- Chegamos, querida. - Lydia ouviu uma voz doce, enquanto seu corpo era sacudido delicadamente, tentando retira-la de seu sono. A garota abriu os olhos despertando, soltou um bocejo e sentiu seu corpo doer em protesto da forma na qual havia "cochilado" no banco do carona do carro de seu pai. Léo lhe estendia sua mão, a qual ela ainda meio sonolenta aceitou e desceu, sentindo o vento leve jogar seus cabelos para trás. Lydia correu seus olhos pelo local e percebeu que o carro havia sido estacionado pouco antes de começar a praia na qual sua nova casa se localizava.
- Vem, as meninas já estão retirando as caixas do caminhão. - explicou seu pai sem soltar sua mão, lhe guiando rumo a Meredith e Loren. Lydia olhou a segunda com carinho e mágoa, estava zangada por ela ter lhe tirado de seu "mundo" e a levado para aquele lugar contra sua vontade.
- Vou conhecer a casa, depois busco minhas caixas pessoais. - disse sem esconder a raiva que lhe consumia. Logo em seguida mudou o seu rumo e afundou sua sandália na areia que invadiu a mesma, caminhando em direção a enorme casa que chamaria de lar.
Era muito, muito bonita. Possuía uma estrutura de dois andares e o exterior era tingido por uma cor branca. As portas e janelas eram feitas de vidro e a grama estava muito bem amparada, embora houvesse um oceano a menos de cinquenta passos, o interior do pátio ostentava uma piscina de se dar inveja.
Era um lugar realmente belo, a vista para o mar deveria ser impressionante lá de cima, e morar literalmente na praia, devia ter muitas vantagens. Mas não havia nada naquela casa que compensasse sua tristeza e fúria, por ter sido praticamente arrancada de Nova York e levada para longe da vida que conhecia e amava.
Ainda frustrada ela conferiu que a casa estava toda mobiliada, por isso sua mãe se recusou em levar os móveis antigos, sugerindo que as garotas levassem apenas suas roupas e os itens pessoais. Quando terminou a avaliação no andar de baixo, percebera que era realmente tudo muito lindo e impressionante, se viu ansiosa para ver seu quarto, que como todo o restante da casa, já devia estar decorado.
- O quarto maior é meu! - ouviu a voz de Meretedith gritar, o que a fez subir as escadas de vidro correndo, não perderia para ela, não daquela vez.
Chegando no segundo andar, encontrou-se diante de três portas brancas, limpinhas e novas. Abriu a primeira delas e não conseguiu evitar que seu queixo caísse boquiaberto. Era realmente um sonho! Ainda mais bonito do que o seu quarto anterior. Tudo dentro combinava, seguindo um padrão da mesma combinação de cores. Com móveis caros e elegantes, dignos de uma adolescente rica de dezesseis anos.
Quando Lydia deu por si, já estava explorando o aposento e sorrindo satisfeita com o quarto que escolherá. A cama era macia e havia uma sacada com vista para o mar, simplesmente, perfeito...
Ainda estava admirando tudo quando sua mãe entrou no quarto, carregando uma caixa em suas mãos e um sorriso em seus lábios.
- Então gostou do quarto. - Loren sorriu orgulhosa de si mesma e depositou a caixa no chão, sua filha lhe revirou os olhos.
- É bonito. Mas não pense que isso vai me fazer facilitar as coisas, você sabia que eu não queria vir.
- E mesmo assim está aqui, não é? - a voz da outra soava despreocupada, deixando claro que não iria bater cabeça com sua filha. - Isso porque é de menor e não tem escolha. Deixe de ser rabugenta, pode ser legal morar aqui.
- Você é uma chata. - reclamou, birrenta, odiando estar perdendo aquela discussão. Mas Loren conseguia deixar qualquer um se palavras, raramente era tirada do sério.
- Nossa, doeu. - ela levou sua mão ao peito e fingiu estar ofendida. - Agora não vou mais trazer suas caixas. - gritou saindo do quarto. - Vá você mesma busca-las.
Irritada, Lydia deixou seu quarto e bateu a porta com força, desceu as escadas rapidamente e bufando. Conforme se aproximava do caminhão, ouviu o choro abafado e reconheceu o mesmo sem ver a dona das lágrimas, seu peito doeu e suas pernas trabalharam com mais agilidade.
