Meu Querido Juíz! (DEGUSTAÇÃO)

By EsterLivros

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Perder alguém que você ama é com certeza a pior que você pode sentir e o juíz Eduardo entende muito bem o que... More

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...

1° CAPÍTULO!

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By EsterLivros

Angeline!

Angeline!

O dia ainda não clareou, toda a comunidade ainda está em silêncio
e eu acho que nem os galos já estão acordados a essa hora, mas eu já estou de pé porque geralmente o meu dia já começa bem cedinho, antes mesmo do galo cantar.

Eu nasci e fui criada no morro do Cantagalo, a minha vida inteira eu
vivi aqui e metade das coisas que eu sei eu aprendi aqui mesmo, entre os becos e as vielas. Há Sempre quem diga que o Cantagalo é um lugar ruim para se viver, mas hoje em dia eu não tenho essa visão. O Cantagalo é um lugar lindo, cheio de pessoas boas e crianças talentosas, o que é ruim no morro é toda essa criminalidade que está cada dia mais ceifando vidas de pessoas que tinham um potencial do tamanho do mundo... Eu não vou ser hipócrita em dizer que eu não penso em sair da favela, porque eu penso sim em levar os meus pais para um lugar melhor, mas eu nunca serei capaz de esquecer da vida que eu vivi aqui e de todos os momentos de alegria que essa comunidade já me proporcionou!

Eu estava sentada na minha cama
já trocada de roupa penteando meus cabelos quando um som de batidas na porta do meu quarto chamou a minha atenção me fazendo levantar a cabeça rapidamente.

- Pode entrar!- eu respondi com a minha voz totalmente embargada,
eu acordei há meia hora atrás e eu ainda estou praticamente dormindo em pé.

Eu estudo no turno da manhã e como
a minha faculdade e bem longe daqui eu tenho que acordar cedinho pra não correr o risco de eu me atrasar para a primeira aula. Geralmente eu levanto da cama às cinco da manhã pra eu me arrumar e no fim da história eu ainda saio atrasada de casa todo santo dia.

A porta do meu quarto foi aberta enquanto eu ainda pensava e minha madrasta, a Dona Elisa entrou no meu quarto com um sorriso fraco olhando para mim com aquela feição de sono estampada em seu rosto.

- Bom dia Angeline! Eu pensei que você não tinha conseguido acordar e fiquei com medo de você se atrasar.- ela me explicou enquanto me olhava com carinho em seus olhos.

A Dona Elisa se casou com o meu
pai quando eu tinha apenas oito anos de idade, para mim ela iria ser como as madrastas maldosas que eu via nos filmes da Disney, mas felizmente ela veio melhor que encomenda. A Dona Elisa é como uma mãe pra mim e ela faz questão de me tratar como filha, foi ela que me criou, me educou e me deu todo amor do mundo e eu a amo como se eu realmente tivesse nascido da sua barriga, porque eu realmente sinto como se ela fosse a minha mãe.

- Eu bem que queria ficar na cama, mas hoje eu não posso nem pensar em me atrasar porque eu tenho prova já no primeiro tempo.- eu falei com ela enquanto me levantava da cama.

- Ahh sim, é bom você chegar no horário certinho pra você não ter nenhum estresse! Eu já vou adiantar um cafezinho bem gostoso para você pra você ir bem nessa prova.- A Elisa falou e saiu da porta do meu quarto sem me dar chance de falar algo.

Ela é sempre assim, ansiosa e BEM apressada... O meu pai sempre diz que é mais fácil fazer um cachorro falar do que a minha madrasta parar por um segundo se quer!

Eu resolvi deixa-la pra lá já que eu tenho certeza que ela não vai me dar bola agora e eu fui terminar de me arrumar porque se eu ficar mais um segundo aqui eu tenho certeza que eu vou me atrasar pra dedeu!

Eu terminei de arrumar os meus cabelos, fiz uma maquiagem "leve" e me vesti com uma roupa um pouco social já que eu tenho uma entrevista de emprego após a faculdade.

