O melhor ano do nosso colegial

By leonmwah

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Nicholas é um garoto gay que acaba de sair da sua antiga cidade para viver uma aventura em São Paulo junto co... More

BOOKTRAILER ❤️
1 • A matrícula
2 • O Shopping
3 • A palestra
4 • O primeiro dia de aula
5 • A garota da palestra
6 • A inscrição para o clube de teatro
7 • A audição
8 • A aula de música
9 • O primeiro dia no teatro
10 • O clube de música
11 • A festa do teatro
12 • Domingo de ressaca
13 • A novidade de Gabriela
14 • O desentendimento no refeitório
15 • O jogo de queimada
16 • O fim de ótimos momentos
17 • O colega de Joana
18 • A Festa Junina
19 • O parque
20 • Uma festa entre amigos
21 • A conversa na estrada
22 • O vizinho
23 • Um papo de saudade
24 • A casa de Thomas
25 • O quarto de Thomas
26 • A conversa com Amélia
27 • O começo de uma última aventura
28 • O fim de uma última aventura
29 • A volta para casa
30 • O segundo primeiro dia de aula
31 • A aluna de intercâmbio
32 • A briga no corredor
33 • A conversa com a diretora
34 • Um recomeço
35 • Um canto no teatro
36 • Inscrição para cheerleader
37 • O reencontro na biblioteca
38 • O teste de Gabriela
39 • O problema de Gabriela
40 • A ideia
41 • A conversa depois do jogo
42 • A segunda festa do teatro
43 • A grande notícia
45 • A apresentação
46 • A proposta
47 • A escolha do vestido
48 • O casamento
49 • Noite de Natal
50 • Ano Novo

44 • O encontro

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By leonmwah

Muito obrigado a todos que acompanharam a história até agora, de verdade! Comecei a escrever em 2018 e não acredito que eu só ainda não terminei por pura preguiça e algumas tristezas pelas quais passei... mas o importante é que finalmente estou terminando esta história!! O último capítulo será o 50 e eu prometo que antes do Natal eu posto ele, mas também pode ser muito antes também!!!

Enfim, de qualquer jeito, obrigado por todos os likes, comentários e 10k de leituras totais em todos os capítulos <3 vocês são incríveis (mesmo que muitas vezes deixem de comentar nos capítulos mesmo que eu implore um milhão de vezes por isso rs).

Amo vocês!!!!!!! Agora podem ir pro capítulo kkkkkk (O maior até agora) Vê se comenta!!!

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*

Meus amigos ficaram muito felizes quando eu contei o que havia acontecido entre Joana e Jonathan; Gabriela admitiu que seu sonho era com que algo do tipo acontecesse com ela e, obviamente, fez questão com que Amalie tivesse por perto para que ouvisse isso.

Falando sobre nelas, depois da festa, ambas assumiram finalmente um relacionamento sério durante o café da manhã, enquanto nós quatro sentávamos à mesa e comíamos nosso lanche; Gabriela agora, de fato, comia um lanche. Vinicius e eu ficamos feliz, mas no momento em que nossos olhares se cruzaram, rimos para disfarçar a sensação estranha que havia surgido.

— Precisamos falar sobre tudo o que aconteceu — ele me disse depois que havíamos nos despedido das garotas e estávamos no meu armário para que eu pegasse o livro de geografia.

— Sobre o que exatamente? — perguntei, fingindo não saber do que se tratava.

— Nick, eu não quero que as coisas acabem como da última vez.

Fechei a porta do armário e, enquanto andava pelo corredor e abraçava meu livro contra meu peito, fingia não ter ouvido nada o que ele dissera.

— Nada vai mudar, Vini.

Ele me puxou para um corredor que dava para os banheiros e me deu um beijo na boca. Fiquei sem ter o que fazer, apenas deixar com que o momento continuasse. Eu estava aberto à mudanças e já não temia mais quais elas fossem.

— Eu realmente gosto de você, Nick — Vini admitiu comigo de costas para a parede e ele na minha frente praticamente me impedindo de sair daquela situação.

— Você fala isso como se eu também não pensasse isso.

Dei-lhe um beijo.

— Às vezes parece que você não está tão a vontade com tudo isso que aconteceu e está acontecendo; como agora por exemplo. Você não para de olhar para os lados, como se estivesse a todo momento querendo ter certeza de que ninguém está nos olhando.

Me deu um beijo.

— Vinicius, você tem que entender que isto tudo é muito novo para mim e, de certa forma, tudo isso parece um crime que estamos cometendo.

Lhe dei um beijo.

