Jungkook P.O.V.
Me afastei e olhei para ele parecendo bastante à vontade e procurando suas peças de roupa na casa dela. Depois a olhei de volta, incrédulo.
Jungkook: - E então, noona? A calça dele está aqui?
Ela balançou a cabeça, visivelmente irritada com o meu tom, e se desvencilhou de mim me afastando com um empurrão.
Jaejoong: - Não use esse tom com ela. O que está fazendo aqui, Jungkook? Que eu saiba seu grupo está em turnê no Japão.
Jungkook: - E você, sumbae? Por que está aqui?
Jaejoong: - Como assim? - ele colocou a pequena mala em cima do sofá, caminhou até a geladeira e pegou uma cerveja. - Eu moro aqui. Quer uma?
Olhei para Juliet e ergui uma sobrancelha.
Jungkook: - Parece que não sou o único mentiroso aqui, não é mesmo, noona?
Ela me fuzilou com os olhos.
Juliet: - O que está insinuando?
Jungkook: - Jimin hyung tinha razão, latinas são todas iguais. Eu deveria ter te levado para a cama enquanto tive chance, pelo menos não seria um total desperdício de tempo.
Ouvi Jaejoong amassar a lata com a mão, mas antes que ele viesse em minha direção, Juliet me esbofeteou com força fazendo a lateral do meu rosto queimar.
Juliet: - Suma! Pegue suas porcarias e suma da minha casa!
Ela sumiu no corredor e voltou com minhas roupas emboladas nas mãos, jogando-as em cima de mim.
Juliet: - Você foi o pior dos meus erros, Jeon Jungkook!
Fui andando em direção à porta, com a raiva se misturando a dor e ao ódio.
Jungkook: - Vocês dois se merecem! - cuspi as palavras. - São ótimos atores!
Juliet P.O.V.
Coloquei as mãos na cabeça e escorreguei pela parede até me sentar no chão. Senti Jaejoong oppa se aproximar e acocorar à minha frente.
Jaejoong: - Você está bem, Juliet?
Ergui os olhos para ele, muito magoada com sua atitude.
Juliet: - Sério, oppa?! "Eu moro aqui"?!
Jaejoong: - Mas eu moro aqui. - respondeu com um sorriso condescendente.
Bufei irritada.
Juliet: - Você sabe muito bem o que ele entendeu com a sua fala, e você não fez o mínimo esforço para desfazer o mal entendido.
Jaejoong: - Não, não fiz. Tem ideia de como eu me senti ao ver o Jungkook praticamente nu sozinho com você? - o tom dele subiu ligeiramente, e isso quase nunca acontecia. - Na verdade, foi muito satisfatório deixá-lo sair daqui com aquela crista de galinho de briga baixa, achando que te perdeu para mim. E olha, Deus queira que ele te perca pra mim, Juliet!
Juliet: - Oppa!!!
Eu estava atônita diante do que ouvia.
Jaejoong: - Fala sério, Juliet! Acha que não percebo que passa as suas noites chorando? Acha que não escuto você zanzando pelo apartamento como um zumbi? Isso dói! - ele bateu com o punho na bancada, me fazendo dar um pulo. - Dói ver você indo para o trabalho comigo todos os dias de manhã, tentando esconder essas nuvens escuras, por baixo desses lindos olhos azuis, com um pouco de maquiagem e um sorriso falso. - ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. - Você não enxerga a mulher maravilhosa que é por causa dele. Há tantos lugares que eu gostaria que conhecesse. Por que não posso ser eu, Juliet?
Abaixei os olhos.
Juliet: - Eu... eu não sei. Desculpe, oppa. Essa é uma resposta que eu não tenho.
Jaejoong beijou minha testa.
Jaejoong: - E eu não tenho direito de te exigir uma.Vem! - ele me ergueu nos braços e eu me segurei em seu pescoço com o susto.
Juliet: - O que está fazendo?!
Jaejoong: - Colocando a senhorita na cama.
Juliet: - Eu sei andar! - protestei.
Ele me ignorou, me levou até a suíte e me colocou na minha cama. Depois, se sentou do outro lado, recostou-se na cabeceira e esticou as longas pernas em cima da cama, cruzando-as nos calcanhares.