Quando eu saí do meu quarto já
eram mais de cinco e cinquenta da manhã e eu já estava começando a ficar atrasada... Quando eu digo que eu sou uma pessoa atrasada eu não estou brincando, não mesmo!

- Senta e come alguma coisa!- Elisa falou enquanto mexia em algo alí no fogão.

- Não dá, eu já estou atrasada e eu também estou de dieta...- eu digo em um tom triste enquanto eu pego uma xícara de café.

O meu peso sempre foi um grande problema pra mim já que todas as minhas amigas, familiares e colegas vestem no máximo trinta e oito... Eu sempre fui a amiga gorda e feia que era sempre deixada de lado, ouvia as críticas e sofria bullying e isso já me trouxe tantos complexos para minha vida adulta, até hoje eu me sinto tão insegura em questão ao meu corpo
e as vezes me machuca muito olhar no espelho. Os meus pais me dizem que eu sou linda e blá blá blá, mas ao me olhar no espelho eu não vejo isso e por esse motivo eu estou sempre em busca de um nível de beleza que eu nunca consigo alcançar!

- Você já vai começar com essa besteira de novo, Angeline? Você é bonita do jeito que você é menina!- ela exclamou enquanto me encarava com as suas mãos na cintura.

- Eu seu Lili, eu sei...- eu falei me sentindo muito envergonhada.

A Elisa deixou seus utensílios de
lado e veio até mim pagando bem
de frente pra mim, ela me olhou nos olhos e levantou o meu queixo com os seus dedos.

- Você não precisa de dieta alguma para ser linda Angeline e se alguém diz que você precisa disso para ser bonita você precisa urgentemente tirar essa pessoa da sua vida! Você é
a menina mais linda que eu já vi em toda a minha vida e eu estou falando de beleza exterior e interior.- ela diz com os seu olhar sobre o meu.

Um sorriso fraco se formou em meu rosto involuntariamente e eu balancei a cabeça sem acreditar na sorte que eu tenho de ter a Elisa em minha vida, essa mulher é um presente!

- Obrigada Elisa, eu me sinto mais aliviada em ouvir isso!- eu falei sendo totalmente sincera.

Dona Elisa sorriu para mim e ela
me surpreendeu com um abraço me fazendo sorrir mais ainda.

- Você é muito especial Angeline,
quem tem essa pessoa como você ao lado tem que valorizar muito.- ela diz.

Eu fechei os olhos me aconchegando
em seus braços e as suas palavras me afetaram, talvez eu realmente esteja fazendo tudo isso em vão porque eu tenho que fazer o que me faz feliz e não o que as pessoas querem e eu sou tão feliz comendo, mas tão feliz!

Eu saí dos braços da Elisa com um sorriso largo em meu rosto e eu logo
a encarei me sentindo tão grata de ter cruzado com ela essa manhã.

- Obrigada pelas palavras Elisa, eu prometo que vou segui-las! Agora é melhor eu ir porque eu já estou um pouquinho atrasada.- eu falei rápido lhe dando um abraço, só que dessa vez bem mais rápido.

Eu me desviei dela pegando o misto quente que estava sobre a mesa, eu deixei um beijo rápido em seu rosto e eu já fui saindo de casa enquanto eu comia.

- Deus te acompanhe, menina!- eu pude ouvi-la dizer.

- AMÉM!- eu gritei enquanto fechava
o portão de casa.

Eu desci o morro correndo, com o meu misto nas mãos, enquanto eu comia e fazia um malabarismo com
a minha bolsa que está abarrotada de tantos livros, dá pra imaginar? Essa é a vida de uma universitária!

Quando eu cheguei no ponto de ônibus a condução havia acabado de chegar e eu tive a sorte de não perde-la e ainda por cima ir sentadinha.

O trajeto até o meu ponto durou em volta de meia hora e quando eu desci no meu ponto eu tive que andar por mais quinze minutos... No minuto que eu entrei na faculdade eu não estava nem respirando de tão cansada!

Eu subi as escadas correndo e toda
afobada e quando eu entrei na minha sala eu roubei a atenção de todos para mim. Ótimo, eu odeio ser o centro das atenções!