— Você é o crime que me dá vontade de continuar cometendo só para viver o prazer do presente que é estar com você.

Me deu um beijo.

— Ao invés de sermos presos, vamos acabar indo para a diretoria se chegarmos atrasados na aula! — eu concluí sem dar um beijo nele, mas ao invés disso, o puxando de volta para o corredor.

Entramos na sala de geografia, que tinha em todas suas paredes, mapas de todos os tamanhos e cores pendurados e sentamos em nossas carteiras; como sempre, ele atrás de mim.

— Ainda não acredito que isto tudo está acontecendo! — ele falou por fim antes que o professor notasse nosso atraso.

— Nem eu.

Abrimos nossas mochilas, preparamos nosso material e fingimos prestar atenção na aula, enquanto sonhávamos internamente com um final feliz quase impossível entre duas pessoas do mesmo sexo, no primeiro ano do colegial de dois adolescentes que vivem num país como o Brasil.

***

O sinal, indicando a hora do almoço, bateu e Vini e eu estávamos com tanta fome que nem guardamos os livros que não precisaríamos mais nos horários seguintes nos armários.

— Este peso na mochila é o preço que se paga quando se está com fome e quer comer logo! — disse ele quando íamos direto à fila das bandejas.

Chegamos e, quando percebemos, Antoine era quem estava na nossa frente na fila. Bastou ele olhar para trás para as batidas do meu coração acelerarem e os punhos de Vinicius cerrarem.

Momentos antes que Antoine conseguisse dizer qualquer coisa, lembrei que eu não havia contado para ninguém o que havia acontecido entre nós no banheiro outro dia, ainda. Eu precisava contar? Era algo de fato importante de ser compartilhado? Concluí internamente que aquilo não era da conta de ninguém. Eu e Vinicius nem namorávamos para sequer eu precisasse justificar qualquer coisa relacionado ao beijo com Antoine, que na verdade nem tinha sido um beijo, mas sim um tipo de teste.

— E aí Vinicius e... — ele quase falou a palavra bicha, mas provavelmente se lembrara de tudo o que tinha acontecido e se corrigiu antes mesmo de ter cometido o erro — ... Nicholas.

— Por que parece que você está em todo lugar? — Vinicius falou.

— Meninos, não briguem! — Tentei impedir uma possível discussão.

— Vocês formam um lindo casal. — Antoine admitiu num tom que me deixou em dúvida se era irônico ou sério.

— Seu filho da... — Vini se aproximou de Antoine.

— É sério — ele interrompeu, — eu vi vocês dois juntos no dia da festa. Vocês de fato formam um lindo casal.

Vinicius ficou sem o que fazer.

— Obrigado! — agradeci sorrindo antes que Vini pudesse dizer algo que talvez pudesse fazer com que toda a conversa com Antoine tivesse ido em vão.

Antoine então virou para frente novamente para conversar com seus amigos e Vinicius olhava para mim bobo, como se houvesse um milhão de palavras querendo saltar para fora da sua boca, mas a situação havia as impedindo de fazer isso. Segurei sua mão e lhe mandei um sorriso; ele retribuiu e ambos esperamos quietos pela chegada da nossa vez.

Senti meu celular vibrar em meu bolso; era mensagem de Gabriela.


Gabriela: Amoreco, eu e a Amalie não vamos almoçar hoje, quer dizer, vamos comer um lanche que trouxemos de casa... precisamos de um momentinhos a sós, se é que você me entende. Não tem problema, né?

Eu: Claro que não. Do tanto que você coma, está tudo bem.

Gabriela: Dá para por favor tentar esquecer de tudo que aconteceu?

Eu: É difícil! Não quero ver você daquele jeito de novo.

Gabriela: Mas confie em mim que aquilo não vai mais se repetir, pelo menos.

Eu: Ok, eu confio.

Gabriela: Obrigada :-) Além disso, é um ótimo momento para que você e Vini tenham um momento especial entre vocês também! hihihihi

Eu: Vai cagar!


— Era a Gabriela — falei para Vinicius quando ele pegou sua bandeja e eu estava prestes a pegar a minha. — Ela disse que ela e Amalie não vão almoçar com a gente hoje.

— Teremos um perfeito almoço à luz de velas! — Vini debochou enquanto pegava a salada e eu ainda escolhia qual carne eu comeria.

— Vocês deveriam marcar logo um encontro! — Antoine disse passando por nós com sua bandeja já pronta.