Ergui uma sobrancelha o encarando. Ele sorriu e ligou a TV que ficava embutida na parede. De repente um casal bem conhecido surgiu na tela. Arregalei os olhos reconhecendo-nos no tapete vermelho. Logo, cobri o rosto envergonhada.
Juliet: - Ai, meu Deus!
Jaejoong: - O bom é que sempre passa reprise dos melhores momentos. Eu queria muito que você visse como estava linda.
Aos poucos escorreguei as mãos para longe dos olhos e observei a tela.
Juliet: - Eu não estava preparada. Deveria ter perdido mais peso! - protestei.
Jaejoong: - Está brincando?! Olha só essas curvas dentro daquele vestido! - Ele pausou a cena e correu os olhos escaneando o meu visual na tela. - Perfeita. - Repetiu sem piscar.
Juliet: - É... uma perfeita vergonha.
Ele revirou os olhos.
Jaejoong: - Olhe bem para a minha cara de bobo no vídeo. Pareço envergonhado pra você?
Olhei dele para a tela. O lindo homem numa exuberante casaca sorria ao meu lado parecendo orgulhoso.
Juliet: - Mas...
Ele se virou na cama e me olhou feio.
Jaejoong: - Juliet, mulheres retas e com quarenta quilos aqui temos aos montes. É um maldito padrão que as empresas de entretenimento obrigam as coitadas a manter. Eu poderia ter levado qualquer uma delas comigo, mas levei você. Sabe por quê?
Balancei a cabeça em negativa.
Jaejoong: - Porque essas curvas me encantam. Você não é só bonita em um padrãozinho, como uma boneca midiática. Você é exuberante, original, autêntica e com todo o respeito... - ele segurou minha mão e beijou o topo. - Você é muito tentadora.
Meu rosto esquentou muito e eu interrompi o contato de nossas mãos, envergonhada. Ele sorriu soprado.
Jaejoong: - Além de tudo é fofa! Meu coração não aguenta... - ele pôs a mão no peito de forma teatral, me fazendo rir. Dei-lhe uma cotovelada e ele tossiu fingindo doer. - Agora doem meu coração e meu braço. - choramingou esfregando o local onde o atingi.
Eu gargalhei.
Juliet: - Você é mesmo um ator e tanto!
Jaejoong oppa fez uma reverência solene.
Jaejoong: - O melhor, minha cara. O melhor!
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Depois que Jaejoong desceu, eu tomei um banho e fui direto para a cama. Estava exausta. Psicologicamente falando, a visita de Jeon fora intensa nas duas polaridades, tanto negativa quanto positiva.
A verdade é que mesmo em meio a um turbilhão de emoções, tocá-lo e tê-lo me tocando ainda era a melhor das sensações. Ele não me causava medo, pelo contrário, eu ansiava o beijo, o cheiro, a pele. Era tudo perfeito, mas, ao mesmo tempo, eu estava tão confusa com a situação. Aquele estica e puxa estava acabando comigo. Me sentia uma corda prestes a se romper.
Apertei os olhos sentindo eles arderem. Palavras doces, palavras ríspidas, um beijo, um tapa... Que bagunça! Como nós havíamos nos transformado naquilo? Naquele completo caos?
Infelizmente, aquela tempestade não foi o pior da minha noite. Um pesadelo horrível me fez lembrar daquele homem. O que me perseguia. O meu inferno na Terra. Acordei suada e chorando, vendo-o pelos cantos do quarto me espreitando.
Fui para o banheiro e me enfiei no chuveiro. Eu queria que a água lavasse a sensação, o pavor. Eu queria que as lágrimas descessem pelo ralo levando consigo meus anos de desespero e medo. Mas, o que eu mais queria, era o abraço do Jeon. Eu simplesmente queria me esconder nos braços dele e ouvir sua voz cantando baixinho enquanto ele acariciava meus cabelos.
Desliguei o chuveiro e me sentei no chão do box, tremendo, mas não de frio. A sensação de nojo e desespero não me abandonavam. Fiquei ali até que meus dedos estivessem roxos, que meu corpo estivesse gelado. Minha mente pareceu vaguear. Eu estava exausta.
Ouvi muito ao longe o apartamento destrancando e passos pelo lugar. Uma voz me chamou, mas eu não conseguia abrir os olhos. Quem era? Não sei. Não era ele. Quem era? Não sei. Não quero saber. Quem era? Não sei. Cansada demais para acordar. Não quero acordar...