- Atrasada mais uma vez senhorita Santos, da próxima vez e melhor não vir porque desse jeito você atrapalha a minha aula, querida!- Daniela, uma das professoras disse assim que ela me viu enquanto me olhava com uma certa ironia.

- Mas a aula ainda nem começou, a senhora ainda está sentada.- eu falei confusa.

A Daniela desviou o olhar dos papéis que estavam em suas mãos, ela olhou para mim e ela sorriu sutilmente.

- A aula começa no instante que eu entro nessa sala, querida e você já deveria saber disso. Não é a primeira vez que você se atrasa e isso é uma falta de respeito com os alunos que pagam caro pra estudar já que você é bolsista... É exatamente por isso que eu sou totalmente contra cotas já que metade desse povo não sabe valorizar nada que venha de graça!- A Daniella falou com desdém.

A Daniela é com toda a certeza do mundo a pessoa mais ríspida que eu já conheci em toda a minha vida, ela parece ser do tipo de pessoa que ama humilhar quem vive ao seu redor só por prazer e eu não consigo entender como ela consegue ser assim. Pra mim ela é assim por conta da sua idade já que ela é pouca coisa mais velha do que os alunos e eu sinto que por isso ela se sente melhor que todo mundo!

Eu já cheguei a bater boca com a Daniela muitas vezes por conta da
sua grosseria, mas hoje em dia eu já não olho nem em sua cara, imagina responde-la.

Eu decidi não perder o meu tempo com ela, fui direto para o meu lugar que fixo e me sentei ao lado de uma das meus amigos, o Leonardo.

- Bom dia!- eu o comprimentei tentando não ser mal educada ou
rude.

Eu sou do tipo de pessoa que odeia
que as pessoas descontem todas as suas frustrações, mágoas ou raivas
em mim, então eu tento ao máximo não ser esse tipo de pessoa.

- Bom dia? Como é que alguém consegue ter um bom dia com uma jararaca dessas como professora!- O Léo exclamou quase espumando com os seus olhos sobre a Daniela.

Eu até estava com raiva, mas assim que o Léo abriu a boca um sorriso se formou involuntariamente em meus lábios... O Leonardo é uma das únicas pessoas que eu tenho contato aqui na classe porque eu sei que o todo o resto da turma não gosta de mim pelo fato de eu ser ter ganhado uma bolsa e por estar aqui por cota racial, pra eles eu sou apenas mais uma neguinha burra que só entrou na faculdade por uma esmola do Estado.

- Deixa esse assunto pra lá, é melhor
a gente focar nessa prova porque essa nota é crucial para esse semestre.- eu falei já mudando de assunto.

Eu sou mulher, sou negra, gorda e periférica, então eu já sofri todo o tipo de preconceito nessa vida e hoje em dia eu sei quem me olha com maldade no primeiro momento, mas eu já não deixo isso me afetar porque eu sei que ódio só faz mal a mim, então eu deixo a minha cabeça erguida porque eu sei que não há nada de errado comigo, já com eles eu não tenho certeza!

Apesar do momento constrangedor
o horário passou bem rápido e todos os outros horários também e quando eu me dei por mim a aula já estava no fim.

- Você já começou aquele trabalho
de psicopatologia?- O Léo perguntou enquanto a gente andava no corredor em direção a saída da faculdade.

- Aham, falta apenas eu corrigir alguns erros de português... Eu tive que aproveitar esses dias eu estava em casa pra dar uma adiantada nas matérias e nos trabalhos porque eu tenho muita fé que eu vou conseguir esse novo trabalho e aí eu mal vou ter tempo de estudar.- eu contei para ele.

O Léo me olhou de lado com uma feição engraçada em seu rosto e no segundo segundo ele começou a rir me deixando confusa.

- Qual é a graça?- eu perguntei já rindo mesmo sem saber do que ele estava rindo.

O Léo é aquele tipo de pessoa tão engraçada que eu começo a rir antes mesmo dele terminar de contar uma piada.

