As trevas se alastravam por todo o substrato B, nada podia fazer frente a elas. Os seres sencientes que por ali passavam tinham comoúnica preocupação a sobrevivência.
O não plano de Nara era bem simples, resgatar os espécimes e enviá-los para planetas alternativos. Zira e ela já haviam descoberto e catalogado centenas de sistemas estelares, alguns deles desabitados, mas que reuniam as condições necessárias para sustentar a vida. Em todos esses mundos elas haviam plantado algumas sementes especiais, para poder encontrá-los mais facilmente depois.
O desejo de Marcos sempre foi o de ajudar, em sua cabeça havia um turbilhão de pensamentos.
- Nara, o que pode apagar chamas assim?
- Essas chamas não podem ser apagadas, já tentei de tudo, já tentei até mesmo congelar.
- Complicado! Já parou pra pensar que podem ser seres vivos?
- Isso não. Consegue imaginar um planeta para elas?
Nara pensou por alguns instantes e se lembrou de um mundo completamente desabitado orbitando uma estrela a milhões de anos luz da Terra Prime.
- Já sei, se a semente que plantei lá já tiver brotado, acho que vai servir.
A garota abriu uma daquelas fendas nas coordenadas desejadas, mas dessa vez uma bem grande. Dava até pra sentir o calor. Quando as criaturas de fogo viram aquele portal elas rapidamente se dirigiram até ele.
- Isso pode demorar bastante, vou pedir para SOFIA fechar quando o último passar. Não acredito que não pensei nisso, Marcos.
- Então esse é o motivo pelo qual nos atacam, só estão tentando se aquecer.
- Acho que não é tão simples assim, mas enfim. Esses não fui eu quem trouxe.
SOFIA no início era apenas uma interface. Mas com o passar do tempo e com as constantes atualizações de Nara, transformou-se em algo mais. Não pensem os leitores que ela se voltaria conta os heróis, seria muito cliché. Acontece que o grande salão e tudo que havia por detrás daquelas paredes não era exatamente algo que se pudesse quebrar tão facilmente. Em alguns momentos Nara a encarava como um ser vivo.
Nara percebendo isso tentou se comunicar com ela. Foi difícil, mas finalmente conseguiu fazer com que SOFIA, ou partes de seu código fonte, fossem incorporados à personalidade tecnorgânica da nave. Ela usou essa tecnologia para se reinventar e no processo aprendeu a maioria dos idiomas falados multiverso afora, salvo os que se baseavam em símbolos com mais de um significado. Assim sendo a nave passou a chamar a si mesma de SOFIA, já que nunca havia recebido oficialmente um nome.
O primeiro ponto fraco do plano era justamente a quantidade de espécies existentes. Era meio que impossível fazer isso sem ajuda, levaria mais tempo do que todo o tempo que tinham disponível.
Depois de horas criando portais para diferentes planetas a distâncias imensuráveis, Nara não tinha mais forças para criar ou manter mais portais abertos.
- SOFIA, o que podemos fazer?
A nave levou alguns nanosegundos para responder.
- Não sou um ser mágico, posso apenas criar tecnotubos, nunca portais como você faz.
- Porque acha que vórtices são diferentes dos TTBs? O importante não é como você os chama, a Torus pode ser muita coisa, basicamente a usamos na criação de portais, mas acha mesmo que é só isso?
- Está anotado.
- Agora me diga, consegue escanear esse lugar e criar tecnotubos para as criaturas baseando se nos dados que Zira e eu coletamos?
SOFIA computou possíveis destinos para as centenas de criaturas presentes no Substrato B. Mas nem sua super velocidade computacional era capaz de calcular tanta informação baseando-se apenas no pequeno volume de dados coletados pelas toroiditas.
- Desculpe, informações insuficientes.
- Estamos perdidos - disse Nara ajoelhando-se e cobrindo os olhos com as mãos.
