As Três Irmãs #ContestLetters

By GabrielleMarques994

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(PRIMEIRA VERSÃO, NÃO REVISADA) O reino está em jogo. A coroa também. Uma profecia. Uma rainha. Três princesa... More

Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 10
Capítulo 11

Capítulo 09

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By GabrielleMarques994

*Oooooi meus guerreiros! Espero que estejam gostando da leitura e que gostem da música desse capítulo - nem acredito que já postei nove capítulos da história :O * 

— Chegamos moça! – gritou um marujo do outro lado da porta da cabine. – A gente não vai além daqui não!

Titania abriu lentamente seus olhos e olhou em seu entorno. Ela ainda estava naquela maldita cabine do capitão, em alto mar.

— Aura, vamos acorde. – A primogênita virou-se para a irmã, mas não achou ninguém. Um pânico momentâneo lhe tomou conta quando ela imaginou que a menina podia ter sumido, mas para onde ela iria? No meio do nada não tinha fuga. Ela saiu para o convés e a viu no timão, controlando o navio com seis marujos à sua volta falando animadamente. Pelo visto a simpatia de Aura sobrepujava até mesmo a amargura de um homem do mar.

— Ah, bom dia Titi! Dormiu bem? – gritou a caçula da ilha da popa. Ironicamente os papéis se inverteram, e era a vez da mais velha passar grande parte do trajeto dentro da cabine, com mal-estar. – Sente-se melhor?

— Falaram que chegamos, é isso mesmo?

— Tecnicamente sim.

— Como assim "tecnicamente"?!

— Veja bem, os rapazes não tem coragem de atracar ali, então concordaram em nos deixarem o mais próximo possível.

— Mas esse não era o combinado! – gritou Titania, indo em direção ao capitão. – O acordado era vocês nos deixarem na costa, seus imprestáveis!

— Do jeito que eu vejo você tem duas opções moça, voltar conosco até Baía Quebrada ou descer aqui. Só não te tiro a canoa e te deixo nadando até lá porque a senhorita Aura é muito delicada para isso. – A mais nova estava do lado com um sorriso de encorajamento. Pelo visto eu não tenho moral alguma aqui, pensou a outra, as chamas começando a dançar entre seus dedos. Melhor lembrá-los quem está pagando isso tudo.

— E pelo jeito que eu vejo, você vai levar-nos até a costa se não quiser perder toda sua embarcação. – Ela ergueu a palma mostrando uma esfera avermelhada dançando. – Fogo é uma coisa tão incontrolável sabe... Odiaria que vocês perdessem uma nau tão... interessante. – O homem a encarava com temor; uma faísca e estariam perdidos, a estrutura inteira era de madeira. – Estamos entendidos?

— Sim senhora.

— Ora, isso não foi nada gentil, irmã – repreendeu Aura assim que o capitão afastou-se das duas.

— Deixarei as gentilezas contigo, Aura. Pouco me importa esses imprestáveis desde que eu chegue naquelas terras. Eles são meios para um fim. E depois, eles vão ser queimados de qualquer forma assim que descermos daqui.

— Titania! Não tem porque você fazer um negócio desses, eles cumpriram sua parte no acordo!

— E eu vou cumprir a minha.

— A mamãe não gostaria disso...

— A rainha morreu! Será que isso já entrou na sua cabeça ou você é burra demais?! – Titania percebeu a caçula encolher-se ligeiramente sob sua raiva. E também porque suas mãos esquentaram consideravelmente, fazendo os marujos cochicharem entre si, com medo. A jovem respirou profundamente para se acalmar. – Se você não quiser acabar como ela, sugiro que não me irrite ou me questione também.

— Engraçado que de tudo que a mamãe tentou te ensinar, parece que você só guardou as coisas ruins! Ela podia ser dura com você, mas só estava tentando fazer o melhor e o que achava que era o certo! Ela te deixou um reino próspero, um povo amistoso, tratados e acordos de paz com todas as terras, e você ainda assim a culpa por quem você é! – As lágrimas corriam soltas pelas faces da caçula. – E os deuses sabem o quanto tentei ser compreensiva com o que você fez, mas isso não consegue fazer apagar o fato de que você matou a nossa mãe, a nossa única parente viva!