- Não é nada, eu só acho engraçado essa vocação para cuidar das crianças dos outros... Eu sou aquele tipinho de pessoa que pega as crianças no colo por cinco minutos e depois já devolve logo pra mãe.- ele disse me fazendo rir.

É engraçado ouvir o Léo falando assim, mas eu realmente tenho uma vocação com crianças e bebês já que eu trabalho de babá desde os meus quatorze anos de idade, eu comecei com nesse ramo na favela mesmo, eu olhava os filhos de algumas vizinhas que precisam trabalhar e aos poucos eu fui gostando e aperfeiçoando meu modo de trabalhar, eu tenho até um curso e hoje em dia eu já trabalho em casas de pessoas bem ricas, a última família que eu trabalhei morava em um castelo e o povo limpava a bunda com dinheiro de tanto dinheiro que eles tinham, infelizmente meu patrão recebeu uma proposta de trabalhar na Europa, a família se mudou e eu fiquei desempregada, desde então eu estou a procura de um emprego e essa semana eu recebi uma ligação de uma agência me recomendando para uma entrevista e eu tenho muita fé que eu vou conseguir, muita fé mesmo!

- Ahhh, eu gosto muito de crianças,
eu acho o trabalho leve e o serviço é muito bem pago.- eu o respondi.

- Me tira uma dúvida, você já teve
um patrão bem gato? Tipo o Thor ou
o Cristian Grey.- O Léo me perguntou e eu só conseguir rir.

Eu realmente não sei qual é o tipo
de filme que o Leonardo anda lendo, mas na vida real geralmente as coisas são bem diferentes dos filmes ou dos musicais da Broadway... Aqui na vida real grande parte dos patrões são bem velhos, ranzinzas e antipsicóticos.

Eu respondi o Léo sendo sincera e
eu acho que aquele assunto aguçou
sua imaginação porque ele me veio com mil e uma perguntaz e eu tive que responder todas.

- Na maioria dos casos os patrões
mal tem contato com as babás, eles
só pag...- eu comecei a explicar para ele, mas enquanto eu o exclicava um certo alguém me chamou a atenção.

Marcos, o meu noivo, está parado do outro lado da rua encostado em seu carro, ele tem um sorriso largo em seu rosto e os seus olhos estão sobre mim.

- A gente vai ter que deixar essa conversa pra outro dia meu amigo.
Eu preciso ir agora, a gente se vê na segunda, certo?

O Léo acompanhou o meu olhar e assim que ele viu meu noivo ele me entendeu.

- Okay, está certo... A gente se vê na segunda!- ele disse por fim, me deu um abraço se despedindo de mim e
eu já fui atravessando a rua e indo ao encontro do Marcos.

Eu me aproximei dele envolvendo
as minhas mãos em seu corpo e lhe dando um abraço bem apertado... O Marcos trabalha como caminhoneiro
e ele vive viajando, então a gente fica semanas sem se ver e quando ele está na cidade é bom porque a gente pode passar um tempinho juntos, o que é muito raro hoje em dia.

- Por que você não me avisou que já estava de volta? Eu senti a sua falta!- eu falei enquanto saia do seu abraço.

- Eu conseguir fazer a última entrega antes do previsto, então eu decidi te fazer uma surpresinha.- ele me falou enquanto sorria de orelha a orelha.

Eu envolvi as minhas mãos em volta da sua cintura deixando um beijinho bem rápido em seus lábios e eu sorri.

- Eu gostei da surpresa! Dessa vez você vai ficar um tempinho, não é?- eu perguntei enquanto o encarava com atenção.

O Marcos desviou o seu olhar dos meus imediatamente, ele se afastou de mim, um sorriso murcho se fez em seus lábios e ele coçou a cabeça como sempre faz quando está nervoso.

- Quando você vai embora?- eu o questionei já sabendo que ele não vai ficar por muito tempo.

- Eu bem que queria ficar aqui com você minha princesa, mas eu recebi uma proposta ótima de uma carga para o Paraná que vai render um bom dinheiro e como nós vamos se casar em breve eu decidi aceitar para ter uma grana guardada... Eu tenho que
ir amanhã bem cedo, mas eu volto no fim da outra semana.- ele me contou.