Vini e eu nos olhamos e levamos aquele comentário a sério. Alguém na fila nos mandou ir logo, então nos apressamos e quando chegamos em nossa mesa, conversamos sobre a possibilidade de fazermos de fato um encontro.

— Fechado! Sexta-feira depois da aula! — Ambos concluímos depois de terminarmos a conversa sobre o assunto e levarmos a última garfada de comida à nossa boca.

***

Vinicius e eu saímos da Dallas e fomos direto ao ponto de ônibus que nos levaria ao Shopping que havíamos combinado de ir. Hoje, não teriam reunião dos clubes, portanto seria o dia de semana ideal para isso. Eu tinha mandado mensagem para Joana, dizendo que eu sairia com Vini; ela deixou tão facilmente que acabei concluindo que Jonathan havia sido o motivo.

A todo momento que eu olhava pra Vinicius, eu pensava em um milhão de coisas certas que eu poderia falar, simplesmente para impedir com que uma coisa errada aparecesse e conseguisse estragar tudo. Apesar de ser amigo do dele, naquele eu momento eu queria impressiona-lo; eu fiquei meio zangado, pois Vini não precisava fazer nada para me impressionar, pois ele estando comigo já me vazia voar para alturas das quais eu jamais havia ido; já eu, bem, tinha que ser perfeito.

Nunca achei que de fato, um dia, eu teria um primeiro encontro; este foi o tipo de coisa que para mim sempre foi normal acontecer com outras pessoas, porém em meu universo, isto estaria totalmente fora de cogitação. Acredito que para Vinicius, tudo aquilo estava sendo pura brincadeira, como se o que Antoine tivesse falado sobre irmos a um encontro, fosse de brincadeira, portanto também estaríamos supostamente indo de brincadeira, entretanto, na minha cabeça, eu estava levando a sério o máximo que eu podia daquela situação; tanto que, quando entramos no ônibus e sentamos um do lado do outro, achei que seria interessante eu apoiar minha cabeça em seu ombro, só que, o que eu não esperava, era que depois disso, ele fosse me dar a mão. Quando me dei conta, ambos parecíamos um casal dentro de uma cena de um filme romântico.

Segurar a mão áspera, mas ao mesmo tempo macia de Vinicius, me fazia sentir seguro, como se uma bola de proteção tivesse surgido em nossa volta nos separando do maldoso mundo ao lado de fora das janelas riscadas do ônibus.

Enquanto virávamos as ruas e parávamos em faróis, eu listava mentalmente todas as minhas inseguranças perante a situação... já ele parecia estar tão pleno quanto uma pena quando se desprende de um pássaro e cai lentamente em direção ao chão.

Eu queria falar alguma coisa, e não simplesmente passar todo o trajeto em silêncio, entretanto, se eu abrisse a boca, eu poderia dizer algo que talvez fosse estragar todo o resto da tarde. Ficar em silêncio deixava em aberto: eu não dizia nada de certo, mas também nada de errado.

— Olha a pintura naquela parede — Ele apontou para uma arte de grafite no instante em que paramos num semáforo, o que me fez tirar cabeça de seu ombro, mas ainda segurando sua mão.

Socorro, o que eu falo? Concordo? Discordo para talvez iniciarmos um diálogo? Seria mesmo interessante começarmos uma conversa sendo que a probabilidade de eu estragar tudo seria grande? Fora que, se eu discordar, talvez ele ache que sou aquele tipo de pessoa preconceituosa contra artes daquele estilo.

Fiz um barulho desconhecido pela ciência que, na minha cabeça, não indicava com que eu estivesse concordado e nem discordando.

— O que isso significa? — perguntou rindo e finalmente olhando em meus olhos, me fazendo congelar e limpar a garganta.

— E-e-e-e-e-e-e-eu n-n-não s-sei.

Vini riu por um tempo e depois finalmente voltou ao normal. Me senti bobo, de um jeito ruim, como se eu não fosse forte emocionalmente o suficiente para passar por aquela situação. Vini parecia muito confiante, e eu estava sendo péssimo tentando ficar calmo.

O ônibus seguiu seu trajeto e ambos continuamos de mãos dadas pelo resto do caminho.

— Chegamos! — ele disse quando o ônibus parou, como se eu não tivesse capacidade cognitiva o suficiente para reparar que havíamos chegado.

Levantamos de nossos assentos e Vinicius desceu primeiro, para que pudesse estender a mão para mim, como quando o príncipe estende a mão para a princesa quando esta desce da sua carroça. Sem pensar duas vezes, segurei em sua mão como se eu nunca tivesse descido sozinho de um carro na vida. Com um sorriso mostrando suas covinhas, ele deu um beijo no peito da minha mão e uma piscadinha em seguida.

