Stitches

By Kangeluvxsx

33.5K 5.7K 5.6K

"Descobri que vencer meus medos me força a acreditar que quando tudo acabar não será você e eu e sim eu e meu... More

Alguns avisos essênciais para a leitura.
Prólogo
Em Luz: Eclipse - Cap 1
Plumas e Riscos - Cap 2
❄Inverno&Primavera❀ - Cap 4
In Motion: Borboletas&Intrepidez - Cap 5
Entrelaço: Quimera&Brio - Cap 6
Em lar, sem ar; Mais uma de ilusões. - Cap 7
Á mercê; Pronta, desmancha. - Cap 8
Em Brisa:Just take it slow. - Cap 9
Walking; Resiliência. - Cap 10
Memories: Wake Up. - Cap 11
Em casos e acasos; Serendipidade - Cap 12
Oceans&Eyes; Between You And Me - Cap 13
Listening; Sensações e Reações - Cap 14
Em Passos, o Nosso Laço; Júbilo - Cap 15
Blood Pieces & Kisses - Cap 16
Em liberdade; Névoas de paixão - Cap 17
Hopeful In Red; Instintos - Cap 18 - I
Confidence: Anseios Pré-fabricados - Cap 19 - II
Breath; Súplicas e Arranhões - Cap 20 - III
Importante Leia. (04/08/20)
Closer; Bodas de Temores. - Cap 21
Outono; Pra Te Acompanhar - Cap 22
Leave: Elephant. - Cap 23
Jungkook: One and Only. - Cap 24
Em sentir; Solidão. - Cap 25
Georgiana: Em Grito, Silêncio. - The Note.

Em crise, perspectivas - Cap 3

1.2K 258 311
By Kangeluvxsx


Deem suporte á história, votem e comentem. Boa leitura!

- Como assim ninguém fez nada? ­– Tae indagava indignado no dia seguinte.

- Teoricamente fizeram, mas foi tarde, como sempre. Achei que ja tinha acostumado com a falta de policiamento nesse bairro. – digo engolindo uma rosquinha com uma quantidade de chocolate um pouco exagerada para o que devia ser meu café da manhã.

- E mesmo depois de você ter sido completamente louca, o sonso do Jungkook continuou sem reparar em nada? – era mais uma afirmação do que uma pergunta com o tom de falsa ingenuidade. – Ou ele não quer ver ou é muito inocente mesmo, sinceramente.

- Não é pra tanto, não foi nada demais também. - respondo pensando rapidamente sobre. - Se parar pra pensar eu faria o mesmo por qualquer um.

- Como é? - Tae diz virando-se pra mim com os olhos risonhos vindos de uma enorme feição de surpresa.

Minha mãe se achegava com seu rosto sempre ruborizado e suas bolachas de água e sal que combinavam com o café preto e bem forte que ela sempre exigia que eu mesma fizesse para ela. Imersa em provavelmente algum texto sobre saúde no celular ela parecia nem notar minha presença junto de Tae ali na varanda até a voz de meu amigo se fazer presente, educadamente.

- Beth, bom dia! – Tae que sentava comigo no chão se curvava com seu sorriso retangular pra ser notado depois de poucos segundos.

- Bom dia crianças. – ela responde se desconectando do insuportável celular que vivia vinte e quatro horas com ela – Geo, filha, você viu o seu pai hoje?

- Vi, saiu cedo e disse que ia fazer as compras. Por quê?

- Por nada... – ela franze a testa fazendo uma careta com o cenho. – Vocês dois estão ocupados? Se não, você podia ajudar sua mãe e ir ao centro fazer um depósito pra mim, Tae pode ir com você. Não pode Tae?

- Claro que posso! Bom que ela sai de casa um pouco. - ele responde com os olhos apertados.

- Você fala como se eu fosse uma presidiária. – digo com a voz fraca o encarando com os olhos da angustia.