No instante que o Marcos fechou
sua boca concluindo a frase eu dei
um passo para trás me afastando dele já me sentindo uma idiota... Toda vez é a mesma coisa, o Marcos "some" por semanas e depois ele aparece como se tudo estivesse normal, eu sei que esse é o seu trabalho e eu também sei que eu não deveria reclamar, mas eu já estou ficando farta disso!

- Você acabou de chegar e já está
indo embora? Nós últimos meses
a gente não tem passado dois dias
se quer juntos e ainda por cima você mal atende as minhas ligações. Como é que a gente vai se casar se a gente mal fica juntos?- eu o questionei em um tom nervoso.

Eu posso estar sendo grossa ou até incompreensível, mas isso não é algo normal. Como é que alguém segue um relacionamento sem ao menos estar com o parceiro? Isso é impossível!

- Eu sei meu amor e você está certa.
Eu te prometo que essa será uma das minhas últimas viagens e quando a gente se casar eu vou parar com essa vida... Eu te prometo!- O Marcos disse me fitando com seriedade.

Eu me mantive parada no mesmo local que eu estava, eu mantive a mesma feição de raiva no meu rosto
e eu não fiz questão de disfarçar ou
de fingir que acredito no seu papo,
da última vez ele me disse tudo isso
e ainda assim ele ficou sumido por semanas sem ao menos me dar uma explicação.

Ele deu um passo a frente ficando mais próximo de mim, as suas mãos desceram para a minha cintura e ele deixou um beijo em meu pescoço.

- Para com isso minha boneca, você sabe muito bem que eu te amo mais que tudo nesse mundo morena! Agora para com isso é dá um chamego aqui no seu pretinho... O que você acha da gente ir pro motel que tem aqui perto e matar a saudade?- O Marcos teve a cara de pau de me perguntar me deixando mais nervosa do que eu já estava antes.

Como é que é? Esse cara de pau some por dias, não me dá uma explicação e agora aparece querendo me levar pra um motel? Só pode ser brincadeira!

- Você deve achar que eu sou uma completa idiota, não é Marcos? Você some por semanas, não me liga uma vez se quer e agora aparece como se tudo estivesse normal e age como se eu não tivesse sentimentos... Eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não sou a garota idiota e inocente que você conheceu há dois anos atrás, eu não vou mais me submeter a fazer todas as suas vontades só pra te ter ao meu lado!- eu acabei falando tudo que estava entalado na minha garganta.

Quando eu conheci o Marcos eu confesso que eu era aquele tipo de pessoa que é totalmente dependente
e que não consegue sobreviver sem o companheiro, mas com o passar dos anos eu fui amadurecendo e eu vi que nenhum relacionamento merece meu desgaste emocional, hoje em dia eu já aprendi que amor nenhum no mundo pode ser maior que o amor próprio e eu estou aprendendo mais a cada dia que passa.

- Não começa com essas idiotices neguinha. Porra! Você sabe que eu
sou homem, você deveria pensar em mim e nas minhas necessidades.- ele falou me deixando incrédula.

O mundo parou para mim ao ouvir aquilo, tudo ficou em câmera lenta e eu pensei em mil coisas para dizer pra ele, mas eu escolhi uma única palavra que é tira e queda!

- Quer saber de uma coisa? Vai se foder!- eu tirei aquelas palavras do mundo do meu coração e as "joguei" sobre ele.

Assim que eu fechei a minha boca
eu dei as costas para ele e saí da sua presença sem dizer mais nada, eu já estou farta de ser tratada exatamente igual a uma prostituta pelo Marcos, se ele quiser transar com alguém agora ele terá que pagar, porque pode ter a certeza que no meu corpo ele não toca nunca mais!