A princesa estava perplexa. Primeiro porque ela nunca ouvira a irmã falar tanto de uma vez só; normalmente a menina fugia dela como um rato medroso. Segundo porque ela parecia genuinamente magoada. E isso incomodava Titania profundamente, por motivos que ela não sabia bem o porquê. Mas parecia preencher sua mente a ideia de agradar e manter Aura feliz, mesmo diante daquelas circunstâncias.

Já fazia dias que Ravenna cavalgava por aquela floresta. Esperava que Nita já estivesse chego à Cittanova e estivesse recebendo o tratamento apropriado. Era muito nova para já sofrer tanto, e a menina pareceu tão fraca que a lembrou instantaneamente da irmã mais nova. Desde jovem Aura fora muito doente, e em momentos que a menina contraiu uma doença, a amazona realmente achou que não sobreviveria. Por conta disso, a caçula não saía muito do castelo, e só teve interação com o povoado quando atingiu cerca de dez anos.

Tudo estava realmente calmo naquela mata fechada e isso a deixava consciente de que aquela era a primeira vez que ela ficava sozinha em vinte e dois anos – se ela desconsiderasse a presença da mãe ali perto.

Alexandra estava, de acordo com ela, verificando os arredores para ter certeza de que não havia ladrões ali. Como boa amazona que ela fora, era praticamente instintivo fazer aquilo e, com Ravenna sozinha – ponto este que a mãe fizera questão de demonstrar seu desacordo – ela tomou para si essa função. Não que a princesa não gostasse daquilo: era uma sensação diferente ter alguém preocupado com você, ainda mais quando esse alguém era sua própria e distante mãe. Ravenna sempre esteve com um escudeiro ou um general, que lhe jorrava informações e problemas que ela tinha que resolver só naquela metade do dia. Agora que tinha esse silêncio para si própria, era uma sensação um pouco desconcertante.

Por conta de a floresta ser tão fechada, a moça suava por debaixo da armadura. As copas faziam com que a umidade ficasse presa ali dentro, somada com o calor que fazia naquele dia. Seu corpo já estava enrijecido por estar a tanto tempo no lombo do cavalo. O animal movia-se a passo tranquilo, e lentamente seu trajeto abriu e mostrou uma lagoa, com água azul escura, cerrada entre as árvores. Não havia viva alma por ali, e a criatura se inclinou para beber.

— Isso é uma indireta de que eu tinha que te dar uma pausa, meu caro? – Ravenna deu tapinhas no pescoço do bicho e desmontou. Ela já estava acostumada com ficar suja, não existiam banheiras nos campos de treinamento, mas a água daquela lagoa estava convidativa demais, até mesmo para ela.

Assim, com calma e paciência, a jovem soltou peça por peça de sua armadura e tirou a malha de ferro, ficando apenas com um chemise de algodão. Ela estava habituada com aquele procedimento todo, mas ainda assim fazia com a maior cautela possível para não se cortar ou estragar alguma coisa. As vezes que ela teve pressa demais lhe renderam algumas cicatrizes pequenas no queixo e logo acima da sobrancelha.

Seus pés tocaram a água refrescante da lagoa, e o movimento gerou pequenas ondas que se engrandeceram pela superfície calma até sumirem. À medida que ela entrava mais, o tecido da chemise grudava em sua pele, e a temperatura imediatamente relaxou Ravenna. Naquele calor que fazia ali, um banho gelado era uma recompensa bem-vinda. A jovem já tinha passado por lugares cujo clima era bem mais duro que aquele, especialmente no sudeste, na terra dos elfos do Sul, Elphor. Habitantes do deserto, suas peles eram escuras e rígidas para que pudessem suportar as altas temperaturas. As mulheres usavam desenhos intricados em seus rostos, e aquelas que tinham os traços mais detalhados e maiores eram sinônimos de maior status. Elas escolhiam seus maridos, e quantos quisessem; eram criaturas extremamente elegantes, e incrivelmente não se sentiam incomodadas com os sessenta graus que se fazia durante o dia e os vinte negativos à noite.