E eu era. Só não gostava de ouvir em alto e bom som vindo de outras pessoas, já não bastava minha mente que me aprisionava dentro de mim mesma, eu também comecei a deixar o desinteresse e procrastinação tomarem conta da minha vida social. Me recordo da época na escola, onde tudo era fácil ainda e eu via o mundo e aquela rotina como se fossem os piores dias que alguém poderia ter, acho que todo adolescente que se prese se sente assim uma vez ou outra. Porém nesses dias que hoje até soam atraentes pra mim eu era rodeada de pessoas, não sei se posso dizer rodeada de amigos, colegas talvez. Mas ao menos existia uma vida social ali se formando. Eu não afastava ninguém, ninguém me afastava, não existiam problemas pessoais tão incompreensíveis que não podiam ser resolvidos por mim mesma e meu trio de amigas, todas combinando o batom com a cor dos tênis aos pés. E o principal; eu era mais livre aos quinze do que aos vinte e três. Mas isso já foi há muito tempo. Então do túnel do tempo até a realidade atual em meu quarto me arrumando levemente, apenas para o ar do dia não me ver com camadas e camadas de falsa de sono nós fomos.

Taehyung adorava andar e insistiu para simplesmente caminharmos até o centro como um passeio animado ao invés de pegarmos um rápido ônibus, a ideia até que não parecia tão ruim na teoria, a prática já era bem diferente. Eu precisava de algum exercício e negava isso ao meu corpo todos os dias que continuava presa em casa por escolha própria e na maior parte do tempo na cama ou apenas com movimentos simples do dia a dia, também era uma das muitas coisas que eu gostaria de mudar, de sair do pesadelo que era a apatia e a dificuldade de apenas seguir para algo novo. Só não sabia como convencer meu cérebro danificado de que seria bom para mim e para ele.

Quanto mais andávamos mais medos irracionais vinham a minha mente, plantios de um universo doentio que era minha alma nada pacifica com o mundo lá fora. Olhava para cada placa de carro ou moto pensando talvez serem aqueles os números que eu ainda lembrava de cor mesmo depois de muito tempo, algo que minhas constantes paranoias não me deixavam parar de pensar nem para respirar ao caminhar. Me senti agradecida por ter Taehyung ali ao lado falando até que sua voz fosse ficando mais rouca do que o normal que já era bem grossa. Ele tagarelava, o que eu honestamente gostava muito, mas naquele momento eu refletia e me arrepiava sobre o medo, o panico e sobre aquilo que eu ainda não havia exposto até então, decidi por falar o que me coçava as mãos um pouco.

- Tae – começo tentando disfarçar meu receio ao falar do assunto. - Dias atrás estávamos no terraço e você atendeu uma ligação estranha... - ele me corta.

- Certo, a noite em que você e Jungkook estavam quase lá!? – ele diz zombeteiro.

- Estou falando sério! – digo dando-lhe um soco amigável no braço franzino. – mas quem me dera isso fosse verdade. – ele ri com meu devaneio diário.

- O que tem anã?

- Eu recebi um e-mail de endereço desconhecido antes da ligação e antes de você atender já haviam ligado algumas vezes mais, eu obviamente não atendi. É estranho, não é? Ou acha que estou muito paranoica?

- E-mail? – ele diz confuso – bom, pode ser um pouco estranho por não serem mais tão populares hoje em dia... Me pergunto quem te mandaria um. - ele diz se referindo a minha inexistente lista de amigos.

- Alguém que não quer ser reconhecido, talvez?

- E qual era o assunto, você lembra? - seus lábios franzem curioso continuando a caminhar, agora em passos mais lentos.

- Minha e Virgula – Tae para de andar e me olha com a feição mais perdida do que eu na noite anterior. – Vou te mostrar. – digo abrindo meu e-mail no celular e entregando-lhe.

- Você não apagou? - sua voz sai do automático analisando a tela do celular.

- Porque eu apagaria? – ele fica em silêncio apenas observando meu celular com o cenho preocupado me entregando de volta meu telefone. – Você acha que é ele?

- Existe essa possibilidade – Tae diz umedecendo os lábios – ele já fez isso antes, certo?

