Nova Ordem (Livro #2)

By LauraFreignham

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Em Nova Ordem, a sequência de Nova Drasskun, Brigitilene é agente da causa Shey infiltrada na Sociedade, o go... More

Prepare-se!
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27

Capítulo 24

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By LauraFreignham

Levantamos e caminhamos em silêncio por alguns minutos até a entrada principal da Universidade, descemos as escadas e caminhamos um pouco mais até onde o carro negro nos aguardava. Durante toda a caminhada, o Bruno não disse coisa alguma, mas em todo o momento esteve atento a mim, observando cada detalhe que emanava de mim: gestos, cheiros, pensamentos.

Apesar de estarmos quietos, ele mantinha o isolamento ao nosso redor, dando-nos privacidade.

Mal percebi quando entramos no carro e ele partiu para nosso próximo destino. Eu estava mesmo ficando com fome, mas a ideia do que iríamos comer me tirava o apetite. Preferi não interferir nesse assunto, decidindo por dedicar energia a outras coisas. A manhã havia sido de muitas revelações e era hora de focar em outras coisas, de aprender sobre outros temas enquanto o assunto projetos de hibridização assentava em minha consciência.

Olhando para minhas próprias mãos, eu as via como as familiares mãos humanas pensando que essa imagem não passava de uma ilusão criada para enganar os humanos e outros híbridos imersos na ignorância quanto ao mundo real que os cercam. Pensei em retirar a camuflagem de minhas mãos, para confrontar um pouco da verdade contida em mim mesma. O Bruno, apesar de parecer estranho olhando pela janela do carro, tinha sua atenção em mim.

Lentamente retirei a camuflagem de minha mão como quem retira uma luva, sem pressa alguma. Aos poucos, a começar pelo pulso, muito permitindo que a verdadeira cor de minha pele sobressaísse, revelando o verde que se tornava mais escuro conforme se aproximava das pontas de meus dedos. Conforme a camuflagem era retirada, como se uma luta fosse puxada em direção aos dedos, eu via se revelar diante de mim quem eu realmente era para os répteis: uma meia humana destinada a consolidar a dominação na Terra, um símbolo do êxito dos Drasskunianos sobre o planeta que escolheram para ser Nova Drasskun. Não demorou para que eu visse as pontas dos meus longos dedos cuja cor se igualava à cor de minhas unhas, ou melhor dizendo, garras. Lembrei de como elas podem ser letais, como lâminas de um estilete afiado.

Antes que as imagens de como eu havia usado essas garras passassem pela minha mente novamente, permiti que, mais uma vez, a camuflagem cobrisse minha mão.

Diante de nós, no banco do motorista, a figura silenciosa do homem que conduzia o carro luxuoso permanecia incógnita. O Bruno não o havia apresentado a mim. Talvez gente poderosa não se importe em saber o nome daqueles que os servem. Talvez bastasse para mim saber sua função apenas. Bruno continuava me observando com curiosidade enquanto nos mantinha isolados. Preferi não perguntar nada a ele e fazer minha própria investigação. Ele já havia me contado demais e era hora de eu começar a descobrir as coisas por mim mesma, a partir de minhas próprias investigações, mesmo que sejam inofensivas como descobrir a identidade do nosso motorista.

Retirei meus olhos de minhas próprias mãos e olhei pela janela, displicentemente sinalizando que estava distraída, quando na verdade era bem o contrário.

Não precisou muito para que eu tivesse minha atenção voltada para o motorista. D0 não tinha pressa. Essa investigação seria um passatempo, uma distração comparado ao que eu tinha descoberto essa manhã.

Primeiro, me concentrei em sua forma. O homem tinha um biótipo típico de homem americano que eu costumava ver nos filmes na TV: alto, branco, cabelos e olhos claros, além de músculos bem desenvolvidos. Talvez ele fosse uma espécie de segurança também. Se bem que duvido que Bruno ou eu precisássemos de um segurança.

