Amor em Chamas: O Contrato

Por hadassahya

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Apesar de ser herdeira, Hellena se tornou uma garota de coração humilde e solidário após passar por algumas s... Más

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Por hadassahya

Amanheceu e logo vi que o dia estava cinza e chuvoso lá fora, já fazia uma semana desde que eu tinha tido a pior notícia do mundo, ou pelo menos do meu mundo. E após eu ter aceitado meu cruel destino, eu havia entrado em algum tipo de estado de depressivo. Eu estava mal de verdade pelo que teria que fazer, eu sentia medo o que estava por vir. Mas não havia outra alternativa, nem outra escolha. Era o certo a se fazer. Eu só estava me permitindo sofrer por aquilo.

Passei maior parte da manhã na cama, nem mesmo havia percebido quando a manhã se tornou tarde e quando a tarde se tornou noite. Aquele dia cinza, úmido e vazio... parecia combinar com como eu estava me sentindo. Me casar com aquele idiota parecia um pesadelo para mim, mas eu nunca, nem nos meus piores pesadelos imaginei que um dia isso poderia acontecer. Na verdade, eu cheguei a acreditar que nunca mais veria ele pessoalmente de novo, mas isso seria bom demais para ser verdade.
Eu tentava muito não pensar em como iria ser, mas era inevitável. Eu pensava o tempo todo e isso me levava a uma ruína emocional.
Eu não sabia exatamente se eu estava dormindo ou acordada ou quase dormindo quando ouvi dois toques na porta.
- Entra! - eu gritei com toda a força que eu tinha, que não era muita.

Uma das funcionárias da casa, chamada Michelle, colocou a cabeça para dentro da porta e disse: - Senhorita Hellena, seu pai pediu que se vista adequadamente e vá até a sala de recepção do 2° andar, ele mandou informar que "Marcos Suller está aqui." -
- Obrigada Michelle, avise que ja estou indo. - Eu disse em total desânimo.
Antes de sair, ela terminou de passar pela porta me permitindo ver uma bandeja de café com dois sanduíches, suco de laranja e uma tigela com uvas, que deixou sobre a minha cama. Foi só neste momento em que eu me lembrei que não havia comido durante todo aquele dia. Eu sorri para ela em agradecimento pelo cuidado, ela deixou o quarto e me esforcei para comer um pouco para evitar um desmaio na frente do novo sócio de meu pai. Ele não me avisou que ele viria hoje, não que eu tenha saído do quarto para me informar, mas ele deveria ter me avisado. Eu não queria vê-lo, não queria sair da cama. Eu só queria continuar fingindo que eu não existia.
Mas eu precisava encarar a realidade, então terminei de comer, olhei para a tela do meu celular e eram 19:20 da noite, me levantei vagarozamente, tomei uma ducha fria extremamente rápida para que pudesse me despertar. Soltei o coque e penteei meu cabelo, vesti uma blusa de gola alta branca e uma saia plissada preta, calcei uma sandália baixa preta e tentei corar um pouco meu rosto pálido com blush. Caminhei até a sala respirando fundo e encontrando dentro de mim a melhor atriz que existisse.

Bati uma vez na porta e a abri, avistei meu pai na sala, que sorriu quando me viu, e o homem de cabelos brancos de costas então se virou e olhou pra mim, ambos estavam vestidos de terno. Marcos Suller olhou para mim e eu me esforcei para sorrir.
- Aí está ela. - disse meu pai.
Eu tentei manter uma expressão simpática.
- Olá pai! - Eu disse tentando sustentar um sorriso. Marcus Suller aparentava ter a mesma idade que meu pai, porém com algumas injeções de botox. Seus olhos tinham um tom intenso de azul turquesa, eles seriam lindos, se não em lembrasse do filho horrível dele.
- Marcus, deixe-me te apresentar a minha filha, Hellena. - Disse meu pai. Marcus estendeu a mão.
- É um prazer. - Eu disse sorrindo amigavelmente, torcendo pra não estar soando tão falso quanto realmente era, apertei a mão dele brevemente e então ele disse: - Prazer em conhecê-la, minha futura nora. - disse com um certo tom de brincadeira.
- Ela não é linda? - meu pai disse. Lancei um olhar de repulsa para ele. Eu me senti como uma mercadoria naquele momento, na qual ele iria vender para o filho deste homem. O filho que havia destruído minha sanidade mental e tornado minha adolescência um verdadeiro inferno.