— Isso era para ser romântico? — debochei da situação, sendo que internamente achei o máximo e senti como um sonho tivesse se realizado.

— Sim — ele riu.

Entramos no Shopping e fomos na direção da bilheteria do cinema. 

Enquanto andávamos ao lado um do outro, eu batia minha mão suavemente na sua, pois nossos braços se encostavam conforme andávamos, a fim de que juntássemos nossas mãos. Quando eu já havia perdido a esperança, Vini entrelaçou seus dedos nos meus e, pela primeira vez, senti como se parte de mim estivesse realmente sendo finalmente completada. Andamos de mãos dadas até chegarmos na bilheteria.

— O que vai querer assistir, coração? — ele perguntou, soltando o ar logo em seguida, olhando para cima em direção dos cartazes dos filmes e apoiando suas mãos na cintura.

Coração. Muitas vezes eu já havia imaginado um cara me chamando de amor, querido, anjo, ou até mesmo bebê... mas, coração jamais passara em minha cabeça. Achei romântico. Enquanto Vini esperava minha resposta, eu me julgava internamente por estar parecendo um adolescente em seu primeiro encontro com um alguém do qual esperou muito tempo para isso. Pensando bem, sou um adolescente e estou de fato num encontro. Ok, mas vou continuar me julgando mesmo assim.

— Humm, não sei — respondi por fim.

— Ficou este tempo todo pensando para no final dizer que não sabe?

Dei um soco leve em seu ombro, seguido por risadas de nós dois juntos. 

— O que acha de um filme romântico? — Vini perguntou ao voltar seu olhar para os cartazes novamente.

— Não acha muito clichê?

— Talvez... um filme de comédia?

— Acho muito forçado.

— E se assistirmos um filme de terror? — ele perguntou com um último suspiro de esperança.

— Mas ai não vamos conseguir nos beijar.

— Pera aí, você quer me beijar?

Eu não acredito que eu tinha deixado aquele desejo intrínseco pular para fora da minha boca. Sempre que eu dava sinais de que queria Vini de alguma forma, ele tirava vantagem e ficava contente.

— Eu não disse isso! — falei no mesmo instante, mesmo sabendo que eu já havia inflado o ego dele e que já não tinha mais o que fazer.

Quando eu estava perdido pensando sobre as milhões de possibilidades de respostas que ele poderia dar para minha última fala, fui surpreendido com um selinho do qual em primeiro momento pensei em cortar, mas que depois decidi deixar continuar.

Eu não conseguia acreditar que eu estava com Vinicius Alencar na minha frente me beijando, na fachada da entrada do cinema, dentro de um shopping. Às vezes fico pensando: se o Nicholas do começo do ano, logo quando estava procurando a turma que havia caído num mural da Jorge Dallas, soubesse de tudo que aconteceria entre ele e o garoto que se apresentou naquela manhã, qual será que seria sua reação?

Ele afastou seus lábios dos meus e, com um sorriso, eu já me via perdido no seu olhar, que se vestia de isca enquanto me fazia parecer ser peixe.

— Comédia?

— Comédia!

Fomos à fila e compramos nossos ingressos para a sessão que começaria depois dos próximos vinte minutos. 

— Quer fazer alguma coisa? — ele perguntou enquanto colocava os papeis em seu bolso da calça jeans.

Te beijar? Adoraria!

— Ah, não sei. Andar, talvez? — respondi torcendo infinitamente para que ele concordasse com a sugestão.

— Claro! E eu também adoraria dar a mão de novo para você... se for possível, claro.

Eu queria tanto apertar as bochechas de Vinicius a ponto de que elas se estourassem e explodisse sangue para todos os lados, mas, a sanidade mental me manteve sob controle o suficiente para não fazer isso.

Olhamos um ao outro, sorrimos e no momento em que demos nossas mãos, começamos andar pelo longo e largo corredor, olhando para as vitrines das lojas das quais Vini facilmente poderia comprar o que desejasse delas, e eu, bem... sonhar com o que eu pudesse ter um dia.

Eu NUNCA tinha pensado até então, especificamente, na diferença de dinheiro que meus amigos tinham em comparação comigo, mas se eu e Vini começássemos a namorar, isso provavelmente seria um problema. Vini nunca tinha ido à minha casa, apenas Gabi. Será que se ele visitasse-a, acabaria desistindo da possibilidade de ambos namorarmos? Como se eu fosse um fardo que ele precisasse carregar e sustentar? Eu jamais deixaria alguém me sustentar, mas será que ele saberia disso? Será que Gabriela continuou sendo minha amiga, depois de ter visto onde eu moro, por dó?