Observei a figura com mais detalhe, percebendo o tom azulado de seus olhos e o castanho muito claro, quase louro de seus cabelos. Algumas poucas sardas, quase imperceptíveis, salpicavam seu nariz e a parte superior de suas bochechas. Seria essa aparência apenas um disfarce?

Concentrei-me em adentrar sua consciência à fim de conhecer o verdadeiro homem diante de mim. Como eu fazia tudo lentamente, percebi quando sua pele aos poucos revelou uma cor que não tinha nada a ver com o biótipo típico do americano caucasiano. Logo o amarelo esbranquiçado com escamas brilhantes sobressaiu sobre a pele que cobria todo o seu corpo. Seu rosto era igualmente coberto por tais escamas, sem pelo algum. Seus olhos eram grandes e de um amarelo alaranjado e, abaixo deles, surgiu a boca grande e sem lábios, como a boca de uma cobra. Não demorou para que reconhecesse aquela aparência e também a impressão energética dele: Tretun, o híbrido escravo que havia me servido na nave de Kuterat!

Procurei conter minha reação o máximo que pude, mas foi impossível passar desapercebida ao escrutínio do Bruno, que há muito me observava de perto.

- Por que? - Perguntei telepaticamente.

- Ele foi designado por Kuterat para servir a honrada mãe em tudo que precisasse. É um presente do mestre Kuterat.

- Não preciso de um escravo.

A indignação estava presente, mas disputava lugar com uma pitada de satisfação que brotava no fundo de meu estômago. Quem não gostaria de ter um escravo para chamar de seu? Não! Eu não gostaria!

- Não existe a possibilidade de devolução. Sinto muito. - Disse Bruno.

Respirei profundamente para recobrar o controle e espantar a maldita satisfação que insistia em permanecer, como um sorriso em meio à frustração.

Olhei para Tatrun que dirigia alheio ao que se passava dentro do carro. Ou ao menos assim eu imaginava. Não posso descontar nele minha iniciação em ver sido presenteada com um escravo. Eu quero libertá-los e não ver um de estimação. Mas também não posso fazer com que ele se sinta rejeitado. Certamente ele terá uma vida melhor comigo do que com o monstro albino chamado Kuterat.

- Então está bem. Aceito o... presente.

Mas me recuso a tratar o híbrido como coisa ou escravo. Eu n tratarei com dignidade.

- Tatrun.

Com voz doce mas firme, falei do voz alta com o motorista que em um estalo retirou seus olhos da estrada para me olhar pelo retrovisor.

- Sim, honrada m... Ewha.

- Que bom que se lembra como prefiro ser chamada. Bem-vindo à minha companhia.

Seu olhar ganhou um novo brilho, como quem acaba de ganhar uma vaga de emprego ou ganhar uma promoção e nisso pude perceber basicamente duas coisas nesse curto diálogo: primeiro, que talvez ele não tivesse mais lugar para voltar se fosse recusado por mim, e segundo, que eu havia falado com ele como uma dominadora falaria, algo que veio de volta natural demais.

Bruno ainda me observava com sua consciência, sem retirar os olhos da paisagem do lado de fora da janela do carro. Ele se manteve em silêncio, isolando a nós dois para que não fôssemos ouvidos por eventuais consciências curiosas, mas também violando a si mesmo. Ele não queria que eu soubesse de seus pensamentos e impressões. Certamente não confia em mim, ou o que mais seria?

Respirei profundamente uma outra vez, subitamente sentindo-me só novamente.

Não tive muito tempo para saborear a solidão pois logo o carro reduziu a velocidade é adentrou a garagem de um prédio. A garagem era suntuosa, com mármore escuro e brilhante ornamentação paredes e guarita. Quase que instantaneamente, a cancela foi erguida para que passassemos, mas não sei que eu percebesse o aceno de cabeça que eu já reconhecia como um cumprimento familiar no mundo dominado pelos répteis.

Poucos metros depois e paramos diante de uma entrada de vidro fumê que dava para uma recepção também ornamentada com mármore escuro e detalhes em metal dourado na bancada da recepcionista, mas paredes, mas luminárias e até mesmo nos vasos de plantas. Agora eu sentia que entrava mesmo nesse mundo de luxo.