- Ela é realmente linda! Ela deu sorte de não se parecer nada com você, Ricardo. - Ele disse em tom de brincadeira, e eles riram. Me esforcei para não revirar os olhos.
- Hellena, eu espero que você e Liam se dêem bem, saiba que temos planos de prosperar muito com essa parceiria.  -
Se ele soubesse o risco de morte que o filho dele correria morando na mesma casa que eu baseado em toda raiva que ainda sinto dele, ele não diria isso. Eu sorri, tentando parecer o menos colérica possível.
- Nós vamos nos entender. - Menti descaradamente com um sorriso dissimulado no rosto. Mas pareceu ter funcionado bem visando que Marcus e meu pai sorriram satisfeitos.
- Bom, estou aqui para tratar alguns detalhes sobre o contrato e claro... O casamento. Hellena, a questão é que não pode parecer um casamento falso, precisamos criar uma cena, é o casamento entre dois dos maiores herdeiros da cidade, vocês terão mídia, terão cobertura, pessoas querendo uma história de romance! Por isso vamos marcar um encontro entre vocês dois - Marcos dizia. Eu me sentia enojada de ouvir aquilo e ao mesmo tempo chocada em como todo o plano parecia estar pronto e eu era apenas uma peça entrando em cena. Marcus disse que teríamos que ser vistos juntos algumas vezes durante 3 meses para que o casamento não parecesse falso. Apenas a ideia de estar em um encontro com Liam Suller me deixava enjoada, mas eu teria que encarar.

O casamento já tinha data marcada, 7 de março.
Marcus Suller tinha alguns imóveis e nos "presentearia" com uma de suas casas em um condomínio na zona sul da cidade e meu pai já tinha comprado uma viagem para Paris na nossa "lua de mel". Que ótimo. Paris é incrível. E essa viagem iria estragar minhas memórias boas de Paris PARA SEMPRE.

Quando o Sr. Suller finalmente foi embora, minha mente estava cheia de todas aquelas informações e eu novamente voltei para o meu quarto para chorar. Meu passado começou a se passar na minha cabeça como se fosse um filme. Me lembrei de quando eu tinha 15 anos e já estava com bulimia desde os 13, por culpa do Liam e seu grupinho. Eu era só uma criança quando comecei a vomitar tudo o que eu comia e sentir culpa por cada caloria que eu ingeria.
Aos 13 anos, eu realmente era uma criança acima do peso. Eu só entendi isso mais tarde na terapia, mas por ter crescido sem minha mãe, que faleceu dando à luz a mim e com um pai que resolveu seu luto se afundando no trabalho e inaugurando mais hotéis, eu fui criada por babás, cresci em uma mansão grande o suficiente para me sentir ainda mais sozinha, por isso eu descontava todas as minhas emoções na comida. Eu cheguei a ter um início de obesidade mas eu nunca tinha me importado com isso ou com minha aparência até um certo dia em que eu estava no refeitório da escola comendo bolo de chocolate. Me lembrava de estar ao lado da minha melhor amiga quando eu vi Liam do outro lado do refeitório, apesar se ele ser um dos garotos mais cobiçados entre as meninas daquela idade, sua beleza interior não era tão boa quanto a exterior, ele costumava zoar os mais novos, os menores e os diferentes. Eu o via apontando pra mim e rindo muito, eu não entendia muito bem o que estava acontecendo naquele momento, mas em seguida, ele começou a imitar e tirar sarro da forma que eu comia e me chamou de "baleia esfomeada" na frente de todos os nossos colegas, que riram e me deixaram com aquele terrível nó na garganta. Aquele foi o dia em que tudo começou, ninguém mais me chamou de Hellena, mas só de "baleia esfomeada" e foi naquele dia que eu decidi que precisava fazer algo sobre meu peso.

