Herdeiros Malditos [CONCLUÍDO]

By andrearomao_autora

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🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2020 NA CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA 🏆 Eles sĂŁo melhores amigos. Mas tambĂ©m sĂŁo herdeir... More

HERDEIROS MALDITOS: INTRODUÇÃO
HERDEIROS MALDITOS - ELENCO
HERDEIROS MALDITOS: BOOKTRAILER
HERDEIROS MALDITOS: PRÓLOGO
ZAMBEMBE
UM NOIVO PARA UMA PRINCESA
A PRINCESA DE DIAMANTE
O PRÍNCIPE APAIXONADO
AS FILHAS DA DEUSA-SEREIA
O PRÍNCIPE QUE NÃO QUERIA SER REI
AS PRINCESAS QUEBRADAS
VERDADES SECRETAS
TEIAS DE AMOR E DESEJO
O FIM DE UMA ERA
A ERA DE ABRIL
ELENCO - RECAPITULAÇÃO PARTE 2
A RAINHA QUE NÃO PERDOAVA
O LEÃO FERIDO
O JULGAMENTO DA RAINHA
A RAINHA TRAÍDA
A DAMA EXILADA
A RAINHA QUE NÃO ESQUECIA
A RAINHA ADÚLTERA I
A RAINHA ADÚLTERA II
ELENA
O REI DO INVERNO
CAPÍTULO 34 - O BEIJO DO REI
CAPÍTULO 35 - A RAINHA ABANDONADA
CAPÍTULO 36 - NOIVADOS DE REIS
CAPÍTULO 37 - QUANDO CRIANÇAS REINAM
CAPÍTULO 38 - A DAMA E O CONQUISTADOR
CAPÍTULO 39 - DE VOLTA DO EXÍLIO
CAPÍTULO 40 - O NOIVO DA RAINHA
CAPÍTULO 41 - LAÇOS QUE SE ROMPEM
CAPÍTULO 42 - ELENA
CAPÍTULO 43 - A DAMA E O CONQUISTADOR II
CAPÍTULO 42 - OURO E PEDRA
CAPÍTULO 43 - A RAINHA BOA
CAPÍTULO 44 - CORAÇÕES DOMADOS
CAPÍTULO 45 - VIDAS QUE SEGUEM E VIDAS QUE TERMINAM
CAPÍTULO 46 - O REI QUE ESCAPOU
CAPÍTULO 47 - NOVOS CAMINHOS
AMORES QUE SOBREVIVEM
FANTASMAS DO PASSADO
A AMEAÇA VEM DO SUL
ELENCO - RECAPITULAÇÃO PARTE 3
CONSELHO DE REIS
A ARMADILHA DO LEÃO
A CABEÇA DA RAINHA
FUGA E REFÚGIO
A DAMA E O CONQUISTADOR III
O ELO MAIS FRACO
O FIM DE UMA ERA II

VIDA LONGA AOS REIS

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By andrearomao_autora




A História estava sendo escrita diante de meus olhos.

Nunca pensei em como isso era estranho. Acho que quando se faz parte da História, tão ativamente, ficamos incapazes de perceber que somos muito além de marionetes puxadas por cordas invisíveis, ao contrário do que Eudo nos faziam acreditar. Um inofensivo comentário pode desencadear um novo capítulo na história de um reino. Uma atitude irrefletida, duras verdades ouvidas por detrás de uma porta, todos nossos atos têm conseqüências. Para Pedro, Aurélia e os outros eram apenas conseqüências maiores. Que atravessavam fronteiras, que podiam iniciar guerras, matar milhares e destruir reinos.

Ninguém disse que seria fácil ser herdeiro de um trono.

E agora, lá estava eu, em Diamantina para a última e mais importante coroação. A da rainha Zoé. Todos os outros príncipes de Eudo já haviam tido suas próprias coroações, mas elas só seriam validadas depois que eles fizessem seus votos de vassalagem a rainha do maior reino entre todos.