Nicholas, você nunca foi de pensar sobre este tipo de coisa. Não ter muito dinheiro nunca foi um problema para você. Por que está pensando nestas coisas? — me auto repreendi.

— Está tudo bem? — Vinicius me perguntou enquanto paramos, preocupado. 

Olhei para o fundo de seus olhos e busquei imagina-lo na realidade que eu havia criado na minha mente: um Vinicius loucamente apaixonado por mim, mas que quando visse como eu sou de verdade, rapidamente iria embora sem olhar para o garoto em cacos que deixara para trás... eu.

Soltei sua mão e ele não soube muito bem como reagir. Olhei para o lado e vi que estávamos na frente do corredor que levava aos banheiros.

— Preciso ir ao banheiro! — falei, implorando para que ele não precisasse ir junto.

— Ok, te espero aqui. — Ele sorriu, mas eu sabia que ele tinha certeza da existência de algo errado comigo. Eu por outro lado, suspirei aliviado por ele não precisar ir ao banheiro também.

Virei de costas para ele e fui andando normalmente em direção à porta do banheiro, então comecei a apertar o passo e quando achei que Vinicius havia parado de me olhar, corri para dentro em direção ao primeiro box que eu vi. 

O box era pequeno, mas mesmo assim eu conseguia andar de um lado para outro, pensativo. Seria Vinicius este monstro de fato, ou seria tudo uma criação falsa da minha mente? Será que Gabriela era realmente minha amiga, ou continuava conversando comigo por dó? Será que ela contou sobre minha casa para o Vinicius? Será que quando eu e ele paramos de conversar, ela contava todas as novidades escondida de mim para ele?

De um instante para o outro, comecei a acreditar que todos estavam mentindo para mim, me manipulando, me usando. Como isso poderia ser possível?

Fechei a tampa do vaso, sentei sobre ela e comecei a chorar. Minha respiração acelerou, mas ao mesmo tempo todo o ar do mundo parecia ter acabado e eu me sentia sufocado. Gabriela mentia para mim? Vinicius também? Será que Joana e Jonathan sabiam de alguma coisa e também escondiam de mim?

Nicholas, pare! Isso não é real! Você está nervoso e inseguro, apenas. Não há com o que se preocupar! Lembre-se de todas as vezes que Gabi esteve com você! Ela conseguiria mentir tão bem assim? E lembra do Vini se abrindo para você na sala da diretora, não ligando para quaisquer julgamentos dela!

Respirei fundo. Enxuguei as lágrimas. Levantei. Fiz xixi e saí em direção ao espelho. Por sorte, o banheiro estava vazio e Vinicius devia estar esperando por mais de dez minutos ao lado de fora por mim. Me olhei no espelho enquanto lavava as mãos e em seguida o rosto. Respirei fundo, assoei o nariz e sequei as mãos e o rosto. Respirei fundo novamente e, com o peito cheio de ar,  expirei lentamente para que os batimentos do meu coração voltassem ao normal. Situações como esta nunca haviam acontecido comigo. Eu estava preocupado, mas uma força interna surgiu, me dando coragem para assistir ao filme, junto de Vinicius. Seria um filme de comédia, portanto, talvez eu acabasse rindo um pouco e esquecendo de tudo que acabou acontecendo antes disso.

Sai do banheiro e de longe vi Vini andando de um lado para o outro, inquieto. Ele estava preocupado comigo, ou talvez com a sessão que chegaríamos em cima da hora.

— Você está bem, Nick? — ele perguntou logo depois de correr em minha direção e segurar minhas mãos.

— Estou. — Olhei em seus olhos e sorri.

— Quer conversar sobre alguma coisa?

— Assim vamos perder o filme.

— Eu não ligo.

Ele está de fato preocupado comigo.

— Vamos assistir o filme, está bem? — falei, querendo muito assistir ao filme para me desligar um pouco da realidade.

Voltamos ao cinema, desta vez, sem darmos as mãos.

Entramos apenas cinco minutos atrasados, que não fizeram nenhuma diferença, pois haviam quinze minutos de trailer. O pior silêncio da minha vida fez os dez minutos de trailer parecerem anos intermináveis. Algumas vezes eu olhava para o lado discretamente para ver as reações de Vinicius perante toda a situação. Pensei algumas vezes em colocar minha mão sobre o apoio do assento, mas desisti todas as vezes que pensei em fazer isso.