A bulimia não me ajudava muito a emagrecer, na verdade eu comia até mais, comia compulsivamente por que sabia que poderia vomitar tudo depois, era um ciclo tóxico e vicioso. Logo também desenvolvi anorexia, percebi que parar de comer me fazia emagrecer mais rápido. Perdia alguns kilos mas nunca o suficiente para parecer magra, eu continuava sendo a "baleia esfomeada" e Liam garantia que ninguém esquecesse esse apelido. Por isso, aos 15 anos, nas férias de dim de ano quando estava prestes a ir para o ensino médio, eu decidi que precisava emagrecer e retornar magra para a escola. Pois eu já estava extremamente cansada de todo o bullying que vinha acontecendo á 2 anos. Por medo de também virar alvo, minha melhor amiga se afastou de mim, eu fiquei sozinha e a escola se tornou um pesadelo, eu passei a acreditar que se eu conseguisse emagrecer aquilo tudo iria mudar. Liam não teria mais motivos para me zoar e eu nunca mais sentiria aquela sensação de medo só de ver ele pelos corredores. Eu iria ser bonita e magra como as outras meninas, eu decidi parar de comer durante todo período de férias e só tomava coca-cola zero calorias para conseguir ter alguma energia com a cafeína, comecei a treinar na academia do condomínio. Eu perdi 8kg extremamente rápido e me animei com isso. Então continuei nessa "dieta" doentia.
Certo dia, eu estava na esteira e no meio do exercício tudo ficou preto e eu desmaiei, bati a cabeça em um dos aparelhos e acordei no hospital. Lá eu recebi atendimento médico e psicológico, houveram muitos questionários e exames de todo tipo pra saberem o que aconteceu. Foi então descobriram sobre o transtorno alimentar, todos os problemas emocionais e até sobre o bullying. Comecei a fazer terapia com uma psicóloga e fui acompanhada por uma nutricionista incrível e disposta a salvar a vida e saúde daquela garotinha ferida. Infelizmente me recomendaram internação por 30 dias em uma clínica específica para esse tipo de problema, por que sabiam que no ponto em que eu estava, eu precisava de observação, se ficasse sozinha em casa de novo, eu não iria parar com as tentativas de emagrecimento. Eu não queria ir, mas meu pai estava com medo de me perder, ele disse que já tinha perdido minha mãe, e não queria me perder também... Quando ele disse isso, eu acabei cedendo. No começo, eu tentei fazer truques de todo tipo na clínica, pra não comer ou pra vomitar. Eu ainda temia muito sobre meu peso. Mas eu era observada o tempo todo. Não podia sair da mesa enquanto não comesse. E assim eu ganhei de volta todo o peso que havia perdido.

Quando voltei para casa, eu tinha me livrado dos transtornos alimentares, já conseguia comer sem sentir culpa ou pensar obsessivamente sobre calorias. Mas Liam não deixou de ser um babaca e o bullying voltou assim que eu voltei para a escola.
Eu ainda era a "baleia esfomeada". Na metade do 1° ano do Ensino Médio, sem aguentar mais um segundo daquela situação, eu contei ao meu pai sobre todo o bullying e implorei para que ele me trocasse de escola. Queria também ficar longe daquela cidade, então pesquisei e encontrei um internato católico feminino na cidade vizinha e convenci meu pai a me matricular lá. Ele foi facilmente convencido pois era uma escola interna renomada na região e junto com o ensino médio eu faria um curso técnico em administração. A escola era rígida mas foi a melhor mudança que ocorreu na minha vida, lá eu fiz amizades de verdade e esqueci de Liam e de todo o bullying.
Eu segui com o tratamento nutricional e pedi que a minha nutricionista me ajudasse a emagrecer de forma saudável, comecei a praticar corrida no meu tempo livre no internato. Em 6 meses eu já havia chegado ao meu peso ideal de forma saudável, mas o melhor de tudo isso, é que eu realmente havia aprendido a amar meu corpo, não só por ter emagrecido, mas por estar saudável, física e mentalmente. Eu me tornei mais forte e tinha a certeza de que não deixaria ninguém, nunca mais, destruir isso de novo.

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