LÓTUS (pjm+jjk)

By xuxu_gab

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Park Jimin e Jeon Jungkook são competidores rivais nos times de natação do colégio East High School, e divide... More

ANTES DE TUDO COMEÇAR
Capítulo 2 - JM ✨
Capítulo 3 - JK ✨
Capítulo 4 - JM ✨
SAIU A NOTÍCIA

Capítulo 1 - JK ✨

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By xuxu_gab

Água

A água estava em todo lugar, sufocando-me a cada tentativa de respirar. Caí no mar gelado como uma moeda velha, e quanto mais lutava, mais me afogava.

A sensação era tão dilacerante que doía até os ossos.

Então, um olhar me puxou daquele oceano, devolvendo-me o ar.

O susto sempre me desperta completamente encharcado de suor e enjoado. Detestava a sensação da repetição desse pesadelo, que constantemente surgia nos meus sonhos como uma peça de um quebra-cabeça mal resolvido.

- QUERIDO, VAI SE ATRASAR NOVAMENTE PARA À AULA - gritou tia Mercedes, e pela distância da voz, parecia vir da cozinha.

- EU JÁ ESTOU TROCADO TIA, DESÇO NUM INSTANTE - Retruquei enquanto puxava o edredom sobre a cabeça, numa tentativa falha de encontrar coragem. Com calma, pousei o pé no chão, sentindo a frieza do toque e o leve arrepio de um novo dia, um novo ano.

Caminhei a passos largos até o banheiro, cuja porta ficava em frente ao meu pequeno quarto. Tentei abrir a maçaneta, mas percebi que era inútil, pois estava trancada. Apoiei minha cabeça na parede, observando o corredor abarrotado de fotografias da família e, por um instante, me senti aquecido. Meu olhar se deteve em uma imagem em especial: meu aniversário de 7 anos. Eu irradiava felicidade com a decoração do Homem-Aranha. Havia balões desenhados com os personagens, um bolo colorido, chapéus de festa e... meus pais. Foi meu último aniversário junto a eles.

A saudade apertava o peito como um sentimento incompreendido. A ausência deles foi a principal motivação para meu amadurecimento precoce. Acreditava que, se fosse um bom garoto – independente e organizado –, meus pais voltariam para me buscar. Não me sentia abandonado, mas a dor era bastante semelhante.

A tranca que antes estava fechada se abriu, trazendo-me de volta à realidade. Meu tio, com uma toalha enrolada na cintura, saiu em meio ao vapor, cantarolando algo que tocava na rádio. Seus cabelos grisalhos combinavam com seu estilo brincalhão de artista. John era um artista contemporâneo, pintava quadros abstratos e escrevia poesias concretas. Não havia um dia sequer em que ele estivesse de mau humor. Sempre impecável com suas roupas manchadas de tinta e seu positivismo incoerente.

— Me diga, Jeon, sua tia já percebeu que você ainda não se trocou? — indagou ele. — Vá, vá, garoto, que eu te dou cobertura. Mas só porque é seu primeiro dia, ok? — Ele piscou sorrindo e caminhou pelo chão frio até seu quarto, logo à frente.

Morávamos em uma casa pequena, típica em Columbra. As paredes eram brancas, algumas ainda revestidas com um velho papel de parede, e o chão de madeira, já desgastado, contava inúmeras histórias vividas ali. Dona Mercedes, ou melhor, minha tia, detesta atrasos. Criada com uma disciplina militar na Coreia, ela é rigorosa com os horários, postura e até mesmo com a alimentação. Foi essa rigidez que me motivou a aprender a cozinhar doces e alimentos gordurosos em segredo, já que ela sempre me negava esses prazeres.

A água quente atinge minha pele como brasa fervente, liberando os pontos de tensão com a brutalidade do líquido. Me deixo levar pelo som reconfortante da água, respiro fundo e permito que qualquer preocupação mesquinha simplesmente vá pelo ralo. Sob minhas unhas, ainda resta o carvão que usei para pintar secretamente ontem à noite. Aqueles olhos nunca me deixaram em paz desde o acidente, e sempre que me sinto aflito, sinto a necessidade de desenhá-los, como se eles pudessem de alguma forma me devolver a paz perdida.

Após tantas esquivas, roubo as torradas prontas deixadas sobre a bancada e adentro na caminhonete azul bebê, já enferrujada, modelo Ford F-100, o verdadeiro amor da minha vida. Sua lataria não está das mais bonitas, com grandes pontos enferrujados e amassados. Apesar de seus pequenos defeitos, foi comprada com o meu próprio dinheiro, suado e ganho no balcão do Bobble, um restaurante vintage temático no centro da cidade.