Os derradeiros dias de verão, anunciados por meados de março, davam um céu azul e firme, sem nuvens ou sinal de chuva. A luz do sol era pálida, mas à medida que a manhã fosse avançando teríamos um dia ensolarado.

Olhando timidamente para trás eu via fileiras de banco a perder de vista. Quase não era possível enxergar a pequena amostra de povo a qual fora permitida a entrada, de pé, ao fundo do salão, onde os arcos de entrada estavam cercados por soldados de todos os reinos. À minha frente havia seis fileiras dos nobres mais próximos dos reis e mais importantes, além é claro, dos sacerdotes ocupando a primeira bancada. Aqueles eram os lugares de alto privilégio.

No comprido tablado a nossa frente os sacerdotes terminavam o culto falando qualquer coisa sobre as conseqüências de ser um mau governante e dos castigos de Eudo. O toque de uma corneta anunciou a entrada da princesa Zoé.

Senti um arrepio minha nuca e eu pensei nos seis herdeiros, esperando seu momento de subir ao tablado, impacientes na parte fechada do salão.


Zoé insistia para que suas servas a aprontassem até o ultimo segundo, como se ela já não estivesse maquiada o bastante ou seu cabelo já não estivesse pronto há horas, com uma peruca loira cobrindo as poucas mechas que ela exibia na cabeça. Seu vestido era suntuoso, em tons prateados que chocaram os sacerdotes por não respeitar a convenção de se usar trajes com as cores do reino naquele dia tão solene. Mas é claro que Zoé jamais se submeteria à vergonha de aparecer diante de seus amigos ricamente trajados, portando um vestido cinza!

Era uma figura imponente. Mas também chegava a ser ridícula.

O contraste entre Zoé e suas amigas era visível. Aurélia parecia uma pequena senhora com seus cabelos divididos em duas tranças em torno de suas orelhas. Usava um vestido especial para a cerimônia, dourado, coberto com os floreios negros de nosso amado brasão. Os floreios representavam as margaridas, símbolo de nosso reino.

Com os braços escondidos atrás das costas ela torcia os dedos e buscava em Luiz Fernando o conforto que não conseguia ver em Pedro. Conversava com o herdeiro de Nova Nanuque, tentando, todo o tempo, trocar olhares de cumplicidade com Pedro, que estava sempre de costas, afastado de todos, vendo a coroação da qual eles ainda não faziam parte, através da janela.

– E não deveríamos ter de depender de barcos o tempo todo. Ou pelo menos, não de barcos tão precários como os que temos hoje. – Luiz Fernando discorria com prazer sobre suas visões para o futuro – Eles podem ser mais velozes e mais seguros também. Há homens em Nova Nanuque que tem idéias fantásticas a respeito de meios de transporte. É um novo conceito que está surgindo...

Aurélia ouvia sem realmente escutar. Balançava a cabeça, sentindo que aquilo não fazia o embrulho em seu estômago passar. Ela deveria estar feliz. Luiz Fernando quase nunca parecia tão empolgado ao conversar com ela, falavam sempre sobre amenidades. Por que então ela não conseguia se concentrar no assunto e parar de pensar que Pedro lhe parecia mais um estranho do que seu querido irmão?

Irene tampouco estava satisfeita naquele momento. Ela falava com Hércules, sentindo as mãos pingarem de suor. Nervosa pelo momento em que teria de subir ao tablado e se ajoelhar diante de Zoé. A coroa de seu pai era tão pesada. E se ela tropeçasse? E se caísse? Como poderia encarar todas aquelas pessoas? Ela não queria ser rainha!

E esse sentimento não era só dela.

– Irene, fique calma! – Hércules exclamou.

– Não consigo! Estou aterrorizada! Não conheço nenhuma daquelas pessoas lá fora! E se eu tropeçar?

– Tropeçar? Esse é seu medo? – ele baixou o tom de voz – Pequena, todos estarão tão petrificados pela magnificência de Zoé que ninguém notaria se você rolasse de braços abertos ao longo do tablado!

