunca quisera nenhum outro. 

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