Um barulho colocou Ravenna em alerta. Ela estivera boiando na água aquele tempo todo, aproveitando o frescor, e não se dera conta da hora. Seus dedos já estavam enrugados como uvas passas. A moça se pôs de pé com calma, tocando o fundo e ficando com água até os ombros. Alguém a observava atentamente na floresta, ela sentia os olhos da coisa em seu rosto, perscrutando-o. A amazona lançou seus olhos às armas: um pouco mais afastado da margem ela podia ver suas espadas – a dela e a ganhada de presente pela Grande Flor – , seus punhais e sua aljava. O cristal que recebera do ancião estava amarrado no lombo do seu cavalo, não que ele fosse ser útil naquele momento aparentemente.

Talvez se ela fosse lentamente para perto de uma de suas adagas, que era a coisa mais próxima de seu corpo, teria chance em um combate direto. Assim, com passos calculados e quinhentos estratagemas surgindo em sua mente, a guerreira se pôs em movimento. Só mais um pouquinho, uns cinco passos e o punhal é meu. Quatro, isso, com calma Ravenna, não faça movimentos bruscos.

Ela esticou sua mão em direção à arma, e estava prestes a pegá-la quando uma flecha zuniu pelo ar, vinda do topo das árvores, e chocou-se com o alforje de metal do punhal. O movimento como de um chicote afastou a mão da amazona imediatamente.

— Estava só esperando para ver quanto tempo você demoraria pra pegar a adaga. – uma voz masculina ressoou em divertimento. Ela percebeu um vulto pular entre as árvores até ouvir o som dos gravetos quebrando no chão. Um homem, com seus vinte e oito anos, surgiu com uma flecha erguida e pronta para ser solta no seu alvo. Ele tinha cabelos castanhos e bagunçados, e os olhos verdes como duas jades a perscrutavam, analisando cada sutil movimento da jovem. – Para uma moça você anda bem armada!

— Te mostraria até mais se estivesse com meu punhal.

— Que palavras severas! – Ele sorriu. – Olha moça, não é do meu hábito roubar mulheres, mas sabe como é, tempos difíceis...

Ravenna deu um riso de escárnio.

— Poupe-me de seu discurso ensaiado. Sabe muito bem que não sou qualquer moça. Você está me seguindo desde que saí de Orian.

— Ora, veja só! Estou surpreso, e um pouco decepcionado também; achei que estivesse fazendo um trabalho tão bom.

— Teria se tivesse pegado outro alvo. – Ela se inclinou novamente para a arma.

— Ah, ah, ah, a menos que queira que minha flecha te acerte um pouco mais para cima ao invés do seu punhal, você vai ficar bem quietinha aí.

— É Vossa Majestade para você, ladrão, e não você. Não sabe quem eu sou?

— Primeiramente, eu não sou um ladrão. Sou apenas uma pessoa boa em adquirir coisas que não me pertencem. Segundo que sei perfeitamente quem você é Rainha Ravenna Firenze. Eu te ouvi na primeira vez que gritou na taberna lá na cidade. E depois quando conversou com o dono do lugar. Nunca ouviu o ditado "as paredes têm ouvidos"?

— E ainda assim insiste em me saquear? Eu poderia mandar você ser executado em praça pública por esse crime!

— Mas você é orgulhosa demais para declarar que se deixou ser roubada por um ladrãozinho de beira de estrada... ainda mais pelo fato dele ter te visto num momento tão íntimo. – Suas palavras trouxeram realidade à mulher: ela estivera aquele tempo todo na água, seminua se não fosse pelo chemise e ele estivera olhando-a. A sensação de autoconsciência surgiu dentro dela, fazendo-a encolher-se de volta para água. Isso fez o ladrão sorrir. – É foi o que pensei. É uma pena que isso tudo aí fique escondido embaixo de camadas de armadura. Fazer o quê, não é mesmo?