As luzes da sala se apagaram, indicando que a sessão iria de fato começar. Vinicius e eu nos olhamos no mesmo instante e, com um sorriso, demos as mãos e voltamos nosso olhar à tela.

Nós dois rimos praticamente durante o filme inteiro. Houveram cenas que eu quase desmaiei de tanto que eu não conseguia respirar enquanto ria. Ninguém da sessão reclamou, afinal praticamente todos também fizeram o mesmo.

Se talvez você esteja se perguntando: não, não nos beijamos. Não era porque não queríamos, porque só Deus sabe o quanto desejávamos por isso, é que na verdade estávamos muito ocupados rindo muito do filme.

O clima chato que havia se instalado antes do filme começar aos pouco foi sumindo, até que esquecêssemos tudo o que tinha acontecido antes.

— Vamos? — Vini disse de pé, com a mão estendida, esperando com que eu segurasse nela para que eu conseguisse levantar.

E com um sorriso, segurei sua mão e fomos até a saída da sala.

A partir do momento em que passamos pela porta, as lembranças e paranoias voltaram como visitas indesejadas em minha cabeça. Vini notou novamente e, desta vez, pareceu mais determinado que nunca para descobrir o que estava acontecendo comigo naquela tarde. Talvez eu contasse. Talvez não.

Ainda com as mãos dadas, ele apertou o passo, basicamente me obrigando a fazer o mesmo. Andamos por todo o corredor que no final nos levava até as bilheterias novamente e fomos em direção do banco mais próximo. Sentamos.

— Me fala o que está acontecendo, Nicholas! — E antes que eu intervisse, ele continuou. — Não vou sair daqui, e nem você, até que me conte o que está acontecendo.

Meu olhos se concentraram profundamente nos seus. Eu estava diante meu melhor amigo, vulgo de algum modo, ficante, que queria saber sobre as coisas que se passavam pela minha cabeça que, possivelmente, poderiam ser tanto verdadeiras, quanto meras ilusões.

Olhei para o chão e tirei minha mão de cima da sua. Ele então pegou ela de volta e segurou ainda mais forte, mas não ao ponto que eu sentisse dor. Eu não sabia o que fazer além de engolir seco e deixar bem claro o meu incômodo com a situação.

— Vamos, fala! — Desta vez ele pareceu bravo e inquieto.

Vinicius estava ficando bravo comigo e de certa forma isto me machucava muito. Eu não queria decepcioná-lo, nem fazer dos meu problemas e paranoias dele também. Ele estava pedindo por isso, mas mesmo assim eu não sabia se eu queria compartilhar este tipo de coisa com ele.

Que eu sempre fui mais transparente com Gabriela, todo mundo sabe. Eu nunca havia tido um amigo de verdade antes como Gabi e Vinicius e, de certa forma, era mais fácil me abrir com ela porque ela parecia mais comigo do que jamais alguém já foi. Mas agora, eu precisava conversar com Vinicius talvez sobre assuntos dos quais eu jamais pensei em falar até mesmo com a Gabriela. A cada respiração minha e dele que parecia se acelerar, mais sem fôlego eu parecia ficar. Vini notava isso e parecia estar usando isso a seu favor. Não o julgo por isso.

— Nicholas! — ele disse como se esta fosse a última tentativa antes de um surto.

Desta vez, de um dos meus olhos uma lágrima começou a escorrer. Não demorou muito para que a do outro olho fizesse o mesmo.

Nenhuma palavra saia da minha boca, entretanto, muitas emoções a cada segundo ficavam mais evidente diante ambos.

— Nicholas...

— O que você quer de mim? — perguntei quando finalmente consegui ar o suficiente, ainda olhando para o chão.

— Que você, pelo menos pela primeira vez na vida, me deixe saber realmente o que você está sentindo, te incomodando. Eu sei lá! — Por incrível que pareça, de seus olhos algumas lágrimas também começaram a cair para fora.

Olhei para ele e ele para mim. Passei a mão em um lado do meu rosto para secar as lágrimas que deixaram ali molhado e, depois de respirar fundo pela milionésima vez, perguntei:

— Você realmente gosta de mim?

Vinicius abriu a boca, como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo. 

— Que droga de pergunta é essa, Nicholas? — Não respondi nada. Ele continuou. — Mas é claro que sim! Poxa, olha tudo o que vivemos até agora, — fez uma pausa — que estamos vivendo agora, não foi real para você? Foi tudo mentira? — Me segurando para não deixar mais nenhuma lágrima cair, eu prestava atenção em cada sílaba que ele dizia. — Por que você acha que eu não gostaria de você, se tudo que fiz até hoje foi... te amar?