- Acredito que existe sim. – digo voltando a caminhar – Ele já mandou outros e-mails... as fotos e os vídeos, como já te contei. E tiveram as ameaças também, mas já faz tanto tempo e como eu não denunciei ou contei para alguém que poderia fazer isso...

- O tempo não significa nada Geo. – ele diz caminhando ao meu lado – O cara é um psicopata, você acha que ele simplesmente esqueceu a sua existência?

- Não. Então você acha que... – Tae me interrompe com os olhos ébano nervosos e preocupados.

- Sim, é possível. - a voz a contragosto - Mas eu realmente acho que você deveria tentar focar primeiro em recomeçar, andar com suas próprias pernas e fazer mais coisas que voce gosta, para preencher a mente e redobrar os cuidados que já tem em relação a esse embuste. Não da para voltar a viver se houver tanto medo Geo...

- Embuste? – não consegui ignorar e evitar a risada – Eu nunca te ensinei essa palavra.

- Eu já moro aqui há alguns anos anã, e eu não convivo só com você. – permaneci em minha risada quase silenciosa.

- Certo.

Complemento pensando em suas palavras, porém tentando não toca-las em meu peito naquele momento, focando apenas em tentar tirar as ruidosas vozes da minha cabeça que me faziam respirar com dificuldade, alucinando com aparições de um lobo de olhos obscuros um dia já amados.

***

Mais alguns quarteirões e chegamos ao local onde o depósito de minha mãe seria feito, havia uma longa fila, como de costume naquele local. O que nos restava era esperar e falar das peculiaridades das pessoas que passavam por nós, riamos aos cochichos sabendo que provavelmente passaríamos um tempo maior do que o esperado em pé em meio a todos os tipos de situação ocorrendo. Na mesma rua um pouco mais a frente, havia uma universidade bem conceituada, que em nenhum momento da minha vida meus pais insistiram para que eu ingressasse, algo que poderia, e era, visto com tortos olhos pelos familiares por alguns anos já. Eles queriam que eu fosse livre, algo que com certeza me deixou mais perdida nesse âmbito da vida. Podíamos ver os alunos atravessando o sinal em grupos, alguns sorrindo parecendo estarem vivendo a exata realidade que ansiavam... Alguns saindo, outros entrando, mas todos com olhos em sorrisos ou preocupados em um foco assustador. Naquele momento em específico senti um nó em meu cérebro e eu divagava em quanto tempo mais eu esperaria para estar ali, naquele mesmo sinal. Quem eu seria? Os olhos formigando excitação ou aqueles outros que pareciam viver na penumbra do estresse intenso?.

- Não combina com você Geo. – Tae diz apertando uma de minhas mãos ao me ver encarar o outro lado da rua quase sem piscar.

A verdade era que mesmo em meio a meus raros devaneios, não combinava mesmo, eu duvidava de todas as formas que aquele poderia um dia ser meu mundo. Não existia nada ali que eu almejasse ou que me fisgasse os pelos na nuca. A ideia de ficar presa a uma sala de aula com mais cinquenta pessoas ao meu redor e uma pessoa que teoricamente seria superior aos demais por ter tido alguns anos nessa mesma sala no passado era aterrorizante para mim desde muito cedo. Já na época de escola minha mente não processava que aquilo ali era o que todos deveríamos fazer ou ter como objetivo de vida e esperar pela felicidade batendo a porta um dia com um enorme talvez. Por essa razão anos se passavam e eu continuava no mesmo lugar, perdida? sim, presa? mais do que nunca. E mesmo assim o que mais me sugava por dentro era a pressão de ser perfeito ainda aos vinte. Em meio a tantas crises que vinham com essa década cheia de descobertas, cheia de acasos, cheia de surpresas (nem sempre boas), a última coisa que precisávamos era do sufoco grito da sociedade que se mantinha constante em nossos ouvidos.

"Já entrou na faculdade?", "Já está trabalhando?", "Vai Cursar o que?", "o tempo esta passando."