— Olhe, você não precisa fazer nada disso. Se sabe quem sou, sabe que do mesmo modo que posso mandar matar-te posso te fazer um homem rico.

— É, mas eu até que gosto da minha vida. Ainda mais quando lindas moças surgem no meu caminho.

Moças?! No plural? Mais alguém passou por aqui?! – imediatamente a imagem das irmãs surgiu. Se aquele homem fizera qualquer coisa à Aura...

— Ora, já está com ciúmes? Isso aqui é uma rota comercial, boneca. Todo tipo de gente passa por aqui.

— Não te dei intimidade para me chamar de boneca. Responda a minha pergunta!

— Você não está em posição de pedir nada. – Ele começou a recolher as armas e colocá-las em suas costas. O homem até mesmo considerou pegar a armadura, mas acabou desistindo porque o peso era demais para ele carregar até o topo das árvores. Ele tomou posse do alforje de flechas, do arco e da espada que fora presente da Grande Flor. Quando pareceu satisfeito com sua pilhagem, ele voltou sua atenção para a jovem no lago. – Bem, madame, foi um prazer te conhecer hein? Sua ajuda vai me dar um sustento por vários meses. – Ele prestou uma simples reverência à Ravenna.

A jovem soltou um riso de desdém.

— Seu nome, rapaz? Não vai ter muito tempo de fuga e eu preciso saber o seu nome para mandar o carrasco anunciar quando te empurrar do palanque da forca!

— Rapaz?! Olha aqui, eu sou mais velho que você! – Ela deu de ombros, o que desconcertou ainda mais o homem. Pelo visto ele não gostava de ser visto de baixo, como alguém inferior.

— Pouca diferença fará quando a corda estiver no seu pescoço. Vá, corra, eu te darei alguns minutinhos de vantagem. – E, com essas palavras, Ravenna voltou a boiar na superfície do lago.

Duvidoso e intrigado, ele não quis esperar muito tempo para ver se o que ela falava era verdade ou não. Assim, imediatamente se pôs a correr o mais rápido que suas pernas podiam com o novo peso sobre suas costas. Algumas vezes ele olhou por cima dos ombros para ter certeza de que não estava sendo seguido, e de fato não estava. O que era mais estranho ainda. Ele sabia quem ela era, seus vários nomes corriam não apenas por toda Therissa, mas por todos os outros reinos, ainda mais pelo dos Lordes do Sul, de onde viera. Ela era a diplomata de ouro, a dama das armas, não era possível que ele tinha conseguido um lucro tão fácil.

Enquanto isso, Ravenna começava a sair da água. Não precisava correr; aquele não era o primeiro a tentar saqueá-la numa estrada. E não seria o último tampouco. Com aquela quantidade de bugigangas que ele já carregava, mais as coisas que roubara dela, o homem não teria ido muito longe. Ela até poderia vestir novamente sua armadura, mas demandava tempo demais dela, faria muito barulho e seria um peso a mais. Alexandra surgiu calmamente, depois de ter se certificado de que a "floresta era segura".

— Mas o que é isso, menina? – Ravenna torcia a barra do seu chemise.

— Ora mãe fique quieta.

— Como é?! – urrou a matriarca.

— Que bela amazona você devia ter sido, que nem mesmo percebeu um ladrão no meio da floresta!

— Ladrão? – O espectro percebeu a ausência das armas. – Ora, também não tem como eu saber de tudo, não é mesmo?

— É pelo visto não tem mesmo! Isso que você saiu para ver a segurança da mata imagine se não fosse por isso.

— E vai fazer o que agora? – perguntou a mãe enquanto via a menina pôr sua malha de ferro.

— Vou atrás dele né, o que você acha? Ele está com a espada que a Grande Flor me deu, e a última coisa que quero é irritar as deusas. – Assim, a guerreira pegou um dos punhais que ele havia deixado para trás e começou a caminhar tranquilamente por entre as árvores, parando de vez em quando para ver alguma pegada.