Eu ainda juntava todas as minhas forças para não chorar e, talvez pela primeira vez na vida, me mostrar ser mais forte do que eu jamais conseguiria ser.

— Você sabe que eu sou bolsista, — fiz uma pausa — na Dallas, né?

— Não estou entendo aonde você quer chegar com isso.

— Eu não moro numa casa grande como a da Gabriela, Vinicius, nem num condomínio com móveis planejados tão caros quanto os seus. — Ele me olhava parecendo estar indignado com o que eu estava dizendo. Claro que estaria, todo seu encanto e idealizações comigo estavam indo por água abaixo. — A minha casa é alugada e só Deus sabe a última vez que lá já foi feita alguma reforma. — Fiz uma pausa para descobrir se ele falaria alguma coisa. Nada disse, então continuei. — Quando chove eu e minha mãe temos que espalhar centenas de baldes pela casa para que as goteiras não façam dela uma caverna profunda no meio de um oceano. De vez em quando o encanamento do banheiro entope e tentamos ligar para o encanador por diversos minutos, até descobrir que ele nunca atende o celular e termos que resolver todo o problema sozinhos sem experiência e técnica alguma. A água do chuveiro demora para esquentar. Uma das bocas do fogão entope e quase sempre não dá para desentupir. Quase sempre tenho medo de olhar para o teto, pois sempre acho que posso encontrar uma nova infiltração e você não sabe do pior...

Antes que eu sequer pudesse concluir meu raciocínio, Vinicius colocou seu indicador na minha boca e mergulhou seu olhar profundamente no meu. 

— Eu não consigo acreditar em nada que você está me dizendo, Nick.

— Tipo o quê? Que eu sou pobr...

— Para! — ele me repreendeu antes mesmo de eu terminar a última palavra. — Eu não acredito que você consegue pensar na possibilidade de eu deixar de gostar de você simplesmente por causa dos móveis que você deixa ou não de ter, ou de baldes que você tenha ou não que colocar num dia de chuva! — Ele fez uma pausa, enquanto nem mesmo eu conseguia acreditar no que eu estava falando e que havia pensado até agora. Eu estava envergonhado por sequer ter pensado as coisas das quais pensei sobre Vinicius e até mesmo de Gabriela. — Nicholas, fodasse os móveis que eu tenho, fodasse minha casa, fodasse a sua, fodasse todas essas coisas superficiais que não dizem sequer um terço sobre nada! Tudo que vivemos até agora não foi rico o bastante ou importante o suficiente para você?

Agora eu coloquei meus pés sobre o banco, abracei meus joelhos e comecei a chorar. Se Vinicius levantasse agora, fosse embora e me deixasse aqui sozinho chorando, eu não julgaria, entretanto, não foi o que ele fez. Vini colocou seus abraços ao meu redor e me abraçou de lado.

O mundo ao redor pareceu parar e todas as pessoas que ali estavam pareciam ter sumido. Naquele momento, naquele banco em frente à entrada do cinema, Vini e eu havíamos criado nossa própria realidade, nosso universo alternativo, a nossa verdade.

— Por que você chegou a pensar que o dinheiro e coisas que temos valem mais que a relação que construímos? — ele disse por fim.

Precisei de um tempo para fazer com que as palavras misturadas e confusas em minha cabeça fizessem sentido, para que então eu finalmente pudesse solta-las. 

— Isso tudo é tão novo pra mim! — falei tirando minha cabeça de meus joelhos e levando-a de encontro à dele. — Jamais tive amizades como a que todos nós temos, menos ainda uma relação como esta que estamos tendo agora! — Fiz uma pausa e depois de conseguir respirar, continuei. — Vinicius, eu nunca namorei com ninguém e, nem sei porque estou falando isso se nem assumimos um relacionamento. Eu queria tanto te agradar, te impressionar, mas tudo o que consigo fazer com sucesso é decepcionar todo mundo... te decepcionar.

Ele riu baixo.

— Nicholas. Você me agrada todos os dias quando te vejo chegando na escola, quando você da seus socos leves no meu ombro, quando estou falando com você e você está olhando para o nada pensando em tudo. Quando sua gagueira te entrega numa mentira, mas mesmo assim ainda jura de pé junto estar contando a verdade — ele admitiu e eu ri, finalmente com as lágrimas deixando de se formar. 

— Não sei se estou pronto para um relacionamento agora! — disse rápido receoso antes de que ele me pedisse em namoro naquele instante. 