Para mentes depressivas e vazias de desejos como a minha esses eram os destaques que piscavam e me faziam apertar a cabeça cada vez mais forte sem saber para onde ir. Eu sabia lá no fundo que qualquer que fosse meu futuro, ele não estaria ali dentro e não seria o processo dentro de uma sala de aula que me conquistaria o peito para fazer algo que acendesse uma paixão em meu coração, porém de alguma forma eu ainda convivia com os gritos me dizendo que eu deveria estar ali, atravessando a rua com os demais rostos mistos de sentimentos. Meus pais podiam até não fazer parte de todo esse desconforto, o que para minha mente exaurida era um ponto positivo, mas os gritos eram o suficiente para me levar a uma leve curiosidade puxada pela mão que não sabia para onde ir.

- Eu sei. – eu dizia em transe ainda observando o lugar enorme. – Você já foi lá? Pelo menos olhar...

- Geo... – ele tentava agarrar minhas mãos. - Já conversamos sobre, você não precisa se curvar a algo que não quer, assim como eu também não.

As palavras de meu amigo entram em um ouvido e saem pelo outro. Sim já havíamos tido inúmeras noites falando sobre aquele mundo em específico, mas nunca era o suficiente para minha mente e suas dúvidas constantes seguidas de uma sede boba por apenas ver.

- Acho que vou ir ver. – digo o encarando e já me afastando andando até faixa de travessia.

Tae abriu a boca para me impedir, mas logo a fechou apertando os lábios um contra o outro, já sozinho na fila apenas me observando mais longe, eu ainda olhava para trás e via seus olhos de insatisfação.

Entrando pelo largo portão meus olhos curiosos iam de lá para cá nas torres enormes, realmente curiosos com o lugar que eu nunca sequer pisei. Atravessando o que eu acreditava ser o centro de onde os estudantes de reuniam perto da entrada para a recepção eu já pensava em dar meia volta e retornar para meu estado conformada de que não havia nada ali que me faria feliz, a cada pequeno passo dado a voz de Taehyung vinha em minha mente como uma verdade absoluta e meus pés iam diminuindo a velocidade assim como meus minúsculos pensamentos positivos, mesmo assim, continuei caminhando rumo a recepção onde entravam e saiam pessoas o tempo inteiro. Existia-se um medo irracional em meu estomago naquele momento, comecei a senti-lo frágil e assim meus pés de apressaram determinados e eu repetia para mim mesma que eu podia fazer aquilo, de olhos quase fechados e cabeça baixa brigando internamente com minha mente ao estalar os músculos das mãos frias senti meu corpo se chocar acidentalmente com outro corpo um pouco mais robusto e corpulento que o meu. Meu reflexo não me permitiu observar com tanta clareza a pessoa a minha frente, apenas a cor de seus cabelos avermelhados como chamas em meio a escuridão me chamou a atenção. 

- Perdão! ­– digo de imediato quase no automático.

Esperei poucos segundos por sua voz e ali percebi que a figura um pouco mais alta que eu parecia paralisada com os olhos verdes beirando a incredulidade, ela me encarava como se estivesse dentro de algum pesadelo, mas sem aquela parte assustadora. De início quase me preocupei com sua feição.

- Quais as chances?. – ela finalmente diz com a voz em uma cínica descrença. - Logo você!?

- Como é? - respondo confusa. - A gente se conhece?

Extremamente confusa.

- De certa forma... – ela continua. – Você deve usar muita edição nas fotos, ele me disse que você era só uma ninfeta bonita, mas nem isso. – seus olhos me varriam com total desprezo e sua fala me alarma.

Ninfeta

Uma unica palavra e apenas um nome, um olhar, uma voz e um tato frio me veio em arrepio dos pés a cabeça, minha barriga se deformou por dentro em enjoo e a taquicardia ja desesperava-se em mim. Matt estava em tudo ou quase tudo que me cercava, eu realmente não a conhecia, mas nos olhos cor de grama e nos cabelos de fogo eu pude ver uma parte de meu ex lobo. Os mesmos traços zumbilescos que eu carreguei por anos e anos estavam ali a minha frente, era como me olhar no espelho com o sentimento de pesar por aquela que provavelmente era a atual vítima de quem um dia foi meu amor de trovões e sociopatia. Eu não sabia o que responder, as palavras simplesmente não me vinham, apenas o sentimento de angustia por mim e por aquela pessoa que já estava inundada por uma alma tão escura como a dele. 