Eu atravessei a rua sem olhar para trás, mas enquanto eu caminhava eu pode ouvi-lo gritando por mim, mas eu decidi deixá-lo para trás de uma vez por todas... Agora eu acho que o meu pai está certo, o Marcos não quer nada sério comigo, ele só me usa para diversão porque ele tem vergonha de assumir uma gorda como namorada, mas está tudo bem pra mim porque a partir de agora ele não me terá nem de um jeito é nem de outro.

Já faz mais de um ano que o Marcos está me enrolando, ele sempre diz que a gente vai se casar, que a gente vai construir uma família e ser felizes juntos, mas em dois anos de namoro eu não conheci os seus amigos, os seus pais e em todo esse tempo eu fui até a sua casa apenas uma vez. Eu me fiz de cega por muito tempo, mas agora já é hora de vê que esse relacionamento não tem futuro nenhum e eu não vou ficar perdendo o meu tempo com algo que não vai dar frutos.

Durante o trajeto até a mansão dos Álvares o Marcos não saiu da minha cabeça, eu até tentei parar de pensar nele, mas quando isso acontecia meu celular começava apitar e quando eu olhava para a tela eu via o seu nome, eu tenho certeza que ele não vai me deixar em paz até eu atender as suas ligações, mas se depender de mim as suas mãos vão cair de tanto digitar e eu não vou atende-lo, não dessa vez!

Quando o ônibus parou em frente
ao condomínio Eldorado eu enfiei o meu celular no fundo da bolsa, ergui
a minha cabeça e decidi focar no meu futuro e deixar o meu passado de lado por alguns momentos.

- Bom dia, eu posso te ajudar?- O porteiro me questionou assim que eu parei na guarita do condomínio.

- Sim, eu vim para uma entrevista
na casa dos Álvares... Eu já falei com
a dona Flávia.- eu o respondi.

O homem negro, alto, de cabelos grisalhos e bigode desviou o seu olhar de mim pegando o seu telefone.

- Alô? Dona Flávia, tem uma moça aqui na guarita dizendo que tem uma entrevista aí na mansão... Qual é o seu nome mocinha?- ele me questionou me fitando novamente.

- Angeline!- eu o respondi lhe dando um sorriso largo.

Ele desviou o seu olhar de mim mais uma vez e voltou a falar no celular me deixando de lado.

- Isso, o nome dela é Angélica! Pode deixa-la entrar? Okay, muito obrigado e boa tarde!- ele falou e logo depois deslizou a ligação.

Eu não consegui segurar a risada
ao ouvi-lo errando o meu nome, isso
já é algo comum pra mim. As pessoas me chama de Angélica, Ângela e mil outros nomes, é hilário!

O meu pai escolheu esse nome para mim e antes eu confesso que eu tinha asco desse nome, mas hoje em dia eu amo e acho tão diferente.

- Pode entrar, Angélica... A Flávia já está te esperando.- ele falou abrindo o portão e eu logo entrei pelo mesmo.

Eu me despedi do porteiro que eu acabei descobrindo que se chama Leandro e em seguida eu fui direto para a mansão dos Álvares, eu devo ter andando por volta de uns quinze minutos ou mais... Eu não fazia ideia que esse condomínio era tão grande e que essa mansão dos Álvares era uma verdadeira fortaleza, esse povo deve ter no mínimo cinco filhos pra ter uma casa desse tamanho.

Quando eu cheguei na porta da casa uma senhora branca, de cabelos loiros e sorriso meigo já esperava por mim e ela me recebeu calorosamente, essa é a senhora Flávia, ela é a governanta da casa e pelo que ela me disse é ela quem "governa" tudo nessa casa e da as ordens.

- Nossa, essa casa é linda! Quantos cômodos são?- eu a questionei assim que a gente entrou na sala de estar.

A Flávia olhou em volta e logo em seguida ela se virou para mim me lançando um sorriso amigável.

- Olha Angeline, para ser sincera contigo eu não sei quantos cômodos são ao todo, mas eu sei que tem seis quartos, sala de tv, brinquedoteca, sala de estar, copa, sala de jantar e "mil" outros cômodos.- ela contou em um tom divertido.