Mas eu não quero dormir. Se eu dormir e sonhar aquilo de novo? E se eu dormir e quando acordar de novo o meu agressor estiver ali. Forcei meus olhos a abrirem. Estava doendo para abri-los.
Jaejoong P.O.V
Depois de deixar a Juliet sozinha para descansar, eu fiquei remoendo tudo que tinha dito a ela. Ainda estava com raiva do estado pelo qual encontrei Jungkook em seu apartamento. Enfiado em seu roupão, claramente saído de um banho. Eu não consegui me segurar. mil coisas passavam na minha cabeça. Eu estava me roendo de ciúmes.
Cenas dos dois ficavam passando na minha mente fértil. E eu era até um cara bastante controlado, seguro, mas com ela, minha autoconfiança estava indo pelo ralo. Parte porque eu sabia o poder do sentimento dela pelo Jungkook, e por outro lado, porque eu me sentia impotente frente ao seu trauma. Eu estava travado entre tentar demonstrar o quanto eu poderia fazê-la feliz, e o medo de fazê-la se afastar assustada.
Olhei no relógio do criado mudo. Os números esverdeados brilhantes piscavam de forma monótona, marcando três e meia da madrugada. Tarde demais para qualquer coisa, cedo demais para qualquer coisa. Eu estava morto do dia de gravações e lá fora estava tudo branco de neve, mas mesmo assim eu teria que voltar na manhã seguinte, naquele frio congelante para terminar as cenas quando limpassem o set. Eu não estava nem um pouco animado para aquilo. Meu humor estava péssimo imaginando até onde ela e o garoto teriam chegado, embora eu soubesse, pelo que o desgraçado disse, que eles não tinham ido até o fim.
Suspirei frustrado e arremessei o travesseiro contra a porta do closet. Levantei e tirei o pijama. Vesti uma roupa de treino e peguei as luvas de boxe. Eu precisava desestressar.
Estava me encaminhando para a academia, na sala envidraçada que ficava do outro lado do corredor em frente a sala de estar, quando ouvi o barulho do chuveiro no apartamento de cima. Ela estava tendo outra crise.
Apertei os dedos em volta da luva de boxe. Se tinha alguém que eu queria arrebentar mais do que o Jungkook, era o maldito cara que fez mal a ela, mesmo que eu não soubesse da história a fundo.
A água ficou ligada por muito e muito tempo e depois parou. E, eu fiquei ali, naquele mesmo lugar do corredor, prestando atenção se ouvia os passos dela de volta para a cama. Mas nada... Muito tempo e nada. Comecei a entrar em pânico, imaginando se ela poderia ter coragem de tentar algo contra si mesma. Aquilo me atormentou e eu larguei as luvas no meio do corredor e sai correndo.
Chamei o elevador, mas a desgraça estava demorando demais, então, quando dei por mim, subia o lance íngreme de escadas correndo. Toquei muitas vezes a campainha. Gritei seu nome do lado de fora, e nada.
Digitei a senha na tranca. A essas alturas eu já estava rezando. Chamei-a pela sala, e fui andando apreensivo em direção ao quarto, ainda chamando por ela. Nenhuma resposta. O apartamento estava gelado. Aquele maldito termostato deve ter quebrado outra vez.
Jaejoong: - Juliet, ai meu Deus!
Quando eu vi a porta do banheiro da suíte aberta, pensei logo o pior. Entrei com tudo e sem me preocupar se a assustaria. Na verdade, eu estava com medo de não encontrá-la mais com vida. Juliet estava no box, deitada no chão. Seus lábios estavam muito roxos, o banheiro só faltava nevar dentro de tão gelado.
Peguei o roupão e a envolvi pegando-a no colo. Ela não conseguia manter os olhos abertos. Meus próprios olhos começaram a lacrimejar com medo de perdê-la.
Jaejoong: - Aguente firme, não durma! Vou levá-la ao hospital... - Corri com ela nos braços, desesperado, engolindo o choro. Eu estava apavorado.
Juliet: - Não deixe ele me pegar... - ela sussurrou. Uma lágrima quente escorreu pelo canto dos seus olhos e ela os fechou.
Jaejoong: - Não faça isso comigo, Juliet!