- Eu sinto muito por você. - eu sentia a nota de clemência em minha voz suave.

Digo em modo automático me afastando lentamente, mal piscando meus olhos castanhos arregalados naquele momento de extremos.

- Só pode estar brincando... Depois de tudo o que você fez com ele. – a garota afirmava alterando parcialmente a voz.

Ela vem em minha direção e de supetão me empurra ao chão colocando seu peso sobre meu corpo menor

- Você sabe que você não é vitima de nada. Ninfeta mentirosa! - agora ela gritava possessa em cima de mim e suas mãos ferviam estapeando meus braços e cabeça. - Traiu e difamou ele, você tem noção do que fez? - quanto mais palavras saiam, mais força tinha em seus braços.

- Me larga! ­– eu gritava enquanto tentava empurrar seu corpo para longe. - Sai de cima de mim!

Os cabelos ardidos feito fogueira me cobriam o rosto que queimava em pavor e adrenalina, e nao era boa. Minha cabeça estava cada vez mais próxima do chão quando eu pude em meio ao desespero ver os olhares ao redor da cena, nenhum deles havia empatia, apenas curiosidade e risos em suas bocas largas como sugadores de alma. Ninguém me ajudaria e o terror acentuava meu enjoo misturado ao temor de ser vista, exposta e de celulares gravando e ridicularizando algo que me matava por dentro, mais uma vez era meu corpo ao chão e indiretamente pelo mesmo motivo do passado que não me abandonava. Eu sentia todo seu ódio ao apertar meu corpo com suas unhas finas fazendo meus braços se arranharem no chão esfarelento de minúsculas pedras, eu gritava com toda a força de minha garganta proferindo nomes quase tão sujos aos que ela se dirigia a mim. A força que a ruiva fazia sob meu corpo foi se tornando mais fraca e em meio a seus fios vermelhos pude enxergar lapsos de outra pessoa próxima e de repente ela é puxada com força para cima e meus olhos foram de encontro ao sol sob as nuvens no céu. A silhueta alta discutia há menos de um metro de distância com a voz firme e grossa, tentando puxar os pulsos robustos da pessoa que há poucos segundos estava sobre mim e já se afastava. Pisquei algumas vezes, ainda estirada no chão, para entender melhor o cenário atual e tentando me levantar devagar voltei a cair com um dos braços machucados me fazendo fisgar a garganta em constrangimento. 

Naquele momento a sombra da silhueta se aproximou de mim e sua voz era feito algodão, e eu conhecia aquele tom doce. Imediatamente os braços fortes de Jungkook me puxavam para seu corpo enquanto eu o ouvia sem conseguir discernir o que ele dizia pelo choque de tudo que havia acontecido e de tê-lo ali, o que na minha mente não fazia sentido algum. Meus ouvidos permaneceram em zunido por uns minutos até finalmente ouvi-lo.

- Noona!? Olha pra mim. Você esta bem? Aonde ela te machucou? – ele era cuidadoso até mesmo pra me tocar, procurando marcas que ele achava em meus braços arranhados.

- O que... – tento completar as inúmeras frases que estavam em minha mente com a voz falha e ainda com os cabelos sobre o rosto cabisbaixo. - O que aconteceu? Como você apareceu aqui e...

Eu não queria olhar pra ele, era humilhante demais.

- Olha pra mim! – ele levantava meu queixo gentilmente com as mãos macias e tirava meus cabelos que tapavam meu rosto já ruborizado e a ponto de explodir. – Você conhece aquela mulher? – sua voz ainda era suave mesmo com os olhões gigantes transtornados.