Puxo uma fita cassete e aperto o botão "play". Deixo-me envolver pelo ar fresco que entra nos meus pulmões enquanto grito versos aleatórios de uma música dos anos 80.

Estaciono longe o suficiente para não haver nenhum carro por perto que possa atrapalhar minha saída. Pelo retrovisor, avisto Hoseok com seu estilo único caminhando em direção à entrada. Alto, com a pele acobreada e um sorriso radiante, ele parecia ter nascido para brilhar nas passarelas com seus looks cheios de personalidade. Alguns já o haviam comparado a um personagem brasileiro só para irritá-lo, mas desde que conheceu Agostinho Carrara, ele ficou ainda mais inspirado em suas combinações.

- Ei, taxista! - Grito em tom irônico, e ao me ver, ele mostra o dedo do meio e sorri. - Adorei a calça listrada. Será que posso usar como pijama mais tarde?

- Já foi à merda hoje, Jeon? - respondeu, sorrindo e me puxando para um abraço apertado assim que saí da caminhonete, deixando-me até desnorteado.

Hoseok participava da liga estadual de líderes de torcida, sendo um Wildcat nato. Seu verão foi dedicado, dividindo-se entre os ensaios e o balcão gorduroso do nosso emprego.

O time de basquete havia ganhado o último jogo de verão, e todos estavam animados com o início do campeonato. Nos corredores, sempre havia muita conversa, muita gente e muita informação.

- Estamos aqui há 5 minutos e já sinto vontade de voltar para a minha cama. Minhas olheiras estão florescendo - comentou, massageando a testa e fazendo um biquinho nos lábios. - Inclusive, você está péssimo, amigo. Seus pesadelos voltaram?

Havíamos nos tornado amigos no hospital, durante o feriado de 4 de julho do ano em que me afoguei. Ele tinha se queimado com fogos de artifício e estava de repouso absoluto, enfaixado. Lembro-me de como o medo dos trovões nos aproximou na enfermaria. Passávamos o dia todo conversando sobre quadrinhos e desenhos animados, imaginando juntos como seria o resto do verão e apostando quem seria o próximo a ter alta. Tínhamos apenas 8 anos na época. Depois dali, nunca mais nos perdemos de vista. Frequentamos os mesmos clubes e colégios.

- Ele sempre acaba quando me tiram da água. Aquele olhar é o mesmo. É como um looping quebrado em mim, se repetindo todos os dias - suspirei baixinho, revelando aquilo que já me atormentava há mais de 10 anos.

- Já que não quer ir à terapia, ficar pensando nisso não vai te levar a lugar nenhum - observou por um momento meus olhos. - Concentre-se na raia 6, antes que o medo te consuma por completo.

Nem mesmo a gritaria dos primeiros encontros conseguiu me distrair. Os corredores brancos exibiam combinações de cores que representavam os alunos, embora o vermelho ainda predominasse, graças ao Wildcats, o time de basquete. Troy e sua equipe adornavam as paredes do refeitório como heróis natos. Suspiro por um instante, observando Namjoon ali.

O mesmo parecia concentrado em algo no celular, sorrindo enquanto digitava. No entanto, assim que nos aproximamos, ele ficou corado e rapidamente mudou para uma expressão séria.

- Jeon, antes de você faltar nas aulas de hoje, deveria conversar novamente com a professora Ramirez de química - suspirou, ainda concentrado em me dar a informação - Você ainda não conseguiu atingir a pontuação mínima.

- Cacete... se ousar bombear de novo nesse ano, não poderei mais concorrer às bolsas de Stanford. - sussurrei. - Deus, por que tem que botar química no ensino médio? Nunca usarei toda aquela maldita tabela periódica e suas reações.

- Sem reclamar, Jeon - ele me respondeu sério - Quanto antes resolver isso, melhor será. Aliás, eu e o Hobi estaremos na arquibancada mais tarde para torcer por você - sorriu, tentando me encorajar.

As vezes invejava Namjoon e a sua capacidade de aprender qualquer coisa rapidamente. Líder do grupo de debate e participante do time de basquete, ele era favorito para a bolsa de Harvard. De vez em quando me questionava do porque gostava da gente.

A professora Ramirez já era uma senhora, tão doce quanto um pirulito. No entanto, sua voz melodiosa me fazia dormir toda santa aula. Não havia absolutamente nada que me fizesse entender química e suas ligações malucas.