Marcos vendo a amiga naquelas condições ajoelhou-se ao lado dela e a abraçou. Palmer juntou-se aos dois, Victor e Ulisses foram os próximos. Estavam todos cansados demais. Já haviam ajudado a conduzir dezenas de espécies para planetas que a garota julgava ideais.
- Não podemos salvar todos amiga, mesmo que tivéssemos um lugar pra pôr todas as criaturas que encontramos, levaria meses para alocar todas.
Marcos levantou-se e gritou :
- É isso. Nara, você disse que nunca encontrou o fim de SOFIA, certo?
- Você é um gênio.
Dizendo isso, Nara se levantou e abriu um canal com a nave.
No primeiro contato entre Nara e SOFIA, ela havia descoberto um modo de hibernação, a nave literalmente caberia em seu bolso.
- SOFIA, qual o alcance máximo de seu tecnotubo?
- Qualquer parte do universo tecnicamente, mas preciso de 720 horas para entrar e sair do modo de hibernação.
Essa resposta foi um tanto desanimadora, não tinham todo esse tempo.
A mente de Marcos estava à todo vapor.
- Sua programação lhe permite encolher sem que precise entrar nesse modo?
- Positivo. O procedimento leva duas horas, as duas etapas.
- Iniciar! - pediu Nara - Maravilha, isso vai nos dar tempo.
- Tempo, parece ser a resposta para tudo. - bradou Palmer.
- Não é tão simples assim, amigo, eu sempre criei portais de entrada ao alcance da minha visão, nunca fiz o inverso.
Durante essa conversa Victor e Ulisses haviam se adiantado e agora estavam pensando numa forma de locomoção mais ágil. Tinamus seria de grande ajuda, mas ele tinha seus próprios problemas para resolver longe dali, não podiam interferir nas ações uns dos outros.
- Kamin foi destruída, certo?
- Sim, mas no que essa informação pode nos ser útil agora?
- O kaminiano! - gritaram os dois em uníssono, correndo em seguida para falar com Nara.
- E essa agora. - comentou Marcos - se ele passar pelo rio portal retornará à Kamin.
- E morrerá no vácuo do espaço! Precisamos trazê-lo aqui.
Nara lembrou-se que o kaminiano Ajax havia feito um protótipo de holomapa. Aquele protótipo nem mesmo havia sido aprovado e ela já estava cogitando um uso diferente.
- No quê um holomapa pode nos ajudar? - perguntou Palmer, Marcos respondeu antes de Nara.
- O holomapa não, a implementação.
- Muito bom, você pensa rápido mesmo hem? - comentou Nara.
- SOFIA, pode transferir os dados do protótipo do usuário Ajax? - em instantes os dados já estavam no nanotraje.
Usando o escope de retina ela leu o código fonte do protótipo.
- Muito engenhoso, obrigado Ajax.
- O que pretende fazer, Sr. Stark? - brincou Marcos.
- O protótipo permitia criar um holomapa, entre outras coisas, captando ondas sonoras. Com algumas modificações, o nanotraje passará a emití-las.
Nara era mesmo uma expert em tudo, os melhores portais, as melhores invenções, as melhores armas e agora a melhor readaptação de NT. Sorte a dela os registros de patente terem ficado no passado. Nunca havia precisado copiar partes de nenhum projeto, aquele caso era uma exceção. Não demorou muito e ela fechou o escope de retina.
- Prontinho, agora podem se locomover mais rápido. - disse Nara enviando as atualizações a todos, incluindo o seu - Esse upgrade vai gastar muita energia - advertiu - Não é seguro estarem muito alto quando a carga estiver baixa. Pra usar faça com se estivesse usando um Wingsuit. Quando estiverem em solo os nanotrajes começarão a se recarregar. A missão de vocês é apenas mapear a localização deles para facilitar o resgate nada mais. Se forem atacados imobilizem e partam.
- O quê, eles podem voar?