E foi quando ela veio. De modo súbito meu peito explodiu de uma só vez e o ar não se fazia mais presente em minha garganta, minhas pernas que permaneciam no chão começam a ganhar força para movimentos involuntários, todo o meu corpo tremia, toda a minha cabeça girava trazendo consigo aquela dor aguda que eu não conseguia suportar meus olhos abertos. Minhas mãos tremiam em uma dança violenta e minhas unhas curtas afundavam com força nos braços de Jungkook que não parecia se importar com arranhões feitos de panico. Em minha visão turva de lágrimas incessantes as paredes de azulejos verdes me vieram como uma alucinação, e o rosto da senhora do consultório meio branco me veio com as palavras - "inspira: quatro, três, dois, um, expira: quatro, três, conta Georgiana, dois, um. Você consegue, ela não controla você."  Sentia-me em extremos, tonta, puxando o ar com toda força que podia apertando meus pulmões e meu coração gritava por dor e o choro constante começou a se espalhar por toda a parte de meu rosto chegando aos braços de Jungkook que se mantinha me apertando com muita força. A cada puxada de ar sentia que iria morrer em qualquer uma delas. O pânico estava instaurado em mim mais uma vez e minhas mãos começavam a tentar ferir minha própria pele, senti as mãos do mais novo segurando-as, me impedindo de me machucar e tentando entrelaça-las seu corpo de fechou mais em volta do meu, colocando meu corpo minúsculo em um ninho de proteção dentro de seu abraço que me acalmava aos poucos.

- Vai passar. Respira comigo – ele repetia já há algum tempo e só naquele momento eu o ouvia com clareza. –  Respira comigo, não tem ninguém a sua volta, somos só eu e você agora, ninguém mais vai te ferir. – ele apoiava a cabeça acima da minha, deixando com que meu rosto colasse em seu peito. – Respira contando comigo.

Sua voz ia me acalmando o peito e trazendo algum ar para meus pulmões aos poucos. Ele contava em sussurros de um a quatro, exatamente como eu contava em minha cabeça, exatamente como eu havia aprendido nos azulejos verdes. E lentamente enquanto acariciava meus cabelos, eu ensopava sua blusa preta com as lágrimas que não cessavam, mesmo chegando ao fim do pavor. Jungkook erguia minha cabeça e encarava meus olhos tão negros quanto os dele, passando os dedos levemente por minhas lágrimas as empurrando para os cantos. E aos poucos após toda a eternidade que era aquela situação, meu peito foi se sincronizando ao dele. Minhas lágrimas foram escorrendo mais lentamente, meu corpo foi adormecendo e o sorriso nos olhos dele se abria aos poucos para mim formando pequenas ruguinhas. Ficamos ali em nossa bolha por mais alguns eternos minutos em silêncio, até que minha voz ainda mais falha que antes apareceu.

- Não... Eu não a conheço. – menti, fungando minha chuva em forma de choro.

- Esta tudo bem. Mais tarde podemos falar sobre isso. – sua fala era gentil, como se quisesse me afastar de qualquer coisa ruim. – Consegue ficar em pé comigo?

Assenti com um aceno de cabeça e aos poucos fomos levantando e ainda fingindo que só havia nós dois ali enquanto eu sentia os milhares de olhares curiosos e indiferentes em mim. Toda a situação estava uma bagunça e em minha cabeça era apenas um enorme ponto de interrogação. Na mente dele não tenho tanta certeza, mas deveria ser algo parecido.

- Ei – digo ainda fraca chamando sua atenção quanto senti meus sentidos mais estáveis – Eu sei que você nao estuda aqui. Como você... Eu não entendo.

Eu tentava formar a pergunta que na minha mente era apenas "de onde ele veio?".

- Um ser maior me mandou? – ele ri acanhado – Você me salvou ontem, eu te salvei hoje. As vezes o universo tenta ser justo. – ele diz ao seguir comigo com o braço em seus ombros tentando instaurar alguma leveza no ar.

- Não... - incrédula eu acenava negativamente com a cabeça. - Não foi isso, não tem como, as coisas não acontecem assim.