Decidi por manter minha postura de mãezona e esperei até que alguém viesse me servir, o que imagino pela a postura esperada por uma semideusa e praticamente celebridade entre os répteis. Muito rapidamente, Tatrun se posicionou ao lady de minha porta, abrindo-a em seguida. Somente nesse momento em que minha porta foi aberta, Bruno também abriu a sua, antes que o segurança que já se encaminhava para a tarefa o fizesse. Enquanto eu era desnecessariamente auxiliada por Tatrun para fora do carro, Bruno entregará uma maleta iara o segurança, que o cumprimentou com um aceno de cabeça e saiu.

Tatrun me ofereceu o braço sobre qual depositei minha mão e me conduziu até a porta de vidro fumê, abrindo-a diante de mim. Confesso que senti estranha, calculada demais... Essa não sou eu.

- Não precisa me conduzir assim novamente, tá? Ficou estranho.

Falei diretamente à consciência do meu mais novo colaborador na tentativa de não deixá-lo constrangido, mas parece que não funcionou. Seus olhos azuis pareceram dobrar de tamanho enquanto uma expressão chocada encheu seu rosto.

- Perdão, honrada Ewha! Diga-me, lhe peço, como remediar meu erro.

Tatrun fechou os olhos e inclinou sua cabeça em um claro gesto de submissão e arrependimento. Pelo que será que essa sobre criatura passou para se comportar assim?

-Não houve erro.

- Causar-lhe desconforto é inadmissível.

Tua cabeça inclinou-se mais um pouco e eu percebi que não sairia dessa sem puní-lo de alguma forma.

- Está certo. Diante de sua falta, me agrada que me traga uma barra de chocolate orgânico e sem leite. Enquanto isso, dê uma caminhada e conheça os arredores. Tente se divertir um pouco, pois isso me agrada também.

O híbrido me olhou por uma oração de segundo, claramente confuso, mas não ousaria deixar de cumprir o que lhe disse para fazer.

- Honrada mãe.

Cumprimentou-me com o típico aceno de cabeça mas não a levantou até que eu houvesse cruzado a porta de vidro.

Passamos direto pela recepcionista que apenas nos cumprimentou com o tal aceno enquanto nos observava entrar no luxuoso elevador que quase tinha o tamanho do meu quartinho na favela.

Bruno resolveu então quebrar o silêncio no mesmo momento em que apertou vários botões ao invés de apertar apenas o botão para o andar de destino, no que era, claramente, um código para algum andar não disponível para qualquer um.

- Preparada para o primeiro dia de estágio e intercâmbio?

- Pensei que iríamos almoçar antes.

- Temos um restaurante aqui.

Imediatamente lembrei do almoço que vivemos naquilo parecia uma livraria antiga e não pude evitar o tremor que veio ao meu estômago, numa mistura de asco e fome.

- Meu paladar mudou desde a última vez que almoçamos juntos.

- Eu sei. Acredito que agora você precisa frutas da floresta amazônica.

- Na verdade qualquer alimento sem venenos ou morte já está bom.

O sorriso que brotou em seus lábios me mostrou o amigo gentil que certamente não colocaria ratos e larvas diante do meu prato., os quais eu certamente recusaria.

- Já fiz recomendações para sua refeição.

Antes que eu pudesse agradecer, uma outra porta do elevador, invisível, abriu bem atrás de nós. A indicação do andar não aparecia em lugar algum.

- Estamos em alguma cobertura teoricamente inexistente?

- Na verdade estamos no piso S12 desse edifício.

Oi? Doze andares no subterrâneo?

- Nunca imaginaria que poderia haver um subterrâneo de prédio tão profundo.

- Na verdade esse prédio vai até o S34. O S12 é o piso de amenidades, com restaurante e um auditório para eventos menores.

Agora eu estava chocada.

- Porque tão profundo? Não seria melhor construir acima, ou comprar o prego ao lado e transformá-lo em um anexo?