Eu olhei em volta assustada com
o tamanho dessa casa e também com
a quantidade de cômodos. Eu tenho pena de quem limpa essa casa, deve gastar uma semana inteira sem parar!

- O Senhor Eduardo gosta de casa grande, a outra casa era tão grande quanto essa... Mas é melhor a gente mudar de assunto porque nós não estamos aqui para falar dessa casa e sim da oportunidade de emprego.- ela falou já indo para o assunto principal.

Eu desviei o meu olhar de um dos quadros que estava na parede e eu a encarei dando um sorriso fechado.

- Okay!

A Dona Flávia acenou para uma cadeira que estava vazia, eu logo me sentei e ela se sentou de frente para mim... Ela me ensinou como a rotina da casa funcionava e também como é a rotina da criança, eu confesso que eu fiquei assustada ao saber só tem uma criança na casa, eu imaginei que eram no mínimo três, mas pelo jeito eu estava enganada.

- A Alícia é uma criança tranquila,
ela é obediente e muito doce, então
seu trabalho será bem fácil porque com ela eu garanto que você não terá problemas.- ela me contou.

Ela me contou mais sobre a Alícia
e o seu temperamento e eu cheguei a conclusão que se ela for realmente assim o meu trabalho será bem fácil porque essa mulher está descrevendo um anjinho, mas quando é assim eu já tenho as minhas desconfianças.

- Mas como irá funcionar a minha carga horária de trabalho? Eu estudo pela manhã, então eu não terei esse horário disponível.- eu logo contei a ela.

- Sem problemas, a Alícia está na escolinha pela manhã e você só irá iniciar o seu trabalho a tarde.- Flávia logo.

Eu acenei com a minha cabeça imediatamente já ficando bem animada com a possibilidade de trabalhar para essa família... Esse emprego está me saindo melhor do que encomenda!

- Mas há um porém, você terá que dormir aqui no trabalho.- ela falou e eu desanimei imediatamente.

A minha rotina já é pesada demais
e dormir aqui só vai me deixar ainda mais cansada... Eu realmente queria trabalhar aqui, mas se for assim não dá pra mim.

- Assim fica difícil pra mim, eu já tenho uma vida muito corrida e bem puxada, assim fica quase impossível pra mim!- eu a respondi com toda a minha sinceridade.

Eu bem que queria trabalhar aqui, mas ficar a semana inteira longe da minha família é algo que eu não farei de maneira alguma, nunca!

- O salário que o senhor Álvares
esta disposto a pagar é de quatro
mil e quinhentos reais e ele pagará por horas extras, viagens e também por fim de semana e trabalhados.- ela falou logo em seguida.

Sabe aquelas cenas de desenho ou filme que o olho do personagem salta para fora de tanta surpresa? O meu olho fez exatamente isso nesse exato momento!

- Eu aceito!- as palavras saíram da minha boca sem a minha permissão
e eu falei sem pensar... Parece que o meu olho grande falou bem mais alto que a minha razão.

Um sorriso de orelha a orelha se fez presente no rosto da Flávia, ela se pôs de pé na minha frente e estendeu sua mão para mim.

- Então o trabalho é seu! Você tem
um currículo ótimo e eu posso te dar certeza que o Senhor Álvares não vai se opor... Você vai amar a Alice e vai amar trabalhar aqui.- ela falou muito eufórica.

Eu sorri me contagiando com a sua alegria e ela logo me puxou pela mão para me mostrar toda a casa e o meu novo quarto também... Segundo ela eu já estou contratada e só falta assinar as papeladas e preparar um contrato para mim.

- O Senhor Álvares tem algumas regras para os funcionários e eu espero que você não se importe.
As babás são obrigadas a usar um uniforme, geralmente é um conjunto preto e sapato social... Ahh, você terá que fazer um coque no cabelo todos os dias e também não poderá usar tons fortes na maquiagem.- A Flávia começou a falar as regras eu comecei a me arrepender de ter aceito essa sua proposta.