- Eu sei Noona. – ele diz me impulsionando a andar de forma melhor para sairmos dali o mais rápido possível. – Você não sabia que Zaki estuda aqui? - aceno que não com a cabeça - Coincidências são mais normais do que parecem... Ele me pediu para trazer o material dele, dormiu fora depois da festa ontem, teve que vir as pressas e então eu vim. A última pessoa que eu esperava ver era você, no chão...

O interrompo sem nem perceber.

- Então era ele que você ia levar á festa? – eu afirmava com um pico de sanidade.

- Ele estava insistindo já há algumas semanas para conhecer o clube.

Percebi que era a primeira vez que o via fazendo careta ao falar o que me fez sorrir por dentro.

- O que aconteceu para você estar aqui? - ele pergunta receoso.

Eu sabia que ele estava tentando tirar o foco da parte ruim e criar a história que fosse uma daquelas que após muito tempo a gente se reúne com os amigos e ri sobre. E eu apreciava aquilo, até demais. Era o jeito de ele me fazer sorrir e esquecer o real motivo que faria daquele dia um dos piores do meu ano.

- Eu só estava curiosa sobre a faculdade... Não sei o que vim fazer aqui. Tae esta do outro lado da rua me esperando na lotérica. Eu realmente não sei o que aconteceu.

Menti.

- Ah... Tae Hyung esta aqui? – de repente ele se torna mais apreensivo.

- Vindo em nossa direção. – digo fitando Taehyung que atravessava a rua com um olhar mais do que curioso sobre nós, já sentindo que o clima mudaria.

- O que aconteceu com você? – Tae indaga aflito já passando as mãos por mim me tirando dos braços de Jungkook que apoiava parcialmente meu corpo até ali.

- Ela... Eu a vi no meio do campus sendo agredida por uma mulher... – Jungkook responde totalmente acanhado e com pesar.

Com o olhar em mim sua fala provocou tremendo choque em Taehyung que me olhava com os olhos imensos e preocupados demais para uma situação tão pequena comparada a que ja havíamos vivido no passado.

As vezes eu pensava que coreanos podiam ser um pouco dramáticos demais. Pelo menos mais dramáticos do que eu.

- Eu não comecei nada. – respondo lançando um olhar a Tae que só ele saberia o que significado de; "Depois te explico" o deixando alguns segundos em silêncio. - Não foi nada demais...

- E esse braço machucado? Seu rosto esta inchado... – ele diz a contragosto como se fosse a única coisa que pudesse dizer – Aliás... Jungkook? Zaki precisou de você, tenho certeza.

A afirmação de meu amigo me surpreende, ele sabia mais sobre Zaki do que eu imaginava, não era costumeiro vê-los conversando.

- Podemos ir embora? – digo começando a ficar nervosa inquieta – De preferência da forma mais rápida dessa vez Tae.

Caminhamos pouco até a estação do metrô e ficamos alguns minutos na fila, os três parecendo meros conhecidos. Não era muito comum ficarmos os três juntos e parecia haver poucas opções de interação, geralmente um silêncio se formava naturalmente e a firme tensão entre Taehyung e Jungkook ainda era presente. Tentava de qualquer forma que fosse conectar os dois, ao menos para ver algum diálogo sendo formado com mais algumas palavras, muita das vezes de formas ridículas, tal como perguntas sobre o arem as mulheres no clube em que eles trabalhavam que rendiam a meu amigo boas histórias e experiências, assunto que claramente deixava Jungkook desconfortável e Taehyung sempre debochava de seu sucesso com qualquer uma que aparecesse. Só eu percebia que era uma de suas formas de disfarçar sua timidez com esse assunto, por mais contraditório que parecesse.

Dentro do metrô procuramos nos sentar em um local onde os três pudessem ficar juntos, mesmo que sem nenhuma conversa de fato acontecendo. Podia ver Tae inquieto com a ansiedade aflorada em seus pés, lábios até seus fios de cabelo se movendo mais que o normal e Jungkook automaticamente se fez entretido em um jogo de celular que nem me surpreendia eu também ter no meu. Decidi focar em Taehyung que deveria estar em uma intensa aflição por dentro por falta de informações do ocorrido comigo. Decido por tentar falar de alguma forma que desse para omitir o que deveria ser omitido para o mais novo ao meu lado que não sabia absolutamente nada sobre meu passado.