O ladrão finalmente parara sua corrida e se sentou na base de uma árvore para avaliar o que conseguira. Um alforje repleto com as melhores flechas e um arco novo – já que o seu estava podre de tão gasto – permitiriam que ele conseguisse alimento pela floresta até que fosse para a próxima cidade; e uma espada novíssima com um estojo que valeria uma pequena fortuna se vendida para a pessoa certa. Só que quando ele puxou a arma para olhá-la melhor, ela não saiu. Era como se estivesse grudada, por mais que puxasse não saia do lugar. E então uma criatura enorme o atingiu e ele apagou.

Ravenna estava no meio do caminho quando percebeu algo se mover por perto. Parecia um animal gigantesco, como um javali ou um urso. Mas ela sabia que naquela região não existia isso. Além do mais, a criatura parecia carregar algo nas costas. Como se fosse uma pessoa.

— Majestade – a voz abafada de Björn surgiu e a criatura ergueu-se. – Isso é seu? – Ele entregou o estojo com a espada intacta nas mãos da jovem.

— Onde conseguiu isso?! – ele então ergueu o que estava nas suas costas e ela pôde ver claramente o que era: o ladrãozinho de meia tigela! Desacordado pelo visto. Um lânguido sorriso surgiu no rosto dela. – Vamos nos divertir um pouco com ele, que acha Björn? Enquanto preparo tudo, porque não me conta como está à pequena Nita? Sua viagem foi tranquila até lá? Receberam-te bem? Não precisava ter voltado não é mesmo...

Björn lhe contara tudo, lentamente. Sua fala estava bem melhor que quando eles se conheceram pela primeira vez: quando se é tratado tanto tempo como um animal, é compreensível que se perca a habilidade de falar. Ainda mais quando se tratava de um Borg, que era uma mistura com algum animal.

Ele fora muito bem tratado quando chegou à Cittanova. Apesar da apreensão e suspeita com que fora recebido, ainda mais depois que mostrou o anel da moça – que ele devolveu – , os curandeiros não hesitaram em ajudar assim que viram sua filha. Depois de se assegurar que Nita estava em boas mãos, ele partiu atrás da rainha. Björn tomou como sua responsabilidade ajudá-la no que quer a jovem precisasse, assim como ela o ajudara com sua filha. Era o mínimo que podia fazer, então seria seu escudeiro até onde ela precisasse ir.

— Björn eu não posso permitir que faça isso. Não sei nem se voltarei de onde estou indo. E mais, você tem uma filha para cuidar. Quer realmente deixá-la aqui sem você estar por perto?

— Eu tenho uma filha; você um reino, Majestade. E se você não sabe se volta viva sozinha, talvez com mais alguém você conseguir não é? – A moça sorriu em agradecimento.

Um grunhido surgiu ali perto e ambos ficaram em alerta; o prisioneiro estava acordando. Alexandra grunhiu um "eu não concordo com esse tratamento, não foi assim que eu te ensinei, Ravenna...", mas a mulher prontamente ignorou.

— Tá quente aqui... – gemeu o homem, abrindo seus olhos lentamente. A primeira coisa que ele viu foram às chamas. – Ei! Que isso!

— Quis deixar você bem confortável, rapaz. Afinal de contas está uma noite tão fria não é mesmo?

— Você é louca! É canibal ou algo assim? – Ele se pôs a assoprar as chamas. Seu corpo estava paralelo a uma fogueira, como se fosse um espeto. Não que fosse queimá-lo, estava afastado de maneira que não se queimaria, mas que sentiria o calor das labaredas. Era só para assustá-lo mesmo.

— De forma alguma! Eu não como gente, e mesmo que comesse não seria uma coisa assim como você. E você, Björn? – O borg balançou a cabeça negativamente. – Vamos começar do começo, sim? Seu nome e quem são as moças que você já encontrou na estrada? Nunca provei carne humana, mas não teste minha paciência, rapaz.

— Eu não estou sozinho você sabe disso! Meu grupo vai me achar e vir atrás de você! – ela riu.