Ela riu e um pouco de rubor coloriu suas faces.

– Queria que Flor estivesse aqui... – Irene suspirou e logo em seguida soltou uma exclamação de espanto. Aquilo fora um pensamento pronunciado alto.

– Infelizmente Flor tem seus próprios problemas lá em Donzela. Mas o que há entre vocês? – o príncipe disse zombeteiro.

– Hércules! Isso não é uma conversa apropriada!

– Qualquer coisa é apropriada para desviar nossa atenção do cadafalso que nos aguarda. Se não quer dizer, eu pergunto a Aurélia. Aurélia! – ele exclamou com sua voz de trovão, como se a princesa estivesse no reino vizinho – O que há entre Flor e Irene?

Aurélia arregalou os olhos, desviando o olhar de Luiz Fernando. Irene já lhe dissera através de cartas, com um pouco de reserva, sobre seus sentimentos a respeito de Flor. O que não significava de maneira alguma que a informação pudesse ser passada adiante.

– Hércules! – ela exclamou no mesmo tom de censura de Irene – Estamos a ponto de entrar para a coroação de Zoé e você vem com perguntas totalmente indiscretas?

O príncipe levou as mãos ao rosto e lançou um olhar de cumplicidade a Luiz Fernando.

– Viu só? Mulheres de Eudo! Não se pode falar sobre nada com elas!

Zoé bateu com o salto do sapato do chão, fazendo com que todos olhassem para ela.

– Está na minha hora de entrar. Poderiam parar de falar por um minuto?

– Claro, Zoé. – Hércules disse, como se pedisse desculpas – Nos encontraremos em breve, lá fora. Que Eudo guie seus passos.

– Bom. E que guie também o de vocês. Não tropecem ou pisem em suas capas. Seria embaraçoso para mim.

Com essa ameaça a princesa partiu para se tornar rainha.

Um sacerdote entrou assim que ela se foi, ao mesmo tempo em que as coroas de cada um eram trazidas pelos servos. Ele informou aos príncipes sobre a ordem em que deveriam entrar. Depois de Diamantina tinha–se a Floresta de Pedra, Nova Nanuque, Dourada, Conquistador e Nanuque.

Do lado de fora, Zoé foi ovacionada por seu povo. Ela estava inchada de orgulho e nesse momento deve ter começado a sentir que aquela nova posição a qual ascendia lhe cabia muito bem. Em verdade, ela não merecia nada menos do que aquilo.

Pedro entrou com suas vestes impecavelmente negras e seu arminho branco, causando grande comoção entre as jovens ao meu redor. Eu enrubesci, como se, de repente, minha paixão secreta por ele fosse palpável e estivesse flutuando pelo salão, para quem quisesse ver.

A visão de seus olhos azuis como céu fazia meu coração disparar, embora ele não estivesse olhando para mim. Pedro despertava dentro de mim, sentimentos e emoções que eu desconhecia e não gostava. Era melhor que eu ficasse longe dele, eu repetia para mim mesma, tentando acreditar em minhas próprias palavras.

Luiz Fernando entrou e Aurélia veio logo em seguida, com o rosto em chamas. Eu sorri para ela, como se aquilo fosse o bastante para acalmá–la. Às vezes eu me sentia como a aia de uma criança, e que não importava quantos anos Aurélia tivesse ela nunca seria velha demais para ser colocada no colo e afagada como uma menininha assustada.

Então Hércules entrou, seguido de Irene, a última a subir ao tablado passando quase despercebida.

Enquanto os cinco príncipes se ajoelhavam diante de Zoé, no centro do tablado, cercada por dois sacerdotes que falaram sobre as virtudes de um rei e sobre as penas que esperavam pelos pecadores após a morte. Exaltaram a si mesmos, como os irmãos de Eudo e por isso, únicos homens capazes de elevarem suas vozes às de um rei.