- Mery? - chamou com cautela ao ver a irmã encolhida em um canto do interior do automóvel, a cabeça enterrada no meio dos joelhos.
- Me deixe em paz. - murmurou a morena, tentando manter sua voz neutra. Mas sua irmã a conhecia bem o suficiente para compreender o estado da jovem.
- O que aconteceu? - Lydia perguntou baixinho, se abaixando ao lado da outra e tocando seu ombro em consolo.
- Ele me deixou. - choramingou, finalmente erguendo sua cabeça e expondo seu rosto molhado e de maquiagem borrada, seus cabelos também estavam um pouco bagunçados, denunciando que ela havia os puxado em uma tentativa de conter a raiva. - Ele terminou tudo pelo celular...
Entendendo a dor e as lágrimas de Meredith, Lydia não dissera nada, apenas afundou sua irmã em seus braços e deixou a jovem chorar compulsivamente pelo seu término. Não compreendia porquê Bruno havia terminado aquele relacionamento de anos, os dois eram tão apaixonados... O amor não deveria ter acabado do dia para a noite.
Descansando a cabeça no peito da irmã, a morena fungou deixando-se ser amparada.
- Ele disse que não daria certo. - revelou um pouco mais calma, mas ainda assim chorando. - Disse que não poderíamos ficar juntos com toda essa distância.
- Você precisa ficar calma, de um tempo a ele. Talvez só esteja inseguro. - aconselhou tentando soar racional. Mas sabendo que sua irmã não era tão prudente assim.
- Não. - disse convicta, negando freneticamente com a cabeça enquanto afastava seu rosto do corpo de Lydia e limpava sua face com as costas de sua mão. - Ele quis assim, tomou essa decisão. Agora terá de lidar com as consequências.
- O que vai fazer, Meredith? - perguntou após um suspiro pesado, sabia muito bem o que estava por vir.
Conhecia ao pé da letra a versão solteira de sua irmã mais velha. Era uma garota festeira que bebia até cair e voltar carregada para casa, deixava todos os garotos sedentos por ela e raramente abandonava a festa sem ter beijado pelo menos duas bocas.
- Eu vou me divertir! A moça que vendeu a casa para mamãe contou que vai ter uma festa aqui na praia. - falou agitada, colocando muito ânimo em suas palavras. Já não havia mais vestígios da dor, mas ela ainda estava ali. - E você vai comigo.
Assim como a irmã, Lydia negou freneticamente com a cabeça.
- Nem pensar. - disse já se erguendo. - Você sabe o que eu penso desse lugar.
- Por favor, maninha. - Meredith fez beicinho segurando em suas mãos, seus olhos ainda lacrimejantes. - Vai ser legal fazer amigos já que vamos morar aqui agora.
- Por um ano. - resmungou ainda em negação.
- Mesmo assim. - argumentou soltando as mãos da garota e fazendo conchas com as mesmas, de forma suplicante. - Vá, por mim...
- Não. - disse tentando manter-se firme. Mas seus olhos reviraram nas órbitas quando a outra fez carinha de cachorrinho sem dono. - Saco! Tudo bem...
- Parem com isso. - Luce pediu atravessando a porta de sua casa e se sentando de braços cruzados no sofá, emburrada. Sua mãe e seu melhor amigo vinham em seu encalço, dando altas gargalhadas de forma cúmplice, deixando a jovem ainda mais zangada. - Eu odeio vocês. - praguejou, jogando uma almofada em ambos que estavam tendo a maior crise de riso, sem se importarem com o fato de estarem deixando-a constrangida.
- Por que, gata? - perguntou Bellamy, com a mão sobre sua barriga em uma tentativa de se controlar. - Só porque achamos engraçado a forma que você fica toda vermelhinha e perdida quando o Luca está por perto?
Somente ao ouvir o nome do garoto fez o coração de Luce disparar, imagine quando ela o via todo lindo no seu grupo de amigos populares...
Luca era o seu primeiro amor, o seu amor platônico. Ele era perfeito diante dos olhos da menina, seu único defeito era Betty Denver, sua namorada.
- Se não pararem eu não vou mais na festa. - avisou começando a ficar desconfortável com os comentários. Seu amor por Luca Drummond não era uma brincadeira, ou algo para os outros se entreterem.