— Não é porque a Gabi e Amalie estão namorando que devemos fazer o mesmo. — Ele riu balançando a cabeça. — Elas tiveram o tempo delas e nós teremos o nosso. 

Eu me sentia tão idiota por ter chegado à pensar aquelas coisas sobre Vini, ou até mesmo algumas de Gabi, que nem ali estava. Depois do que ele me disse, eu teria a certeza eterna de que ele realmente gosta de mim do jeito que sou, e não das coisas que tenho. Vini é uma pessoa incrível, Gabi também, Amalie certamente e, se todos gostam de mim e são de verdade meus amigos, talvez eu deva ser também.

— É claro que — ele falou, — não precisamos estar namorando para nos beijar. — Finalizou rindo baixo.

— Eu. Não. Acredito. Nisso. Vinicius! — rebati secando as lágrimas e rindo, coloquei a mão na cintura.

Vinicius aproximou seus lábios dos meus e, como se aquele fosse o último dia de nossas vidas, nossas línguas se juntaram como se fossem permanecer assim para sempre. Coloquei minhas duas mãos uma em cada lado de seu rosto, que ainda estava um pouco úmido por causa das lágrimas recentes. Eu sentia como se Vini e eu fôssemos um só. Depois do beijo, demos alguns selinhos rápidos um atrás do outro enquanto nosso narizes se encostavam e, como se ainda não tivéssemos feito isso até agora, sorrimos um para o outro.

— Vamos tomar uma casquinha? — sugeriu.

— Vamos tomar uma casquinha! — afirmei.

Ele levantou do banco e novamente estendeu a mão para eu levantar. Eu iria dizer alguma coisa contra isso, mas em milésimos de segundos de raciocínios internos comigo mesmo, cheguei à conclusão que aquilo era romântico, eu gostava e que não queria que estes momentos acabassem tão rápido assim.

Fomos andando de mãos dadas até o quiosque mais próximo de sorvete em casquinha; Vini escolheu de chocolate e eu, indeciso como muitas vezes era, optei pelo misto.

Continuamos passeando juntos pelo shopping, mas desta vez, com casquinha em mãos. Passamos pela mesmas lojas que outrora havíamos, mas desta vez, o fato de eu não poder pagar pela maioria das coisas delas, já não me incomodava mais. 

Depois de alguns minutos, quando Vini terminou sua casquinha e eu faltava apenas alguns minutos para concluir a minha, chegamos num quiosque que vendia acessórios de pedras preciosas. Muitas coisas me chamaram atenção, como colares de cristais das mais diversas diferentes cores, braceletes tão coloridos quanto um arco-íris e anéis feitos dos tipos mais diferentes de pedras existentes.

— Olha estes anéis aqui — ele apontou para alguns anéis que pareciam não serem feitos de pedra nenhuma. — Que interessantes!

Ele colocou um deles em seu dedo e a cor do anel mudou tão rápido quanto a surpresa que demonstramos em seguida.

— Este anel muda de cor de acordo com sua emoção! — Um vendedor se aproximou e nos explicou. 

— Eu quero um! — quase gritei.

— Eu também. — Vinicius concordou.

— Ele custa quinze reais — o vendedor avisou, — mas para o casal faço por dez.

Vini e eu nos olhamos e não conseguimos segurar a risada. Experimentamos os anéis até encontrarmos nosso tamanho perfeito no dedo anelar da mão direita e, em menos de um minuto, compramos e já usávamos.

— Será que quando nos despedirmos, meu anel vai ficar sem cor? — ele perguntou enquanto olhava para seu anel.

— Bobo! — ri e dei um soco fraco no seu ombro.

— De que cor será que ele fica quando estamos apaixonados?

Dei um soco um pouco mais forte no mesmo ombro.

— Ouch! Assim você vai acabar sendo preso!

Andamos por mais um tempo. Passamos em algumas lojas e saímos sem comprar nada. Nos despedimos na entrada do shopping e quando me dei conta, eu estava imerso nas cobertas da minha cama olhando para o anel em meu dedo sentindo saudades e, além de tudo, ansiedade para o dia seguinte, pois eu poderia ver Vinicius de novo.

*

*

NÃO ESQUEÇA DE DEIXAR SEU VOTO E COMENTAR, ISSO AJUDA MUITO AO WATTPAD DIVULGAR MINHA HISTÓRIA, ENTÃO ASSIM MAIS PESSOAS PODERÃO CONHECER "O MELHOR ANO DO NOSSO COLEGIAL"! <3 NÃO SEJA EGOÍSTA! HEHEHE









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