Finalmente passaram o cetro dourado de Diamantina para as mãos de Zoé e colocaram em sua cabeça a coroa de seu reino, enquanto um por um, seus amigos diziam com vozes roucas ou tímidas "Vida longa e próspero reinado a rainha Zoé de Diamantina". Ao dizerem essas palavras eles concordavam com os termos de vassalagem, já estabelecidos nos contratos assinados antes do início da cerimônia. E ao terem honrado os contratos e dito aquelas palavras eles tornavam–se definitivamente reis de seus próprios reinos.

E nesse momento Aurélia virou senhora Aurélia, rainha de Dourada. O príncipe que eu amava tornou–se um rei. Os lábios de Irene tremeram e ela pensou no que o pai diria se estivesse lá. Luiz Fernando também pensou em seu pai e agradeceu ao rei póstumo pelo sólido reino que ele lhe deixava. E Hércules fechou os olhos, porque sua sentença de morte fora proclamada e o cadafalso abaixo de seus pés, puxado.

Os cinco reis se levantaram ao mesmo tempo em que todos no salão se ajoelharam. Os sacerdotes, de pé, pediram a Eudo por uma longa vida e um próspero reinado a todos os reis que ascendiam ao trono. A coroação de Zoé havia terminado.

Vida longa aos reis, eu disse a mim mesma antes de me levantar.

Ж

– Pedro!

Aurélia não correra, mas andara a passos rápidos, assim que a coroa de Dourada foi retirada de sua cabeça.

O salão começava a ficar vazio. Não haveria festa, música ou jantar para nenhum dos nobres. O povo já havia sido convidado a se retirar.

Pedro virou–se para Aurélia, tendo de olhar para baixo. Dois meses fora de nossas vistas e o rei crescera mais. Já era quase tão alto quanto Luiz Fernando.

– Pedro! Quase não conseguimos conversar antes da cerimônia! Estou tão triste e aflita! Não tenho notícias de Berlina e não acredito, não posso acreditar no que disseram sobre o incêndio... Não suporto mais nem mesmo pensar nesse assunto! Os sacerdotes não permitem que eu escreva para ela e tenho certeza que se ela me escreve eles têm queimando as cartas! Por favor, venha para Dourada comigo! Passe alguns dias lá e vamos fingir que as coisas ainda são como antes!

Eu observava a conversa à distância.

A resposta fria que saiu dos lábios de Pedro me surpreendeu, mas ainda mais à Aurélia.

– Você perdeu o juízo?! Nós não somos mais príncipes, Aurélia! Somos reis e temos que de começar a agir como tais! Ir para Dourada passar alguns dias com você?! As coisas nunca mais serão como antes. Erga sua cabeça, pare de chorar e seja uma rainha, por Eudo!

Aurélia permanecia boquiaberta. Por um instante achou que ele estivera brincando, mas agora ouvia a verdade em sua voz.

– E sobre o incêndio, não se engane. Bruno é mesmo o responsável e pode estar certa que a ausência de cartas de Berlina é consequência disso. As relações com Beneti não podem continuar como eram. Berlina não tem culpa, mas seu reino sim.  Agora, eu devo ir. Parto imediatamente para a Floresta de Pedra, pois tenho assuntos de grande seriedade a serem resolvidos. E imagino que você também os tenha, em Dourada.

Pedro saiu, dando as costas à irmã. Não havia brilho em seus olhos ou alegria em sua voz. O príncipe Pedro estava morto. E muitos outros príncipes de almas gentis e corações generosos ainda encontrariam suas covas.

– Pedro... – Aurélia murmurou, entre lágrimas – Meu irmão...

Ж

[obrigada por ler esse capítulo! Se você gostou, amou, odiou, ou até mesmo achou chatão, não deixe de comentar aqui embaixo seu elogio ou sua crítica. Agora se você amou demais da conta, aí não se esqueça de votar e marque um amigo para vocês continuarem acompanhando essa história juntos!]

Próximo capítulo: 10 de abril

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