- Nossa, tudo bem então. - Bellamy finalmente terminou suas gargalhadas e se sentou ao lado da jovem, com as pernas cruzadas. - Que mau humor.
Poucas horas se passaram e Luce juntamente com seu melhor amigo, não suportava mais esperar por Agatha. Que havia desfilado com diversos look diferentes e mesmo assim não parecia satisfeita com roupa alguma.
- Como eu estou? - quis saber a loura, caminhando em frente aos seus "telespectadores" que sentados no sofá com cara de tédio, responderam "maravilhosa" pela milésima vez.
- Pois eu não gostei. - choramingou como uma criança mimada fazendo birra. As vezes Luce se perguntava quem realmente era a mãe ali.
- Mas você está linda. - repetiu sua filha, respirando e inspirando profundamente, para manter seu controle. Ela própria havia demorado menos de uma hora para estar pronta, optando sempre pelo mais básico já que nunca fora o tipo de garota que gostava de ser o centro das atenções.
Agatha fitou mais uma vez seu vestido vermelho e ousado, depois negou com a cabeça e começou a se locomover rumo ao quarto, indo testar mais alguma coisa que descartaria em seguida. Foi nesse exato momento em que Luce se ergueu e soltou um "nada disso" zangado, colocando as mãos nas costas de sua mãe e empurrando-a sem brutalidade para a porta.
- Vamos nos atrasar assim. - reclamou enquanto a outra trancava o corpo, tentando impedir de ser carregada. Sendo empurrada pela menina, Agatha chegou até o carro reclamando e ainda muito descontente com sua roupa.
Luce realmente achava que a mãe estava divina, melhor que muitas adolescentes de Magic City. Agatha possuía uma beleza extraordinária. Em torno de seus trinta e cinco anos, ainda possuía uma aparência encantadora, trazendo traços da modelo que fora um dia.
Sua filha não se parecia em exatamente nada com ela, nem mesmo o tom de suas peles eram iguais, sendo uma morena e a outra branca, seus olhos tão poucos possuíam a mesma cor, os de Luce eram castanhos escuros e os da mãe azuis vivos. Sua altura também não era a mesma, Agatha possuía muitos centímetros a mais, porém seu cabelo curto no ombro, era muito menor que os longos da filha.
Quando todos já estavam dentro do automóvel, os amigos colocaram a música no talo para não ouvir as reclamações exageradas da responsável.
Descalço, Rebeka caminhava pela praia ao lado de sua melhor amiga e também de sua prima. Ambas estavam muito bonitas e chamavam a atenção geral no ambiente aberto aonde rolava uma "festinha". Havia carros estacionados sobre a areia, com seus porta malas escancarados revelando rádios enormes com luzes coloridas. Distribuindo cores por todos os lados. Por toda parte havia pequenos grupos de amigos, aonde rolava conversas animadas, bebidas, drogas e beijos.
- Boa noite meninas. - uma voz rouca, sensual e educada ecoou nas costas das três, fazendo-as se virarem para quem quer que fosse o garoto.
Riley, um dos jogadores de Lacrosse, estava parado ali com suas mãos enfiadas até a metade no bolso de seus jeans surrados e um sorriso sapeca em seus lábios.
- Boa noite. - Rebeka e Danna devolveram ao cumprimento do amigo. Mas não Clark, a nerd estava mais vermelha do que um pimentão e fitava o chão para não ter de encarar o garoto perfeito por quem carregava montanhas e tinha "abismos" ao invés de uma quedinha.
- Bebida? - o rapaz ofereceu gentilmente e Rebeka não se demorou para dar logo um longo gole, saboreando o fato de finalmente poder se divertir livremente, sem todas as regras rígidas que sua família ditava. Assim que ingeriu um pouco do álcool, ela passou o copo para sua prima que obviamente negou com a cabeça, ainda muda e fitando o chão. Somente aí, quando fora passar o copo para Danna, Rebeka percebeu a ausência da mesma, insatisfeita com o fato da garota ter dado no pé de fininho.
Girou seus olhos procurando pela loura, parando em vários rostos até finalmente detectar o dela. Parada em frente a um rapaz um pouco mais alto, Danna sorria e parecia entretida em algum assunto ao qual sua melhor amiga não conseguia ouvir.