- Os cabelos dela me lembraram uma salsicha queimada... – Tae levanta o olhar surpreso e me encara com um aceno para prosseguir. – Era maior que eu, o que não é muito difícil. Eu sei. Nós apenas nos esbarramos acidentalmente, eu pedi desculpas já que não a tinha visto e de repente ela surtou e começou a dizer coisas absurdas. Quando tentei evitar o que ela estava tentando provocar em mim ela me puxou me jogando no chão. 

Relato com os olhos indo em direção ao chão e íris atentas de meu amigo, ainda sentindo a neblina da vergonha rondando meu rosto quente e as dores em meu braço. Jungkook tinha os olhões curiosos de esgueira indo de mim a Tae, esquecendo-se de seu jogo.

- Isso é... - Tae começa a dizer em frustração apertando o maxilar - é realmente um absurdo, quantas pessoas tinham em volta? Aposto que muitas. - sua voz sai cheia de amargor - e ninguém fez nada. 

- Jungkook fez. – afirmo ruborizando minhas orelhas e as dele também.

- Tem certeza que não a conhece Noona? – ele pergunta em tom baixo.

Encaro disfarçadamente Taehyung antes de responder e ele me devolve com um aceno negativo com a cabeça. 

- Tenho. – menti de novo.

***

Chegando em casa, caminhávamos cada vez mais perto da entrada e me sentindo sufocada com o turbilhão de sensações que me rodeavam com aquele que me deixava arrepiada e esquentava meu corpo só de ficar a poucos centímetros de minhas mãos. E ao outro lado aquele que conhecia minha alma apenas com um olhar.

- Tae... – ele levantou o ainda frustrado com tudo para mim. – Eu tive pânico hoje. - confessei antes de pisarmos em casa.

Os ouvidos de Jungkook se aguçaram em quietude. Não me importei em tê-lo ali ouvindo uma parte de quem eu era, parte de mim queria que ele soubesse um pouco mais sobre minhas camadas. 

- Você sabe quem é a unica pessoa que pode te ajudar anã... Soraia. – ele dizia seguindo minha linha firme ignorando totalmente a presença de Jungkook.

- Eu sei. – digo em suspiro.

Entrando em casa pensei em ter que voltar às paredes de azulejos verdes com a senhora de cabelos brancos como neve e antes que pudéssemos nos afastar, coloquei uma das mãos ao braço do mais novo agora a minha frente.

– Jungkook? – Ele me encarou curioso. - Obrigada, de verdade! ­– disse com todo o meu coração queimando por dentro e com as mãos ardendo com o toque.

Ele retribuiu com seu olhar sutil e inocente e seu sorriso de afago. 

_______\\ _______

Seu voto🌟 no cap é um grande incentivo!🥰
Eei amores, queria agradecer á quem tem acompanhado a história, fico muito feliz. Espero que estejam gostando da leitura.

Continue Reading

You'll Also Like

685K 61.6K 120
Uma garota anti social com um celular e um estranho do outro lado da tela. Kim So Hyun não sabia, mas talvez conhecesse alguém que poderia mudar sua...
29.6K 4.2K 11
- Me dê apenas um motivo para não te matar. Eu não gosto de intrusos na minha terra. - ele disse e pela primeira vez olhou para mim. Seus olho...
1.6K 304 25
"Um casamento forçado e horrível, mas ver uma lâmina pingando sangue e me ajudar eu percebi"
563 49 4
|| EM ANDAMENTO || ✞︎ Data de publicação ✞︎: Dom , 29 de Maio de 2022 ✞︎ Data de Conclusão ✞︎ : ▪︎Conteúdo Sexual ▪︎ Bebidas Alcoólicas ▪︎ Violência...