- Com licença, precisava falar comigo? - bati na porta aberta procurando-a. Logo a encontrei, sorrindo, estava atrás dos balcões brancos limpando cacos de vidro que havia estourado em algum teste pré-aula. Em passos curtos, ela se aproximou, ajustando seu jaleco.

- Sua situação não foi nada boa no ano passado, você sabe disso, não sabe? - assenti em concordância. - Sua única chance de não repetir a matéria é indo bem no último semestre... Por isso, solicitei um aluno tutor para te auxiliar.

- Pera, o que? - perguntei confuso - Olha, eu não tenho como pagar ninguém agora, a senhora já viu meu carro? Posso fazer listas extras se quiser, mas...

- Aluno tutor é aquele que precisa de atividades extras para fechar o ano. São indicados os que têm bom desempenho na matéria. - Com calma passou a me explicar, me entregando um panfleto - Não são cobradas, afinal, uma mão lava a outra. Sei que é tedioso fazer aulas extras, mas no seu caso serão extremamente necessárias. O laboratório ficará aberto três dias por semana, e assim que eu encontrar o seu tutor, marcaremos horários.

Concordei com muita calma, e no fundo gostava da ideia, mesmo que duvidasse que alguém tivesse uma boa lábia para me ensinar.

A competição de natação estava marcada para as 17:30, com aquecimento para ambos os times às 14:00. Nunca entendi completamente por que havia dois times na mesma escola, especialmente quando no final tínhamos que nos unir para competir contra outras escolas. Rumores sempre circulavam pelos corredores de que o capitão do time Lótus havia sido pego em um exame de doping e foi expulso antes que a verdade fosse revelada. Park Jimin então, montou seu próprio time com generosas doações de seus pais e seu apoio olímpico, afinal ele era filho do casal prodígio da natação.

Jimin era popular por aqui, diferente de todos os outros mortais da natação. Além do seu corpo físico estruturado, não que eu de fato reparasse, ele me causava medo. Acredito que, nestes três anos competindo juntos, nunca tenha olhado diretamente em seus olhos.

Os integrantes do meu time estavam reunidos no vestiário para discutir estratégias de posicionamento. Chuck, o capitão, era rigoroso conosco, tão exigente quanto o treinador.

- .. se cada um agir de acordo com os treinos, não haverá deslizes para os adversários. Lembrem-se, isto vale a vaga na universidade. VAMOS EAST HIGH! - gritou.

- Atenção alunos para a última competição do dia. Cada um em sua raia, LOGO. - ordenou o juiz.

Ao esvaziar o vestiário, joguei um pouco de água gelada no rosto e me encarei por um instante no espelho rachado. Ouvia os gritos agitados da arquibancada. Só mais uma vez, Jeon, só mais um pouco.

Corri para a raia 6 e mexi o pescoço para relaxar um pouco. Balancei os braços e senti o vento gelado bater nas minhas costas. A água escorria pelo meu peito, e eu me arrepiava por completo.

- Preparem-se no 3 - avisou o juiz.

Tudo é muito rápido em uma competição. Assim que o tiro é dado, apenas nado. Parece que meu corpo vai completamente no automático e se mistura com a água, tornando-se um só. A natação havia se encaixado em mim como uma trava de segurança em um portão abandonado. Era preciso, porém flexível.

Hoje eram apenas 100 metros no crawl. É meu melhor estilo. Acaba incrivelmente rápido, e logo posso ouvir os barulhos externos novamente.

- Houve um empate entre ambos os times, e deverá ir para a análise de vídeo - situa o olheiro - acabamos por hoje. Parabéns à ambos os times.

A adrenalina do esporte ainda corria em minhas veias, sentia todo o meu sangue subir à cabeça. Era tortura encarar isso diariamente.

Pouco a pouco, a piscina se esvaziou enquanto os nadadores começavam a se aquecer. A arquibancada também voltou às suas atividades diárias. Já havia se tornado um costume ficar um pouco mais na água para praticar alguns movimentos, ou para me esconder. Nem sempre era confortável chorar em público.

Quando o silêncio se instalou e não havia mais ninguém ao redor, saí da piscina e corri em direção à toalha no banco já vazio. Adentrei ao vestiário com meu corpo tremendo e meus pensamentos em tumulto. Queria paz, queria deixar a água quente queimar tudo aquilo que estava latejando dentro de mim.

Em certo momento, percebi o som do chuveiro e um canto. Era completamente melódico, desprovido de palavras, apenas uma voz pura. Resplandecia como o som de um anjo. Poderia ser encantado pela primeira nota?

Porém mais do que isso, era a mesma voz que cantava na rádio da escola durante a madrugada.

- TEM MAIS ALGUÉM AÍ? 

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