- Os andares subterrâneos são secretos e dão acesso a túneis que usamos para nós interligar a andares subterrâneos de outros prédio e também de algumas bases.

Claro. Que idiota eu. A lógica desse mundo é manter o anonimato e o controle sobre a superfície. Esse é um mundo secreto e cheio de práticas totalmente alheias ao que se poderia imaginar na superfície. Me senti uma criança em uma reunião da máfia.

- Com certeza não poderia ser de outro modo, não é?

- Na verdade, até pode. Mas, melhor comermos agora.

A expressão de quem não me contaria mais sobre isso como uma forma de provocação que divertia somente a ele, só não me desagradou mais porque eu estava realmente ficando com fome.

Saindo do elevador, Bruno me conduziu até um saguão imponente decorado com detalhes dourados sobre mármore branco. Ao nosso lado direito a entrada de um restaurante, também imponente, não deixavam brecha para imaginar que estávamos doze andares embaixo do solo.

Um garçom apressou-se em nos conduzir até uma mesa mais ao canto, próxima a uma parede decorada com plantas e alguns cipós. Difícil acreditar que plantas pudessem se adaptar tão bem a um lugar sem luz solar, mas eu podia sentir que não eram artificiais.

- Essa espécie foi geneticamente manipulada para se adaptar às condições daqui.

Como sempre, Bruno estava atento.

- É linda.

Um par de minutos depois outro garçom trazia uma bandeja contendo dois pratos fundos cheios de salada colorida e aromatizada com ervas. Teriam sido essas verduras também alteradas geneticamente? Olhei para o Bruno que já sabia da minha preocupação. Eu não vou comer verduras transgênicas.

- Essas eu pedi para trazerem da floresta para você, Lene. É meu agrado para a honrada mãe.

- Aqui para nós dois, Ewha não liga. Ela comeria seus inimigos vivos com vinagre.

- Eu sei. Por isso fiz questão de encomendar essa refeição para você.

Comemos a salada e no mundo seguinte a última folha entrar na minha boca, o garçom já estava a postos parar substituí-lo por um prato que continha o que pareciam almôndegas cobertas com um molho denso de tomates, tendo ao lado uma espécie de risoto de grãos pequenos. A primeira coisa que fiz foi examinar o conteúdo do prato a fim de conferir não se tratar do corpo de algum ser. Além do dais o molho denso e vermelho me fez lembrar família primeira refeição na livraria subterrânea onde o suposto molho de tomate era, na verdade, o sangue de alguém.

Meu sorriso de alívio foi o tempero que faltava ao prato que era, na verdade, bolinhos de feijão temperados basicamente com alho e cebola, cobertos com molho de tomates e manjericão. O risoto era feito de grãos de quinua e leite de castanhas de caju, salpicados com pimenta de cheiro. Tô prato que certamente não seria encontrado facilmente nesse país.

- Obrigada, Bruno. Eu adorei o almoço.

- Mas você nem provou ainda.

- Não preciso. Sua iniciativa é a melhor parte é a mais importante dele.

O sorriso do Bruno fez surgir os adoráveis furinhos na bochecha que, por um par de segundos, me fez esquecer de tudo e sentir como se tivéssemos voltado aos meus tempos de ignorância onde meus próprios problemas, tão pequenos, eram tudo que permeavam minha mente.

O prato estava uma delícia e, enquanto eu comia, tentei esquecer de tudo e saborear cada garfada, como se meu mundo fosse apenas esse momento.

Meu almoço meditativo demorou mais que o normal. Era meu momento de fuga. Quando terminei, olhei para o Bruno que me esperava pacientemente. Um sorriso dele indicou que, de certa forma, me observar comer também foi uma espécie de momento especial para ele. Talvez ele mesmo precisasse de suas fugas de vez em quando. Confesso que perceber o olhar dele em mim me fez sentir especial, me fez sentir que eu não estava sozinha. Ao menos não nesse momento. Como seria bom ter alguém assim, sempre olhando para mim, cuidando de mim. Alguém com quem eu pudesse ser eu mesma, pela lá quem eu me tornar.