- Já volto. - Rebeka avisou a ambos seus companheiros e já começava a sair quando sentiu uma mão segurar seu cotovelo com delicadeza.
- Vai me deixar aqui sozinha? - Clark quis saber, seu tom baixo e apavorado fazia parecer que ela estava exposta a algum perigo. - Com... Ele?
A nerd estava envergonhada, as mãos trêmulas e as maçãs rosadas, juntamente com o fato de que a evitava encarar o moreno, era uma prova constante disso.
- Ei amor, eu não mordo. - Riley entregou que havia escutado o seu baixo murmúrio e seu comentário deixou a garota mais surpreendentemente vermelha. A menina finalmente ergueu seus olhos e muito sem graça sorriu para ele. Rebeka aproveitou essa deixa para se afastar e caminhar até Danna. Quando ela chegou perto o suficiente para sua melhor amiga notar sua presença, Danna lhe olhou com doçura e sorriu.
- Desculpe ter sumido do nada. - pediu, quando a jovem finalmente parou ao seu lado. - Eu vim cumprimentar Ryan.
- Oi. - o rapaz lhe esticou a mão para um cumprimento formal. Ele era bonito e seu rosto lhe soava muito familiar, talvez já tivessem trombando um com o outro por ali, afinal, era uma cidade pequena.
- Oi. - devolveu ao aperto, com o mesmo sorriso simpático.
- É amiga do meu irmão? - perguntou ele de repente, inclinando sua cabeça em direção a Riley que parecia entretido conversando com sua prima. Apesar de não ter imaginado, percebeu que era meio óbvio a linhagem sanguínea de ambos serem as mesmas. Eram incrivelmente iguais e por isso o rosto lhe era tão familiar, se não fosse pela pele morena de um e branca do outro, poderiam passar por gêmeos.
- Conhecida. - esclareceu sem soar rude, o outro acenou com a cabeça e voltou sua atenção para Danna, reiniciando a conversa.
Rebeka ouviu em silêncio eles adentrarem em um assunto pessoal, esquecendo-se momentaneamente de sua presença. Sendo assim, ela não quisera interrompe-los e também não queria atrapalhar sua prima e Riley, que pareciam estar se conhecendo melhor. Pelo visto teria de encontrar algum outro conhecido para poder "matar" seu tempo até que suas amigas estivessem disponíveis novamente.
Com isso em mente, a jovem começou a se locomover pela areia, andando em meio a muitos adolescentes que dançavam e bebiam ao som da música eletrônica. Enquanto caminhava, Rebaka teve sua atenção voltada para o oceano, aonde bem na beira da água havia o Iate mais lindo que ela já havia contemplado. Fitou o mesmo por segundos, percebendo que dentro dele a festa também se estendia, apesar de ter uma vista limitada, podia ver que o clima estava tão divertido quanto do lado de fora, parecia mais uma "festinha particular" mesmo que qualquer um pudesse ter acesso.
- É lindo, não é? - perguntou e somente aí a jovem se dera conta de que havia uma presença ao seu lado. Se virou e encontrou uma morena baixa, cabelos longos e negros e um sorriso pequeno nos lábios, seus olhos estavam voltados para o Iate.
- Realmente, é muito lindo. - concordou amigavelmente.
- Pena não podermos dizer o mesmo do caráter do dono. - uma segunda voz surgiu, fazendo Rebeka olhar para trás e ver um garoto bonito se aproximando, ele trazia um sapato feminino em suas mãos. - Aqui, gata. - disse entregando a sandália para a menina morena que sorriu.
- Quem é o dono? - Rebeka não conseguiu conter sua curiosidade, dessa vez olhando para o casal de amigos.
- James Alves. - contou o garoto todo animado, um tom de malícia escondido em sua voz um pouco afinada. - Você deve conhecê-lo. É o garoto mais popular de Magic City.
Sim, a jovem o conhecia. Ele era um riquinho idiota do seu ciclo de amigos. Apesar de ser muito bonito, James era o tipo de cara que zoava nerds para se sentir superior. Ela particularmente, não tinha nada contra o capitão do time de Lacrosse, mas também não tinha nada favor.
Algum tempo se passou e ela ficou conversando com os adolescentes que apresentaram-se como Bellamy e Luce, eram muitos simpáticos e estranhou nunca tê-los conhecidos antes, já que eram também colegas de turma.