- Menino esperto, agora deixa eu me concentrar nesse Vórtice inverso.
Durante sua concentração Nara fica meio ranzinza. Sabendo disso todos trataram de se apressar. Salvar vidas, esse era o foco.
- Nara e suas invenções. - comentou Palmer enquanto arriscava uma manobra.
- Devemos poupar energia como ela disse. Não vai querer enfiar a cara no chão por pura besteira.
Formaram duas duplas, Victor e Ulisses foram para leste enquanto Marcos e Palmer seguiram na direção oposta.
Marcos avistou ao longe uma pequena clareira, havia pegadas frescas e uma fogueira recém apagada.
- Já passaram por aqui.
- Quem?
- Hora bolas, Palmer, nós, quero dizer os outros nós.
- Isso quer dizer quê ...
Palmer começou a dizer alguma coisa quando foi surpreendido por alguns cipós, que se enrolaram nele e o erguiam para perto de uma árvore enorme.
- Pare com isso, Quinino, sou eu, Palmer.
A árvore o ergueu até certa altura onde dois olhos e uma boca enormes se abriram.
- Palmer, o que faz aqui? Espere um pouco aí, acabei de lançar você e a garotinha na direção do penhasco. Você não é ele.
- Sou o mesmo Palmer, só um pouco mais velho. Viemos aqui resgatar a todos.
- Quer dizer que o ciclo finalmente vai ser quebrado. Entendo. O quê temos que fazer?
- Um portal vai se abrir em breve aqui no centro da clareira. Reúna todos que puder encontrar. E aguarde, quando ele se abrir peça para que todos entrem. Ficarão seguros.
Quinino se aproximou de uma outra árvore e seus cipós se entrelaçaram. Outras foram chegando formando uma rede de vime. Aquela era a forma como elas se comunicavam em sua própria língua. Marcos achou fantástico. Mas não podia ficar para entender melhor o que faziam. Antes de saírem Quinino enterrou um de seus cipós super fortes no solo e lá do fundo retirou uma pequena caixa.
- Isso foi enterrado aqui a muito tempo e a pessoa que o enterrou me pediu para só retirar quando um viajante do tempo, trajando uma vestimenta voadora, neste lugar, um amigo, me informasse a quebra do ciclo.
- É isso aí amigo. Hoje ... é o dia.
Os irmãos afastaram-se daquela clareira enquanto Quinino e os outros convocavam o restante dos de sua espécie. O mais velho deles havia se acostumado tanto a chamar apenas de DCs seus outros "eus" que se esquecera o que aquela sigla queria dizer.
Aquela caixa era tão leve que por vezes Palmer achou que a tinha perdido. Mesmo estando além do alcance de sua percepção limitada, aquela caixa parecia nem mesmo estar ali. Comentou com Marcos o que estava sentindo a respeito do pequeno objeto.
- Deixe-me ver - pediu Marcos, pegando o pequeno objeto das mãos de Palmer.
Marcos, como sempre, ficou fascinado com o exorbitante não peso do objeto.
- Realmente. Se eu não o estivesse segurando, diria que ele nem está na palma de minha mão. Guarde e entregue a Nara, ela saberá o que fazer.
- Sabe, esse tipo de coisa misteriosa é com Nara mesmo. Vou desencanar. Quem me deu isso foi uma árv... um amigo. Não temos com que nos preocupar.
Neste instante a voz de SOFIA soou nos braceletes dos dois, avisava-lhes que seus nanotrajes estavam em carga máxima.
- Onde vamos agora?
- Precisamos ver mais longe.
- É perigoso, Nara disse pra não forçar demais. Se o NT ficar sem energia já era, vai virar panqueca.
- Verdade, vamos então para o monotrilho, seguiremos aquela linha até encontrar algo.
Marcos concordou e saiu andando, Palmer o chamou de volta dizendo:
- O monotrilho fica na direção oposta.
- Claro que fica, estava só te testando....