Lembrei de uma linha do tempo que Bruno me mostrou na qual lutávamos juntos como um par, como um casal. Será que estaríamos nessa linha do tempo agora? Eu não poderia me deixar levar por esperanças que poderiam ser frustradas. Ficou claro para mim que o coração dele ainda é da falecida e que, o que o atrai a mim pela justamente os serviços de DNA dela em mim. A parte dela que me faz ser o mostro que eu não quero ser.

Meus pensamentos foram interrompidos mais uma vez sem garçom, que agora nos trazia suco de melancia em taças. O aroma do suco denunciava a agradável presença de gengibre que conferia um sabor especial ao suco.

Assim que terminei o suco, entendi que estava terminada nossa refeição. Olhei para o Bruno que agora me olhava com olhar duro e profundo. Droga, claro que ele percebeu morte pensei sobre ele e a possível motivação de sua atenção para comigo! Não tem mais nenhum prato aqui para eu enfiar a cara dentro.

- Você se preocupa muito com o que os outros podem pensar de você. Nenhum dos eventos que você traz do suas celular podem definir quem você escolhe ser. Nada está pré definido.

Talvez ele estivesse certo.

- O que temos agora?

Eu não estava disposta a pensar nisso agora. Uma reflexão sobre arbítrio certamente poderia estragar o almoço perfeito. Além disso, focar em uma missão de cada vez era a forma mais prática de passar por isso tudo é resolver aquilo a que eu me propunha. Eu ainda tinha todo um universo de coisas para fazer.

- Um café, se você quiser.

Antes que eu pensasse na resposta, o aroma de café torrado invadiu minhas narinas ao mesmo tempo em que uma bandeja prateada que trazia xícaras de porcelana e um pequeno coador de pano. De onde saiu esse garçom agora?

Eu não tinha como recusar café coado na hora que certamente me faria lembrar de uma típica manhã no Brasil.

O garçom depositou uma xícara na minha frente, pôs sobre ela o suporte com o coador de pano e o encheu com duas colheres de pó de café recém moído. Em seguida derramou água quente me permitindo sorver o aroma e observar o líquido derramar-se em minha xícara. Em seguida o mesmo foi feito para o Bruno.

Enquanto tomávamos nosso café em silêncio, olhei ao redor e percebi que éramos os únicos a almoçar no restaurante. Vaqueiros isso tanta dedicação do garçom.

Colocamos a xícara vazia sobre o pires praticamente no mesmo momento.

- Mais uma vez, obrigada pelo almoço.

- Foi um prazer.

Ele então se levantou e se moveu até onde eu estava, puxando a cadeira para eu me levantar. Caminhei na frente dele até a porta de saída onde o garçom já nos esperava com o famoso aceno de cabeça.

Caminhamos até um outro pequeno raiva que dava acesso a uma grande biblioteca que poderia ser vista através de uma grande parede de vidro que parecia ter umas três vezes a minha altura. Nunca imaginei ver tantos livros juntos em um tempo onde praticamente tudo é lido utilizando-se um aparelho eletrônico.

- Mas que lugar é esse?

Nada como uma pergunta idiota para ajudar na digestão.

- Essa é uma de nossas bibliotecas. Aqui há publicações anteriores à editoração moderna.

- Então tem coisa bem antiga aqui.

- Tem sim. Eu te mostro.

O Bruno segurou-me pelo cotovelo e me conduziu através da porta de vidro que, para minha surpresa, não abriu. O Bruno parecia não se importar, mesmo com o pensamento de meu corpo que já sinaliza não ter o menos interesse em se chocar contra uma porta de vidro daquele tamanho. Bruno continuava perseguindo, sem se importar, puxando-me pelo cotovelo. Mas eu sabia que, nem tudo que se via era real e que o mundo não passava, na verdade de uma grande ilusão. Resolvi confiar no Bruno, encarar a porta e ver no que dava. Não fiquei totalmente surpresa quando nossos corpos atravessaram a tal porta, como quem atravessa uma cortina de vento. O Bruno olhou para mim, como se confirmasse com m olhar que tudo é mesmo uma ilusão.