— Como se eles fossem doidos de chegar perto de um Borg! – ela abriu passagem para que o homem visse a criatura sentada a pouco mais de dois metros de distância dele. O ladrão encolheu-se ligeiramente. – E então? Seu nome.

Ele resmungou baixo.

— Damien. Meu nome é Damien.

— Já temos um bom começo!

— Te conto todo o resto se me tirar do churrasco aqui! – ele se mexeu e as estacas que o seguravam balançaram perigosamente. Se ele continuasse se movendo daquele jeito, elas quebrariam e ele cairia com certeza. Ravenna o encarou com suspeita.

— Uma brincadeira ou truque, e o meu amigo ali vai atrás de você, estou sendo clara? – Ela tirou o homem da fogueira, mas o manteve amarrado à haste.

— Eu poderia pelo menos me mexer, não?

— Não, está ótimo assim. – Ravenna indicou-lhe o tronco em que Björn estava sentado.

— Estou bem assim de pé, obrigado.

— Como quiser. Agora me conte quem são as moças que você encontrou na estrada.

— Ainda nisso, princesa? Já falei para não ser ciumenta... – Ela ergueu-se imediatamente. – Ok, ok, sem brincadeiras já entendi. Que coisa, não pode nem mesmo fazer um comentário...

— Vai ficar enrolando muito tempo?

— Está bem. Já faz algumas semanas que isso aconteceu. Normalmente eu roubo carruagens ou comitivas reais sabe... – Ele balançou os ombros em sua defesa assim que viu o olhar da guerreira. – Ora, não me culpe, boneca, já te disse que são tempos difíceis. – Depois de um tempo brigando com a estaca atrás dele, Damien finalmente sentou-se. – Enfim, estava tudo muito parado ultimamente sabe? Eu não sou filho dos deuses, então preciso comer como todo mundo. Aí quando vi uma carruagem levando alguns passageiros para o porto, foi minha chance, sabe como é...

"Só que, para meu desalento, a carruagem estava vazia. Quer dizer, só tinham duas moças lá dentro sabe? Isso para mim é carruagem vazia, dois gatos pingados não me rendem nada no mercado. Ainda mais duas moças. Vou vender o quê? Leques e fitas? De qualquer forma, eram duas mulheres bem fora do normal para andarem numa carruagem comum. Primeiro porque, apesar das roupas simples, elas tinham joias nos pescoços. Uma camponesa não anda com rubis pelo corpo, não é mesmo? Segundo porque era muito tarde para duas moças andarem de carruagem, ainda mais numa viagem até o porto, ainda demoraria dias! E por fim porque elas eram muito parecidas, era como olhar no espelho! A diferença maior era que uma tinha cabelo vermelho e outro bem branco, mas os olhos eram os mesmos... Tanto que eu tinha pensado que roubaria uma carruagem com uma idosa.

Então peguei os colares que elas levavam. Uma delas deu sem pestanejar, mas a outra pareceu resistente, e pediu se eu tinha alguma comida para trocar pelas joias. Veja só, como se estivesse em posição de pedir alguma coisa! Mas elas pareciam não comer fazia algum tempo, então ofereci algo para comerem no meu acampamento. Era como se fosse o primeiro pedaço de pão que tinham visto em anos! Já estava muito tarde para elas irem a qualquer lugar mesmo, então uma delas perguntou se poderiam passar a noite ali. Achei bem estranho; que vítima gostaria de dormir perto do seu saqueador não é mesmo?"

Ele se calou por um tempo. Parecia que ponderava se contava mais ou não.

— Enfim, no final das contas, elas passaram a noite onde fico, e no dia seguinte foram embora sem nem agradecer. Mas levaram dois cavalos meus, as desgraças. Demorou tanto tempo para conseguir eles!

— Só isso? Elas não disseram mais nada estranho?

— Olha, faz semanas que isso aconteceu. Se eu nem lembro meu café da manhã de hoje, como vou lembrar de algo de semanas?