Ela me deu um livro de regras que
eu terei que seguir a risca e só de ler
a primeira frase eu me arrependi de ter vindo a essa entrevista... Eu como funcionária entendo que o patrão tem o direito de colocar regras, mas esse cara quer se meter em qual o tom do esmalte eu vou passar nas unhas. Oi? Isso não é algo normal!

- No mais, é isso! Eu acho que eu já
te passei todas as regras, mas caso eu me lembre de algo eu te falo...- ela me disse enquanto sorria sutilmente.

Eu apenas acenei com a cabeça com aquele sorriso congelado exposto em meu rosto e eu pedi a Deus para ela não se lembrar de mais nada porque as que ela me passou já estão de um bom tamanho, são até demais!

- Cert...- eu até comecei a falar, mas bem no meio da palavra a porta da copa foi aberta e um homem enorme entrou pela mesma acompanhado de uma menininha com uma carranca estampada em seu rosto.

O homem que acabou de entrar
deve ser o Senhor Álvares e olha
que eu pensava que ele era um velho carrancudo, mas ele está bem longe de ser velho... O senhor Álvares é um homem alto, ele deve ter no mínimo uns um metro é oitenta, seus cabelos são loiros e alinhados, ele é barbudo, o seu rosto parece ter sido esculpido de tão bonito e assimétrico, seus olhos são em um tom de verde escuro e seu corpo é forte, grande e robusto.

- QUANDO É QUE VOCÊ VAI PARAR
DE ME DAR TRABALHO, ALICIA? SE EU TIVER QUE VOLTAR DE NOVO NA SUA ESCOLINHA EU VOU TE MANDAR PRA UM COLÉGIO INTERNO NO PAÍS MAIS DISTANTE DO BRASIL!- ele falou aos gritos com a menina e eu acordei do meu transe.

A menina que está parada logo ao
seu lado tem uma feição triste em seu rosto e os seus olhos estão marejados, pelo jeito ela chorou muito com algo que aconteceu... Essa menina, a Alícia parece ser uma princesa da Disney de tão linda que ela é, a sua pele é alva como a neve, os seus cabelos são lisos e loiros, ela tem um rosto angelical e os seus olhinhos são verdes iguais aos dos seu pai, ela é uma criança linda!

- Mas papai...- ela começou a falar, mas ele a interrompeu aos gritos.

- CALA A BOCA, ALICIA! Eu já ouvi demais no dia de hoje por sua causa. VÁ JÁ PARA O SEU QUARTO!- ele disse aos gritos.

Será que esse homem sabe que ele está lidando com uma menininha de quatro anos? Eu acho que não porque da maneira que ele está falando da a entender que ele pensa que ela é uma adulta.

- Com licença "Seu" Álvares, mas eu
já achei a babá perfeita para cuidar da nossa Alícia.- A dona Flávia disse enquanto sorria sutilmente.

Imediatamente aquele homem veio com seu olhar até mim, ela me fitou como se estivesse me analisando e em seguida uma feição ainda mais séria tomou conta do seu rosto.

- É bom que você faca essa menina
se comportar melhor ou você irá para o mesmo local que a última babá foi parar, no olho da rua!- ele disse com os seus olhos sobre mim e no segundo seguinte ele me deu as costas saindo da sala sem dizer mais nada.

Eu fiquei estática sem saber o que fazer, como agir ou o que falar. Olha, eu estou pensando seriamente em não voltar mais nesse lugar!

- Ele deve estar em um dia ruim porque ele geralmente é um amor
de pessoa...- A Flávia disse tentando amenizar a situação.

Tudo que eu consegui fazer foi dar uma risadinha totalmente sem graça porque nesse segundo eu estou sem reação nenhuma, nenhuma mesmo.

- Você não desistir, não é?- ela me questionou com uma expressão de desesperado em seu rosto.

Eu bem que pensei em desistir e
não voltar nunca mais dessa casa depois de ver a maneira que esse homem é, mas ao olhar para aquela menininha eu senti uma alma triste e um coração despedaçado e eu sinto que eu posso ajuda-la de algum jeito e é por isso que eu não vou desistir, eu vou ficar pela Alícia... É por ela que eu não vou desistir!

Postado 20/06/2019

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