- Somente pessoal autorizado pode passar por aqui.

- E quem não é autorizado?

- Alguém não autorizam que tentar passar pela porta será desmaterializado e a energia resultando é absorvida pela porta.

- Como saber quem é autorizado?

- Os membros da aliança, quando são autorizados a entrar nessa instalação, recebem uma espécie de nanomarca que o rastreia e confere acesso aos lugares aos quais está autorizado.

- Mas como...? Quer dizer, quando....?

- O elevador. Os nanos são tecnologia de inteligência artificial que pairam no ar dos elevadores de acesso como vírus.

- Mas isso é inadmissível! Eu não quero isso em mim!

- São apenas para conferir acesso.

- Mas para isso eles tem que me rastrear, saber onde estou. E quem garante que não vão acessar meu sistema nervoso e projetar realidades inexistentes em meu cérebro?

Nem sei direito de onde eu tinha tirado isso, mas me parecia algo muito real e perigoso!

- Nunca te colocaria em risco. A Confederação tem tecnologia para bloquear e limpar isso.

Eu ainda me sentia invadida e afrontada por ter sido infectada por nano tecnologia. Acredito que o sentimento é o mesmo de quando se acha um vírus computador, só que, nesse caso, havia risco de haver um vírus no meu cérebro!

- Eu quero ser informada de coisas como essas, Masnik.

Agora, a reação que vinha com o sentimento de contrariedade, raiva e falta de controle, faziam aflorar aquela que eu tinha que controlar.

- Sim, honrada mãe.

Respirei fundo, consciente de que, apesar de meu DNA compor parte de quem eu sou, as minhas escolhas ainda devem prevalecer, pois permitir que meu DNA, minha programação feita em laboratório, prevaleçam, nada mais é que uma escolha minha. No final, tudo é escolha. É Eu não escolho ser um dos seres que decidi destruir.

- Desculpe, Bruno. Eu fui pega de surpresa.

Bruno ficou em silêncio ponderando algo que eu não conseguia captar. Ele ainda se mantinha isolado, permitindo que escapasse ao meu entendimento apenas aquilo que ele permitia chegar a mim.

- Não há pelo quê se desculpar. Siga-me por aqui.

O Bruno caminhou um pouco adiante de mim, alterando o passo como se tivesse visto algo que o deixara ansioso para me mostrar. Não muitos passos depois, após passarmos por gavetas enormes, vitrines e prateleiras com objetos de diversos tamanhos que não se assemelhavam exatamente a livros, ele parou. Parei logo atrás dele e busquei a direção de seu olhar para ver certeza para onde eu deveria olhar também, para saber o que ele queria me mostrar. Ele olhava para uma prateleira de madeira escura que estava inclinada o suficiente para exibir o objeto em cima dela. Era uma espécie de caixa quadrada feita de um material cor de chumbo. Eu não saberia dizer se era metal ou algum tipo de pedra polida.

- O que é isso?

- É um tratado.

O Bruno continuava olhando para aquilo como se o remetesse a memórias antigas e profundas.

Esperei alguns instantes até ele começar a falar, enquanto eu mesma tentava adivinhar o que era aquilo que não tinha exatamente jeito de tratado.

- Tratado de quê?

Virando lentamente o rosto em minha direção, ele parecia ponderar sobre se minha pergunta merecia resposta ou se eu estaria pronta para digerir a reposta. No segundo seguinte, ele voltava sua atenção para o quadrado de pedra e se inclinava para retirá-lo da prateleira, segurando o objeto com a reverência de quem segura um bebê ou uma bomba que não está muito bem desativada.

Para minha surpresa, ele se virou para mim e estendeu os braços, oferecendo o objeto para que eu o segurasse.

- Esse é o que chamamos hoje de Tratado da Terra, assinado há mais de duzentos e vinte mil anos, entre o povo de Drasskun e o povo de Amshir. Eu assinei por Drasskun o tratado que nos permitiu habitar a Terra.

===☆ continua ☆===

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