Bom, de qualquer forma, é só mais uma confirmação de que estou no caminho certo, contentou-se Ravenna. E mais ainda por saber que a mais nova não estava usando as roupas do Festival das Oferendas. Titania fora esperta em trocá-las por roupas comuns, mas negligenciar trocar suas joias por comida fazia-a perder toda aquela esperteza. Um brinco só de rubi e elas teriam dinheiro suficiente para comprar quantas viagens até Baía Quebrada quisessem e banquetes dignos de sua linhagem.

— E, além disso, que te importa isso? – Ele semicerrou seus olhos, perscrutando o rosto da guerreira. Se continuasse a olhando por muito tempo poderia perceber o quão ela era parecida com as moças que ele contara. A jovem rezou para que ele não se lembrasse dos rostos de Titania ou de Aura. – Você por acaso conhece essas moças?

— Não é da sua conta.

— Então você conhece – ele declarou, definitivo. – E pelo visto conhece bem. Se te conhecesse diria até que vocês três são bem próximas. – Ela lhe lançou um olhar ameaçador, que fazia seus soldados mais insubordinados paralisarem. Damien apenas deu de ombros. – Enfim, já te contei tudo, agora pode me soltar? – reclamou o ladrão, que se mexeu pela enésima vez por conta da estaca amarrada nas suas costas. Ela gesticulou para Björn que, com olhos duvidosos, cortou a corda que o mantinha preso à vara, mas manteve as amarras dos pulsos. – Ora, vamos lá, princesa, eu já falei tudo que sabia, precisa mesmo me manter amarrado?

— Filha, não tem mesmo, não é? Dê uma moeda para ele e o mande embora! Ele não vai voltar com o seu novo escudeiro aí – sussurrou Alexandra no ouvido da moça.

— Não confio em ladrões, muito menos naqueles que tentam me roubar enquanto estou tomando banho – respondeu Ravenna tanto para o rapaz quanto sua mãe, que lançou-lhe um olhar de choque completo.

— Você é rancorosa pelo visto.

— Primeiro, é Majestade para você. Segundo que não guardo rancor, a menos que a pessoa seja uma babaca, o que, olha só, é bem o seu caso!

— Você – ele continuou como se a guerreira nada tivesse dito – seria bem mais bonita se não vestisse tantas armaduras e não fosse tão agressiva assim.

— E você seria bem menos idiota se ficasse com a boca calada – Ela ergueu-se antes que ele tivesse a chance de continuar. – Björn, vou me deitar. Tudo bem para você assumir a primeira vigília? Me acorde daqui algumas horas para revezarmos. Não vou dar chance para que seres insuportáveis tentem fugir. – E lançou a Damien o olhar mais ameaçador que conseguiu, mas o homem apenas sorriu jocosamente.

— Boa noite, Majestade – grunhiu o Borg.

— Durma bem, boneca!

A moça sempre carregava consigo um pano para colocar no chão onde dormiria. Já estava habituada a dormir no chão, não existiam confortos no campo de treinamento, mesmo que você fosse a chefe da guarda e a princesa. E, pelo visto, nem para a rainha, completou a jovem mentalmente. Ela trocara suas roupas molhadas por uma calça simples e uma camisa branca, que já estava tão usada que adquirira um tom acinzentado. Ajeitou-se no pano, próxima da fogueira que ela e Björn fizeram mais cedo para assustar Damien, e fechou os olhos.

Não que conseguisse dormir com a presença de um homem insuportável ali perto e de sua mãe em espectro que te enchia de perguntas.

— Ele era o ladrão que você falava mais cedo? Porque não me disse nada? E como assim ele te roubou enquanto tomava banho? Vocênão pensou que seria perigoso entrar num lago sem saber se a água era boa paraisso? Podiam existir criaturas carnívoras naquelas águas! Não deveria ter tedeixado sozinha! É isso que você fica fazendo então, ao invés de ficar alerta?Nada num lago?! – Alexandra parou por um segundo e bufou. Depois, analisandobem Damien, ela continuou, com um tom de malícia. – Interessante esse rapaz nãoé? Um jovem bem bonito, robusto, seria uma companhia bem melhor que esse borgseu, não acha? Viu os olhos dele? Ah se eu ainda fosse viva...

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