O Morro dos Ventos Uivantes...

By KateBrasil23

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Esta é uma história de amor e obsessão. E de purgação, crueza, devastação. No centro dos acontecimentos estão... More

*Comunicado *
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 19

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By KateBrasil23

Uma carta tarjada de negro anunciou o dia do regresso do meu patrão. Isabella morrera e ele escreveu-me a pedir que mandasse fazer vestidos de luto para a filha e preparasse um quarto e o mais que fosse necessário para receber o sobrinho.

Catherine ficou louca de alegria com a ideia de ter o pai de volta, e entregou-se às mais esperançadas conjecturas sobre as inúmeras qualidades do seu primo de verdade. Chegou enfim o anoitecer, a hora do tão desejado regresso. Ela andara atarefadíssima durante todo o dia, desde muito cedo, a arrumar as suas coisas e agora, para terminar, apareceu-me muito bem ataviada no seu novo vestido preto (coitadinha, a morte da tia não era para ela mais que um sentimento indefinido) e obrigou-me à viva força a ir com ela até ao fundo da quinta, ao encontro deles.

--O Linton é só seis meses mais novo do que eu --tagarelava ela enquanto caminhávamos paulatinamente à sombra das árvores por socalcos e valados cobertos de musgo. --Como vai ser bom ter um companheiro para brincar! A tia Isabella mandou uma vez ao papá um caracol do cabelo dele. Era mais claro do que o meu... e muito mais fino e sedoso. Tenho-o muito bem guardado numa caixinha de vidro. Quantas vezes pensei como gostaria de ver o dono desse cabelo! Estou tão contente... E vou ver também o papá, o meu querido papá!

Vamos, Ellen, mais depressa! Corre!

Correu, voltou para trás e pôs-se de novo a correr, vezes e vezes sem conta, antes que eu, mais lenta, tivesse tempo de chegar ao portão. Depois, sentou-se no talude relvado à beira do caminho, esforçando-se por esperar com toda a paciência. Mas era impossível: não podia estar quieta um só momento.

--Por que demoram tanto?! --exclamava. --Ah! Parece-me que estou a ver poeira no ar ao fundo da estrada... Lá vêm eles! Não... nunca mais chegam! E se nós fôssemos até ali mais à frente? Só mais um bocadinho, Ellen. Diz que sim, por favor. Só até àquela moita de vidoeiros junto à curva. Recusei veementemente. Por fim, a sua ansiedade chegou ao fim: já se avistava a carruagem. Cathy deu um grito e abriu os braços assim que viu o rosto do pai emoldurado na janela. Mr. Linton apeou-se, quase tão emocionado como a filha, e só daí a um bocado se lembraram os dois de que estava ali mais alguém. Enquanto eles trocavam beijos e abraços, espreitei para dentro da carruagem, para ver Linton. Estava a dormir a um canto, embrulhado numa capa forrada de pele, como se estivéssemos no Inverno. Era um rapazinho pálido, franzino, efeminado, que bem poderia passar por irmão mais novo do meu patrão, tão acentuada era a parecença. Havia, contudo, no seu aspecto uma impertinência doentia que Edgar Linton jamais possuíra.

Este último, ao ver-me a espreitar, veio cumprimentar-me e pediu-me que fechasse a porta da carruagem e não perturbasse o sono do sobrinho, pois a viagem tinha-o deixado muito fatigado.

A Cathy queria por força ir espreitar, mas o pai disse-lhe que o acompanhasse e subiram juntos o parque, enquanto eu corria à frente deles, para avisar os criados.

--Presta atenção, meu tesouro disse Mr. Linton à filha quando pararam junto aos degraus da entrada o teu primo não é tão saudável nem tão vivo como tu, e lembra-te de que perdeu a mãe há pouco tempo. Por isso, não esperes que se ponha já a correr de um lado para o outro e a brincar contigo. E não o maces muito com as tuas tagarelices; deixa-o sossegado pelo menos esta tarde, está bem?

--Sim, papá respondeu Catherine. --Mas eu queria tanto vê-lo e ele não veio à janela nem uma só vez!

A carruagem parou e o dorminhoco, agora já acordado, foi tirado cá para fora com a ajuda do tio.

--Linton, esta é a tua prima, a Cathy --disse o meu patrão, juntando-lhes as mãos. Ela gosta muito de ti e espero que não a desgostes pondo-te a chorar toda noite. Vá, anima-te. A viagem terminou e tudo o que tens a fazer é descansares e distraíres como achares melhor. 

--Então deixe-me ir para a cama --respondeu o rapaz, furtando-se ao beijo de Catherine e levando as mãos aos olhos para limpar duas lágrimas inconsequentes.

--Então, então! Um menino tão bonito! --disse eu brandamente, levando-o para dentro. --Assim, vai fazer chorar também a sua prima. Veja como ela está triste por sua causa.

Não sei se era por pena, mas Cathy mostrava-se tão acabrunhada como o primo e voltou para junto do pai. Entraram os três e subiram para a biblioteca, onde o chá já estava à espera deles.

Tirei o boné e a capa de Linton e sentei-o no seu lugar à mesa. Porém, mal se sentou, começou de novo a chorar. O meu patrão perguntou-lhe o que tinha.

--Não consigo estar sentado na cadeira --respondeu entre soluços.

--Nesse caso, vai deitar-te no banco e a Ellen leva-te lá o chá --disse o tio, cheio de paciência. (_Bem devia ter precisado dela durante a viagem para aturar aquele choramingas!)

Linton arrastou-se vagarosamente até ao banco e estendeu-se ao comprido. Cathy pegou num banquinho para os pés e na sua chávena e foi sentar-se junto dele.

A princípio, manteve-se em silêncio, mas claro que isso não podia durar muito: depressa resolveu transformar o primo em bichinho de estimação e como tal o começou a tratar. Afagava-lhe os caracóis, beijava-lhe as faces e dava-lhe chá pelo pires, como se ele fosse um bebé. E ele, que pouco mais era do que isso, estava a gostar: enxugou as lágrimas e um breve sorriso iluminou-lhe o rosto.

--Ele vai dar-se bem por cá --disse o patrão, depois de os observar durante alguns minutos. --Vai dar-se até muito bem... se pudermos ficar com ele, Ellen. A companhia de uma criança da mesma idade dar-lhe-á uma alma nova e, à força de querer ser forte, acabará mesmo por sê-lo.

_Tudo isso está muito bem, se pudermos ficar com ele, pensei comigo mesma; mas tinha um pressentimento de que havia motivo para não ter muitas esperanças. E, depois, perguntei-me como poderia aquela criatura tão frágil ir viver para o Alto dos Vendavais, com o pai e o Hareton... Belos companheiros e belos professores, não havia dúvida! 

Mas as nossas incertezas cedo desapareceram, bem mais cedo do que eu esperava. Depois de terminado o chá, levei as crianças para os quartos, esperei que Linton adormecesse, pois não me deixara sair antes, e voltei para baixo. Estava eu junto à mesa do vestíbulo a acender uma vela para Mr. Edgar levar para o quarto, quando da cozinha saiu uma criada a correr, para me avisar de que Joseph estava à porta e desejava falar com o patrão.

Em primeiro lugar, vou ver se ele está pelos ajustes --disse eu, manifestamente perturbada. --Isto são lá horas de se vir incomodar uma pessoa, ainda por cima quando ela acaba de regressar de uma viagem tão estafante. Não me parece que o patrão o possa receber. Mas, enquanto eu dizia estas palavras, já Joseph tinha entrado para a cozinha e vindo até ao vestíbulo. Envergava o seu fato domingueiro, exibia a expressão mais beata e carrancuda que eu já vira, de chapéu numa mão e bengala na outra, e estava ocupado a limpar os pés ao tapete.

--Boa-noite, Joseph --disse eu com frieza. --Que o traz por cá a estas horas?

--É com Mr. Linton qu.eu venho falar retorquiu, arredando-me para o lado com um gesto de enfado.

--Mr. Linton está a preparar-se para ir para cama e tenho a certeza de que não o vai atender, a menos que tenha alguma coisa muito importante para lhe dizer. O melhor é sentar-se e dizer-me o que o traz por cá.

--Onde fica o quarto dele? --continuou o velho, percorrendo com o olhar a correnteza de portas fechadas.

Percebendo que ele não estava disposto a aceitar a minha mediação, foi com relutância que entrei na biblioteca e anunciei o inoportuno visitante, mas não sem aconselhar Mr. Linton a mandá-lo voltar no dia seguinte. Ele, porém, nem tempo teve para me dar essa ordem, pois Joseph viera atrás de mim e, entrando na sala, foi especar-se no extremo oposto da mesa, com as mãos cravadas no castão da bengala, e disse, elevando a voz como se já esperasse oposição:

--Mr. Heathcliff mandou-me vir buscar o miúdo, e eu não me posso ir daqui sem o levar.

Edgar Linton manteve-se em silêncio por um momento: uma profunda tristeza toldou-lhe o semblante; o garoto, só por si, já seria razão suficiente; mas, ao recordar as esperanças e os receios de Isabella, a sua inquietação quanto à sorte do filho e as recomendações que lhe fizera ao confiá-lo à sua guarda, era com grande amargura que encarava a sua partida, procurando com afinco um meio de a evitar. Mas não encontrava solução: a simples manifestação do desejo de manter o sobrinho junto de si mais força daria às pretensões do pai do rapaz, e não lhe restava outra solução senão resignar-se a deixá-lo partir. Opôs-se contudo a ir acordar o garoto.

--Diz a Mr. Heathcliff --respondeu, falando calmamente --que o filho dele estará amanhã no Alto dos Vendavais. Neste momento, está a dormir e demasiado cansado para empreender nova viagem. Podes dizer-lhe também que a mãe do Linton desejava que ele ficasse à minha guarda, e que a sua saúde é atualmente muito precária.

--Não senhor! --exclamou Joseph, afivelando um ar autoritário e batendo com a bengala no chão. Não senhor! Isso não interessa. Mr. Heathcliff quer lá saber do que a mãe disse ou do que o senhor disse. O que ele quer é o miúdo e eu tenho d.o levar, está a perceber?

--Mas não esta noite --replicou Edgar Linton, peremptório. --Põe-te daqui para fora imediatamente e repete ao teu patrão o que acabei de dizer. Leva -o daqui, Ellen. Vá!

E, agarrando o velho tratante pelo braço, expulsou-o da sala e fechou a porta à chave.

--Pois muito bem! --berrou Joseph, enquanto se afastava

--Amanhã há-de vir ele em pessoa e o depois veremos se o senhor se atreve a correr com ele!

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